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CAPÍTULO –

2 O PENSAMENTO MARXISTA NO ÂMBITO DAS INTERNACIONAIS SOCIALISTAS E A FORMAÇÃO DOS PARTIDOS OPERÁRIOS

2.7 O MARXISMO NA AMÉRICA LATINA

Löwy (2003) sublinha que o marxismo latino-americano conheceu três períodos históricos. O primeiro, designado de revolucionário, situou-se entre os anos 20 e meados dos anos 30 do século passado, cujo principal expoente teórico foi o peruano José Carlos Mariátegui. Nesse período a revolução era caracterizada como socialista, democrática e anti-imperialista. O segundo, situado entre meados dos anos 30 e o final dos anos 50, foi designado de stalinista. Nesse período caracterizava-se a revolução como constituída por etapas, cuja primeira etapa a ser inicialmente concluída era nacional e democrática. O terceiro período resultou da Revolução Cubana em 1959, nesse período são constituídas diversas correntes radicais que postulam a natureza socialista da revolução e a legitimidade da luta armada para situações históricas específicas. Estas correntes inspiravam-se nas teses e no exemplo heróico de Ernesto Che Guevara.

Três perspectivas teóricas constituíram o que se pode designar de marxismo latino-americano. A primeira buscava analisar as sociedades latino-americanas realçando suas peculiaridades, destarte, essas sociedades possuiriam especificidades que as tornavam diferenciadas de quaisquer outras. Nesse sentido, o excepcionalismo indo-americano resultaria na necessidade de transcender o marxismo considerado, teoricamente, incapaz de captar analiticamente as especificidades dessas formações sociais. A APRA (Aliança Popular Revolucionária Americana), fundada no México pelo peruano Victor Raúl Haia de la Torre consoante Aricó (1987), Löwy (2003) e Nils (2005) foi a principal veiculadora dessa interpretação.

A APRA constituiu-se como um movimento de caráter continental que conseguiu organizar seções em diversos países da América Latina. Contudo, após os anos 20 do

século passado tornou-se um partido de massa radicado no Peru. Conforme Aricó e Löwy, os teóricos apristas concebiam que a revolução socialista não se constituía no objetivo imediato a ser perseguido nos países da América Latina. Desse modo, os pensadores do movimento aprista postulavam que o socialismo seria possível somente após uma revolução social capaz de transformar política e economicamente as sociedades latino- americanas, emancipando-as da dominação imperialista.

A segunda perspectiva que, consoante Löwy, teria prejudicado sobremaneira o marxismo latino-americano a partir das suas origens foi o eurocentrismo. Os teóricos que partilhavam dessa perspectiva buscavam encontrar na formação social latino-americana as etapas pertinentes ao desenvolvimento social, econômico e político europeu. Desse modo, as análises de Marx e Engels sobre a formação social européia ocidental, eram transplantadas mecanicamente para as análises das realidades social, econômica e política dos países da América Latina. Tal perspectiva, asseveram Aricó e Löwy, resultou no empobrecimento das pesquisas, sobre esses países, fundamentadas no marxismo. Consolidou, também, a versão de que não existiam condições objetivas e subjetivas para se empreender a revolução socialista nos países latino-americanos. Portanto, o objetivo imediato dos partidos comunistas era concretizar a etapa democrática e anti-feudal da revolução na América Latina, a fim de preparar o caminho para a etapa socialista.

A terceira perspectiva, que Löwy concebe como a aplicação criativa do marxismo à realidade da América Latina, teria superado tanto as falsas abstrações sobre a excepcionalidade latino-americana, quanto o universalismo dogmatizado do eurocentrismo. Essa perspectiva funda-se numa posição metodológica que concebe a realidade sócio-econômica dos países da América Latina a partir de uma relação dialética entre o específico e o universal. A maioria dos pensadores que partilhavam essa perspectiva concluiu que a natureza da revolução era socialista. Postulavam essa posição, pensadores como Mariátegui, Ernesto Che Guevara e teóricos de inspiração trotskista.

A maioria deles concebia que a formação sócio-econômica daqueles países era capitalista, a despeito de se completar com formas de produção pré-capitalistas. Mariátegui postulava que na origem indígena dos camponeses radicava práticas coletivistas que os predispunham para a revolução socialista. Afirmava, ainda, que o capitalismo na América Latina caracterizava-se por um subdesenvolvimento congênito, que o tornava incapaz de alcançar o nível de desenvolvimento do capitalismo norte-americano e europeu. Portanto, a dependência política e econômica em relação ao imperialismo somente seria rompida com a revolução socialista.

Conforme Nils Castro (2005), as idéias socialistas foram introduzidas na América Latina em Meados do século XIX. Esteban Echeverria, publicou o livro “Dogma socialista” em 1846. Foi fundado um “Clube Socialista” em 1849 na Colômbia. No Chile, Francisco Bilbao fundou em 1850 a “Sociedade da Igualdade”. O marxismo foi introduzido na América Latina por imigrantes europeus no final do século XIX. Por influência da Segunda Internacional foi fundado em 1895 na Argentina o (PSA) Partido Socialista Argentino, liderado por Juan B. Justo. Teórico considerado por Löwy como moderado e semi-liberal. No Chile, foi fundado em 1912 o (PSTC) Partido Socialista dos Trabalhadores do Chile, por iniciativa do tipógrafo Luis Emilio Recabarren, constituindo uma ala revolucionária do incipiente movimento socialista da América Latina.

Os partidos comunistas parecem ter-se originado na América Latina a partir de duas fontes. Primeiro, a adesão dos partidos socialistas aos postulados leninistas, seja a sua ala revolucionária como na Argentina em 1918, ou como corrente majoritária como no Uruguai em 1920 e no Chile em 1922. A outra fonte originária dos partidos comunistas foi a aceitação dos princípios leninistas por parte de grupos anarquistas e anarco-sindicalistas. Esta fonte parece ser perceptível no México em 1919 e no Brasil em 1922.

CAPÍTULO – 3

3 A ORIENTAÇÃO POLÍTICA DO PARTIDO COMUNISTA DO BRASIL: DA