• Nenhum resultado encontrado

Ao analisar as cartas de doação de terras urbanas do Senado da Câmara da Cidade do Natal, foi possível uma variedade no que concerniu à localização dos requerimentos de chãos de terra para ocupar o Rossio da Cidade do Natal. Dado que especificamente esse trabalho decorre da investigação em relação à estratificação do espaço territorial competente a Cidade (região posteriormente conhecida como Cidade Alta, que, no entanto, em relação à documentação produzida no século XVIII, só consta

a denominação cidade), delimitado pelas cruzes norte e sul78, como descreveu Luís da

Câmara Cascudo, metodologicamente decidiu-se definir e quantificar os requerimentos realizados por todo o termo da mesma. Percebeu-se que os requerimentos dividiam-se em sessões distintas no termo do Senado da Câmara: os requerimentos realizados para ocupação da cidade; requerimentos realizados para ocupação da Ribeira; os requerimentos realizados para a ocupação de outras localidades (Sítio da Redinha, Morro Branco, Lagoa Seca, entre outros); requerimentos realizados para ocupação de localidades indefinidas (quando não foi possível identificar a localização); requerimentos realizados na estrada que ia para a Ribeira. No gráfico abaixo é possível visualizar quantitativamente esses dados.

78 CASCUDO, Luís da Câmara. História da cidade do Natal, coleção cultura, 4ª ed., Natal, RN:EDUFRN, 2010.p.51.

44

Gráfico 4. Percentual de requerimentos realizados ao Senado da Câmara da Cidade do Natal (1700- 1785). Fonte: Cartas e Provisões do Senado da Câmara de Natal, IHGRN. Cx. 01, livro 04 (1702-1707), Cx.01, livro 05(1708-1713), Cx. 01, livro 06 (1714-1719), Cx. 02, livro 07 (1720-1728), Cx.06, livro 17(1728-1736), Cx. 02, livro 09 (1743-1754), Cx. 03, livro 10 (1755-1760), Cx.03, livro 10(1760-1762), Cx. 03, livro 12 (1762-1775), Cx. 03, livro 14 (1775-1788).

No gráfico acima, pode-se visualizar a quantidade de requerimentos realizados no Senado da Câmara, divididos por localização dos pedidos. Foi possível constatar que do total de 202 requerimentos analisados, 65,84% ou seja, 133 requerimentos, foram realizados para a ocupação da Cidade, 21,28%, o equivalente a 43 requerimentos foram realizados para a ocupação da Ribeira, 4,45%, nove requerimentos foram realizados para localidades indefinidas, 4,95%, 10 requerimentos foram realizados em outras localidades (sítio da redinha, morro branco, lagoa seca), e 3,47%, sete requerimentos foram realizados para ocupar a estrada que ia para a Ribeira. Neste estudo, apenas os requerimentos realizados para ocupação da cidade, requerimentos realizados para ocupar a Ribeira e para ocupar a estrada que ia para a Ribeira serão aprofundados. No entanto, vale ressaltar que existiram lugares distintos de ocupação, apresentados nos

45 requerimentos de chãos de terra ao Senado da Câmara da Cidade, entre 1700-1785, como apontado no gráfico acima.

Esses requerimentos apresentaram uma dicotomia entre a ocupação do que se entendia enquanto cidade e sobre a Ribeira da mesma. A cidade configurava-se como o espaço do poder político e das atividades religiosas. Rubenilson Brazão Teixeira conjectura que as três ruas mais antigas da cidade surgiram ao lado das igrejas e da casa de câmara e cadeia. “Trata-se da Rua Grande conhecida também no século XVIII como Rua da Cadeia, por abrigar a casa de câmara e cadeia, a Rua da Conceição e a Rua

Santo Antônio”79. Já a Ribeira, caracterizada pelo relevo próximo ao rio na parte mais

baixa da cidade do Natal, denominou-se Ribeira, pois “o português julgava estar vendo

uma ribeira, como pensou enxergar um rio no Rio de Janeiro”80. E que “desde o início

da colonização citava-se a região com seus característicos topográficos”81. Cascudo,

caracteriza a Ribeira como um terreno pantanoso, “em que apenas alguns trechos

ficavam descobertos nas marés de janeiro”82. Observou o historiador que a construção

de casas na Ribeira teve início “pelas atuais rua doutor Barata, Chile e General

Glicério”83. No entanto, esse espaço durante o século XVIII, era o lugar do porto com

poucas habitações e algumas plantações de coqueiros.

Portanto, dos 202 requerimentos investigados apenas 183 foram profundamente investigados, pois nessa parcela foi possível constatar para além da dicotomia entre Cidade e Ribeira um entre-lugar, pois perfaz uma ponte entre dois espaços diferentes, denominado como a estrada que ia para a Ribeira desta cidade, pode-se observar no gráfico a seguir os requerimentos realizados entre 1700-1785 para a ocupação desses três espaços.

79 TEIXEIRA, B. Rubenilson. Da cidade de Deus à Cidade dos Homens, a secularização do uso, da forma e da função urbana, Natal RN EDFURN, 2009, p.188.

80CASCUDO, Luís da Câmara. História da cidade do Natal, coleção cultura, IHG/RN, Natal, 1999.p.149. 81 Ibidem, p. 150.

82Ibidem. 83 Ibidem, p. 151.

46

Gráfico 5. Percentual comparativo entre requerimentos realizados entre Cidade, Ribeira e estrada da Ribeira (1700-1785). Fonte: Cartas e Provisões do Senado da Câmara de Natal, IHGRN. Cx. 01, livro 04 (1702-1707), Cx.01, livro 05(1708-1713), Cx. 01, livro 06 (1714-1719), Cx. 02, livro 07 (1720-1728), Cx.06, livro 17(1728-1736), Cx. 02, livro 09 (1743-1754), Cx. 03, livro 10 (1755-1760), Cx.03, livro 10(1760-1762), Cx. 03, livro 12 (1762-1775), Cx. 03, livro 14 (1775-1788).

No gráfico 05, salientam-se as diferenças entre os requerimentos para ocupar os espaços identificados como: Cidade, Ribeira e Estrada para a Ribeira da cidade. Dos 183 requerimentos apresentados no gráfico, 72,67%, referentes a 133 chãos de terra solicitados ao Senado da Câmara, tiveram sua localização identificada no espaço da cidade, por meio de citação direta ou pela identificação da localização de requerimentos que confrontavam com o chão de terra solicitado. 23,49% desses chãos tiveram sua localização identificada na Ribeira, conforme o mesmo método, ora devido à indicação direta da carta de doação, ora por meio da identificação de seus confrontantes. Já sobre os 3,82% referentes aos sete requerimentos realizados na Estrada que ia para a Ribeira, foram todos identificados por menção direta na carta de doação de chãos de terra. Contudo, no gráfico 05, observa-se uma valorização do núcleo da Cidade em detrimento das demais localizações, relacionado à quantidade de requerimentos realizados para a ocupação da Ribeira e mesmo da estrada que ia para a Ribeira.

47

1.3 As perspectivas morfológicas da cidade colonial portuguesa e as formas e usos