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4 A IMERSÃO ARQUEOLÓGICA NA MINHA TRAJETÓRIA DE VIDA ESCOLAR E

4.1 OS PRIMÓRDIOS DE MEU ENCANTAMENTO COM MATEMÁTICA

4.1.5 Cruzando a linha da Graduação: o que esperar da profissão docente?

Ainda cursando a Pedagogia, prestei concurso para professor de anos iniciais para a Prefeitura de Jaçanã, no Rio Grande do Norte. Passei dentro das vagas previstas, porém não fui convocada devido a problemas do próprio município com o Ministério Público. Por esse motivo, ao término do curso precisei procurar emprego em escolas particulares. Deixei vários currículos, mas não estava sendo fácil, pois não havia experiência em sala

de aula e geralmente as instituições optam por profissionais que já possuem experiência, até ser chamada para uma escola particular de Educação Infantil, em Nova Parnamirim, na qual exerço minha docência há um ano e três meses.

Como havia mencionado acima, eu tinha um receio enorme de atuar na educação infantil, não porque teria que, além de educar, cuidar de crianças bem pequenas e/ou crianças pequenas, mas porque na minha cabeça eu não tinha o “jeito certo” para trabalhar com elas, dito em outras palavras, eu julgava não ter criatividade e aquela doçura que as professoras de educação infantil devem ter. Como se pode ver, eu construí todo um estereótipo de como deve se portar um(a) professor(a) de educação infantil e isso me bloqueou inicialmente no trabalho com as crianças. Lembro-me bem que logo no início eu trabalhava com uma tensão muito grande, pois queria que o meu trabalho desse certo, que as crianças se sentissem bem comigo. Logo eu que peguei uma turma de Nível III, crianças de três anos, com a maior quantidade de alunos na sala e que tinham vivenciado uma experiência de muito afeto e amor com professora que sucedi naquela turma. Vivi um tempo de muitas cobranças. Cobranças que eu criei para mim mesma.

No ano de 2020, fiquei responsável pela turma do Nível V, crianças com cinco anos. Fiquei bem feliz por ser uma turma de transição para o ensino fundamental, já com um trabalho bem mais voltado para a alfabetização. Infelizmente este não foi um ano tão fácil para a minha profissão, pois, com o surgimento da pandemia de covid-19, tivemos que parar as aulas presenciais e ficar em isolamento social. Dessa forma, estive com os meus alunos, presencialmente, apenas por três meses no início do ano. Pouco pude trabalhar com eles e chegar a uma avaliação.

Com o isolamento, não parei de trabalhar nenhum momento, pois tínhamos de oferecer o melhor para os nossos alunos, tínhamos que inovar no ensino. Porém, embora muitas escolas particulares tenham optado por criar aulas online para todos os níveis de ensino, inclusive para a educação

infantil, a escola onde trabalho decidiu não desenvolver aulas nesse formato, seguindo, assim, o que está estabelecido na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, em que mesmo não prevendo a utilização da modalidade de Ensino a Distância ou remoto nesse nível de ensino, nem em casos emergenciais, como faz para o Ensino Fundamental, defende uma

“avaliação mediante acompanhamento e registro do desenvolvimento das crianças” (BRASIL, 1996), conforme artigo 31 dessa mesma lei. Assim, de acordo como que fora orientado pela coordenação da escola, as atividades deveriam ser elaboradas, seguidas de um roteiro para que os pais pudessem explicar para os seus filhos.

Mesmo não tendo o desgaste físico de ir e vir todos os dias para a escola, como também o trabalho de cuidado com os alunos, presencialmente, pensar em atividades em que os próprios pais deveriam realizar com os seus filhos, de forma que estes não regredissem os conceitos por eles já acomodados e que aqueles pudessem explicar como deveriam ser realizadas, foi uma tarefa muito difícil. E a desmotivação em saber que alguns deles não estavam fazendo surgia, tornando a tarefa de lecionar bem mais difícil.

Com a diminuição, ainda que pouca, dos casos de covid-19 no estado do RN, as escolas particulares começam a requerer a volta às aulas. E ao assumirem um compromisso de responsabilidade para manter as crianças e suas famílias resguardadas do perigo de adquirirem o vírus, cumprindo todas as medidas de precaução, as escolas particulares voltam com as suas aulas, agora com a quantidade reduzida de alunos. Dessa maneira, volto a trabalhar também presencialmente e passo a assumir uma turma heterogênea, com crianças de 4 e 5 anos, isto é, Níveis IV e V.

Volto com a intenção primeira de saber como estão os meus alunos em relação à leitura e à escrita, no sentido de avaliar a questão do letramento, como também do numeramento. Durante essa volta, eu tive alguns desafios. Um deles reside no fato turma ser diversificada, ou seja, crianças com diferentes hipóteses de escrita. Segundo, pelo trabalho

realizado, ou não realizado, em casa, durante o isolamento social, com essas crianças pelos seus pais. Nesses dois pontos encontrei diferentes realidades e tive que trabalhar durante o processo de ensino de um modo em que as minhas crianças pudessem avançar nas Zonas de Desenvolvimento 12, conceituadas por Vygotsky13, isto é, que elas pudessem partir da Zona de Desenvolvimento Real, em que se encontravam no presente momento, para a chamada Zona de Desenvolvimento Potencial, chegando nesse, portanto, com a minha mediação, durante a denominada Zona de Desenvolvimento Proximal.

Para tanto, trabalhei fortemente em atividades em que os meus alunos pudessem ter o conhecimento das letras, utilizando a princípio o próprio nome deles; também atividades em que eles começassem a perceber que as letras têm sons e que cada palavra é constituída por “pedacinhos”, as chamadas sílabas. Além disso, busquei destacar a diferenciação entre letras e números.

Pois bem, pude obter bons resultados com os meus alunos, fato este que me deixou bem motivada para continuar atuando em níveis maiores da educação infantil, mas principalmente nos anos iniciais do ensino fundamental.