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A REVOLUÇÃO RUSSA, A TERCEIRA INTERNACIONAL E A FORMAÇÃO DOS PARTIDOS COMUNISTAS

CAPÍTULO –

2 O PENSAMENTO MARXISTA NO ÂMBITO DAS INTERNACIONAIS SOCIALISTAS E A FORMAÇÃO DOS PARTIDOS OPERÁRIOS

2.6 A REVOLUÇÃO RUSSA, A TERCEIRA INTERNACIONAL E A FORMAÇÃO DOS PARTIDOS COMUNISTAS

A Segunda Internacional não concebia o partido socialista como uma unidade de pensamento e ação. Nesse sentido, permitia que em cada país o partido socialista fosse formado pelas diversas tendências constitutivas de um movimento mais amplo, o qual pudesse ser designado de social-democrata. Um exemplo típico de partido da Segunda Internacional era o Partido Social-democrata Alemão. Neste partido conviviam tendências revolucionárias e reformistas de diversos matizes. A formação do partido comunista, ao contrário, assume um caráter unitário e disciplinado que inviabilizava a existência de frações e tendências contrapostas em seu interior. No II Congresso do Comintern (Internacional Comunista) o partido comunista foi definido como a organização compacta da elite da classe operária. Esta concepção está claramente fundamentada no formato organizativo proposto por Lênin para os partidos operários.

Lênin em “O que fazer?”, corrobora a tese de que a classe operária orienta-se com certa espontaneidade para o socialismo. Contudo, assevera que isso não implicava na aceitação de que o proletariado formaria por si só uma consciência socialista. Assinala que a ideologia burguesa influencia com maior intensidade a formação da consciência dos operários do que a socialista. Isto, em virtude daquela ideologia ser mais antiga, melhor elaborada e contar com meios de difusão infinitamente superiores aos da ideologia socialista. Portanto, caberia ao partido socialista a tarefa de levar, ao proletariado, a consciência socialista.

Conforme Lênin (1979), o partido socialista deveria ser organizado a partir de revolucionários profissionais. Entretanto, argumenta que essa proposta correspondia à conjuntura histórica em que os socialistas russos atuavam, isto é, respondia à questão de como organizar um partido clandestino capaz de atuar num Estado autoritário como o russo. A partir de 1904 com o escrito, “Um passo adiante dois passos atrás” reafirma que o partido se constrói de forma descendente, portanto, os organismos inferiores deveriam submeter-se aos superiores. Concebia que a luta de idéias era primordial para o enriquecimento do programa do partido, contudo, deveria circunscrever-se ao âmbito dos

congressos do partido, e deveria prolongar-se apenas se não levasse à cisão e à anarquia nas fileiras partidárias.

Lênin conclama, em 1904, os militantes do partido social-democrata a aprenderem com as massas operárias a disciplina aprendida por elas nas fábricas. Essa mudança de visão acerca do papel a ser desempenhado pela classe operária no pensamento leninista, suscitará críticas às suas proposições elaboradas, sobretudo, por Trotsky e Rosa Luxemburg. Trotsky argumenta, que a mudança de posição de Lênin é incompreensível, na medida em que ele conclamava, em 1902, os intelectuais socialistas a difundirem entre os operários a consciência socialista, agora orientava os revolucionários socialistas a aprenderem com a classe operária o significado da disciplina política. Rosa Luxemburg (1981), além de criticar a proposição leninista de que os intelectuais aprendam com o proletariado a serem politicamente disciplinados, questiona o que designa de ultra- centralismo na concepção leninista de partido. Assevera que a centralização extrema proposta por Lênin, implicaria numa subordinação cega dos diversos órgãos do partido ao seu centro dirigente, o que poderia resultar no enrijecimento da vida política do partido e na falta de criatividade dos seus membros.

Após a revolução russa de 1905, configura-se uma conjuntura de maior liberdade política. Percebe-se, assim, uma clara mudança na concepção de partido formulada por Lênin. Diante da nova situação Lênin insiste na necessidade de se recrutar amplamente novos membros para o partido socialista, sobretudo, nas fileiras da classe operária. Em março de 1905 publica o artigo “Sobre la reorganización del partido”, no qual assinala:

La clandestinidad se desmorona. [...] tomen las nuevas armas, distribúyanlas entre gente nueva, amplíen las bases de apoyo, atraigan a todos los obreros socialdemócratas, incorpórenlos a las filas de las organizaciones del partido, por centenas, por millares.42

Assevera nesse escrito, também, que a classe operária é naturalmente socialista e que o trabalho anterior do partido social-democrata já contribuíra, sobremaneira, para transformar a natureza espontaneamente socialista do proletariado numa sólida consciência socialista. Caberia, então, ao partido, ampliar significativamente o número de operários nas suas fileiras, ou seja, a concepção leninista de um partido formado por revolucionários profissionais evolui para a de um partido com ampla base de massa. Contudo, propõe que se mantenha ainda uma estrutura semi-legal funcionando paralelamente à estrutura legal do

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partido. Propõe, também, que o debate de idéias possa continuar após as decisões congressuais, desde que esse debate não ameace a unidade de ação do partido.

O partido social-democrata na Rússia fragmentou-se em duas facções principais em 1903, designadas de mencheviques e bolcheviques. Os mencheviques, cujos principais expoentes eram Martov e, posteriormente, Plekhanov formavam um agrupamento político semelhante aos partidos social-democráticos europeus. Buscavam organizar a classe operária e esperavam que a burguesia russa desencadeasse a revolução burguesa, à qual os operários deveriam aderir. Os bolcheviques concordavam com os mencheviques na tese de que a revolução russa seria burguesa, contudo, concebiam que a burguesia russa era muito frágil politicamente para constituir-se na força dirigente da revolução. Esta deveria ser desencadeada pelos operários aliados com os camponeses, os quais fundariam um Estado burguês fundado na ditadura democrática dos operários e camponeses. Após a revolução de fevereiro de 1917, os bolcheviques consideraram que já tinha se completado a revolução burguesa na Rússia, cabia à social-democracia desencadear, a partir dos conselhos de operários, soldados e camponeses a revolução proletária e iniciar a construção da sociedade socialista.

Entre fevereiro e março de 1917, verifica-se o colapso da ordem pública na Rússia. O Czar Nicolau II renuncia e surge uma dualidade de poderes. De um lado, o poder legal estabelecido pelo parlamento e que tentava se legitimar mediante a convocação de uma Assembléia Constituinte. Por outro lado, os trabalhadores e soldados amotinados ocuparam a sede do parlamento russo e reivindicavam para si o poder efetivo, ou seja, o poder de mobilizar militarmente a população. Conforme Eley, o governo provisório e os primeiros líderes dos sovietes não conseguiram atender aos anseios populares por reforma agrária, igualdade social e paz. Reivindicações que contrariavam os interesses do governo provisório. Nesse momento, ocorre o retorno de Lênin do exílio e o lançamento das famosas “Teses de Abril”, nas quais reivindicava que o poder constituído fosse organizado a partir dos sovietes de trabalhadores e soldados e não pela consolidação da república parlamentar.

As teses apresentadas por Lênin foram inicialmente rejeitadas por todos, inclusive pelos bolcheviques. Todavia, após um pertinaz trabalho de persuasão as teses leninistas foram aprovadas no Congresso Bolchevique de toda a Rússia. Para Lênin (2005) a dualidade de poderes era temporária e terminaria com a vitória de um poder sobre o outro. A tarefa principal naquele momento, portanto, era preparar a transferência da soberania para os sovietes. Conforme Geltzer (1985), os mencheviques, com Martov à frente,

propunham a democracia representativa e o desenvolvimento capitalista como os fatores capazes de modernizar a Rússia e introduzir os direitos da classe operária. Por isso, esperavam que a revolução burguesa se concretizasse, a fim de assegurar a conquista da democracia e o fortalecimento dos direitos dos trabalhadores.

O papel do partido socialista seria o de salvaguardar essas conquistas e aguardar que o desenvolvimento do capitalismo e o inevitável surgimento das suas crises estruturais, criassem as condições para a revolução proletária. Somente a partir dessa situação é que se deveria preparar a revolução socialista. Os bolcheviques também concordavam com essas proposições. Contudo, aderiram à tese leninista de que a revolução socialista seria vitoriosa no país que se constituísse no elo mais fraco da cadeia imperialista. Portanto, adotaram a proposição de que a revolução proletária poderia ser vitoriosa em países economicamente atrasados como a Rússia.

A teorização de Lênin sobre a revolução socialista em países de capitalismo atrasado, parece ter sido posterior aos eventos da Revolução Russa de 1917. Com efeito, nos anos anteriores à Revolução Russa, a proposta leninista era simplesmente de utilizar-se da crise desencadeada pela guerra para se empreender a revolução proletária. Esta parece ter sido a principal proposta de Lênin na Conferência de Zimmerwald em setembro de 1915. A Conferência de Zimmerwald fora convocada pelos partidos socialistas da Itália e da Suíça e pretendia agrupar todos os socialistas contrários à guerra a fim de lutarem pelas negociações de paz sem anexações ou indenizações.

Contudo, nessa Conferência estruturou-se um grupo que passou a ser chamado de Esquerda de Zimmerwald, cujo protagonista principal era Lênin. Lênin lançou as teses que constituíam seu escrito “La bancarrota de la II Internacional”, e conclamou os socialistas a se utilizarem da guerra para desencadear ações revolucionárias e instaurar um novo tipo de Estado, fundamentado nos princípios da Comuna de Paris. Suas teses foram derrotadas naquela Conferência, mas Lênin conseguiu agregar um grupo de socialistas que o seguiu até a fundação da Terceira Internacional designada, também, de Internacional Comunista ou Comintern, em 1919.

A cisão que se prenunciava no seio da Segunda Internacional, com a decisão dos partidos social-democratas de apoiar os esforços de guerra dos governos nacionais, tornou- se efetiva no final da Primeira Guerra. Os defensores da Segunda Internacional convocaram um congresso para fevereiro de 1919, a fim de a restabelecerem. Os bolcheviques lançaram a Terceira Internacional, argumentando que permanecer no seio da II Internacional significava pactuar com os reformistas e oportunistas.

Conforme Agosti (1985) e Eley (2005), a adesão dos socialistas contrários à orientação da Segunda Internacional, à nova Internacional não foi imediata. Com efeito, parece que a maioria dos partidos comunistas europeus surgiu após o lançamento das 21 condições para a formação do partido comunista em julho de 1920. Um grupo de socialistas que discordavam da orientação de ambas as Internacionais fundou, em fevereiro de 1921, a União Operária Internacional dos Partidos Socialistas, designada de Internacional Dois e Meio, sob a direção dos socialistas austríacos. Todavia, essa Internacional terminou unificando-se com a II Internacional e originou em 1923 a Internacional Trabalhista e Socialista (LSI).

Os partidos comunistas surgiram propugnando uma oposição ferrenha ao Estado burguês e à democracia representativa. Isto implicava na abstenção de participar das eleições parlamentares nos países de democracia representativa. Contudo, essa política não poderia perdurar indefinidamente. Assim, após as insurreições fracassadas na Alemanha e na Itália, ficaram evidentes as ambigüidades de uma oposição sistemática à democracia representativa em contraposição à democracia soviética. Portanto, voltou à agenda política dos partidos comunistas a decisão de participar das eleições e de fazer alianças com os grupos socialistas que não aderiram à Terceira Internacional. Contudo, assevera Eley: Durante a maior parte das décadas de 1920 e 1930, porém, os comunistas só acentuaram as diferenças, empurrando os socialistas de esquerda de volta para os braços da direita socialdemocrata.43

Em 1921 o III Congresso da Internacional Comunista reconheceu que surgira um novo período no cenário político europeu. Este período consubstanciava-se na estabilização política, de forma que não se concebia o surgimento de situações revolucionárias em curto prazo. Todavia, essa conjuntura histórica não propiciou a flexibilização organizativa ou política dos partidos comunistas. Desse modo, ainda se relutava em aceitar ações políticas conjuntas com os partidos social-democratas. Conforme Agosti (1985), aceitava-se apenas alianças pela base com os trabalhadores orientados pelos partidos social-democratas, a fim de conquistar o apoio desses operários e desmascarar a inoperância política dos dirigentes socialistas. Ao contrário, a visão dos comunistas sobre os partidos socialistas transformou-se, paulatinamente, na concepção de que esses se constituíam no inimigo principal do movimento operário.

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No âmbito da Terceira Internacional atuava uma corrente que se situava entre os bolcheviques e espartaquistas alemães de um lado, e os sindicalistas revolucionários de outro. Essa corrente, que se designava de comunismo de esquerda, tinha entre seus principais teóricos Anton Pannekoek, Hermann Gorter e Georg Lukcás. Conforme Hájek (1985), é possível perceber teoricamente certa homogeneidade de idéias entre seus membros, possibilitando considera-la uma corrente específica dentro do movimento comunista, todavia, a prática política desse grupo estava permeada de soluções discordantes para vários problemas.

Os comunistas de esquerda recusavam qualquer participação no parlamento e nos sindicatos dirigidos pelos social-democratas. Nesse sentido, contrapunham-se às proposições oriundas da Terceira Internacional. Será contra tais posicionamentos que Lênin dirigirá o escrito “Sobre el infantilismo de la ‘isquierda’ y el espíritu pequeñoburgés”. Nesta obra, assevera que os comunistas eram chamados a combater contra dois adversários: o oportunismo e o social-patriotismo da Segunda Internacional e contra o comunismo de esquerda. Contra as proposições de prática política dos comunistas de esquerda, Lênin propõe o máximo de flexibilidade tática a fim de que os comunistas se tornem capazes de utilizarem todas as formas de luta: legais e ilegais. Ressalta, portanto, que a atuação no parlamento e nos sindicatos reformistas era essencial para orientar o proletariado na conquista do poder político.

Conforme Hájek (1985), os comunistas de esquerda pareciam conseqüentes na crítica que faziam à participação nos parlamentos e sindicatos reformistas – dirigidos pela social-democracia –, entretanto, pareciam inconseqüentes, na medida em que não apresentavam uma alternativa de prática política viável em substituição à participação nessas instâncias.

Após a morte de Lênin em 1924, desencadeou-se uma renhida luta programática e pelo poder entre diversas facções políticas na União Soviética. Essa luta propiciou, mediante uma série de manobras políticas da facção de Stalin, o isolamento e à derrota de Trotsky, Kamenev, Zinoviev e Bukhárin. Resultou dessa luta, também, a consolidação da tese de Stalin da construção do socialismo em um só país. Conforme Eley, a primazia da defesa do socialismo soviético inverteu a estratégia política dos partidos comunistas orientados pela Terceira Internacional. Desse modo, em vez da construção do socialismo na URSS ser vista como dependente da vitória do socialismo em outros países, as conquistas do socialismo soviético passaram a ser vistas como um espelho para a conquista do socialismo em tais países. Dessa forma, a defesa da União Soviética assumia

a prioridade política para todos os partidos comunistas. Tal política, assevera Eley, reduzia a relevância dos demais partidos comunistas e os colocava sob a dependência tática e estratégica das orientações do Comintern.

No IV Congresso da Internacional Comunista em 1922, o princípio do internacionalismo proletário consolidou-se como a defesa da União Soviética. Entretanto, a dependência dos partidos comunistas em relação aos interesses da União Soviética não deve ser explicada apenas pela imposição dos comunistas soviéticos. Com efeito, Eley (2005) busca explicar tal dependência fundamentando-se em dois aspectos que podem ser sumarizados como segue: primeiro, o prestígio dos bolcheviques dificultava, nos anos 1920, a aceitação de argumentos contra eles; segundo, a ascensão dos regimes autoritários nos anos 1920 e 1930 do século passado com a conseqüente ilegalidade dos partidos comunistas, transformaram a União Soviética no recurso psicológico essencial para o enfrentamento da repressão.

No plano organizativo, as diretrizes aprovadas no V Congresso do Comintern em 1924, visavam conformar os partidos comunistas à estrutura organizativa do partido bolchevique. Tal orientação significava intensa centralização hierárquica, rigoroso cumprimento das orientações provenientes do Comintern e assimilação da teoria leninista. Eley assinala que essa orientação não foi meramente uma imposição dos bolcheviques aos partidos comunistas. Os militantes comunistas deveriam estar organizados em células de empresa, em vez de células com base geográfica. Essa exigência visava diferenciar ainda mais os partidos comunistas dos seus antecessores social-democratas. Conforme Hájek (1985), a ênfase nos postulados leninistas a fim de formar militantes comunistas com uma base ideológica sólida, visava diminuir as influências das idéias de Trotsky e Rosa Luxemburg no seio dos partidos comunistas. Desse modo, iniciou-se a disciplinarização dos militantes comunistas designada de bolchevização e os socialistas passaram a se rotulados de social-fascistas.

Dassú (1985) observa que, a despeito da derrota do movimento operário alemão com a ascensão do nazismo, a Internacional Comunista continuou usando o epíteto de social-fascistas para designar os partidos social-democratas. Concebia, também, que a política de colaboração dos socialistas com a burguesia na República de Weimar fora a responsável pela instauração da ditadura nazista. A despeito dessas críticas, a Executiva do Comintern convida, em março de 1933, os partidos comunistas a tentarem realizar um acordo de cúpula com os partidos social-democratas, a fim de combaterem o nazi- fascismo. Apesar dessa aparente flexibilização, a posição oficial do Comintern permanece

claramente contrária aos acordos de cúpula com a social-democracia. A mudança completa no que se refere a essa orientação política somente ocorrerá no VII Congresso da Internacional Comunista em 1935. Dassú discorda das explicações como a de Claudín (1985) de que essa mudança de orientação em favor da formação de frentes amplas, inclusive com setores democráticos da burguesia, fosse o mero atendimento dos interesses da política externa soviética.

A formação das frentes populares entre comunistas e socialistas seguiu dois caminhos. Primeiro, as lideranças nacionais superaram a animosidade mútua, processo iniciado em julho e agosto de 1934 respectivamente na França e na Itália. Conforme Eley a diretriz oficial do Comintern de junho de 1934 acenava para a formação de frentes únicas a partir de pactos firmados entre as lideranças dos dois partidos. Persistia, ainda, a resistência dos dirigentes da Internacional Trabalhista e Socialista (LSI), herdeira da Segunda Internacional, em firmar acordos com os comunistas e no final de 1934 ainda recusava negociar com a Executiva do Comintern. Finalmente, no VII Congresso da Internacional Comunista realizado em julho de 1935, a política de frente ampla foi oficializada e ganhou novos contornos ao fazer uma distinção entre governos democráticos e fascistas.

Nesse sentido, os partidos comunistas eram orientados a fazer alianças com os setores democráticos das classes dominantes. A política de frente ampla consistiu em um reagrupamento defensivo, entretanto, esperava-se que a política de frente ampla possibilitasse a passagem da democracia representativa para um período transitório capaz de consolidar o proletariado no poder. Desse modo, a mudança de orientação do Comintern em favor das frentes populares: ‘era mais que uma tática defensiva temporária, ou mesmo uma estratégia para eventualmente transformar derrota em ofensiva. Era também uma estratégia cuidadosamente estudada para promover o avanço do socialismo.’44

Observei ao longo deste capítulo que os partidos operários surgiram a partir de dois movimentos principais. O primeiro, significou a ação espontânea de líderes operários e intelectuais que aderiram às idéias socialistas dos mais diversos matizes. Algumas das idéias socialistas de pensadores contrários às proposições de Marx e Engels tornaram-se mais disseminadas do que a teoria elaborada pelos fundadores do Marxismo. Ferdinand Lassale e Herr Eugen Düring podem ser citados como exemplos de pensadores socialistas

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que tiveram suas idéias mais disseminadas que as idéias daqueles. Todavia, ainda durante o século XIX as proposições marxistas tornaram-se predominantes nos partidos socialistas. O segundo, significou o rompimento empreendido pelos fautores de um determinado tipo de marxismo. Estes denunciavam o que concebiam como a deturpação da teoria marxista pelos partidos operários filiados a Segunda Internacional e fundaram os partidos comunistas. Esses dois movimentos, entretanto, parecem típicos dos partidos socialistas europeus. Deverei verificar, por conseguinte, se os partidos operários na América Latina seguiram caminho idêntico aos seus congêneres europeus ou se um daqueles movimentos predominou sobre o outro.