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Por um chão "na rua que vai para o rio de beber": os vassalos d'el rei e a configuração espacial da cidade do Natal setecentista (1700-1785)

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POR UM CHÃO “NA RUA QUE VAI PARA O RIO DE BEBER”: OS VASSALOS D’EL REI E A CONFIGURAÇÃO ESPACIAL DA CIDADE DO

NATAL SETECENTISTA (1700-1785)

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA – MESTRADO

ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: HISTÓRIA E ESPAÇOS

LINHA DE PESQUISA I: NATUREZA, RELAÇÕES ECONÔMICO-SOCIAIS E PRODUÇÃO DOS ESPAÇOS

POR UM CHÃO “NA RUA QUE VAI PARA O RIO DE BEBER”: OS VASSALOS D’EL REI E A CONFIGURAÇÃO ESPACIAL DA CIDADE DO

NATAL SETECENTISTA (1700-1785)

MONIQUE MAIA DE LIMA

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MONIQUE MAIA DE LIMA

POR UM CHÃO “NA RUA QUE VAI PARA O RIO DE BEBER”: OS VASSALOS D’EL REI E A CONFIGURAÇÃO ESPACIAL DA CIDADE DO

NATAL SETECENTISTA (1700-1785)

Dissertação apresentada como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre no Curso de Pós-Graduação em História, Área de Concentração em História e Espaços, Linha de Pesquisa I: Natureza, Relações Econômicos-sociais, e Produção dos Espaços da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, sob a orientação da Profª Drª Carmen Margarida Oliveira Alveal.

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CAPA: Foto de Bruno Bourgard (1908). Foto panorâmica da cidade do Natal vista da torre da Igreja Matriz. Detalhe para o rio Potengi ao fundo e o prolongamento da Rua da Cadeia. Fonte: Acervo do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte.

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MONIQUE MAIA DE LIMA

POR UM CHÃO “NA RUA QUE VAI PARA O RIO DE BEBER”: OS VASSALOS D’EL REI E A CONFIGURAÇÃO ESPACIAL DA CIDADE DO

NATAL SETECENTISTA (1700-1785)

Dissertação aprovada como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre no Curso de Pós-Graduação em História da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, pela comissão formada pelos professores:

_________________________________________ Carmen Margarida Oliveira Alveal

__________________________________________ Clóvis Ramiro Jucá Neto

________________________________________ Rubenilson Brazão Teixeira

________________________________________ Helder Alexandre Medeiros de Macedo

____________________________________________ Nome do Suplente

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Dedico este trabalho aos meus pais, que desde minha mais tenra idade me incentivaram e apoiaram em todos os aspectos da vida. À dona Francisca, mãe dedicada e amorosa, que sempre esteve comigo ensinando a ter resiliência, e ao seu Ednaldo, pai honrado e carinhoso, que me ensinou a nunca desistir. Amo vocês!

Francisca das Chagas Maia Ednaldo de Lima (In Memorian)

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AGRADECIMENTOS

Durante esses quase três penosos anos de mestrado, contei com a sorte de encontrar verdadeiros anjos na minha vida, pessoas que me auxiliaram na árdua jornada que foi a realização deste trabalho. Na pesquisa e escrita, mas principalmente no fortalecimento da pessoa que venho moldando em meu espírito. Tenho certeza que Deus em sua infinita sabedoria colocou cada um desses seres de luz na minha caminhada com o propósito de me fazer acreditar que Ele jamais me abandonou. Tentarei aqui agradecer um pouquinho a alguns dos quase incontáveis anjos que Deus me enviou, sei que minhas humildes palavras não podem expressar todo o afeto e gratidão que nutro por cada uma dessas pessoas.

Primeiramente, gostaria de agradecer a Deus, ao seu amor incondicional que me permitiu chegar até este momento. Agradeço também à minha família, aos meus amorosos pais que apesar de todas as dificuldades da vida sempre se empenharam em formar uma pessoa de caráter e impelida a conquistar seus objetivos. À minha mãe agradeço a doçura, o apoio incondicional e a luta para me manter sã nos últimos tempos. Ao meu saudoso pai responsável por tantas saudades, agradeço o senso de responsabilidade e a dedicação que teve com a minha formação. Foi para ti, para a realização do nosso sonho tão planejado em nossas inúmeras conversas, todo o empenho para chegar a cursar uma graduação, e finalmente uma pós-graduação. Agradeço aos meus irmãos, Diogo e Davi que muitas vezes tiveram de fazer silêncio para a “chata” aqui estudar. Agradeço à minha madrinha e tia Tânia por sempre incentivar meus projetos acadêmicos, à tia Lúcia e a prima Paula por todo o apoio, e a minha avó Anestalda por toda a sabedoria advinda de seus 95 anos e ao amor que sempre me dedicou.

Agradeço à minha orientadora Carmen Alveal, que tive o privilégio de conhecer em 2011 quando cursei a disciplina de História do Brasil Colônia, por ela ministrada. À professora Carmen agradeço não apenas pela valorosa orientação, mas por todos os incentivos e puxões de orelha, já que sem eles não seria possível a realização deste trabalho. Por meio dela travei os primeiros contatos com os acervos documentais do período colonial, iniciando com o trabalho voluntário por breve período, nas transcrições paleográficas de cartas de sesmarias, no Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte (IHGRN). Em 2013 comecei a participar do Laboratório de

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Experimentação em História Social (LEHS) e nos intercalados períodos em que estive trabalhando no laboratório transcrevi alguns livros de batismos que fomentaram o objeto de minha pesquisa. Foi uma experiência que considero fundamental para minha formação. Aos integrantes do laboratório que me auxiliaram em toda a trajetória do mestrado agradeço em especial a Dayse e Danielle, pela transcrição dos livros de batismo, casamentos e óbito, e pelas boas energias. A Lívia, Elenize, Bruno, Leonardo e Marcos por todo o auxílio e incentivo.

Agradeço ao professor Rubenilson Brazão Teixeira por todo o apoio e toda a contribuição na elaboração dessa dissertação.

Agradeço às amizades que realizei durante as aulas do mestrado, Luciano Capistrano, pelas caronas e longas conversas até a minha casa, Raphael pela eterna paciência em me ouvir, a Antônio que demonstrou tanto carinho e preocupação, a Patrícia por me incentivar a não desistir, a Gabriela que desde a graduação é uma grande amiga, a Abimael, pessoa ímpar, grande companheiro para todas as horas nesse difícil caminho que foi a pós-graduação. Tenho muito a agradecer também aos amigos que a vida me presenteou a Pollyanna, Yasmênia, Cristiane e a Janaína que aguentaram minhas frustrações e mau humor me auxiliando a permanecer sã, me incentivando a não desistir.

Agradeço a todos os professores do departamento de História da UFRN, por tanto contribuir para minha formação desde 2009.

Agradeço a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, que financiou meu mestrado por meio da bolsa concedida. Graças a esse auxílio foi possível permanecer no Programa de Pós Graduação em História e Espaços, dedicando-me exclusivamente à minha pesquisa.

Finalmente agradeço a todos citados ou não aqui, que integraram minha jornada e tanto me auxiliaram nesses anos de mestrado. Graças a vocês consegui concluir a dissertação com êxito.

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RESUMO

Este estudo teve por objetivo analisar a ocupação da cidade do Natal entre 1700-1785 e o perfil social dos vassalos d’El Rei que pretenderam, por meio de requerimentos ao Senado da Câmara, aforar chãos de terra na urbe. O recorte temporal se explica pela necessidade do aparato de um equipamento urbano que fosse capaz de consolidar o povoamento da cidade, traduzido na construção da Igreja Matriz de Nossa Senhora da Apresentação, finalizada em 1694, fator que favoreceu a fixação de pessoas na urbe no início do século XVIII. Por essa razão, os estudos iniciam-se em 1700, estendendo-se até 1785, quando foi possível constatar que nas últimas décadas estudadas por essa pesquisa houve um consistente avanço da povoação em direção à Ribeira da cidade. Ao analisar os avanços em relação à ocupação do solo urbano, foi possível identificar também o estabelecimento de relações familiares entre os requerentes de terra da cidade do Natal, bem como suas estratégias para manter as áreas aforadas ou adensar seus domínios. Com base nesse estudo, foi possível compreender como e por quais indivíduos a cidade foi povoada e ocupada.

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RÉSUMÉ

L'objectif de cette étude est d'analyser l'occupation de la ville de Natal entre 1700-1785 et le profil social des vassaux du roi qui voulaient, au moyen de pétitions au Sénat, peupler des terres dans la ville. La période choisie est expliquée par la nécessité de l'appareil d'un équipement urbain qui a pu consolider le règlement de la ville, a traduit cela, la construction de l'église de Notre-Dame de la Présentation, achevée en 1694, un facteur qui a favorisé la mise en place de les gens dans la ville au début du XVIIIe siècle. Pour cette raison cette recherche a commencé en 1700, en prolongeant jusqu'à 1785, où il était possible de vérifier que dans les dernières décennies qui ont impliqué cette recherche il y avait une avance consistante de la ville vers les berges de la ville. Par conséquent, en analysant les progrès relatifs à l'occupation des terres urbaines, il a été possible d'identifier l'établissement de relations familiaires entre les demandeurs fonciers dans la ville de Natal, ainsi que leurs stratégies pour maintenir les zones peuplés ou approfondir leurs domaines. De cette étude il était possible de comprendre comment et par quels individus la ville était peuplée et occupeé.

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LISTA DE ABREVIATURAS

AHU – Arquivo Histórico Ultramarino SILB – Sesmarias do Império Luso Brasileiro

IHGRN – Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte

LEHS-RN – Laboratório de Experimentação em História Social do Rio Grande do Norte

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LISTA DE QUADROS, TABELAS, GRÁFICOS, FIGURAS E MAPAS

TABELAS

TABELA 1: REQUERENTES SELECIONADOS POR SEXO 59

TABELA 2: HOMENS REQUERENTES DE CHÃOS DE TERRA DA CIDADE DO NATAL 65

TABELA 3: REQUERENTES DE TERRA DA CIDADE DO NATAL DIVIDIDOS POR ESPAÇO

RELIGIOSO E ESPAÇO LAICO 68

TABELA 4: HOMENS LIVRES REQUERENTES DE CHÃOS DE TERRA DA CIDADE DO NATAL

INSERIDOS NO ESPAÇO LAICO 72

GRÁFICOS

GRÁFICO 1. REQUERIMENTOS DE TERRA REALIZADOS AO SENADO DA CÂMARA DA

CIDADE DO NATAL ENTRE 1700-1720.. 38

GRÁFICO 2. REQUERIMENTOS DE TERRA REALIZADOS AO SENADO DA CÂMARA DA

CIDADE DO NATAL (1721-1760). 39

GRÁFICO 3. REQUERIMENTOS DE TERRA REALIZADOS AO SENADO DA CÂMARA DA

CIDADE DO NATAL ENTRE 1761-1785.. 42

GRÁFICO 4. PERCENTUAL DE REQUERIMENTOS REALIZADOS AO SENADO DA CÂMARA DA

CIDADE DO NATAL (1700-1785). 44

GRÁFICO 5. PERCENTUAL COMPARATIVO ENTRE REQUERIMENTOS REALIZADOS ENTRE CIDADE,RIBEIRA E ESTRADA DA RIBEIRA (1700-1785).. 46

GRÁFICO 6. RUAS, CAMINHOS E EQUIPAMENTOS URBANOS APRESENTADOS NOS

REQUERIMENTOS DE CHÃOS DE TERRA DA CIDADE DO NATAL (1700-1720). 52 GRÁFICO 7. RUAS, CAMINHOS E EQUIPAMENTOS URBANOS APRESENTADOS NOS REQUERIMENTOS DE CHÃOS DE TERRA DA CIDADE DO NATAL (1720-1760). 54 GRÁFICO 8. RUAS, CAMINHOS E EQUIPAMENTOS URBANOS APRESENTADOS NOS REQUERIMENTOS DE CHÃOS DE TERRA DA CIDADE DO NATAL (1760-1785). 56

FIGURAS

FIGURA 1: MAPA DA CIDADE DO NATAL NO SÉCULO XVIII 30

FIGURA 2: PLANTA FALADA DA CIDADE DO NATAL NO SÉCULO XVIII 51

FIGURA 3: MAPA DO TRAJETO DA PROCISSÃO DA PENITÊNCIA DA CIDADE DO NATAL NO

SÉCULO XVIII.. 103

FIGURA 4: REDE FAMILIAR DOS RODRIGUES DE SÁ 120

(15)

FIGURA 6: REDE DAS MULHERES REQUERENTES DE TERRA COM A FAMÍLIA DE MANOEL

GONÇALVES BRANCO 135

MAPAS

MAPA: LOCALIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO 28 MAPA1: MILITARES REQUERENTES DE TERRA NA CIDADE DO NATAL 1700-1785 78 MAPA 2: MILITARES/ OFICIAIS CAMARÁRIOS REQUERENTES DE CHÃOS DE TERRA NA

CIDADE DO NATAL 1700-1785 87

MAPA3: OFICIAIS MILITARES DE CHÃOS DE TERRA NA CIDADE DO NATAL 1700-1785 92 MAPA4: PADRES REQUERENTES DE TERRA NATAL –1700-1785 111 MAPA5:MULHERES REQUERENTES DE TERRA - NATAL –1700-1785 148 MAPAS/TRANSPARÊNCIA: BASE 159

MAPA/TRANSPARÊNCIA: MULHERES REQUERENTES DE TERRA -NATAL (1700-1785) 160

MAPA/TRANSPARÊNCIA: PADRES REQUERENTES DE TERRA - NATAL (1700-1785)

161

MAPA/TRANSPARÊNCIA: OFICIAIS MILITARES DE CHÃO DE TERRA - NATAL (1700-1785) 162

MAPA/TRANSPARÊNCIA: MILITARES/OFICIAIS CAMARÁRIOS REQUERENTES DE CHÃOS DE TERRA NA CIDADE DO NATAL (1700-1785) 163

MAPA/TRANSPARÊNCIA: MILITARES REQUERENTES DE TERRA NA CIDADE DO NATAL

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SÚMARIO

INTRODUÇÃO 14

PARTE I “PARA O AUMENTO DESSA CIDADE”: EXPANSÃO E OCUPAÇÃO DA NATAL

SETECENTISTA 24

CAPITULO I CHÃOS DE TERRA DA CIDADE DO NATAL: QUANTIFICAÇÃO, EXPANSÃO E

NOMENCLATURAS (1700-1785) 25

1.1TERRAS URBANAS: CHÃOS OU DATAS VERSUS SESMARIAS 31

1.2 ANÁLISE QUANTITATIVA DOS CHÃOS DE TERRA DA CIDADE DO NATAL (1700-1785) 35 1.3EIXOS DE OCUPAÇÃO DO ROSSIO DA CIDADE DO NATAL (1700-1785) 43

1.4CONSIDERAÇÕES FINAIS 57

CAPÍTULO II VASSALOS DEL’ REI: OS REQUERENTES DE TERRA DA CIDADE DO NATAL

(1700-1785) 58

2.1OS ENFITEUTAS DA CIDADE DO NATAL SETECENTISTA 60

2.2 PERCEBENDO OS ESPAÇOS: OS REQUERENTES DE CHÃOS DE TERRA DA NATAL

SETECENTISTA E SUA REPRESENTAÇÃO SOCIAL 62

2.2.1OS OFICIAIS MILITARES REQUERENTES DE TERRA DA CIDADE DO NATAL. 73

2.2.2REQUERENTES DE TERRA QUE EXERCERAM OFÍCIOS CAMARÁRIOS E OFICIO MILITAR

CONCOMITANTEMENTE. 82

2.2.3OFICIAIS MECÂNICOS, REQUERENTES DE TERRA NA CIDADE DO NATAL 90

2.2.4MORADORES E OUTROS REQUERENTES DE CHÃOS DE TERRA DA CIDADE DO NATAL 93

2.3CONSIDERAÇÕES FINAIS 96

PARTEIIENTRE O SAGRADO E O FEMININO A OCUPAÇÃO DOS REVERENDOS VIGÁRIOS E

DAS MULHERES DA CIDADE DO NATAL 98

CAPÍTULO III ESPAÇO RELIGIOSO: DOS CAMINHOS AOS OCUPANTES DA CIDADE DO

NATAL (1700-1785) 99

3.1OCUPAÇÃO RELIGIOSA: OS PADRES REQUERENTES DE TERRA DA CIDADE DO NATAL

(1700-1785) 105

3.2 OCUPAÇÃO RELIGIOSA, PARTE II: A IRMANDADE OU CONFRARIA DO ROSÁRIO DOS

PRETOS. 114

3.3OS RODRIGUES DE SÁ E A OCUPAÇÃO DA CIDADE DO NATAL 1700-1785 116

3.4 CONSIDERAÇÕES FINAIS 122

CAPÍTULO IV OCUPAÇÃO FEMININA: AS MULHERES REQUERENTES DE TERRA DA

CIDADE DO NATAL (1700-1785) 124

4.1AS “DONAS”, VIÚVAS, SOLTEIRAS E “HONESTAS”: SENHORAS REQUERENTES DE TERRA

(17)

4.2CRIOULAS E PRETAS FORRAS: AS LIBERTAS REQUERENTES DE TERRA NA CIDADE DO

NATAL (1700-1785) 141

4.3A ESPACIALIZAÇÃO DOS CHÃOS DAS MULHERES DA CIDADE DO NATAL 146

4.4CONSIDERAÇÕES FINAIS 152

CONSIDERAÇÕES FINAIS 153

REFERÊNCIAS: 165

(18)

14

Introdução

“Antônio Vaz Gondim, capitão da capitania do Rio Grande em carta de 8 de dezembro do ano passado, escreve a Vossa Alteza, que tomou posse da mesma capitania[...] intentou levantar a igreja matriz, que tinha dado princípio e não poderia acabar, sem que Vossa Alteza fosse servido dar uma esmola para a obra, em razão da pobreza dos moradores, e que obrigou aos de maior cabedal a que levantasse suas casas naquela capitania, e entendia que acabando-se a igreja se povoaria a cidade.”1

Pensar a formação da Cidade do Natal a partir do ordenamento proposto pela Coroa portuguesa, cujo princípio parte da distribuição dos equipamentos urbanos, com a finalidade de estabelecer certo “controle urbanístico”, e o modo como os vassalos del’rei haviam ocupado e transformado esse lugar em espaço, por meio da prática e dos usos sobre o território, foi a tarefa que se propôs neste estudo. Para isso, consideram-se as noções de Michel de Certeau sobre lugar como “a ordem segundo a qual se distribuem elementos nas relações de existência”2; e espaço como o “efeito produzido pelas operações que o orientam, o circunstanciam, o temporalizam e o levam a funcionar em unidade”3. Nesse sentido, empregam-se esses conceitos de forma que a

Cidade do Natal seria o lugar, concebido pela Coroa lusa, que havia sido transformado

em espaço por meio dos usos dos vassalos D’El Rey. Portanto, percebe-se, pois, Natal

como um lugar praticado. Esses conceitos coadunam-se com uma perspectiva da História Urbana em que o termo “cidade” poderia ser definido como “um espaço em que as dinâmicas econômicas, políticas, sociais, demográficas, culturais e simbólicas conversam entre si”4.

Nesta investigação, entende-se a história da cidade como “parte integrante dos processos de disputa e formação de consenso social, bem como na construção de

1 Correspondência enviada ao Conselho Ultramarino. Fundo documental do IHGRN. Caixa 04, livro 6 (1674).

2 CERTEAU, Michel. A invenção do cotidiano: Artes de fazer. 3ª ed, Editora Vozes, Petrópolis RJ, 1998, p.201.

3 Ibidem, p.202.

4 ROLNIK, Raquel. O que é cidade ?. São Paulo: Brasiliense, 1988. ___. História Urbana: História na cidade? In: In: FERNANDES, Ana; GOMES, Marco Aurélio de Filgueiras. Cidade e História. Modernização das cidades brasileiras nos séculos XIX e XX. Salvador: UFBA, 1992, p. 27-30.

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15 representações e do imaginário social”5. Seria, pois, nas aglomerações urbanas que se

identifica com mais propriedade esses fatores em que os grupos sociais – a Coroa portuguesa e a sua gente –, criam uma nova ordem espacial, transformando o território em um espaço com conotações próprias de sua cultura.

A fundação de cidades nas colônias havia sido uma das prerrogativas da monarquia portuguesa no período colonial, ou seja, apenas o rei possuía o poder para fundar cidades. Isso diferia das vilas, as quais poderiam ser estabelecidas tanto pelos governadores quanto pelos donatários, posto que “inspirada no Direito romano, a cidade era dotada [...], de um estatuto independente, somente podendo ser fundada em terras próprias alodiais, isto é, terras que só estavam subordinadas ao rei6.”

A epígrafe que inicia este tópico condiz com a situação de despovoamento e de precariedade dos equipamentos urbanos encontrados na Cidade do Natal no início da segunda metade do século XVII. Assim, como havia afirmado Rubenilson Brazão Teixeira, devido à favorável localização geográfica, enquanto o ponto da costa da América portuguesa mais próximo de Portugal, Natal possuía uma importante função política e militar7. Portanto, essa cidade teria sua formação estrutural orientada no sentido de assegurar e de afirmar a posse lusitana sobre essas paragens, cujo principal escopo seria a defesa da costa. Segundo Paulo Santos, as cidades com essas características, em “sua maioria teriam tido como base econômica principal o açúcar, outras não passando de praças fortes cuja localização dependeu quase exclusivamente

de conveniências estratégicas”8. Esse autor assegura, ainda, que “a colonização da costa

nordeste havia ficado incompleta sem a conquista do Rio Grande do Norte – sendo este

o último reduto francês-potiguar naquela parte, na expressão de Hélio Viana”9.

Sobre os diferentes reveses que a monarquia portuguesa se deparou para conquistar efetivamente a Capitania do Rio Grande do Norte, no decorrer dos séculos XVI e XVII, ressaltam-se as infrutíferas tentativas de ocupação, pelos filhos do

donatário João de Barros, relatadas em 156110, a contestação das populações indígenas

5 RONCAYOLO, Marcel. In: Enciclopédia. Capítulo 8. Fonte: Imprensa Nacional, 1986.p. 396-487. 6 TEIXEIRA, Brazão Rubenilson. O poder municipal e as casas de câmara e cadeia: semelhanças e especificidades do caso potiguar, EDFURN, Natal, 2012, p.40.

7 Ibidem, p.42.

8 SANTOS, Paulo Ferreira. Formação de Cidades no Brasil Colonial 1904-1988, Editora UFRJ, Rio de Janeiro, 2001, p.81.

9 Ibidem, p.102.

10 Alvará de 2 de março de 1561, relatando a segunda tentativa frustrada de posse da terra pelos filhos do donatário João de Barros. (Teixeira, B. Rubenilson. Os primeiros núcleos de povoamento e a globalização (XVI e XVII).

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16 que lutavam para manter suas terras, algumas vezes conseguindo o apoio de inimigos da Coroa lusitana, a exemplo dos franceses, que estabeleceram relações de troca com os índios e dificultaram a interiorização dos súditos portugueses na Capitania do Rio Grande, nos primeiros anos da colonização. Todavia, a ruptura da territorialização ocasionada pelo domínio holandês, que se havia iniciado em 1633, perdurando durante 20 anos, foi muito mais prejudicial ao projeto colonizador português, e somente seria interrompido “a partir de uma iniciativa dos moradores das capitanias ocupadas pelos batavos e que depois teve o apoio do soberano português, uma luta pela retomada foi

empreendida, obtendo sucesso com a expulsão dos holandeses em 1654”11.

Refletindo algumas dessas dissonâncias, observa-se na epígrafe que, 75 anos após a fundação da Cidade do Natal, o Capitão-mor Antônio Vaz Gondim, quando havia assumido a posse do governo da Capitania do Rio Grande, em 1673, informaria as condições em que se encontravam a Fortaleza dos Santos Reis e a cidade. Logo, em carta de 7 de abril de 1674, descreveria essa calamitosa situação para a Coroa portuguesa. O sítio urbano estava em tamanho abandono que se obrigou os homens de maior cabedal, ou seja, aqueles que possuíam mais recursos, a construírem suas casas na cidade. De acordo com Rubenilson B. Teixeira, “o capitão estava tão determinado que impôs um prazo de seis meses para que os colonos mais aquinhoados empreendessem os trabalhos, sob pena de prisão e de multas12”.

No entanto, as dificuldades encontradas pelos lusitanos para obterem a posse absoluta e efetiva da Capitania do Rio Grande e, consequentemente, conseguirem ocupar a cidade estariam longe de ter um fim, pois os abusos realizados pelos mesmos conquistadores portugueses haviam ocasionado o levante de 1687 dos indígenas contra os colonos portugueses, iniciando uma longa contenda, que ficaria conhecida como a “Guerra dos Bárbaros” — neste trabalho apresenta-se a Guerra dos Bárbaros13 apenas

11 DIAS, Patrícia de Oliveira. Onde fica o sertão rompem-se as águas: processo de territorialização da Ribeira do Apodi-Mossoró (1676-1725) (Dissertação de Mestrado em História)Natal- RN, Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro de Ciências Humanas, Letras e Arte – Programa de Pós- graduação em História, 2015. p.44.

12 TEIXEIRA, B. Rubenilson. Da cidade de Deus á cidade dos Homens, a secularização do uso e da forma, EDFURN, Natal, 2009, p.191.

13 Para melhor compreensão sobre a Guerra dos Bárbaros ver o estudo de Júlio Cesar Vieira Alencar sobre a atuação da câmara da cidade do Natal no processo de conquista do sertão da capitania do Rio Grande durante a Guerra dos Bárbaros. ALENCAR, Júlio César Vieira de. Para que enfim se colonizem estes sertões: a câmara de Natal e a Guerra dos Bárbaros (1681-1722) (Dissertação de Mestrado em História) Natal- RN, Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro de Ciências Humanas, Letras e Arte – Programa de pós- graduação em História, 2017.

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17 como um dos impeditivos de ocupação da cidade sem aprofundar o tema. Segundo a historiadora Patrícia de Oliveira Dias, que estudou o processo de territorialização da Ribeira do Apodi-Mossoró, os indígenas conseguiram amedrontar os moradores, “com os ataques sofridos pela população, muitos eram aqueles que pretendiam sair da capitania em busca de local mais seguro”. Esse conflito propiciou um abandono sistemático do Rio Grande do Norte, visto que, de acordo com aquela autora a doação de sesmarias havia sido interrompida neste período conflituoso.

Em vereação do dia 2 de junho de 1689, os oficiais da Câmara da Cidade do Natal solicitaram “ao capitão-mor Agostinho César de Andrade, que não concedesse licenças de saída para os moradores do Rio Grande14”. Um ano antes, em 1688, esse

mesmo capitão-mor havia proibido a saída de qualquer morador da capitania, na

tentativa de impedir o despovoamento da mesma, dado que “quem mostrasse a intenção de deixar suas terras fosse este de qualquer condição social, seria considerado traidor e

poderia ser preso e ter os bens confiscados15”. Os oficiais da Câmara do Natal temiam

que permanecessem na capitania apenas os moradores pobres, o que dificultaria a defesa do território, já que os homens de melhor situação financeira possuiriam mais condições de armar-se contra o gentio. Este interlúdio com os indígenas perdurou até as primeiras décadas do século XVIII.

O objetivo geral desta pesquisa foi verificar e analisar o processo de organização espacial da Cidade do Natal ao longo do século XVIII, a partir dos indícios sobre essa ocupação que constavam nos requerimentos de chãos de terra urbana, efetuados pelos vassalos d’El Rei – homens, mulheres, padres, escravos – aos oficiais do Senado da Câmara do Natal, entre 1700 e 1785. Justifica-se o início desta investigação, a partir de 1700, devido às dificuldades encontradas pela Coroa portuguesa em efetivar o povoamento no período anterior. Como se percebeu na epígrafe deste tópico, o Capitão-mor Antônio Vaz Gondim havia solicitado auxílio financeiro à Coroa portuguesa – as ditas esmolas – para a conclusão da igreja matriz, provavelmente devido à precariedade

Os estudos clássicos de Pedro Puntoni e Idalina Pires, PUNTONI, Pedro. A Guerra dos Bárbaros; povos indígenas e colonização do sertão nordeste do Brasil, 1650-1720. São Paulo, 1998. Tese (Doutorado) Universidade de São Paulo.

PIRES, Idalina da Cruz. A Guerra dos Bárbaros: resistência e conflitos no nordeste colonial, 2 ed. Editora da Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2002.

14 DIAS, Patrícia de Oliveira. Onde fica o sertão rompem-se as águas: processo de territorialização da Ribeira do Apodi-Mossoró (1676-1725) (Dissertação de Mestrado em História) Natal- RN, Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro de Ciências Humanas, Letras e Arte – Programa de pós- graduação em História, 2015 p.104.

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18 da estrutura existente, pois, segundo Luís da Câmara Cascudo, a igreja matriz foi erigida

enquanto capela, no mesmo ano da fundação de Natal, em 25 de dezembro de 159916.

Acreditava o capitão que “acabando-se a igreja se povoaria a cidade” — por

conseguinte, para a sociedade portuguesa, as igrejas ou capelas poderiam ser entendidas

como um “marco de povoamento estável”17. A dita igreja foi finalmente concluída em

169418. Portanto, seria a partir do final do século XVII e início do século XVIII que a

cidade passaria a possuir um equipamento urbano que fomentaria a fixação de pessoas nesse território.

Este estudo debruçou-se sobre um período de 85 anos com o propósito de entender quais foram os eixos de crescimento da Cidade do Natal ao longo desse período. Foi possível constatar, por meio da documentação, que nos últimos 15 anos do referido recorte temporal em que foi realizada essa investigação, entre 1760 e 1785 havia ocorrido um aumento considerável na quantidade total de requerimentos relacionados à ocupação da Ribeira da Cidade do Natal. No entanto, devido às rupturas documentais, principalmente relacionadas ao final do século XVIII, e a nova configuração espacial que começaria a se desenhar com o desenvolvimento da Ribeira, os novos equipamentos urbanos inseridos na cidade, como por exemplo a construção do baldo que ligava a cidade à Ribeira, o recorte temporal deste estudo conclui-se em 1785.

Os estudos sobre as transformações do processo de ocupação do solo urbano permitem observar que a cidade se transformava a partir da construção de novos elementos religiosos. Na Cidade do Natal, foi possível constatar que a construção da Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos e, posteriormente, da Igreja de Santo Antônio dos militares, haviam empregado sentido à prática de alguns espaços da cidade, chegando a nomear ruas; a exemplo, a rua que se dirigia para o Rosário e a rua de Santo Antônio. E até mesmo a ocupação da Ribeira fortaleceu-se com a construção da igreja do Senhor Bom Jesus dos Passos, com indicações documentais sobre a mesma a partir

16 CASCUDO, Luís da Câmara. História da cidade do Natal. IHGRN, Natal,1999,p.50.

17 FONSECA, Damasceno Claudia. Arrais e vilas d’el rei: espaço e poder nas Minas setecentistas. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2011.p.94.

18 Segundo o historiador Olavo de Medeiros Filho, um termo de vereação do Senado da Câmara, do dia “22 de novembro de 1672, informava que a igreja matriz estava com tanta imperfeição e feita de taipa e barro, a maior parte caída, que mal podiam nela administrar os ofícios divinos e ainda estava ameaçando ruínas”. Ocorreu então uma reforma na matriz, cujos os serviços foram concluídos em 1694. MEDEIROS FILHO, Olavo de. Terra natalense, Natal, Fundação José Augusto, 1991, p.35. O arquiteto Rubenilson Brazão TEIXEIRA, também utiliza a data em seu trabalho ao falar sobre a igreja matriz. TEIXEIRA, Rubenilson B. Da cidade de Deus á cidade dos Homens, a secularização do uso e da forma, EDFURN, Natal, 2009, p.191

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19

de 177419, quando, Domingos da Rocha e Rita de tal, foram autuados pela Câmara do

Natal, pois tinham o hábito de jogar dejetos de seus quintais e casas no beco próximo a dita igreja, o que ocasionava mal cheiro e impedia aos transeuntes a passagem pelo lugar. Tal fato foi denunciado aos camarários que autuaram o casal contra a prática irregular. Com esse episódio pode-se constatar a Igreja do Senhor Bom Jesus dos Passos como um equipamento espacial que além de demarcar territorialmente, nos permitindo a identificação do lugar citado na fonte, e também como um local em que se devia prioritariamente cumprir as determinações da câmara. Talvez fosse um hábito dos moradores da Ribeira despejar seus dejetos em seus becos e ruelas, mas quiçá o uso do dito beco citado na fonte, vinculado com importante papel religioso da Igreja e seus usos pelos partícipes da vida urbana tenham gerado o desconforto para Rita de tal e Domingos da Rocha.

Portanto, seria com base nos equipamentos religiosos (as igrejas) ou de sua construção que se acredita que a Cidade do Natal foi efetivamente povoada. A abordagem comparativa20 foi o método utilizado para verificar as transformações do

processo de ocupação urbana entre 1700-1785. Compara-se neste estudo os períodos dentro do recorte entre 1700-1785. Para tanto decidiu-se subdividir esse período entre 1700-1720; 1721-1760; 1761-1785, e assim analisar cada período comparando-o com o anterior por decênios. Ao utilizar esse método buscou-se perceber a ocupação da cidade enquanto um processo que pode ser considerado um contínuo movimento de expansão. Compara-se também a utilização de novas nomenclaturas das ruas em todo o período de análise afim de verificar a implementação de novos equipamentos urbano que passaram a nomear os caminhos e ruas e a alteração dessas nomenclaturas. Compara-se também a quantificação dos requerentes de terra inseridos nos diferentes espaços estudados.

Sobre os objetivos específicos deste estudo pretende-se compreender como e por quem se concretizou a ocupação dessa urbe no século XVIII, observando a transformação do território pelo uso efetuado pelos indivíduos que pretenderam ocupar aqueles chãos. Como a Coroa Portuguesa, por meio de sua gente aplicou na Cidade do

Natal, a organização morfológica21 portuguesa advinda de sua vasta experiência

19 Livro de catálogo dos Termos de Vereação da cidade do Natal, Fl (s)151v-152v.11/06/1774.

20 Segundo Peter Burke, a abordagem comparativa da história tem várias vantagens e atrai a atenção do historiador para aquilo que os contemporâneos usualmente não percebem por exemplo o fato de que a sociedade é um sistema de partes independentes. BURKE, Peter. Veneza e Amsterdã: um estudo das elites do século XVII, editora brasiliense, 1991, p.20.

21 Segundo o arquiteto Manoel C. Teixeira, a organização morfológica, ou seja, a organização dos traçados urbanos do espaço das cidades coloniais da América lusa possuiu uma lógica própria, que

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20 urbanística, combinando fundamentos teóricos e práticos, que se transformaram ao longo dos séculos. Nesta análise foi considerada a toponímia dos lugares, a partir do que concebeu Maria Valentina do Amaral Dick e sua classificação toponímica22, que considerou alguns referenciais em sua classificação, entre eles: o Hierotoponímico – do

imaginário religioso que envolve nomes sagrados; Hidrotomonímico — nomenclatura

relativa à natureza hídrica, vinculada à importância dos cursos d’água; Geomorfotopominíco – relativo às formas de relevo ( exemplo para a Cidade do Natal: Ribeira); E, por fim, o Fitoponímico – denominação referente à vegetação.

Para além de observar como ocorreu a organização dos traçados e a transformação do processo de ocupação do sítio urbano, pretendeu-se verificar a diversidade de grupos sociais e as relações entre quem ocupou ou pretendeu ocupar os chãos da Cidade do Natal. Essa investigação identificou ainda esses indivíduos e, para isso, estabeleceu-se o perfil social desses agentes. A partir da abordagem prosopográfica23, seguindo o exemplo de Peter Burke que buscou realizar uma

biografia coletiva dos homens investigados em seus estudos sobre a elite de Amsterdã e Veneza, ou seja, tentou identificar as principais características culturais e sociais das elites investigadas, pretende-se investigar na amostragem dos 190 indivíduos requerentes de terra da cidade do Natal, os perfis sociais desse grupo, as principais características que evocaram os homens e mulheres que pretenderam ocupar Natal. Esses indivíduos foram divididos pelas diferenças de sexo, e das funções que haviam exercido na Capitania do Rio Grande.

Desse modo, para compreender como e por quem o sítio urbano da Cidade do Natal foi ocupado, metodologicamente, fez-se primeiro a separação entre os sexos e constatou-se que 23 desses indivíduos eram mulheres, e 166 eram homens. Esses 166 homens, foram divididos em diferentes categorias de acordo com o espaço ocupado por cada um no interior do aparelho administrativo da coroa portuguesa. Neste ínterim, o estudo avança a partir das discussões de Ana Cristina Nogueira e António Manoel

combinou os fundamentos teóricos e práticos da vasta experiência urbanística portuguesa, que se transformou ao longo dos séculos. TEIXEIRA, Manuel C. A influência dos modelos urbanos portugueses na origem da cidade brasileira, IV Seminário de história da cidade e do urbanismo, p.572.

22 Para melhor compreensão do método taxeonômico organizado por Dick para o enquadramento dos topônimos nos referenciais citados consultar: Dick, Maria Vicentina de Paula do Amaral. A motivação Toponímica e a realidade brasileira, 1990; Maria V. de Paula do Amaral. Dinâmica dos nomes na cidade de São Paulo – 1554 -1897, 1996, p.12.

23 Abordagem prosopográfica foi utilizada por Peter Burke, para o estuo da biografia coletiva dos homens investigados em seus estudos sobre a elite do século XVII. BURKE, Peter. Veneza e Amsterdã: um estudo das elites do século XVII, editora brasiliense, 1991, p.22.

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21 Hespanha24 e sobre a configuração corporativa da sociedade lusa e os diferentes espaços em que as categorias sociais do Antigo Regime estavam inseridas. O primeiro ponto observado foi quanto à condição jurídicas desses homens. A seleção ocorreu entre homens livres, libertos/forros, e escravos; o segundo ponto referiu-se à diferenciação entre os requerentes de terra pertencentes ao espaço eclesiástico — os clérigos e irmandades; ao espaço laico atribuímos todo o corpo da sociedade ultramarina não envolvido diretamente com a igreja. Os requerentes de terra inseridos no espaço laico foram divididos entre oficiais militares, oficiais militares/camarários, oficiais camarários, oficiais mecânicos, e aqueles sobre os quais não foi possível identificar por meio da atividade a que estava vinculado ou que não pertencia a nenhum desses grupos

foram classificado como morador25 e outros.

Para a realização deste trabalho, foram utilizados os Livros de Cartas e Provisões do Senado da Câmara do Natal, referentes aos “chãos de terra” da cidade do Natal, sob a guarda do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte. Nesse conjunto foi possível identificar os nomes dos requerentes de chãos de terra, além da condição jurídica de alguns requerentes, e a localização dos chãos. Interpretar os dados possibilitou a realização de tabelas, quadros e gráficos deste trabalho; utilizando-se a espacialização das fontes como metodologia de trabalho possibilitou também a construção dos mapas, ou seja, de uma cartografia retrospectiva que permitiu a visualização da ocupação do sítio urbano por diferentes grupos sociais.

Para complementar os dados sobre os requerentes de terra, foram utilizados os Termos de Vereação da Cidade do Natal26, encontrados desde pelo menos 1674 até

1823 (mesmo que tenham sido utilizados apenas os anos entre 1700-1785 nesta

pesquisa) com algumas breves lacunas para este período e os livros de registros de “Cartas e Provisões do Senado da Câmara do Natal”. Estes documentos produzidos pelo Senado da Câmara do Natal também encontram-se no Instituto Histórico e Geográfico

24 SILVA, Ana Cristina Nogueira da. HESPANHA, António Manoel. O quadro Espacial. In: MATTOSO, José (Dir.), HESPANHA, António Manoel (Coord). História de Portugal: O Antigo Regime. Vol. 4, Lisboa, Ed. Estampa, 1998.

25 A historiadora Fernanda Bicalho, ao se referir ao uso dos aforamentos na cidade do Rio de Janeiro, identificou como “moradores”, os indivíduos que “não eram os oficiais da câmara, nem “a nobreza da terra” ou “pessoas principais” da terra. A categoria, segundo Bicalho, era bastante ampla e inclusiva, apesar de um pouco indeterminada. BICALHO, Maria Fernanda. A cidade e o império: O Rio de Janeiro no século XVIII, Civilização brasileira, Rio de Janeiro, 2003,p.210.

26 Agradece-se à professora Fátima Martins Lopes, do Departamento de História da UFRN, por ter disponibilizado o catálogo dos Termos de Vereação da Câmara da Cidade do Natal, para o LEHS-RN (Laboratório de Experimentação em História Social), promovendo o desenvolvimento desta pesquisa.

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22 do Rio Grande do Norte (IHGRN). Por meio deste corpus documental foi possível identificar dentre os requerentes de terra aqueles que possuíram na cidade algum cargo camarário ou que esteve envolvido de algum modo com alguma atividade na cidade. Além de informações sobre toda a dinâmica administrativa em relação ao espaço urbano. Também foram utilizados os registros paroquiais, encontrados no Arquivo da Cúria Metropolitana de Natal, e os registros de casamento (1727-1755), com os quais foi possível compor as relações familiares e de apadrinhamento de alguns dos 190 indivíduos em análise. Assim como por meio dos registros de batismos (1688-1714) que estão no Arquivo do Instituto Histórico de Pernambuco.

Nesse ínterim, para melhor compreensão deste trabalho, optou-se por dividir esta dissertação em duas partes, cada uma contendo dois capítulos. Na parte I, intitulada “Para o aumento dessa cidade”: expansão e ocupação da Natal setecentista,

objetivou-se analisar os conceitos sobre a ocupação,bem como identificar os grupos sociais entre

os requerentes de terra. Esse estudo fornecerá elementos para o entendimento sobre o que foi a Cidade do Natal, entre 1700-1785, suas primeiras ruas, como eram identificadas e nomeadas nos requerimentos por chãos de terra, quantos pedidos foram analisados na pesquisa, quais os eixos de crescimento e ocupação. Do mesmo modo, discutiremos sobre o grupo de requerentes analisados na amostragem referente ao período investigado, bem como os vários grupos sociais que foram representados e identificados em seus diferentes espaços no aparelho administrativo da Coroa portuguesa. Quem eram esses indivíduos? A que grupo pertenciam? Havia a existência de diferentes espaços?

No capítulo I, intitulado Chãos de terra da Cidade do Natal: quantificação, expansão e nomenclaturas (1700-1785), busca-se averiguarcomo ocorreu a ocupação da cidade, de suas vielas e ruas, no decorrer do século XVIII, assim como seus os eixos de expansão. A pesquisa se desenvolve com base nos requerimentos que foram efetuados ao Senado da Câmara da Cidade do Natal. Portanto, para se compreender o processo de ocupação da Cidade do Natal, no século XVIII, faz-se necessário entender as diferenças entre terra urbana e terra rural no período colonial, as diretrizes morfológicas portuguesas sobre suas conquistas, as áreas de expansão da Cidade do Natal e as nomenclaturas e usos do espaço urbano.

No capítulo II, intitulado Vassalos Del’ rei: os requerentes de terra da cidade do Natal (1700-1785) buscou-se identificar no grupo amostral de requerimentos analisados, os indivíduos que prestaram as solicitações, ou seja, os vassalos d’El Rei

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23 que requereram ao Senado da Câmara chãos na Natal setecentista. Assim, para além de identificar esses requerentes, pretendeu-se esboçar uma pequena fatia relacionada ao quadro humano que ocupou ou pretendeu ocupar a cidade do Natal, expressos nos seus diversos grupos sociais. Apresentar-se-á, destarte, o que neste trabalho entende-se por um requerente de terra, e as prerrogativas para concessão do foro.

Na parte II, intitulada Entre o sagrado e o feminino a ocupação dos reverendos vigários e das mulheres da cidade do Natal apresentam-se dois estudos de caso, sobre os usos e apropriações do solo urbano por dois grupos: a ocupação religiosa realizada pelos reverendos vigários da cidade do Natal e pela irmandade do Rosário dos Pretos, e a ocupação realizada pelas mulheres requerentes de terra da cidade do Natal, independente de sua condição jurídica (livres ou forras).

No capítulo III, intitulado Espaço religioso: Dos caminhos aos ocupantes da cidade do Natal (1700-1785) busca-se apresentar como a vinculação entre Igreja e a Coroa portuguesa foi capaz de gerir as bases que estruturaram a Cidade do Natal colonial, a Igreja como detentora de um poder simbólico, conceituado por Pierre Bourdieu como o poder de construir uma realidade, de estabelecer uma ordem. E como os partícipes do espaço religioso buscaram ocupar o território da urbe.

No capítulo IV, Ocupação feminina: as mulheres requerentes de terra da cidade do Natal (1700-1785) pretendeu-se investigar a ocupação feminina, com o propósito de perceber o seu perfil e as justificativas para essas mulheres solicitarem as terras. Se as relações parentais facilitaram ou não a petição dessas mulheres, que pertenciam a diferentes situações econômicas, dentre elas: donas, viúvas, honestas e forras.

Nas considerações finais deste trabalho é possível constatar todas as observações sobre as hipóteses levantadas ao longo deste estudo, além das sobreposições em transparências de todos os mapas realizados sobre a cidade. Nos anexos constam observações sobre os requerimentos dos chãos de terra referenciados nos mapas 1 e 2.

A partir desse estudo, acredita-se contribuir para a discussão sobre a história da cidade do Natal, mas precisamente, sobre a ocupação e estruturação do sítio urbano da cidade, a construção das redes de vizinhança e a perspectiva de crescimento da urbe. Diferenciando-se dos demais trabalhos já realizados sobre o tema, pela construção da biografia coletiva dos vassalos d’El Rei que ocuparam a cidade, o mapeamento dos chãos de terra requeridos e a identificação dos diferentes espaços existentes na urbe.

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24

PARTE I

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Capítulo I

Chãos de terra da Cidade do Natal: quantificação, expansão e nomenclaturas (1700-1785)

“O Visconde de Porto Seguro ensina: “Se chamou Natal, em virtude sem dúvida de se haver inaugurado o seu pelourinho ou a sua igreja matriz no dia 25 de dezembro desse ano da fundação” (1599). A 25 de dezembro do mesmo ano (1599), Jerônimo de Albuquerque, saindo da fortaleza, na distância de meia légua, num terreno elevado e firme, que já se denominava Povoação dos Reis, demarcou o sítio da cidade que recebeu o nome de Natal, em honra desse glorioso dia, que assinala no mundo da cristandade o nascimento do divino... Redentor. ”27

Em primeiro de janeiro de 1605, o Capitão Mor Jerônimo de Albuquerque havia concedido, ao “Concelho da cidade”, a data de terra, que corresponderia ao rossio da Cidade do Natal, a qual se situaria “do rio desta cidade até os morros altos e pelo rio Guaramine até o mar, serve para pastos e algumas madeiras para casas, duas léguas por

meia”28. Segundo o arquiteto Rubenilson B. Teixeira este documento foi registrado no

Auto de Repartição de terras do Rio Grande, em 161429. Para Olavo de Medeiros Filho,

“naquele 6 de janeiro, quando ocorreu a concessão da Data do Concelho, talvez se

estivesse comemorando o 5º aniversário da fundação da cidade dos Reis”30. Segundo a

historiografia31, Natal teria recebido o nome de Cidade dos Reis e Cidade de Santiago,

antes de ser denominada como a Cidade do Natal. Porém, antes da fundação do Natal, os colonos agruparam-se próximos a Fortaleza dos Santos Reis para melhor se defender dos índios, originando uma pequena povoação.

27 CASCUDO, Luís da Câmara. História da cidade do Natal, coleção cultura, 4ª ed, Natal, RN:EDUFRN, 2010.p.48 -49.

28 MEDEIROS FILHO, Olavo de. Terra Natalense, Natal, Fundação José Augusto,1991. p,58

29 TEIXEIRA, Rubenilson B. Da cidade de Deus á Cidade dos Homens, a secularização do uso, da forma e da função urbana, Natal, EDFURN, 2009, p. 396.

30 MEDEIROS FILHO, Olavo de. Terra Natalense, Natal, Fundação José Augusto,1991. P,58.

31 Segundo Câmara Cascudo aponta, frei Vicente de Salvador, escrevendo em 1627 a primeira História do Brasil, informado por seus irmãos de hábito, frei Bernardino das Neves e frei João de São Miguel, testemunhas da colonização do Rio Grande, registrara: “Feitas as Pazes com os potiguares, como fica dito, se começou logo a fazer a cidade dos Reis”. Em outro momento, Capistrano de Abreu escreveu: Melchior Estácio do Amaral, historiador do naufrágio da nau S. Iago, diz que chamava-se cidade de Santiago a que se fundava no Rio Grande e tinha três casas de pedra e cal”. Medeiros Filho, afirma que em documentos oficiais o topônimo cidade do Natal surgiria somente em 1614. “por analogia a cidade edificada por ordem real no Rio Grande, capitania da coroa , receberia a denominação de Santiago, em deferência ao santo padroeiro da Espanha, cuja a comemoração ocorre no dia 25 de julho. Contudo o topônimo Santiago não prosperou já que a a cidade fundada no Rio Grande passou a ser conhecida como Cidade dos Reis”. CASCUDO, Luís da Câmara. História da cidade do Natal, coleção cultura, 4ª ed, Natal, EDUFRN, 2010.p.53. MEDEIROS FILHO, Olavo de. Terra Natalense, Natal, Fundação José Augusto,1991, p.32.

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26 No entanto, pode-se observar na epígrafe que inicia este tópico que em 1599 Jerônimo de Albuquerque havia demarcado o sítio da Cidade do Natal, seis anos antes de fazer a doação das terras ao Concelho desta edilidade. No mesmo trecho, foi possível observar também as justificativas para o topônimo Natal. Destarte, a Cidade do Natal passou a existir em 1599, no contexto da união das coroas ibéricas, e alcunhou o título de cidade provavelmente porque as terras da Capitania do Rio Grande eram subordinadas diretamente ao Rei, ou seja, eram terras alodiais. Segundo Teixeira, “detentora de uma localização geográfica favorável, uma vez que se constituía no ponto da costa brasileira mais próxima de Portugal, Natal teve uma importante função

geopolítica e militar”32, esse autor havia destacado, ainda, que “Natal recebeu desde sua

fundação, o título de cidade por causa de seu papel de conquista do território face a ameaça de corsários franceses”33. Sobre os limites estabelecidos no Auto de

repartição, em 1614, Medeiros Filho havia afirmado que correspondiam: “do Potengi

aos morros que ficam ao sul da cidade, do mar ao rio Guaramine”34, provavelmente o

rio que adentrava no Ferreiro Torto.

Luís da Câmara Cascudo assegurou que a Cidade do Natal no século XX, possuiu três zonas básicas, as quais seriam a urbana, a suburbana e a rural. O autor identifica essas zonas por meio das denominações atuais de avenidas, ruas e bairros que não existiam no período colonial, assim, para Cascudo, a zona “urbana termina na

Avenida Antônio Basílio, no Alecrim e para o sudeste é a linha das dunas ou morros”35;

A Suburbana “é a que segue depois da avenida Antônio Basílio até a Capitão mor Gouveia, isto é, a derradeira antes da Vila S. Francisco de Assis, a última avenida na perpendicular ao eixo da estrada férrea”36; a Rural é a parte para além desta avenida, além dos 6.666 metros do Concelho, do saudoso Senado da Câmara”37. A Cidade do

Natal colonial, segundo Cascudo, desenvolveu-se no “chão elevado e firme à margem

direita do rio que os portugueses chamavam Rio Grande e os potiguares o Potengi”38. O

32TEIXEIRA, Rubenilson Brazão. O poder municipal e as casas de Câmara e cadeia: semelhanças e especificidades do caso potiguar, Natal, RN EDUFRN, 2012, p.42.

33 Ibidem.

34 MEDEIROS FILHO, Olavo de. Terra Natalense, Natal, Fundação José Augusto,1991. P,58.

35 CASCUDO, Luís da Câmara. História da cidade do Natal, coleção cultura, 4ª ed., Natal, RN:EDUFRN, 2010.p.31.

36 Ibidem. 37 Ibidem. 38Ibidem, p.51.

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27 arquiteto João Maurício Fernandes Miranda, descreveu os limites da Cidade do Natal, como se pode verificar no trecho abaixo:

(...) hum chão elevado e firme, a margem direita do rio, obra de meia légua acima de sua perigosa barra. Convertida em braças em metro, temos um retângulo aproximado de 800m por 110m metros, que compreende os seguintes limites: ao norte, com o cruzeiro que deu o nome da rua da cruz, hoje Junqueira Aires; ao sul com a cruz fincada na margem do córrego do Baldo, cruz da bica, rio de beber, o Tiuru, de George Macgrave; Tissuru, na descrição de Pernambuco de 1746, hoje Santa Cruz da Bica; a leste pela rua da conceição, passando por trás da matriz e seguindo pela rua coronel Bonifácio, hoje rua Santo Antônio; a oeste, pela praça das laranjeiras, hoje João Tibúrcio, pela Rua do Fogo, hoje rua Padre Pinto, chegava ao Baldo39.

A citação acima descreve os limites espaciais do que havia se configurado como o sítio da Cidade do Natal, no período colonial, indicando os seus extremos. No mapa a seguir pode-se visualizar a cidade do Natal com as demarcações atuais.

39 MIRANDA, João Maurício Fernandes. Evolução urbana de Natal em 400 anos (1599-1999). Natal: Coleção 400 anos, 1999, p.45.(apud COSTA, Renata Assunção. “Porta do céu”: O processo de cristianização da freguesia de Nossa Senhora da Apresentação (1681-1714), p.58).

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29 Nos mapas apresentados no encarte acima, é possível identificar o Estado do Rio Grande do Norte, a cidade do Natal e a demarcação do que foi a cidade no período colonial, espaço que é objeto de estudo desse trabalho. Assim como é possível constatar também a presença dos objetos balizadores do espaço a partir das imagens: do Forte dos Reis Magos, Igreja de Nossa Senhora da Apresentação, Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos pretos, Igreja de Santo Antônio dos militares e da Casa de Câmara e cadeia. Sobre o espaço objeto de estudo, a demarcação em preto é inspirada nos estudos realizados pelo arquiteto Rubenilson Brazão Teixeira que a partir das informações históricas sobre a configuração do núcleo inicial da cidade do Natal elaborou um mapa no qual se pode visualizar, espacialmente, as ruas da cidade, os equipamentos urbanos pertencentes a esse espaço e sua periodização. As diferentes cores apresentadas no desenho do mapa equivalem à perspectiva do arquiteto quanto à evolução da ocupação da urbe.

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Figura 1: Mapa da Cidade do Natal no século XVIII

Fonte: TEIXEIRA, Rubenilson Brazão. Da cidade de Deus à cidade dos homens: a secularização do uso, da forma e da função urbana. Natal: EDUFRN – Editora da UFRN, 2009.40

Como se pode observar na Figura 1 do mapa da cidade do Natal, Rubenilson B. Teixeira apresentou os principais equipamentos urbanos da Cidade do Natal, a casa de câmara e cadeia, as cruzes norte e sul indicando os limites da urbe, e as três igrejas: Nossa Senhora da Apresentação (matriz), 1694, igreja de Nossa Senhora do Rosário, provavelmente entre 1704-1706, e a igreja de Santo Antônio dos militares ou do galo, 1762. Utilizou as cores preto (1700), laranja (1700-1725), rosa (1725-1750), e verde

40 TEIXEIRA, Rubenilson Brazão. Da cidade de Deus à cidade dos homens: a secularização do uso, da forma e da função urbana. Natal: EDUFRN – Editora da UFRN, 2009. p. 521. Mapas intitulados originalmente “Figura 3 – Natal no século XVIII” Realizados sobre plantas do IPLANAT (Instituto de Planejamento Urbano de Natal).

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31 (1750-1800), para identificar a evolução da ocupação dos espaços da cidade, seguindo uma linearidade temporal. De acordo com a imagem, o autor identificou e nomeou cinco ruas existentes em Natal, no século XVIII: a Rua Grande ou Rua da Cadeia, a Rua da Conceição, a Rua de Santo Antônio, a Rua do Fogo, e a Rua Nova.

Para além dos apontamentos elaborados por Teixeira, neste capítulo, buscar-se-á investigar como ocorreu a ocupação da cidade, de suas vielas e ruas, no decorrer do século XVIII, assim como seus eixos de expansão. A pesquisa desenvolveu-se com base nos requerimentos que foram efetuados ao Senado da Câmara da Cidade do Natal, cujo objetivo precípuo era a obtenção da concessão de chãos de terra nesta urbe, entre 1700-1785. Portanto, para se compreender o processo de ocupação da Cidade do Natal no século XVIII, faz-se necessário entender as diferenças entre terra urbana e terra rural no período colonial, as diretrizes morfológicas portuguesas sobre suas conquistas, as áreas de expansão da Cidade do Natal e as nomenclaturas e usos do espaço urbano.

1.1 Terras urbanas: chãos ou datas versus sesmarias

Segundo Claúdia Damasceno Fonseca, na Época Moderna o território continental da monarquia portuguesa já se encontrava quase inteiramente coberto por uma malha constituída de várias centenas de concelhos, que naquele território podiam ser designados oficialmente como cidades, vilas, coutos e honras sem que houvesse muitas diferenciações entre essas designações. “Os concelhos eram as células básicas da

organização político-territorial portuguesa”41, modelo de organização local que a Coroa

transferiu para suas colônias. Fonseca afirmou ainda que as instituições municipais foram instrumentos essenciais para a construção e para a defesa dos territórios ultramarinos portugueses. Embora a Coroa, por meio da legislação, tenha assegurado uma certa uniformidade das instituições, existiram algumas dissonâncias entre os concelhos do reino e os concelhos instalados nas conquistas. Essas diferenças derivavam, sobretudo, dos aspectos econômicos, socioculturais e até mesmo geográficos de cada unidade territorial. Por conta dessas distintas demandas, “o léxico

41FONSECA, Cláudia Damasceno. Arrais e vilas Del´rei: espaço e poder nas Minas setecentistas, Belo Horizonte, Ed UFMG, 2011. P.26-27.

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32 ligado à forma de organização político-territorial sofreu, da mesma maneira, algumas

transformações quando da sua implantação ao Novo Mundo.”42

Ainda segundo essa autora, em Portugal a maior parte das sedes dos concelhos tinham o título de vila, e mesmo concelhos mais modestos poderiam ser dispostos em áreas rurais e a povoação permanecer com o mesmo status simples. Já na América portuguesa, não se verificou tamanha diversidade, “as localidades recebiam o título de vila ao mesmo tempo em que adquiriam o direito de se autogerirem, ou seja, de possuir

uma câmara, com seu território de jurisdição (termo) e com rendas próprias.”43

Como visto no tópico anterior, Jerônimo de Albuquerque havia concedido, em 1605, ao Concelho da Cidade do Natal, a data de terra que corresponderia ao rossio dessa edilidade. As câmaras municipais possuíam, de acordo com Fonseca, dois atributos espaciais que seriam inerentes ao modelo português de organização municipal: o termo e o rossio. A principal diferença entre ambos residiria na questão das dimensões desses espaços. O termo corresponderia “ao território controlado pela câmara, no interior dos termos existiam fazendas e arraiais, além de sertões mais ou menos ocupados”44. Já o rossio, competiria aos territórios menores, “terrenos que eram

atribuídos pela Coroa a res pública, a fim de construir o patrimônio da câmara. Esta podia dividi-los em chãos (lotes) e concedê-los, mediantes o pagamento dos foros

anuais, aos moradores que pediam para edificar suas casas”45. O rossio seria, portanto, o

espaço central da vila, “delimitado a partir de um centro geométrico, que era situado,

idealmente, sobre o pelourinho”46. Segundo Elisangela Maria da Silva, o rossio seria a

“antiga sesmaria do concelho, doada para usufruto comum e sob controle da Câmara”47,

nesse sentido, o rossio serviria para a distribuição para a população e também como fonte de renda para o Concelho.

Seria certo afirmar que havia existido uma dinâmica diferente entre o espaço campo (rural) e o espaço urbano no período colonial. Segundo Carmen M. Oliveira

42 FONSECA, Cláudia Damasceno. Arrais e vilas Del´’rei: espaço e poder nas Minas setecentistas, Belo Horizonte, Ed UFMG, 2011. P.28.

43 Ibidem, p.28-29. 44 Ibidem, p.30. 45 Ibidem, p.30. 46 Ibidem, p.30.

47SILVA, Elisangela Maria. Práticas de apropriação e produção do espaço em São Paulo: A concessão de terras municipais através das Cartas de Datas (1850-1890). (Dissertação de Mestrado em Arquitetura e urbanismo) São Paulo: Universidade de São Paulo. 2012, p.53.

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33

Alveal48 a década final do século XVII, foi um período de intensa produção de leis no

tocante a terra na América portuguesa. Entre as principais determinações estavam a regulamentação do tamanho da sesmaria, as demarcações e o controle sobre a quantidade de sesmeiros sobre a mesma data de terra. O esforço da monarquia em relação ao controle das sesmarias não foi relegado apenas ao espaço rural, mas também ao perímetro urbano. “Os estudos sobre o processo de urbanização na Europa ocidental abordaram o tema sob o ângulo da institucionalização e diferenciação legal e

administrativa do espaço do campo em contraposição ao da cidade”49. Devido ao caráter

da exploração monocultora no Brasil, especialmente nos primeiros séculos da conquista, voltados para a produção açucareira, e a posteriore para a produção pecuária, seria compreensível que o espaço campo, tenha garantido maior visibilidade nas suas relações econômicas e sociais, o que refletiria sua gama de poder no controle político local absorvido pelos proprietários rurais. Todavia, o processo de formação citadina havia sido pouco explorado, principalmente em se tratando da América portuguesa.

Raquel Glezer afirmou que “as raras cidades e vilas do final do período colonial são descritas como esvaziadas de poder e significação, simples locais para atividades

religiosas e administrativas”50. No entanto, essa autora destaca, ainda, que “os modelos

clássicos de análise de fenômenos sociais não podem ser mecânica e esquematicamente aplicados à realidade de um espaço de exploração colonial”51, visto que esse espaço

derivaria da prática dos interesses e das possibilidades locais. Mesmo que esse espaço obedecesse às mesmas leis, regulamentos e determinações que suas congêneres europeias.

Retomando a questão das disparidades entre o espaço cidade e o espaço campo, Glezer elaborou a seguinte perspectiva, “na prática, a terra urbana não sofrera

tratamento diferenciado, quer institucional e consuetudinariamente, quer legalmente”52.

Embora, “a própria forma de obtenção de terra para a propriedade rural, a sesmaria, e para a propriedade urbana, a data de terra, ou o chão de terra, apresentava diferenças”53.

48 ALVEAL, Carmen M. Oliveira. O tombamento de terras rurais e urbanas: atuação dos desembargadores nas capitanias do Norte do Estado do Brasil(100-1720). In: MENEZES, Jeannie da Silva.(org) A práxis judicial em tempos coloniais: construções teóricas e praticas de poder e autoridade nas dinâmicas da justiça nos mundos americanos (séc. XVI-XIX), 2018, p.107.

49 GLEZER, Raquel. Chãos de terra e outros estudos sobre São Paulo. São Paulo: Alameda, 2007.p.53. 50 GLEZER, Raquel. Chão de terra e outros estudos sobre São Paulo. São Paulo: Alameda, 2007.p.54. 51 Ibidem.

52 Ibidem, p.57. 53 Ibidem, p.58.

(38)

34 Enquanto a sesmaria poderia ser “obtida por ato do rei, diretamente, ou via donatário, seu loco-tenente na ausência deste, do governador geral ou do capitão-general, com condição de livre foro pelo menos até o final do século XVII, mediante a exigência de pré-requisitos do solicitante como capital e situação social” 54, a data de terra ou chão de terra, “era cedida pela câmara, instância de poder local, detentora de um “termo” sobre o qual teria jurisdição legal, jurídica, militar, econômica e administrativa, com o poder de conceder terra para as moradias e para a exploração, quer gratuitamente, quer através

do pagamento do foro, que era parte de seus rendimentos”55. Outras dissonâncias entre

estes dois tipos de concessão, dizia respeito às diferentes dimensões de terra doadas e as justificativas para as concessões. Enquanto as sesmarias poderiam abranger “de uma a

três léguas” 56, os chãos de terra eram concedidos em escala menor, ou seja, em braças.

Segundo Raquel Glezer, em relação a cidade de São Paulo, quanto às justificativas apresentadas pelos requerentes para a obtenção das cartas de sesmarias, os solicitantes alegavam no pedido, dentre outras coisas, os “bens para a exploração, braços para trabalho, animais e instrumentos para tal, ou mesmo o fato de estar explorando a

terra”57. No caso dos chãos de terra, “o pedido baseava-se na necessidade, na pobreza,

no morar na vila, na troca de serviços com a câmara etc.”58

No tocante ao aparato legal, Fernando V. Aguiar Ribeiro apontou que as vilas e as cidades haviam seguido as mesmas prerrogativas, direitos e deveres iguais ao reino, obedecendo, desse modo, as prescrições contidas primeiramente nas Ordenações Manuelinas e, posteriormente, nas Ordenações Filipinas. As vilas tiveram sua autonomia assegurada por meio das “cartas de privilégios e forais”, que possuíam como finalidade “definir os direitos e deveres coletivos dos habitantes de uma povoação, frente à entidade concedente, o de estatuir ou fixar o direito público local ou, pelo menos, certos aspectos desse direito público”59. O historiador Fernando V. Aguiar Ribeiro compreendeu que a discussão sobre a terra urbana na América portuguesa exigiu a reflexão da transferência e a adaptação do instituto das sesmarias de Portugal para as possessões ultramarinas. Nesse sentido, a principal diferença encontrada pelo autor foi a forma de doação da sesmaria. Segundo Ribeiro, “enquanto no Reino as 54 Ibidem. 55 Ibidem. 56 Ibidem. 57 Ibidem. 58 Ibidem.

59 RIBEIRO, Fernando V. Aguiar. A terra urbana colonial: o exemplo da vila de São Paulo, Anais do XXVI Simpósio Nacional de História – ANPUH • São Paulo, julho 2011,p.1.

Referências

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