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CAPÍTULO

4 A ORIENTAÇÃO POLÍTICA DOS PARTIDOS COMUNISTAS NO BRASIL: DA CISÃO EM 1962 À CONQUISTA DA LEGALIDADE

4.2 A CRISE INTERNA DO PCB NO INÍCIO DOS ANOS

O Comitê Central do PCB exilou-se do País em 1975. A partir desse momento todas as resoluções políticas passam a ser elaboradas no exterior. Percebe-se nas diversas resoluções o processo de consolidação do postulado da democracia como um valor universal; não obstante mantenham as referências ao marxismo-leninismo e à ditadura do proletariado. Essas ambigüidades parecem permanecer nos escritos desse partido quando do retorno do seu Comitê Central ao Brasil em 1979.

Desse modo, assevera Carvalho (2007), as diretrizes do VI Congresso do PCB teriam sido abolidas pela Resolução Política de 1975. Todavia, a militância do PCB continuava atuando politicamente conforme o que preconizava a resolução do VI Congresso. Mantinha, assim, o foco na aliança ampla com os setores democráticos a fim de derrotar politicamente o regime militar. Observa, também, que no VII Congresso do PCB em 1982 aprova-se uma linha política que atribuía relevância singular à questão nacional em detrimento da questão democrática.

Em maio de 1981, o Comitê Central do PCB lança um documento intitulado “Teses para um debate nacional pela legalidade do PCB”. Estas teses parecem ser ecléticas

e trazerem certa confusão teórica e terminológica. Problemas resultantes, talvez, do debate de idéias que grassava o partido. De fato, três grupos disputavam a formulação da linha política do PCB e a conciliação entre essas tendências gerava resoluções e teses que tentavam contemplar as idéias expostas por cada um desses grupos, gerando, assim, ecletismo e confusão. O primeiro grupo, constituído da maioria do Comitê Central e dos militantes do partido, seguia a orientação de Giocondo dias e Salomão Malina. O segundo, alinhava-se com as posições de Prestes. O terceiro, cuja defesa da democracia representativa era mais coerente, tinha Armênio Guedes como seu membro mais prestigiado.

Nesse documento, o PCB prioriza o caminho pacífico para a revolução brasileira e o respeito às regras do jogo democrático, entretanto, ao contrário da tese oriunda do V Congresso de que a sociedade brasileira se democratiza ampliada e continuadamente, ressalta que se reproduziram ampliadamente tendências antidemocráticas existentes na sociedade brasileira. Apesar dessa assertiva o Comitê Central do PCB sublinha que o caminho brasileiro para o socialismo pressupõe a mais completa democracia e a supressão dos obstáculos impeditivos do progresso no Brasil.

A concepção de democracia é semelhante, inclusive na terminologia, ao modelo de democracia propugnado pelos comunistas italianos. A partir do VII Congresso o partido incorpora a expressão “democracia de massas”, além da expressão “sociedade civil” que já aparecia nas resoluções elaboradas no exterior no final dos anos 70 no vocabulário político dos seus documentos. A utilização desses dois conceitos talvez reflita a influência do estudo das obras de Antonio Gramsci e dos teóricos eurocomunistas.

A confusão e o ecletismo parecem está presentes em várias passagens do texto das teses. No entanto, a dificuldade em definir com clareza o caminho para a consecução do objetivo estratégico do Partido e a profusão de termos utilizados inadequadamente juntos talvez seja um indicativo do embate que ocorria no âmbito do PCB. Ao se referir a Igreja Católica as teses assinalam que: “[...] ela pode desempenhar um papel igualmente positivo em todo o processo revolucionário democrático da luta contra o imperialismo, os monopólios e o latifúndio.”90 O excesso de termos pode indicar a tentativa de conciliar interesses conflitantes no seio do partido. Pode ser considerado, também, emblemático para demonstrar a dificuldade do PCB em formular sua linha política.

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As teses ressaltam a validade da orientação política formulada a partir da Declaração de março de 1958. Conforme as teses, essa orientação permitira ao partido superar o dogmatismo nas suas formulações e o revisionismo de direita na sua prática política. Asseveram que ao aplicar a orientação política originaram-se, conjuntamente com os acertos, desvios e distorções. Dentre os desvios e distorções mais graves citam o surgimento de uma direção paralela que incentivou a formação de centros decisórios diversos, o surgimento de grupos estruturados e a anarquia no terreno organizativo.

Nos debates que antecederam o VII Congresso do PCB os posicionamentos dos comunistas sobre a democracia representativa podem ser interpretados como mais consistentes. Assim, o Partido propõe que a luta pela democracia deve-se constituir no objetivo central do PCB, tendo em vista que é no âmbito da democracia que o proletariado poderia disputar e conquistar a hegemonia no conjunto da sociedade. O legado gramsciano dessa formulação parece evidente e talvez seja a principal contribuição da corrente renovadora, sobretudo do Comitê Regional de São Paulo, à formulação política do PCB em 1982. Com efeito, os comunistas reunidos na Conferência Municipal de São Paulo para discutir as teses sobre a legalidade do PCB, referendam a proposta das teses da via pacífica para a transição socialista no Brasil, reservando-se o uso da violência pelo proletariado apenas de forma defensiva.

A formulação acima parece conter um dilema de difícil solução, ou seja, o partido propõe o caminho pacífico para o socialismo, a fim de concretizar essa proposição teria que acreditar que todas as forças políticas e sociais respeitariam as regras do jogo democrático. Entretanto, se ele concebe que a violência pode ser usada, ainda que de forma defensiva, desconfia que as forças reacionárias não respeitarão as regras da democracia representativa e tentarão, de todas as formas, impedir que os comunistas assumam o poder, fazendo-se necessário, assim, o uso da violência. Desse modo, a fim de estarem preparados para utilizar-se da luta armada os comunistas teriam que se preparar antecipadamente para isso.

Desse modo, não acreditavam de fato que o caminho pacífico fosse realmente possível. Além disso, o argumento de Colletti (1983), de que a tese do caminho pacífico se choca com a regra democrática da alternância no poder parece plausível. De fato, Colletti questiona se, no caso dos comunistas assumirem o poder e implementarem políticas de viés socialista e na eleição seguinte fossem derrotados por forças conservadoras que desfizessem as medidas socializantes, os comunistas iriam aceitar passivamente tal desmonte ou iriam recorrer a métodos não democráticos para impedi-lo?

4.2.1 A defesa da Revolução: a posição de Luís Carlos Prestes

Prestes divulga em março de 1980 a “Carta aos brasileiros”. Nesta, faz sérias críticas ao comportamento da direção nacional do PCB que, conforme assevera, estaria contribuindo para transformar o Partido num dócil instrumento de legitimação do regime militar. Explica-se, assim, que alguns dirigentes tivessem acesso às páginas da grande imprensa, acesso negado aos verdadeiros comunistas para que expusessem suas idéias. Sublinha, também, que o PCB há muito deixara de exercer um papel de vanguarda, envolvido que estava numa crise séria, aproveitada pelas forças reacionárias para minar o seu caráter revolucionário e transformá-lo num partido meramente reformista. Chama atenção para o descompasso entre as formulações do PCB e a realidade nacional. Este hiato estaria contribuindo para a passividade e falta de iniciativa política dos comunistas.

Conforme Prestes, a direção nacional do PCB o estaria levando ao fracasso em todos os terrenos, tergiversando com a pretensa unidade do Partido que inexistia há vários anos. Exemplo disso seria a atuação desencontrada do Comitê Central que permitia que seus membros prestassem declarações controversas e expusessem a fragilidade do Partido na grande imprensa burguesa. Denuncia que a direção nacional do partido tornara-se incapaz de orientar corretamente a militância comunista e apegava-se apenas ao status quo a fim de manter-se no poder. Para isso, tergiversava com a unidade do Partido e negava-se a fazer uma autocrítica pertinente, inclusive das suas resoluções políticas.

[...], incluindo as resoluções do último Congresso do P.C.B. Recusa-se a analisar com espírito crítico se são de todo acertadas as resoluções desse Congresso e pretende ainda agora apresenta-la como um dogma indiscutível para, com base nelas, exigir uma suposta unidade partidária, que lhe permita encobrir e conservar por mais algum tempo a atual situação do Partido e de sua direção.91

Prestes argumenta que a direção do PCB encara a luta pela democracia como um objetivo que se completa com a sua conquista. Esta visão, assevera, é incorreta na medida em que a luta pela democracia integra a luta pelo socialismo. Assinala que a democracia no Brasil sempre foi um direito das elites, com os trabalhadores sendo alijados dos mais elementares direitos democráticos. Desse modo, o Partido Comunista Brasileiro não deveria abdicar da luta revolucionária pelo socialismo em favor de uma democracia abstrata e pretensamente superposta à luta de classes.

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Assinala, também, que a proposta da direção nacional do PCB de evitar tensões, visando assegurar a coalizão com a burguesia, é equivocada. Ao contrário do que propunha o PCB, as lutas dos trabalhadores deveriam ser canalizadas a fim de confluir num amplo movimento popular pela democracia. A democracia deveria constituir-se numa conquista dos trabalhadores e não resultar de uma política de conciliação com setores burgueses. Observa, ainda, que a proposta que apresentara no intuito de se formar uma frente de esquerda não contrariava a política de alianças com amplos setores democráticos. Tal frente apenas contribuiria para que as forças de esquerda marchassem unidas na luta pela democracia e pelo socialismo.

A posição explicitada por Prestes em 1982 contraria frontalmente os postulados das teses para o VII Congresso do PCB, além de criticar as posições assumidas pelo Comitê Central do Partido, a quem Prestes credita a passividade dos comunistas no Brasil. Conforme Prestes, a concepção de atividade política dos membros do Comitê Central transformou-se em rotina, através da qual rejeitam o capitalismo em palavras, conciliam acriticamente noções ideológicas desprovidas de sentido com fórmulas oportunistas de atuação política.

Assinala que ele homenageia implicitamente o socialismo e a revolução a fim de mascarar a sua inação. Considera que a atividade política nos parlamentos é insuficiente para garantir os direitos dos trabalhadores, na medida em que a pressão oposicionista no parlamento apenas alcança resultados profícuos em defesa dos direitos dos explorados se estiver complementada por mobilizações populares de envergadura. Assegura que caberia aos trabalhadores defender e representar seus próprios interesses em mobilizações, cujo desfecho seria a conquista do socialismo. Critica, enfim, o que designa como passividade dos membros do Comitê Central que, segundo afirma, estão:

[...], entrincheirados em formulações genéricas de tipo determinista (como: ‘a experiência mostra que a verdade está do nosso lado...’ etc.), praticam o mais primário oportunismo, fazendo alianças com ‘pelegos’ e hipotecando solidariedade a quem possa obter mais votos, sem levar em conta os objetivos de classe dos elementos que apóiam.92

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Prestes, L. C. Propostas para discussão de um programa de soluções de emergência: contra a fome, a carestia e o desemprego. In: Carone, v. 03, 1982, p. 352.

4.2.2 A Defesa da Democracia: a posição da corrente renovadora

O legado político do PCB no período posterior à Declaração política de 1958, ensejou que grupos no seu interior, ainda que, concordando com a primazia do caminho pacífico da revolução brasileira e da luta por meios legais para derrotar o regime militar, percebessem a ambigüidade que separava mecanicamente a orientação e a prática política do PCB. Este defendia o caminho pacífico para a revolução e meios legais de luta para derrotar a ditadura, mas parecia não avançar para uma defesa consistente da democracia representativa, nem aparentava clareza no que concerne ao modelo de democracia que propunha.

Também os métodos internos de direção permaneciam pautados no marxismo- leninismo, ou seja, no centralismo democrático, embora as resoluções políticas fizessem poucas referências ao marxismo-leninismo. Portanto, essas contradições permitiram que aqueles militantes mais engajados na defesa da democracia, pudessem defender os princípios que plasmavam o movimento comunista europeu, sobretudo, as teses sustentadas por Palmiro Togliatti e Santiago Carrilo.

Portanto, é possível observar que, não obstante as resoluções do Comitê Central façam referências explícitas à defesa da democracia como caminho para o socialismo, o PCB mantém, internamente, uma estrutura organizativa pautada no centralismo democrático, estrutura organizacional incompatível com o pluralismo democrático. Por isso, diversos militantes e dirigentes estaduais discordaram dessa forma de organização, argumentado que ela inibia o livre debate de idéias e, por conseguinte, dificultava o processo de renovação política dos comunistas.

O conceito de centralismo democrático foi desenvolvido, sobretudo, por Stalin ao explicitar o papel a ser desempenhado pelo partido comunista. Com efeito, para Stalin o partido é o instrumento que o proletariado necessita para a implantação e manutenção da sua ditadura. Como corolário dessa proposição, Stalin deduz que o partido comunista deve ser coeso e disciplinado. Tais coesão e disciplina, contudo, devem ser conquistadas através do debate de idéias e conflito de opiniões no interior do partido. Entretanto, após a aprovação de uma resolução, todos os dirigentes e militantes inclusive os que dissentiram da decisão tomada devem a ela submeter-se. Fica excluída, desse modo, a continuidade do debate e da exposição de idéias contrastantes com as decisões tomadas. Caso o debate de idéias persistisse, contribuiria para o surgimento de facções e o conseqüente

enfraquecimento da disciplina partidária. Conforma-se, assim, o princípio de organização dos partidos comunistas: o centralismo democrático.

Trotsky (1966) questiona a proposição de Stalin a respeito da impossibilidade da existência de facções no interior do partido comunista. Para ele, o partido bolchevique sempre conviveu com lutas entre facções, as quais ocorriam de forma acalorada ainda nos momentos críticos da Revolução de 1917. Afirma que somente após a revolta de Kronstadt em 1921, à qual aderira um número significativo de bolcheviques é que o Partido Comunista decidira no seu X Congresso proibir a existência de facções. Entretanto, assevera que essa era uma medida temporária que somente fora consolidada no período de Stalin no poder.

O processo de renovação aludido acima foi iniciado pela Comissão de Reorganização do PCB de São Paulo. Esta comissão fora formada no início de 1976, após a prisão e esfacelamento da direção do PCB em São Paulo em 1975. A comissão supracitada direcionou a atuação política do PCB para a implementação da política de frente democrática aprovada no V Congresso em 1960 e referendada no VI Congresso desse Partido em 1967. Nos escritos da Comissão de Reorganização do PCB em São Paulo, explicita-se sem ambigüidades a tese da democracia como via privilegiada para a conquista e construção da sociedade socialista. Esta proposição pode ser observada no artigo “A conquista da democracia e a legalidade do PCB”, no qual se afirma:

O Partido Comunista Brasileiro defende hoje, incisivamente, a luta pela democracia política, por seu aprofundamento e conservação, como parte integrante da luta pelo socialismo, pela democracia socialista. O PCB defende um regime de amplas liberdades democráticas, porque este é o terreno privilegiado onde se travam os combates de classe, e é neste confronto que nós comunistas, esperamos ganhar a maioria do nosso povo para as soluções que hoje propomos e para a caminhada na direção do socialismo.93

Com o retorno do Comitê Central do PCB em 1979, essa enfática defesa da democracia como via para o socialismo choca-se com as ambigüidades dos escritos do Comitê Central pecebista, tendo em vista que este tenta conciliar idéias e interesses contraditórios no interior dessa instância. Conforme Santos (1994), formaram-se entre 1979 e 1983, três alas no âmbito do Comitê Central do PCB. A primeira, organizada em torno de um antigo dirigente desse partido – Armênio Guedes – refletia naquela instância as proposições formuladas por um grupo de intelectuais pecebistas que travavam uma

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“batalha de idéias” a fim de modificar, no PCB, as concepções sobre a conquista e a gestão do poder e sobre a natureza do partido. Esses intelectuais editaram, entre 1979 e 1983 o jornal Voz da Unidade, até serem afastados do PCB em 1983.

As idéias expostas por esse grupo encontraram parco acolhimento pela maioria do Comitê Central pecebista. Esta maioria constituía a segunda ala, designada de pragmática por Santos. Contudo, apesar do acolhimento reticente das idéias renovadoras, as proposições desse grupo foram parcialmente incorporadas às teses e resoluções do partido, a despeito da oposição tenaz da terceira ala que formava o Comitê Central do PCB que Santos designa como ortodoxa.

A ação do grupo renovador ficou conhecida na literatura sobre o PCB de “segunda renovação pecebista”. Santos (1994) ressalta que as idéias desse grupo são tributárias das teses formuladas por um grupo mais antigo, também afastado do PCB, que, atuando em torno da liderança de Agildo Barata, editara em 1957 a revista Novos Tempos. Esse grupo lançou as idéias que constituíram o que Santos denomina de “primeira renovação pecebista”. Armênio Guedes, membro do Comitê Central nos anos 70 e 80, era o remanescente desse primeiro grupo.

Numa entrevista ao Jornal do Brasil em 1979, Armênio Guedes fez a defesa mais consistente da democracia representativa que um dirigente comunista histórico pudesse fazer. Assevera que o PCB durante longo período de sua história confundia liberdades democráticas com o poder da burguesia. Entretanto, os comunistas concluíram que a democracia era um legado político importante e permanente na construção do socialismo. Dessa forma, o objetivo principal do partido era estabelecer o vínculo entre a luta pela democracia e a luta pelo socialismo no Brasil. Enfatiza que a concepção de democracia da direção do PCB, pressupõe e supera os institutos da democracia representativa, na medida em que vincula a defesa da democracia com a luta pelo socialismo.

Esses postulados nos remetem à discussão de Norberto Bobbio sobre o vínculo entre democracia e socialismo. De fato, no que concerne ao tema da relação entre a democracia (enquanto conjunto de regras para escolher e autorizar governantes) e o socialismo. Bobbio observa que essa relação, apesar de parecer sólida, -tendo em vista que os socialistas sempre se apresentaram como defensores coerentes da democracia-, é apenas aparente. Esta proposição é pertinente, conforme Bobbio, porque se observou historicamente que os países que chegaram ao socialismo a partir de movimentos armados não se tornaram democráticos; por sua vez, nenhum país cujos partidos socialistas seguiram as regras do jogo democrático construiu o socialismo. Consoante Bobbio, não

existe um modelo alternativo ao Estado democrático representativo que consiga tornar factível o elo entre democracia e socialismo. O modelo que pode ser considerado uma alternativa ao Estado representativo moderno - o Estado socialista efetivamente construído -, não pode ser aceito como alternativa coerente ao Estado democrático representativo.

Ao se referir à democracia como método, Bobbio a designa como um conjunto de regras para se chegar a uma vontade coletiva e argumenta que em qualquer contexto o método democrático deve ser preferido – inclusive para se conquistar o socialismo - ao método autocrático. Pois considera que, a despeito dos limites da democracia representativa e dos obstáculos à realização dos ideais democráticos, há uma superioridade intrínseca ao método democrático em relação ao autocrático.

Bobbio indaga, também, se, além de preferível, a via democrática para o socialismo é possível, ou seja, problematiza a compatibilidade entre democracia e socialismo. Observa, por conseguinte, que a compatibilidade entre democracia e socialismo tem sido questionada por defensores e adversários desse. Porém, somente os que se posicionaram contra o liame entre democracia e socialismo tiveram idéias claras a respeito da relação entre ambos. Partindo do pressuposto de que a transição do capitalismo para o socialismo constitui um salto de qualidade, os defensores do socialismo argumentam que este não poderia ser construído democraticamente, pois a democracia permite apenas mudanças pontuais, e não transformações profundas na sociedade. Com efeito, observa Bobbio que: “[...] a história demonstrou, pelo menos até agora, que através da via das social-democracias o socialismo é impossível e através da via dos partidos leninistas é indesejável.”94

4.3 CRISES E SOLUÇÃO DE CRISES: AS CISÕES NO PCB E PC DO B NO INÍCIO