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Os EBES viveram seu auge entre 1945-1975, quando a crise econômica iniciada em 1973, com o primeiro choque do petróleo, alterou a base socioeconômica na qual estes se desenvolveram, reacendendo e fortalecendo o discurso neoconservador.

Entre os anos 60/70, Fiori (1997) observa que já estavam postas críticas endereçadas ao EBES, segundo as quais o excesso de demandas democráticas tornou esses Estados extensos, lentos e onerosos, o que resultaria na crise econômica do início dos anos 70. Em 1981, um Informe da OCDE (OCDE, 1981, p.5 apud Fiori, p.141) evidenciado por Fiori, apresenta a sua interpretação da crise do EBES:

The rapid growth of social programs in the 1950 and 1960 in OECD countries was closely related to high rates of economic growth, and, thus, to the successful management of the OECD economies. The lower growth performance of OECD economies since the early 1970s was bound to disrupt the continuing extension of programs and the growth of benefits – and in that sense the financial crisis of social security is closely related to high rates of unemployment not only because of the growing burden of unemployment compensation, but because unemployment has an impact on a wide range of social expenditures. Moreover, it begins to be argued that some social policies have negative effects on the economy, even to the extent of partly inhibiting the return to the non-inflationary growth.

Para autores como Rosanvallon (1995), Ferrera, (1993) e Castel (1998), as mudanças estruturais tecnológicas, produtivas e financeiras do capitalismo avançado, bem como a globalização dos mercados, teriam levado a uma crise da sociedade do trabalho, levando a crise do pleno emprego. Mishra (1995), entre outros analistas ressaltam que no final dos anos 70, o que

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entrou em crise foi o Welfare State Keynesiano em seu esforço para manter o pleno emprego e tentar estreitar diferenças salariais (Pereira, 2011).

Enquanto o EBES para os novos conservadores estava no epicentro da crise dos Estados democráticos dos anos 70, para a nova esquerda ele também era peça central ―do imenso

e anônimo aparelho de Estado responsável por um gigantesco trabalho de “cooptação” e desativação da classe trabalhadora‖ (Fiori, 1997, p.142). E foram as ideias neoconservadores

que se fizeram vitoriosas.

Para autores como Pierson (2001) a crise dos EBES estaria relacionada a uma nova configuração da política no seu domínio social, com o fortalecimento do consenso neoliberal, o retorno à disciplina do mercado, onde as novas diretrizes passavam pela redução do gasto público, restrição de direitos sociais e reafirmação da responsabilidade individual e familiar pela provisão de bem-estar, o que levaria a uma ―remercantilização/refamiliarização‖ da proteção social, rompendo com o modelo universalista então vigente e reduzindo a proteção social a níveis mínimos e direcionados a públicos segmentados e específicos da população mais pobre.

Assim como na conformação dos EBES, também as reformas neoliberais adquiriram diferentes formas e matizes, mas foram elementos presentes em todas elas: a ―remercantilização‖ da força de trabalho, a contenção ou desmontagem dos sindicatos, desregulamentação dos mercados de trabalho e a privatização de muitos serviços sociais (Fiori, 1997).

Fiori reconstrói para os anos 90 os pilares que viabilizaram a consolidação dos EBES e o cenário passa ser o seguinte: 1) no plano material ou econômico, observa-se o fim do consenso da política econômica de pleno emprego, que é substituído pela busca da estabilidade, com políticas deflacionistas que desaceleram o crescimento econômico; passou a ocorrer a substituição do paradigma fordista pelo toyotismo, marcado pela flexibilização e segmentação dos processos produtivos; 2) no plano geopolítico, com o fim da Guerra-Fria e a insolvência do socialismo real desfizeram-se as bases da solidariedade entre os países centrais e alguns países periféricos, houve o surgimento de blocos regionais organizados, como a União Europeia; 3) no plano político-ideológico, houve o enfraquecimento dos sindicatos e partidos trabalhistas e a diluição dos fatores de solidariedade nacional com o avanço de forças desintegradoras.

Diversas reformas foram propostas e implementadas nos países desenvolvidos nas décadas de 1980 e 1990 e como analisa Deacon (2002) a visão do EBES como responsáveis por

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encorajar o altruísmo, tendo por objetivo central a construção de sociedades mais iguais e coesas por meio da redistribuição de recursos e oportunidades e redução da iniquidade, como defendido por Titmuss é substituída pelo Workfare, onde a oferta de benefícios e serviços públicos devem estar condicionadas a determinados comportamentos e a imposição de trabalho.

Essa transformação do Welfare em Workfare foi a resposta dada em muitos países à crítica de que o Welfare construiu desincentivos ao trabalho e favoreceu comportamentos autodestrutivos, responsáveis pela pobreza. A solução seria criar novas oportunidades sem gerar dependência, a partir do exercício da autoridade por parte do Estado, no sentido de condicionar os benefícios a determinados comportamentos, que gerariam bons hábitos entre os pobres e demandantes da proteção social pública.

Segundo Lício (2002), no bojo da crise do EBES, a garantia de uma renda mínima surgiu como um nova forma de solidariedade. Isto porque a renda mínima decorre da perda da centralidade do emprego como forma de inclusão social, garantindo aos indivíduos a satisfação das necessidades básicas mesmo quando o mercado os exclui. Como a sustentação do EBES estava centrada no emprego, com o desemprego e proliferação de relações precárias de trabalho, a garantia de renda, independente de contribuição prévia passa a se estabelecer como uma nova forma de proteção social em muitos países desenvolvidos, sendo implantada posteriormente nos países em desenvolvimento.

Neste contexto, a renda mínima também podia ser utilizada como instrumento transitório destinado a viabilizar a (re) inserção social e econômica dos beneficiários com a vinculação do auxílio monetário a ações socioeducativas e de qualificação profissional, no que foi chamado de Workfare.

A transferência de uma renda monetária a indivíduos ou famílias, prestada condicional ou incondicional, de forma a complementar ou substituir outros programas sociais, surge como uma alternativa no âmbito da política social nos EBES. Nos países em desenvolvimento, que não vivenciaram a construção de EBES, as transferências de renda se tornam centrais nos SPS a partir dos anos 2000, se constituindo em muitos casos, como ―a política social‖.

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5. Abordagens de combate à pobreza e concepções subjacentes