CAPITULO 2 REDES / NETWORK
3.9 GOVERNANÇA NO CLUSTER
3.9.1 Critérios de governança para a formação de um cluster
A Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE, 2001) apresenta alguns passos para a idealização do desenvolvimento dos clusters:
a) determinação das metas globais e a extensão geográfica da iniciativa de política; b) iniciação do processo de desenvolvimento do cluster através de líderes dos setores
públicos e privados;
c) identificação de clusters e localização de atributos específicos na economia; d) priorização de esforços através de cluster, desde que os recursos sejam finitos;
e) elaboração dos papéis de relevância das entidades públicas e privadas, e de apoio aos clusters;
f) obtenção de informação sobre o estado dos clusters, dos mercados, das tecnologias, dos competidores dos relacionamentos e a respeito da economia local, mediante capacidades e estruturas de governança;
g) educação dos principais grupos e indivíduos sobre as necessidades dos clusters, referente ao estado dos clusters, seu potencial e os ganhos posíveis de interação e coordenação;
h) estabelecimento de uma organização apropriado para monitorar o processo; i) aparecimento de líderes que dirigam o processo adiante;
j) investimento e co-investimento em bens públicos, como infra-estrutura, treinamento, e pesquisa ;
k) coordenação das atividades públicas e privadas a fim de aumentar a competitividade; l) avaliação de metas, dos papéis de participantes, do progresso inicial, das produções, e
dos resultados;
m) institucionalização dos mecanismos que tiveram sucesso; e
Um outro critério para a formação de um cluster é o da Monitor Brasil (apud SILVEIRA, 2003, p. 45), que consiste basicamente em 09 (nove) etapas:
Etapas Atividades
Decodificar e Acordar a Estratégia Atual
Entender as razões e “boas intenções” que levaram à criação da estratégia atual
Criar um ambiente sem culpas nem culpados Focar-se na estratégia praticada, e não na estratégia
formalizada - trabalhar com a história de decisões reais, não de discursos e documentos
Estabelecer um Sentimento de Urgência para a Mudança
Criar um clima de “tensão construtiva” entre os participantes
Controlar eventuais sentimentos de insegurança (comunicação difusa)
Identificar as Decisões-Chave, Baseado em Informações
Juntar informações relevantes já existentes
Identificar e deixar explícitos os potenciais conflitos que possam surgir, e algumas opções de contingência Identificar em quais áreas a organização está insegura
de informação e/ou lógica Priorizar as opções Definir Visão e Cenário Futuro Desejado
Identificar as diferenças entre os desafios imediatos e os de longo prazo
Determinar a metodologia e cronologia para um processo claro de mudança
Criar novas “Redes”
Assumir responsabilidades
Estabelecer compromissos concretos
Criar um processo para trabalhar com inferências Comunicar a Visão
Comunicar a lógica por trás do processo de mudança Garantir consistência entre as iniciativas – todas
claramente alinhadas com a proposta moral Executar Projetos Pilotos e Testes
Garantir que as atividades e responsabilidades
necessárias para a mudança sejam absorvidas por todos os níveis das hierarquias organizacionais
Criar incentivos que apóiem um comportamento consistente com a nova estratégia
Gerar Resultados de Curto Prazo Encontrar uma maneira de inspirar confiança através de exemplos
Institucionalizar as Mudanças Criar Mecanismos Orientadores que estabilizem e consolidem os resultados dos esforços de mudança Avaliação e Confirmação dos Objetivos
Específicos Sendo Realizados
Identificar os objetivos claros com o propósito moral Compartilhar o aprendizado dos triunfos, derrotas e
atrasos Quadro 15: Etapas para o desenvolvimento de um cluster Fonte: Silveira (2003, p.45)
As etapas apresentadas por Silveira (2003), representam a síntese das principais etapas que devem ser levadas em consideração para se iniciar o processo de formação de um cluster. Faz-se necessário, uma visão critíca e transparente a este processo para garantir a sustentabilidade estabelecer a governança.
Os ciclos de vida de um cluster segundo o Observatory of European SME´s (2002) e ERDC (2003) seriam:
a) formação de empresas pioneiras, freqüentemente baseada em um conhecimento específico local, acompanhada de uma nova empresa spin-off;
b) criação de empresas especializadas em fornecedimento, prestação de serviços especializadas em mercado, através da desverticalização das empresas e o fomento à criação de mão de obra especializada;
c) formação de uma nova organização que serve as empresas no cluster, como aconteceu com a Terceira Itália (distritos industriais, em 1980), através da formação de pequenas e médias empresas com desenvolvimento de mercado, tecnologias;
d) atração de empresas externas, trabalhadores com habilidades e solo fértil para novas companhias;
e) criação de ativos de relações não comerciais, onde circulam informações e conhecimento, através de uma aproximação cada vez maior dos indivíduos, organizações e empresas; e
f) período de declínio dos clusters: situações complicadas de travamento podem acontecer, os clusters podem cair numa armadilha de uma rígida especialização, fazendo com que não haja um flexibilização para a inovação, além do bloqueio das ligações.
3.9.1.1 Premissas básicas para a formação
A Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) apresenta algumas diretrizes para a implantação de um cluster:
a) uma visão clara das metas da iniciativa é essencial: os objetivos poderiam ser definido embasados em informações dos atores locais e da junta governamental;
b) os policy makers geralmente deveriam se abster da construição de clusters novos, em setores específicos de empresa. Deveriam, primeiramente, consolidar os já existentes ou embrionários.
c) o setor privado deveria conduzir às iniciativas de desenvolvimento dos clusters: o papel do agente público seria o de catalizador (acesso a infraestrutura, promoção de relacionamento entre empresas, disseminação da informação, apoio educacional e treinamento), além de servir de teste de qualidade de políticas de governo e de programas para o desenvolvimento do setor privado. O governo tem de apoiar
iniciativas grupais e não individuais, a fim de que não comprometa os demais grupos, pois corre-se o risco da iniciativa privada não participar das etapas;
d) estabelecer critérios sensatos para identificar e priorizar os clusters dentro da economia: o processo de seleção não deveria ser politizado;
e) reconheçer que um tamanho padrão não ajusta tudo: clusters têm diferentes dimensões que incluem desde a extensão geográfica, industrial até a organizacional e sua capacidade inovadora;
f) utilizar a análise para modificar, com urgência, a mente dos participantes. Essa análise deveria descrever a natureza do cluster, sua dimensão e a razão de sua existência; g) estabeleçer um risco baixo/retorno curto: de maneira a visualizar aos participantes o
valor dos clusters;
h) estabelecer, se possível, parcerias nos diversos níveis de governo: relacionadas aos problemas da sua jurisdição;
i) iniciativas para facilitar o estabelecimento de parcerias locais que envolvam atores locais;
j) focalizar os mercados fracassados;
k) construir uma organização de cluster, através das associações de empregados, câmaras de comércio, associações comerciais;
l) clusters ativos podem requerer uma nova forma, devido a dinamicidade do processo; m) focalizar a construção, institucional do cluster e do seu sistema de apoio;
n) iniciativas deveriam facilitar a especialização entre empresas colaboradoras, através de estabelecimento de redes;
o) promover o estabelecimento de suprimentos, através de círculos de aprendizagem e associações, e outras formas em virtude da proximidade física (confiança mútua); p) permitir a especialização e a adaptação local entre universidades-empresas, incluindo
o incentivo de uma estrutura de suporte, como, por exemplo, os sistemas regionais de inovação;
q) considerar o planejamento, como uma via para os clusters emergentes e para o acesso das PME´s nesses agrupamentos;
r) captar investimentos externos para manter e estimular os clusters;
s) considerar a coleta e a organização nacional das estatisticas, adotando um modelo de referência que ilustrará a concentração geográfica dos grupos correlatos de empresas; t) avaliar do início ao fim o processo; e
u) criar um mecanismo de resultados. Caso não se produza algum resultado e a implantação não tiver sucesso, não considerar como fracasso.
Faz-se necessário estabelecer um relacionamento intenso entre os atores pertencente ao ambiente local. O ambiente local pode ser formado pela sociabilização das entidades, das instituições de negócios, pelo fator físico e pelos recursos de capital humano, pelas políticas governamentais que influenciam a decisão dos empreendedores. As características do cluster são configuradas e influenciadas pelos fatores locais que tornam o ambiente empreendedor muito mais orgânico e acumulativo, conforme a figura abaixo:
Figura 16: Natureza dos relacionamentos Fonte: ERDC (2003, p. 39).
Segundo Boscherini e Poma (2000, p.108), as PME´s que pertencem a um cluster específico, muitas vezes são competitivas porque:
• estão focalizadas no seu negócio, competências e na destinação de seus recursos; • tem desenvolvido capacidades e relacções para levar a cabo processos rápidos e apropriados de solução de problemas para os eus clientes;
• conseguem vantagens pela presença de recursos coletivos, e que de outra maneira tornaria inavessível para elas;
• operam em um ambiente estimulante, rico em pressão competitiva e de rivalidade, mas também em informação e em exemplos positivos; e
• operam em um contexto caracterizado pela confiança em que também os produtores pequenos se sentem protegidos e respeitados pela comunidade.
Dessta forma, os fatores que geram a competitividade das PME´s que operam num cluster, são influenciados pela inovação, pelos bens coletivos, pelas economias externas, pelo
know-how especializado, sob o contexto da aprendizagem coletiva, de forma a buscar uma
Figura 17: Fatores que geram a competitividade nas Pme´s que operam em cluster. Fonte: Boscherine e Poma (2000, p.109).