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4. CULPA EXCLUSIVA DO EMPREGADO

4.5. Culpa exclusiva da vítima

A culpa exclusiva se dá quando a vítima provoca sozinha, o resultado lesivo, restando excluído o nexo causal, e portanto, a própria responsabilidade civil.

Sabemos que só irá responder pelo dano aquele que concorre para sua produção, isto é, aquele que deu causa a sua existência.

Pois bem, conforme preleciona Rui Stoco:

“Mas a culpa exclusiva da vítima arreda a possibilidade de impor- se ao empregador responsabilidade pelo ressarcimento, pois rompe o nexo causal entre a ação ou omissão deste e o resultado lesivo.

Afasta-se, assim, o dever de reparar do empregador.

A razão é simples, pois se o acidente ocorreu por culpa exclusiva da vítima então o empregador não terá agido com culpa, o que ressuma evidente.”107

Portanto, o indivíduo que acaba por absorver a causalidade do dano para si, acaba por ser responsável pelo dano por ele mesmo produzido. Dessa forma, será configurada a sua culpa exclusiva.

Miguel Maria de Serpa Lopes diz:

“Há culpa da vítima quando o prejuízo por ela sofrido decorre, não do próprio autor material do fato, senão de fato oriundo exclusivamente da vítima”.108

107STOCO, Rui. Tratado de Responsabilidade civil: doutrina e jurisprudência. 9. ed. São Paulo: Ed.

Revista dos Tribunais, 2013, t. 1, p. 831.

108LOPES, Miguel Maria de Serpa. Curso de direito civil. Fontes acontratuais das obrigações.

Entende portanto, que no caso da culpa ser exclusiva da vítima existe uma confusão entre o agente e a vítima, não havendo responsabilidade alguma.

E ainda salienta a questão da não existência no nosso Código Civil de qualquer dispositivo referente ao culpa exclusiva da vítima:

Força é considerar que o nosso Código Civil, do mesmo modo que outros Códigos, não consagra qualquer dispositivo ao problema da culpa da vítima”.109

Rui Stoco, no Tratado de Responsabilidade Civil, chama a atenção para esse fato, da não existência de instituto específico para a culpa exclusiva da vítima, remetendo ao mesmo entendimento acima, mostrando que “a doutrina e o trabalho pretoriano construíram a hipótese, pois como se dizia no Direito Romano: quo quis ex culpa sua damnum sentit, non intelligitur damnum sentire.”110

E ainda: “Da idéia da culpa exclusiva da vítima, que quebra um dos elos que conduzem à responsabilidade do agente (nexo causal)...”111

O que importa na análise é apurar se a atitude da vítima teve o efeito de suprimir a responsabilidade do fato pessoal do agente, afastando a sua culpabilidade.

O escólio de Silvio Rodrigues afirma que a culpa exclusiva da vítima é causa de exclusão do nexo causal, porque o agente, aparente causador direto do dano, é mero instrumento do acidente.112

Em suma, a culpa exclusiva da vítima caracteriza-se pela inexistência de nexo causal entre o acidente laboral e a atividade desenvolvida pela empresa bem como entre a sua relação com a conduta do empregador.

109LOPES, Miguel Maria de Serpa. op. cit.

110STOCO, Rui. Tratado de Responsabilidade civil: doutrina e jurisprudência. 9. ed., cit., t. 1, p. 253. 111Id. Ibid.

112Id. Ibid., t. 1, citando RODRIGUES, Silvio. Tratado de Responsabilidade Civil: doutrina e

Sebastião Geraldo de Oliveira expressa que: “fica caracterizada a culpa exclusiva da vítima quando a causa única do acidente do trabalho tiver sido a sua conduta, sem qualquer ligação com o descumprimento das normas legais, contratuais, convencionais, regulamentares, técnicas ou do dever geral de cautela por parte do empregador.113

Constatado que o acidente decorreu de culpa exclusiva da vítima, afasta- se o próprio nexo causal e o dever de reparação, porque o evento não teria decorrido da própria natureza da atividade desenvolvida pelo empregador ou de sua conduta:

“A culpa exclusiva da vítima é o caso em que se exclui qualquer responsabilidade do causador do dano, devendo a vítima arcar com todos os prejuízos, pois o agente que causou o dano é apenas um instrumento do acidente, não se podendo falar em nexo de causalidade entre a sua ação e a lesão.114

Uma vez constatado que a concretização do acidente laboral teve como decorrência uma conduta imprudente ou negligente do próprio empregado.

Na culpa exclusiva da vítima desaparece a relação de causa e efeito entre o ato do agente causador do dano e o prejuízo experimentado pela vítima.

Como exemplo, o empregado que deixa de usar um equipamento de segurança fornecido pela empresa, o empregador não poderá ser responsabilizado pelo acidente, uma vez que inexistirá o nexo que liga a conduta do empregador ao dano ocasionado ao empregado, cabendo ao empregado acidentado tão somente os benefícios da infortunística, cuja cobertura abrange até os acidentes ocorridos por culpa da vítima ou que tenham causalidade remota com o serviço.

113OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. Indenizações por acidente do trabalho ou doença

ocupacional. 5. ed. São Paulo: LTr, 2009. p. 152.

Sílvio de Salvo Venosa, ao tratar sobre o tema, atenta para a discussão referente ao Código Civil, que trata apenas da culpa concorrente (Art. 945, CC). A culpa exclusiva da vítima não está presente na letra da lei, sua construção está vinculada a doutrina, jurisprudência e a legislação extravagante, que consolidam essa excludente de responsabilidade. A relação entre o dano e seu causador fica comprometida, isto é, o nexo causal inexiste.115

Ressalta-se que a culpa concorrente (Art. 945, CC) acaba por também indenizar, porém com atenuante na indenização, isto é, ambos os agentes que concorrem para o dano irão prestar indenização. Diferente da culpa exclusiva da vítima, onde o indivíduo não terá o dever de indenizar.

Foi possível observar que o tema não é muito aprofundado pela doutrina. Todos os doutrinadores fazem uma análise muito superficial do tema. Conceituando o instituto e chamando a atenção da relação deste com a culpa concorrente, mostrando a diferença que existe entre ambos.

Os juristas chamam a atenção para a falta deste expressamente em lei, como ocorre com a culpa concorrente (Art. 945, CC), deixando claro que a culpa exclusiva da vítima surgiu a partir de construções da doutrina, jurisprudência e legislação extravagante.

Atentam ainda ao fato da quebra do nexo causal quando falamos em culpa exclusiva, pois o autor é sua própria vítima, não dando causa a nenhuma forma de indenização.

“A técnica legislativa teve enfrentar um dos problemas mais delicados de apuração da responsabilidade, o da culpa do ofendido”.116

115VENOSA, Silvio de Salvo. op. cit., p. 46.

116MIRANDA, Francisco Cavalcanti Pontes de. Tratado de direito privado: parte especial, cit., t. 22,

Concluimos que a culpa exclusiva do empregado exime o empregador de qualquer reparação civil indenizatória, importando apurar se a atitude da vítima teve o efeito de anular a responsabilidade do fato pessoal do agente, afastando sua culpabilidade.