• Nenhum resultado encontrado

O CUIDADOR INFORMAL E A SOBRECARGA

ÁREAS DE ATIVIDADES DETALHAMENTO DAS ATIVIDADES

3.4 O CUIDADOR INFORMAL E A SOBRECARGA

Garrido e Almeida (1999) expõem como a sobrecarga se desencadeia em pessoas que se encarregam de cuidar de idosos, especialmente aqueles com deficit de cognição. Distúrbios de comportamento apresentados por pessoas dementadas geram nos seus cuidadores elevados graus de depressão e ansiedade, comprometendo até mesmo suas condições físicas.

Marques et al. (2006) acrescentam que a sobrecarga nestes cuidadores pode contribuir para o desenvolvimento de problemas psicológicos e psiquiátricos, induzindo-os a fazer uso constante de fármacos psicotrópicos, levando-os ao cansaço excessivo e ao desânimo e comprometendo severamente sua saúde. Esta série de complicações impõe ao cuidador condições inadequadas e/ou insuficientes para o cuidado ao idoso. O próprio “cuidar” pode gerar outros efeitos, principalmente sociais e econômicos (BRODATY; GREEN, 2002).

Maslach (2001) define a sobrecarga referente ao “cuidar” como sendo qualidade ou quantidade de necessidade de serviços que supera a capacidade de desempenho, seja por insuficiência técnica ou insuficiência de tempo, na qual a exigência exacerbada e a

responsabilidade crítica da atividade acarretam, em especial, o surgimento de exaustão emocional.

Há pesquisas que mostram que o cuidador que assiste a idosos com deficit cognitivo se submete à sobrecarga excessiva, sendo esta sobrecarga geradora de um desgaste que se associa à presença de sintomas não cognitivos ou psiquiátricos (BRODATY; GREEN, 2002, MENDES, 2004). O deficit cognitivo é compreendido como um dos principais motivos de incapacidade e dependência entre os idosos, exigindo daquele que cuida de indivíduos deficitários cognitivamente uma atenção constante e quase integral (CANÇADO; HORTA, 2002).

A tarefa de cuidar do idoso dementado cabe primariamente aos seus familiares. Entretanto, estes familiares não têm a preparação correta e adequada nem tampouco conhecimento ou suporte mínimos exigidos para tão relevante tarefa, resultando em comprometimento da saúde e do bem-estar de todos. Isso porque estes familiares, que assumem o papel de cuidadores, buscam assistir a seus idosos dementados de acordo com as suas próprias forças e recursos.

Outro fato importante é que eles também acabam se valendo de sua autoridade de familiar em uma situação em que não há espaço para isso. Estes fatores, conjugados, constituem um sistema precário de cuidado que vai se traduzir em quadro de desgaste e estresse para o cuidador (CALDAS, 2002).

3.4.1 Aspectos que influenciam no cuidar e que acarretam sobrecarga emocional

Petersen (2006) afirma que ser cuidador de uma pessoa com demência demanda tempo, dinheiro, energia, trabalho, espaço, entre outros. Ocorrem perdas graduais de ordem cognitiva, comportamental, emocional e até de personalidade do paciente dementado, exigindo do seu cuidador informal uma capacidade de adaptação altamente funcional para que se estabeleça um convívio satisfatório. Faz-se necessário realizar diversos arranjos cotidianamente para estar apto a atender às demandas progressivas e irreversíveis decorrentes da demência do paciente (SENA et al., 1999).

Laham (2003) investigou como grupo de cuidadores informais percebiam os aspectos positivos e negativos do ato de "cuidar". A maior parte dos participantes era parente de primeiro grau, sendo 30% deles cônjuges e 36% filhos. Nesta pesquisa, 80%

declararam não se ter preparado nem planejado para se tornarem cuidadores e 78% afirmaram ter problemas relacionados à saúde. Os aspectos negativos mais comuns apresentados foram: perda de liberdade, preocupação, estresse, solidão, falta de apoio, cansaço e impotência frente à doença.

Neste sentido, Cerqueira e Oliveira (2002) apontam alguns sinais de sobrecarga facilmente identificáveis nos cuidadores informais, sendo os mais comuns: baixa concentração nas atividades, perda de energia, sono inconstante, fadiga excessiva, isolamento, uso abusivo de substâncias químicas, agressividade e dificuldade de concentração e alteração de memória, entre outros.

Deduz-se que a conjunção de aspectos que envolve o cuidar de pacientes dementados atribui àqueles que cuidam uma severa sobrecarga emocional e física. De forma a amenizar a carga sofrida pelos cuidadores informais, há a necessidade de se buscar alternativas. Estabelecer outros parentes para ajudar, contratar programas day-care e institucionalização temporária (sistemas de suporte formais e informais), por exemplo, são alternativas interessantes que permitem ao cuidador dispor de tempo para si e, principalmente, contribuem para o necessário descanso físico e mental.

Ainda, deve-se incentivar e apoiar a busca de ajuda especializada para este grupo de pessoas. Além disso, os cuidadores devem buscar estabelecer objetivos, planejar o futuro e zelar e cuidar da sua saúde, integrando-se, por exemplo, em grupos de ajuda para a reivindicação de orientações médicas, assistenciais e direitos sociais.

Outros fatores que vêm acrescentar neste apoio são as medidas implementadas pelo Ministério da Saúde, a partir de 2002, com o fornecimento de medicamentos na rede pública. Ao diminuir seus custos com remédios no tratamento aos pacientes dementados, abrem-se novas possibilidades aos cuidadores, fazendo com que estes busquem outras formas de enfrentamento do problema.

No entanto, a rede de suporte pelo Poder Público ainda é incipiente neste sentido. É de fundamental importância, portanto, que sejam criados modelos de atenção ao cuidador do paciente com demência, em articulação com os vários setores da sociedade, com o propósito de fazer valer a Política Nacional do Idoso e a saúde da família.

Qualidade de vida (QV) é termo que possui caráter amplo e inclui variadas condições que não se esgotam somente nas condições de saúde, no controle de sintomas ou em possíveis intervenções médicas. A QV sofre influências diversas, como aquelas relacionadas à educação, ao bem estar psicossocial e às interações ambientais, entre outras. Saupe (2002) abordou o tema realçando o conceito de QV nas áreas das ciências biológicas, sociais e humanas.

Portanto, QV é percebida através das modernas correntes humanistas como um conceito fundamentalmente humano, abrangendo significados diversos que fogem àquele conceito estereotipado existente até meados do século passado, no qual a QV estaria associada tão somente a indicadores tangíveis e materiais. No que tange ao cuidador informal, é importante percebermos, inicialmente, em qual contexto ele se insere ao cuidar de pacientes com demência, como ele lida com o ambiente ao qual é exposto e como ele lida com as frustrações e as responsabilidades que lhe são impostas.

A modernidade trouxe junto a ela desafios ligados ao aumento da longevidade. Pesquisadores têm-se mobilizado na busca dos causadores dos eventos estressores e dos impactos causados na família dos idosos dementados. O indivíduo acometido de demência vê-se impelido a modificar a forma como se relaciona consigo mesmo e com aqueles que estão à sua volta, implicando repercussões psicológicas, não somente nele, mas em todo o ambiente que o rodeia (WILLIAMS; AIELLO, 2004).

A demência subjuga a pessoa por ela acometida a severas perdas. O idoso dementado sofre, pois, além da perda das funções cognitivas, ocorre considerável redução na quantidade de relacionamentos sociais extrafamiliares, que resultam inevitavelmente em aumento das relações intrafamiliares e em uma forte dependência de seus cuidadores. Esta realidade reconfigura as formas de viver das pessoas envolvidas neste contexto, porque conduz ao redimensionamento da vida de todos os membros familiares – em especial dos cuidadores informais – de forma a conviver com o ente dementado e com todas as implicações decorrentes de sua doença (MESSIAS, 2005).

Não é tarefa fácil ser cuidador informal, pois à medida que os estágios da doença avançam ocorrem necessidades de auxílio constante e permanente dos membros da família e, principalmente, dos cuidadores informais (GREEN, 2001).

De forma contrária a uma situação transitória, cuidar informalmente de paciente acometido de doença mental exige responsabilidade diária, cotidiana, transformando a vida

do indivíduo. Esta grande pressão enfrentada pela família não se equipara a de um profissional em estado de estresse ocupacional. Conforme Willians e Aiello (2004):

[...] não compete à família abandonar ou trocar a pessoa portadora de deficiência. Além disso, o profissional trabalha apenas 40 horas por semana, descansa nos fins de semana, podendo tirar férias anualmente, atividades que a maioria das famílias não tem condições de realizar (WILLIAMS, AIELLO, 2004, p. 197-198).

Diante do exposto, concluiu-se que a QV daqueles que se submetem ao cuidado de pessoas dementadas é potencialmente atingida. E a perda ou redução desta qualidade de vida é facilmente percebida, com os acréscimos de sobrecarga emocional e física que acometem aqueles a que se submetem a esta estafante tarefa.

3.4.3. Correlação entre cuidar de idosos dementados e sobrecarga emocional

Garrido e Almeida (1999) apontam a correlação existente entre pacientes com demência e a sobrecarga dos cuidadores que os assistem, concluindo sobre o impacto negativo da demência de um familiar em seus cuidadores. Este impacto acarreta nos cuidadores maior vulnerabilidade à ansiedade e à depressão, bem como contribui para a deterioração de suas condições físicas. No entanto, com o passar do tempo, os níveis de depressão e as limitações sociais e afetivas tendem à diminuição, minimizando a gravidade que o impacto causara anteriormente.