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8 REPERCUSSÕES DO PÓS-PESQUISA E PERSPECTIVAS FUTURAS

Diante do que foi exposto nesta pesquisa, posso afirmar que muita coisa mudou desde o seu início até o momento em que estou agora.

Confesso chegar um tanto desorientada em relação ao trabalho, pois tinha em mente, pelo menos foi o que o meu pré-projeto apresentou, desenvolver outro tipo de pesquisa, porém com o contexto instaurado pela pandemia da covid-19, tive que pensar juntamente com o meu orientador outra maneira de realizarmos o trabalho.

Mesmo em meio a tantas nuances, eu hoje, vendo o resultado da nossa pesquisa, minha e do meu orientador, percebo que ela tinha que ser como agora é, pois compreendo que ela mudou para melhor. Embora o receio tivesse tomado conta de mim, durante a nova proposta apresentada pelo professor, pois não entendia a princípio o seu querer, a sua proposta para essa orientanda em início de carreira, resolvi aceitar prontamente o desafio e partir para a sua construção.

Tive a triste impressão de que o meu orientador estava me deixando

“muito solta”, afinal os orientadores, em sua grande maioria, recomendam

vários livros ou artigos para lermos, estruturarmos o trabalho conforme entendem, enfim, entendia que meu o direito do orientando de desenvolver com uma certa autonomia a minha pesquisa estava sendo ferido. Entretanto, o tempo foi passando e eu passei a compreender o que se passava na cabeça do meu orientador. Entendi o que ele guardava com tamanho carinho para mim. A autonomia que ele me deu a princípio foi uma forma de ele sentir o que eu queria, através da minha narrativa autobiográfica, pesquisar. Confesso que nem eu mesma sabia ao certo, mas ele, com os olhos de águia, conseguiu captar o que seria a nossa pesquisa.

Antes da pesquisa, eu era uma pedagoga recém-formada e ingressante no mercado de trabalho. Tinha muitas indagações sobre a minha profissão e sobre a educação como um todo. Mas também eu tinha nas mãos o desejo de fazer mudanças, o querer e a audácia para que elas pudessem se concretizar, porém não dominava muito o “como?”

Já agora, depois da pesquisa, eu me vejo como uma pesquisadora.

Eu consigo realizar o tanto que aprendi e que a cada dia que passa eu me consolido mais com uma professora reflexiva. E eu percebo isso ao olhar para dentro da minha sala de aula e ver que os meus alunos se mostram motivados quando eu proponho alguns temas que os fazem pensar e que gera várias problematizações. É claro que, a cada dia aprendo mais com eles e com o meu ensino. Percebo quando houve motivação e quando não houve, quais atividades que mais os deixam empolgados e quais são as que os deixam entediados, e isso tudo eu pude observar com o decorrer desta pesquisa. Mesmo o foco sendo a Matemática, a pesquisa veio para abrir novos horizontes, para eu poder fazer julgamentos sobre o meu próprio ensino e poder me aperfeiçoar enquanto profissional da educação.

Pretendo continuar pesquisando na área da educação, pois as inquietações sempre estão surgindo e principalmente pesquisando sobre o ensino da Matemática, pois foi ela que sempre me motivou a continuar, enquanto eu queria desistir da educação e sempre me motiva devido às questões que vão surgindo em sala de aula.

Ao desenvolver essa pesquisa, percebi que para os professores de Matemática ainda falta muito a questão do afeto e penso no quanto seria importante que esse fosse inserido no contexto das formações iniciais, pois assim como eu vi que a mudança de pensamento deveria partir de mim e eu tive a oportunidade de me formar em um ambiente afetivo e problematizador, eu gostaria que nossos futuros professores pudessem também passar pela mesma experiência de ter um ensino que toque, que transforme e que mova o mundo. Dessa forma, deixo aqui um recado para todos eles, através de uma carta, como forma de motivá-los a persistir na sua trajetória docente.

Natal, 18 de fevereiro de 2022.

Queridos futuros professores que ensinarão matemática,

Nenhuma trajetória é fácil, pois em todas elas há os obstáculos que temos que passar e assim chegar aos nossos objetivos. A trajetória de um professor nem se fala, pois muitos têm que lidar com o fato de ter que conciliar a sua formação com o trabalho, o que torna o processo ainda mais exaustivo. E para um professor que ensinará matemática ainda tem mais o fato de ter que lidar com a falta de motivação e o desinteresse dos alunos em sala de aula.

Durante toda a minha caminhada escolar observei meus colegas com um medo e uma certa frustração com relação à matemática, mas que através dos meus estudos eu pude perceber que a falta de afeto durante as relações de aluno e professor, como também a falta de entusiasmo e sensibilidade deste último foram grandes inibidores de um ensino de matemática mais cativante.

Pude ter o prazer de ter toda a afetividade na minha formação inicial, ao pagar os componentes curriculares dos Ensinos de Matemática, onde lá eu senti pela primeira vez uma turma que, ao início, temia pelas notas baixas e que ao final de dois semestres festeja por ter tido aulas de matemática!

Em busca dessa matemática cativante eu estive e ainda estou. Já tenho afeto por ela, sempre tive. Para mim ela é um grande desafio. O que me falta ainda mais é conseguir transmitir esse afeto por meio das minhas práticas, pois esses dois anos em sala de aula foram só o começo da minha caminhada como professora.

Saibam, queridos professores, que nós temos um papel de suma importância na formação dos nossos alunos e é com a nossa prática, com a nossa forma de trabalhar que chegamos à conquistar cada um deles.

Aconteceu comigo. Aconteceu com os meus queridos colegas de formação e pode acontecer com vocês!

Hoje fecho mais uma etapa da minha vida, mas também começo uma nova e vivo uma alegria estonteante. E assim como eu, gostaria que cada um de vocês pudessem viver experiências com a que lhes toquem e que também vocês possam tocar.

A matemática está VIVA, nunca se esqueçam disso, por isso futuros professores propaguem essa alegria em suas salas de aula e proporcionem aos seus alunos um ensino crítico e reflexivo, de modo a levá-los à um desenvolvimento não somente cognitivo, mas também humano!

Me despeço de todos vocês com o meu entendimento, através das palavras de Paulo Freire, em Pedagogia da Autonomia, da grande tarefa de ser professor, tarefa essa que eu pude descobrir durante a minha prática docente…

Não posso ser professor se não percebo cada vez melhor que, por não poder ser neutra, minha prática exige de mim uma definição. Uma tomada de posição. Decisão. Ruptura. Exige de mim que escolha entre isto e aquilo. Não posso ser professor a favor de quem quer que seja e a favor de não importa o quê. Não posso ser professor a favor simplesmente do Homem ou da Humanidade, frase de uma vaguidade demasiado contrastante com a concretude da prática educativa. Sou professor a favor da decência cont ra o despudor, a favor da liberdade contra o autoritarismo, da autoridade contra a licenciosidade, da democracia contra a ditadura de direita ou de esquerda. Sou professor a favor da luta constante contra qualquer forma de

discriminação, contra a dominação econômica dos indivíduos ou das classes sociais. Sou professor contra a ordem capitalista vigente que inventou esta aberração: a miséria na fartura. Sou professor a favor da esperança que me anima apesar de tudo. Sou professor contra o desengano que me consome e imobiliza. Sou professor a favor da boniteza de minha própria prática, boniteza que dela some se não cuido do saber que devo ensinar, se não brigo por este saber, se não luto pelas condições materiais necessárias sem as quais meu corpo, descuidado, corre o risco de se amofinar e de já não ser o testemunho que deve ser de lutador pertinaz, que cansa mas não desiste. Boniteza que se esvai de minha prática se, cheio de mim mesmo, arrogante e desdenhoso dos alunos, não canso e me admirar.

FREIRE, 1996 Forte abraço!

Profª Mestra Letícia Peixoto de Mendonça

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