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Índice de Tabelas

2.4 Critérios de inclusão

São considerados casos incidentes de uma doença os novos casos que ocorrem num determinado período de tempo numa população em risco de desenvolver a doença. A incidência é uma medida epidemiológica usada para definir o risco de um indivíduo com determinadas características desenvolver a doença num determinado período de tempo. Quando se calcula a incidência de uma doença crónica, esta definição tem apenas uma interpretação, definindo na realidade o risco da doença surgir num indivíduo “livre de doença”, podendo esse risco ser interpretado como referido ao primeiro episódio (neste caso único) da doença. No caso de doenças de instalação aguda da qual podem ocorrer vários episódios, como um acidente neurológico, a definição de “caso incidente” leva necessariamente a diferentes definições de risco. Os novos casos de doença durante o período do estudo darão uma indicação “errada” do risco de um indivíduo desenvolver a doença, porque estaremos a contar como casos incidentes não só aqueles em que a doença ocorre pela primeira vez ao longo da vida (que definem o verdadeiro risco) mas também casos em que ela ocorre de novo, isto é, casos recorrentes.243,244 Nestas circunstâncias a taxa de incidência, o número de novos casos de doença ocorridos durante um período de tempo dividido pela população em risco, fornecerá mais uma estimativa da “importância” do que do risco de ocorrência da doença nessa população,(não sendo uma estimativa adequada do risco de desenvolver a doença), porque do numerador farão parte não só os indivíduos que têm a doença pela primeira vez mas também todos os indivíduos que tiveram um novo episódio da doença durante o período. Naturalmente nestas circunstâncias a incidência será uma sobrestimativa do risco, uma média ponderada do “verdadeiro” risco e do risco de recorrência.

Ainda uma outra medida pode ser dada pela incidência de episódios durante o período do estudo, incluindo assim os acidentes neurológicos recorrentes dos doentes que sofreram o primeiro acidente ao longo da vida no mesmo período.245 No caso dos AVCs como não existe uma relação

consistente entre o primeiro acidente ao longo da vida, o primeiro acidente no período de estudo e todos os AVCs33 não faz sentido comparar estudos e estimativas de risco, quando as definições

dos numeradores tenham sido diferentes.

Neste registo prospectivo de acidentes neurológicos consideraram-se apenas os indivíduos que constavam da lista de utentes dos centros de saúde do estudo em 30 de Setembro de 1999 em que ocorreu o primeiro acidente neurológico ao longo da vida, seguindo os critérios abaixo definidos:

1. Primeiro AVC ao longo da vida ocorrido no período de 1 de Outubro de 1998 a 30 de Setembro de 2000; exclusão de indivíduos com AVC antes do período de estudo.

2. Primeiro AIT ao longo da vida ocorrido no período de 1 de Outubro de 1998 a 30 de Setembro de 2000; exclusão de indivíduos com AIT ou AVC antes do período de estudo.

3. Primeiro episódio de sintomas e sinais neurológicos focais transitórios não AIT ao longo da vida, ou no caso de terem existido outros anteriores, o primeiro no período do estudo cujas características clínicas tenham sido diferentes no que se refere aos sintomas acompanhantes, ocorrido no período de 1 de Outubro de 1998 a 30 de Setembro de 2000. Os episódios assim definidos foram designados de forma abreviada como sintomas neurológicos transitórios (SNT). Neste último grupo, ao admitir a possibilidade de ter ocorrido um episódio anterior com características diferentes, pode induzir um viés de referência, isto é, o doente recorre ao médico porque teve um episódio anterior. Parece no entanto importante existir um grupo em que sejam registados todos os episódios “diferentes” de anteriores, ajudando a estabelecer critérios de diagnóstico com base no estudo do seu prognóstico.

Para se usarem estes critérios de inclusão é necessário excluir, em definitivo, que tenham ocorrido acidentes anteriores do mesmo tipo, os quais podem ter-se manifestado com pequenos défices neurológicos. Isto implica, para além da recolha detalhada da história clínica do doente, recorrer a vários meios de informação, nomeadamente a registos clínicos dos médicos de família e registos clínicos hospitalares, para averiguar da existência de episódios de acidentes neurológicos prévios. Para o cálculo da incidência anual do primeiro acidente neurológico ao longo da vida, os numeradores são definidos pelos critérios listados e o denominador é o número de pessoas-ano em risco, ou seja, o número de utentes constantes das listas dos centros de saúde do estudo em 30 de Setembro de 1999 multiplicado por dois. No caso da incidência dos sintomas e sinais neurológicos focais transitórios, a veracidade do valor obtido é discutível, no entanto pode comparar-se com o obtido noutros estudos de incidência de AIT, alguns deles realizados em simultâneo com estudos de incidência de AVC, estes últimos obedecendo aos critérios padrão.34 Note-se que foram incluídos todos os doentes com acidentes neurológicos transitórios que ocorreram no período de estudo prévios ao doente ter sofrido um AVC, e que eventualmente por isso possam ter sido detectados. A inclusão destes doentes piora o prognóstico dos AITs em geral, uma vez que não sabemos se estes doentes, em particular, recorreriam a um médico apenas por terem sofrido um AIT. No entanto, se fossem ignorados tornar-se-ia artificialmente

mais benigno o prognóstico dos AITs. Esta é uma questão sem resposta uma vez que não se sabe quantos doentes com um AIT nunca recorrem ao médico e muito menos quantos não se apercebem que sofreram um AIT.

Os utentes inscritos de novo nos centros de saúde do estudo após a ocorrência de um acidente neurológico foram excluídos do estudo; os eventos referentes a utentes inscritos nos centros de saúde do estudo, mas que temporariamente se encontravam ausentes da correspondente área geográfica quando ocorreu o evento, foram incluídos no numerador da incidência.