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7. Considerações Finais

5.3 O Cadastro Único dos Programas Sociais

O Cadastro Único dos Programas Sociais32 foi criado em 2001 para ser uma ferramenta de identificação dos beneficiários de baixa renda dos programas focalizados do governo federal e deveria ser utilizado por todos os órgãos públicos federais. Entretanto, entre 2001 e 2002, os programas de transferência de renda do governo federal, como Programas Bolsa Escola, o Auxílio-Gás, o Bolsa Alimentação e o Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI) utilizavam diferentes cadastros para identificar e selecionar o público a ser atendido, o que dificultava a coordenação das ações, fragmentava o atendimento e reduzia sua eficiência. A falta de integração das informações possibilitava o acúmulo de benefícios sem que houvesse a garantia da universalização do acesso para todos os que precisassem: uma mesma família podia ser beneficiária de dois ou três programas, ao passo que outras, em situação e localidades semelhantes, não contavam com nenhum apoio.

Quando da discussão, no âmbito do governo federal, da unificação dos programas de transferência de renda, foi diagnosticada a necessidade de unificar os mecanismos de cadastramento de forma a criar unicidade e a integração dos cadastros, embora se reconhecesse a baixa qualidade das informações inseridas no Cadastro Único em 2003.

A gestão do Cadastro sempre foi descentralizada, sendo executada pelos municípios sob a coordenação do órgão gestor no nível federal33. A CEF por sua vez tem importante papel por ser o agente operador do Cadastro Único, além de agente pagador dos programas de transferência de renda.

Avaliação realizada pelo Tribunal de Contas da União em 2002 identificou omissões na renda declarada, falta de documentação das famílias, insuficiência de recursos humanos para o cadastramento, deficiências de treinamento e capacitação dos cadastradores, dificuldades de envio das informações dos municípios para a CEF, devido a problemas relacionados ao sistema de cadastramento e dificuldades de acesso por parte das famílias (Brasil, 2003). A despeito dessas

32 Pela regulamentação do Cadastro Único, todas as s famílias com renda mensal per capita de até meio salário mínimo deveriam ser incluídas neste cadastro.

33 Em 2001, quando foi criado o Cadastro único era de responsabilidade da Secretaria de Estado da Assistência Social (SEAS). Em 2003, com a criação do MAPS, sua gestão foi transferida para este órgão. E em 2004, após a unificação dos programas de transferência de renda e criação do MDS, passou a ser responsabilidade da SENARC do MDS, mesma secretaria responsável pelo PBF.

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deficiências, a avaliação constatou que indubitavelmente este instrumento havia possibilitado a identificação socioeconômica das famílias mais pobres, favorecendo o planejamento e implementação de ações para o atendimento das necessidades dessa população. Em 2002, havia somente 5,6 milhões de famílias cadastradas e o sistema de cadastramento não possibilitava sequer a atualização das informações registradas.

Com a criação do PBF, o Cadastro Único passou a ser o instrumento de identificação e seleção das famílias do Programa. A partir dessa vinculação formal, o PBF e o Cadastro Único passaram a estar associados em termos de normas e de estratégia operacional. Para a implementação célere do PBF houve a necessidade do aprimoramento dos mecanismos de identificação do público a ser cadastrado e estruturação do Cadastro Único, o que possibilitou que passasse a ser utilizado por outros programas sociais. (Bartholo et al, 2010)34.

Em 2010, o Cadastro possuía mais de 18 milhões de famílias cadastradas e era utilizado pelo PBF, o Programa de Cisternas, a Tarifa Social de Energia Elétrica e a Carteira do Idoso, entre outros.

O Cadastro Único por ser um eficiente instrumento de identificação e caracterização socioeconômica da população mais pobre, que possibilita a constituição de um grande e atualizado mapa da pobreza, possibilita identificar quem são, onde estão e quais as características dessas famílias, atuando como uma efetiva porta de entrada para o SPS brasileiro para as populações muitas vezes invisíveis para a política pública.

Entretanto, mesmo tendo se tornado um instrumento que efetivamente identifica famílias de baixa renda, ele ainda carece de maior integração com sistemas de outras áreas do governo federal, como é o caso dos sistemas do SUS, Censo Escolar e da Previdência Social. Uma maior intercomunicabilidade entre esses sistemas possibilitaria uma maior coordenação entre as políticas sociais, potencializando a oferta de ações para o público de baixa renda.

Apenas como exemplo, vejamos a quantidade de números e cadastros que uma pessoa que acessa diferentes políticas possui. Na área da saúde existe um número de identificação do Sistema Único de Saúde (SUS), vinculado ao Cadastro do SUS, que foi pensado inicialmente para dialogar com o Número de Identificação Social (NIS) do Cadastro Único, mas que na

34 Em 2005, o MDS estabeleceu critérios para a verificação das informações registradas e verificou-se que apenas 30% dos cadastros existentes na base possuíam informações completas (cadastros válidos). A partir desse diagnóstico, iniciou-se um processo de atualização cadastral, com incentivos financeiros a estados e municípios. Em 2010, a proporção de cadastros válidos era superior a 90% e mais de 70% dos cadastros estavam atualizados. (Bartholo et al, 2010).

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verdade acabou se tornando outro número, sem qualquer relação com o NIS. Na educação, quando começou a se estruturar o Censo Escolar, foi demandado que este utilizasse o NIS do Cadastro Único, entretanto, hoje o Censo possui um número de identificação do aluno, desvinculado do NIS e iniciou-se uma discussão entre a gestão do Cadastro Único e do INEP, gestor do Censo Escolar para a utilização de chaves que possibilitem o cruzamento das informações e a posterior integração das informações. Esse tipo de esforço a posteriori é mais custoso, demorado e apresenta elevados riscos de não se efetivar no tempo requerido para a atuação junto à população.