• Nenhum resultado encontrado

Se há desapego e receptividade às transformações, os estados de crise tornam-se elemento de elevação da consci- ência. Porém, se não há essa abertura, pode-se até mesmo regredir ao entrar neles.

Uma crise pode desencadear processos intensos. Prin- cipalmente quando é hora de o ser realizar a parcela que lhe cabe do Plano Evolutivo, elas atuam no sentido de dissolver os projetos humanos que poderiam vir a impedi-lo de dar os passos necessários. Todavia, se ele insiste em vitalizar esses projetos, pouco ou nada se pode esperar de sua parti- cipação nesse Plano.

Frente a determinadas crises, o silêncio é a atitude mais indicada. Silêncio de opiniões, de pensamentos, de julgamentos e de análises. Em silêncio, o próprio indivíduo pode reconhecer, com menos interferências, o rumo que lhe cabe tomar. As percepções vão mudando, a compreen- são amplia-se. O silêncio autêntico é o prenúncio de expan- sões da consciência que trazem mudanças no modo de se estar diante de certas tarefas e situações.

Abençoada crise a que vos faz reconhecer a peque- nez da natureza humana e a vossa aparente incapacida- de diante das mais simples atividades. Tendo chegado

o momento de transcenderdes as potencialidades materiais e de serdes permeados pela energia de núcle- os profundos, faz-se necessário romper as estruturas do ego, os pontos nos quais ele se sustenta, e dissipar as ilusões com o que é externo, sensorial e visível.

Porém, quando vos é dada uma oportunidade ascensional, há também a possibilidade de retroceder- des. Isso é inevitável, faz parte da conjuntura terrestre. Portanto, é preciso determinação em prosseguir; saber que vossa vida não é aquilatada por feitos humanos, mas pela luz que o vosso ser irradia silenciosa e ocul- tamente – e da qual pouco tendes consciência.

Além disso, deveis ter a meta clara, o que permiti- rá caminhar com retidão na estreita trilha que o vosso ser escolheu. E lembrai: humildade, compreensão e serviço – três chaves, três qualidades, três atributos a serem por vós reconhecidos, aplicados e desenvolvidos.

Pode-se afirmar que é na batalha que se fica experien- te. Porém, o servidor logo descobre que a batalha real a ser travada é com as forças retrógradas que ainda abriga em si mesmo. Nessa luta, é um excelente princípio o indivíduo deixar que a energia interna seja o guerreiro, em vez de querer agir por conta própria. E, muitas vezes, é num insu- cesso aparente que a verdadeira batalha é vencida.

A propósito disso, pode-se narrar um episódio: numa encarnação pretérita, dois irmãos dirigiram-se, no plano físico, ao deserto de Gobi, no Oriente, com intenção de encontrar Shamballa1, a cidade sagrada. Um deles iniciou

esse cometimento movido, em parte, pela ambição espiritu- al, ao passo que o outro tinha ideais mais puros. O primeiro desencarnou no caminho, em uma tempestade de neve típi- ca das regiões asiáticas, e não conseguiu penetrar os portais

que buscava, enquanto o segundo chegou até Shamballa e foi, no plano físico-sutil, acolhido pela Irmandade.

Séculos mais tarde, com o traslado das Hierarquias de Shamballa para o Ocidente (mais precisamente para o cone sul), eles voltaram a encontrar-se, porém, desta vez em Erks2, outra cidade sacra existente nos níveis sutis do

planeta. Ali, perceberam que faziam parte de uma mesma conjuntura, embora tivessem tomado destinos aparente- mente diferentes no passado.

* * *

Mais importante do que a construção externa e a vida dos veículos humanos é a fortaleza que se erige no interior do ser. A Morada firma-se sobre rocha, não sobre areia. E os ventos e as águas não podem abatê-la.

Jesus passou 40 dias no deserto, em solidão. Foi tenta- do e venceu as provas que se lhe apresentaram. Só depois levou ao mundo a energia que lhe cabia irradiar. Nos planos sutis, há intensa vida e potente realidade prestes a manifes- tar-se na superfície do planeta. Quando o indivíduo estabe- lece conexões com a energia desses planos, emergem nele as forças humanas que necessitam ser transformadas para que interações mais profundas possam consolidar-se.

No caminho de um ser, é importante que ele cumpra o que lhe é indicado, que não se prenda às etapas vividas anteriormente e às suas consequências. Na realidade, as Hierarquias contam com o potencial interno do ser, que será dinamizado se seus passos3 forem assumidos. Esse

potencial existe, independentemente das limitações que externamente o ser possa apresentar.

2 Vide ERKS – Mundo Interno, do mesmo autor, Irdin Editora.

3 Por passo entendemos a realização do que é indicado internamente e não do que é sugerido pela imaginação.

Estar em silêncio e reverência diante da Vida Una, sem confundir o próprio processo com o dos demais seres, traz clareza sobre a atitude que se deve ter a cada momento. O verdadeiro caminho é percorrido nos universos internos do cosmos. É também essencialmente solitário, pois dirige- -se ao Único. Ao atingir fases de maior amadurecimento, precisamos estar preparados para o silêncio e a solidão.

Principalmente nestes tempos, muitos pontos faculta- tivos, positivos, estão-se manifestando na vida dos indiví- duos resgatáveis que se dispõem ao cumprimento do Plano Evolutivo. Quando realmente o ser se dirige à meta, auxí- lios extras vêm-lhe ao encontro. Sem necessitar interferir nesse processo com seu esforço consciente, as limitações dos seus corpos podem ser transmutadas. A entrega é, para ele, a única trilha segura.

* * *

Um trabalho espiritual evolutivo transcende a reunião dos seres que o representam, tanto no plano concreto quan- to nos sutis. Suas raízes encontram-se em níveis supracor- porais, onde se formam os autênticos grupos de serviço. Aqueles que no mundo externo constituem as vestes desses grupos são guardiães da chama sagrada, dos padrões arque- típicos que se devem manifestar na superfície da Terra por meio de uma obra materializada.

Nesse trabalho é preciso haver seres de oração, contem- plativos. Seres que não tenham dúvida alguma sobre a meta de sua vida ou sobre a tarefa que lhes cabe no momento. Entrega deve ser a síntese de suas aspirações.

É preciso também haver nele os que lidem com a mani- festação imediata do Plano Evolutivo, seres que façam na vida formal as atualizações necessárias para que ela acom- panhe os passos interiores que o grupo vai dando. E é preci- so haver, ainda, seres que têm como função visualizar hori-

zontes mais amplos, mais distantes, horizontes que estão além dos que contêm os detalhes da manifestação – atraem os passos a serem dados, plasmando, assim, o molde para que a obra se concretize.

A obra consuma-se pela ação fundamentada no silên- cio interior e conta com a colaboração de outros reinos, tais como o dévico e o angélico, na preparação desse molde; e o grupo constrói a forma a ser expressa, completando, desse modo, o circuito da energia.

Esses pontos devem estar claros para os executores do Plano Evolutivo. Por meio da compreensão de leis como a da entrega e a do silêncio, é dado a eles perceber as diversas nuanças do trabalho das Hierarquias e das redes de consci- ências que distribuem seus sagrados impulsos.

A energia encontra um mínimo de obstáculos na sua materialização quando se compreende e acolhe com amor a existência de uma linha de luz que reflete as Hierarquias em âmbito terrestre. Essa compreensão e esse acolhimento revelam obediência e são necessários para que se conte com o apoio dos Espelhos4 do cosmos nas atividades do grupo,

pois estes expressam rigorosamente os padrões regidos pelas leis da Hierarquia. E a humildade é o que preserva de desvios os executores do Plano Evolutivo.

4Espelhos: sistema cósmico de comunicações, formado por consciências captadoras e transmissoras de energias e impulsos, cujo propósito é conduzir os universos à mais perfeita expressão da Ideia concebida para eles.

Presunção e serviço