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Os EBES que se desenvolveram a partir dos anos 40 apresentam características distintas de país para país e não se pode falar de um desenvolvimento uniforme nem mesmo dentro dos países, pois como resultante também da luta da classe trabalhadora, a luta de coalizões de classes pela extensão da cidadania, a construção dos EBES, como todo processo político, conheceu fases de avanços, estagnações e retrocessos6.

Uma primeira classificação dos sistemas de políticas sociais foi feita por Titmuss (1974), que envolve considerações sobre a ética do trabalho e o papel da família na sociedade moderna para classificar em três os sistemas, conforme as características abaixo:

A) The Residual Welfare Model of Social Policy ou modelo de bem-estar residual; parte da premissa de que há dois canais naturais segundo os quais os indivíduos podem ter suas necessidades devidamente atendidas, o mercado privado e as famílias. As instituições públicas devem atuar apenas quando houver uma quebra desses dois canais, atuando ainda assim, apenas temporariamente. Titmuss cita o Professor Peacock para destacar o papel desse EBES: 'The true

object of the Welfare State is to teach people how to do without it‖ (Titmuss, 1974, p.31).

6 Existem distintas classificações de EBES ou Welfare State, que apresentam pontos de partida diferentes sobre o que define esses regimes. Enquanto Titmuss centra sua classificação mais nos direitos e garantias assegurados pelos EBES, Esping-Andersen enfatiza a ideologia e a composição política dos regimes de EBES na conformação das diferentes categorias. Entretanto, não é objeto deste trabalho o aprofundamento sobre a discussão das classificações existentes sobre os regimes de EBES.

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B) The Industrial Achievement-Performance Model of Social Policy ou modelo baseado no desempenho; nele as instituições públicas de bem-estar apresentam um papel suplementar e as necessidades sociais devem ser atendidas na base do mérito, desempenho no trabalho e produtividade. Ele deriva de várias teorias econômicas e psicológicas sobre incentivos, esforço e recompensa.

C) The Institutional Redistributive Model of Social Policy ou modelo de redistribuição institucional; nele as instituições de bem-estar social estão integradas a sociedade, provendo serviços universais fora do mercado. È baseado em teorias sobre os múltiplos efeitos da mudança social e o princípio da equidade social.

Esping-Andersen (1991) ao analisar as teorias que buscam apreender a lógica de desenvolvimento dos EBES, aponta as limitações das diversas abordagens explicativas sobre a origem dos EBES. Para ele, tanto a abordagem dos estruturalistas, onde a lógica de desenvolvimento do Estado é um requisito funcional para a reprodução da sociedade e da economia quanto a abordagem institucional, segundo a qual a política social é vista como uma pré-condição necessária para a reintegração da economia social, são alvo de críticas que as inviabilizam como explicações suficientemente abrangentes. Embora apresente maior simpatia à tese da mobilização de classe, derivada da economia política socialdemocrata, que enfatiza as classes sociais como os principais agentes de mudança e afirme que o equilíbrio do poder das classes determina a distribuição da renda, também a esta, o autor apresenta diversas objeções. Esping-Andersen (1991,p.97), conclui que:

(...) temos de pensar em termos de relações sociais, e não apenas em

categorias sociais. Enquanto as explicações de funcionalidade estrutural identificam resultados convergentes do welfare state e os paradigmas da mobilização de classe vêm grandes diferenças, mas distribuídas de forma linear, um modelo interativo como a abordagem da coalização volta a atenção para regimes distintos de welfare states.

E é nesta perspectiva que Esping-Andersen (1991) analisa o EBES, afirmando que ele não pode ser compreendido apenas em termos de direitos e garantias, sendo necessário considerar de que forma as atividades estatais se entrelaçam com o papel do mercado e da família em termos de provisão social, que são os três princípios a serem elaborados para qualquer especificação teórica do EBES.

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Esping-Andersen observa que quando os mercados se tornam universais e hegemônicos, também o bem-estar dos indivíduos passa a depender inteiramente das relações monetárias. Os direitos sociais modernos teriam assim um papel fundamental no afrouxamento do status de pura mercadoria. ―A desmercadorização ocorre quando a prestação de um serviço é

vista como uma questão de direito ou quando uma pessoa pode manter-se sem depender do mercado.‖ (p.102).

Os direitos desmercantilizados se desenvolverem de forma diferenciada nos Regimes de EBES, sendo possível observar gradações nos níveis de mercantilização entre os países. O autor ao examinar as variações internacionais dos direitos sociais (e os consequentes níveis de mercantilização) e de estratificação do EBES evidencia diferentes combinações entre o papel desempenhado pelo Estado, mercado e família, que se constituem em tipos de Regime de EBES.

No modelo do EBES liberal ou residual predomina a assistência aos comprovadamente pobres, há reduzidas transferências universais ou modestos planos de previdência social. Nesse modelo, a reforma social foi limitada pelas normas tradicionais e liberais da ética do trabalho. O Estado garante apenas o mínimo e assim encoraja o mercado a suprir a oferta de bem-estar, reforça assim a estratificação social produzida pelo mercado. Os direitos sociais se restringem à situação de pobreza, frequentemente atribuída a problemas individuais e não a questões relacionadas ao sistema ou estruturais. As ações públicas têm por objetivo colocar os protegidos em condições de se inserirem no mercado e de se responsabilizarem por seu próprio bem-estar.

No modelo conservador ou corporativo, o legado histórico do corporativismo estatal foi ampliado para atender a nova estrutura de classe pós-industrial e por não terem enraizados o liberalismo com sua mercantilização, a concessão de direitos não gerou grandes controvérsias, desde que preservada as diferenças de status das classes sociais. O modelo tradicional de família se sobrepõe e há um princípio de ―subsidiariedade‖, segundo o qual o Estado só interfere quando a capacidade da família de servir seus membros se exaure, ele sanciona a estratificação social produzida pelo mercado e reforça o modelo familiarista ou familista de bem-estar, baseado na inserção do homem adulto provedor no mercado de trabalho. A provisão de bem-estar é realizada pelo sistema de seguro social contributivo e quem está fora do mercado pelo desemprego ou não pertence a grupos organizados ou não tenha condições de realizar as contribuições fica desprotegido, contando com o amparo oferecido pelo Estado ou pela filantropia privada.

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O modelo ―socialdemocrata‖ caracteriza-se pelos princípios de universalismo e desmercantilização dos direitos sociais. É um regime que busca promover a igualdade com os melhores padrões de qualidade, e não uma igualdade das necessidades mínimas e com isso busca modificar a estratificação social de forma a tornar o bem-estar dos indivíduos menos dependente da inserção e desempenho no mercado de trabalho. É um modelo que exclui o mercado e constrói uma solidariedade essencialmente universal em favor do EBES. A oferta pública universal de serviços implica numa socialização dos riscos sociais e individuais. Baseado no princípio da seguridade social, a comprovação da necessidade perante os agentes públicos torna-se dispensável.