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5. PRESCRIÇÃO

5.2. Prescrição civil

Como dito acima, há dissenso sobre a temática da prescrição a ser aplicada nos acidentes do trabalho.

Uma corrente defende que o prazo de prescrição deve ser o do art. 206, §3º inciso V do Código Civil, uma vez que a indenização de acidente do trabalho é eminentemente civil:

Art.206 - Prescreve: §3º - Em três anos:

V - a pretensão de reparação civil;

Para esta corrente a competência se instala por conta de que a relação jurídica está atrelada a relação de trabalho, pouco importando que a controvérsia seja solucionada pelo direito comum, a competência é direito processual, quanto que a indenização é direito material, portanto, competência é a mera distribuição de serviço, e por conta desta distribuição de afazeres a prescrição não deve ser a trabalhista, já que a matéria é civil.

O infortúnio (acidente) representa um acontecido extraordinário alheio a expectativa normal do empregado e à execução regular do contrato de trabalho.

Se a matéria: verbas trabalhistas e acidente do trabalho não fossem diversas, a Constituição da República Federativa do Brasil não precisaria inserir

inciso diverso ao das verbas trabalhistas: art.7º, XXVIII, segunda parte. Também, o legislador na Lei de Falências nº11.101/05 não separaria a classificação dos créditos do art.83 inciso I como: créditos derivados da legislação do trabalho e os decorrentes de acidentes de trabalho.

Destarte, verba trabalhista e acidente do trabalho fazem parte de direito material diverso, um com supedâneo no direito do trabalho e outro no direito civil, sendo àquele atribuída a prescrição trabalhista e à este a prescrição comum.

Na ação indenizatória por acidente do trabalho, a vítima postula reparação de danos pessoais sofridos e não créditos trabalhistas propriamente ditos. Nessa linha de pensamento relata Jorge Souto Maior “a Constituição especifica o instituto em questão como indenização e, por óbvio, indenização não é crédito que decorra da relação de trabalho, não se lhe podendo, também por este motivo, fazer incidir na regra da prescrição trabalhista, prevista na mesma Constituição”127.

O Procurador do Trabalho Raimundo Simão de Melo, para quem o dano causado (seja ele material, moral ou estético) possui caráter pessoal, na medida em que traz prejuízo à vida, à saúde, à imagem e à intimidade do cidadão trabalhador, direitos estes assegurados pela Constituição Federal, defende que os créditos decorrentes de acidentes de trabalho têm natureza civil. 128

Pois bem, para aqueles que defendem que a natureza dos créditos indenizatórios decorrentes de acidente de trabalho são de origem civil, dois são os fundamentos invocados.

O primeiro baseia-se na idéia de que tais créditos nada mais são do que uma indenização compensatória pela lesão acarretada ao patrimônio moral do empregado, considerando para isso o instituto da responsabilidade civil do

127Apud OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. op. cit., 2007, p. 343. - SOUTO MAIOR, Jorge Luiz. A

prescrição do direito de ação para pleitear indenização por dano moral e material decorrente de acidente do trabalho. Revista LTr, São Paulo, v. 70, n. 5, p. 545, maio 2006.

128MELO, Raimundo Simão de. Direito ambiental do trabalho e a saúde do trabalhador. São Paulo:

empregador prevista nos artigos 5º, incisos V e X, e 7º, inciso XXVIII, da Constituição Federal, e também nos artigos 186 e 927 do Código Civil

Deve-se atentar para o fato de que a natureza civil do crédito não implica necessariamente na adoção das regras de competência dispostas no Código Civil. Portanto, como dito acima para quem defende esta corrente, a vinculação do prazo prescricional a ser aplicado com as regras de competência material é equivocada, pois a natureza dos institutos é diversa: prescrição é instituto de Direito Material, enquanto competência é instituto de Direito Processual”.

O mesmo raciocínio segue o Ministro do Tribunal Superior do Trabalho, Lélio Bentes Corrêa, ao proferir julgamento ao recurso de revista nº 08871, em 16 de fevereiro de 2004.129 Da leitura dessa decisão, constata-se que não obstante a natureza civil do pedido reparatório, a competência para julgá-lo recaiu na justiça trabalhista, reforçando a tese exposta.

Ainda temos outra discussão inserida no âmbito da prescrição civil, aquela exposta acima ou ainda a prescrição geral civilista.

CC - Art.205 – A prescrição ocorre em dez anos quando a lei não lhe haja fixado prazo menor.

129INDENIZAÇAO POR DANOS MORAIS. PRESCRIÇÃO. Observada a natureza civil do pedido

de reparação por danos morais, pode-se concluir que a indenização deferida a tal título em lide cujo trâmite se deu na Justiça do trabalho, não constitui crédito trabalhista, mas crédito de natureza civil resultante de ato praticado no curso da relação de trabalho. Assim, ainda que justificada a competência desta especializada para processar a lide não resulta daí, automaticamente, a incidência da prescrição trabalhista. A circunstancia de o fato gerador do crédito de natureza civil ter ocorrido na vigência do contrato de trabalho, e decorrer da prática de ato calunioso ou desonroso praticado por empregador contra trabalhador não transmuda a natureza do direito, uma vez que o dano moral se caracteriza pela projeção de um gravame na esfera da honra e da imagem do individuo, transcendendo os limites da condição de trabalhador ofendido. Dessa forma, aplica-se, na hipótese, o prazo prescricional de 20 anos previsto no artigo 177 do código Civil, em observância ao artigo 2.028 do novo Código Civil Brasileiro, e não previsto no ordenamento jurídico-trabalhista, consagrado no artigo 7º, XXIX da Constituição Federal. Embargos conhecidos e providos. (TST, SDI I, E RR 08871/2002-900-02-00-4, Rel. Min. Lélio Bentes Corrêa, J. 16.02.2004, DJ 05.03.2004).

A razão da reparação de dano decorrente de ato ilícito fundamenta-se na responsabilidade civil, aplicar-se-ia, portanto, o prazo prescricional adequado previsto no Código Civil.

Leciona Helder Martinez Dal Col que “os danos oriundos do acidente de trabalho não se inserem no conceito de créditos resultantes das relações de trabalho. Pelo contrário. Trata-se de gravames pessoais sofridos e decorrência de fatores que desequilibram o desempenho normal do trabalho e constituem anomalia em face das relações de trabalho”.130

Com enfoque semelhante, Raimundo Simão de Melo assevera que:

A reparação por danos pessoais (moral, material ou estético) decorrentes de acidente do trabalho constitui direito humano fundamental de índole constitucional e não mero direito de índole trabalhista ou civil. Desse modo, por inexistir norma expressa sobre o prazo de prescrição das respectivas pretensões, aplicam- se subsidiariamente os prazos previstos na lei civil: vinte anos para as ofensas ocorridas até 9.1.2003 (CC de 1916, art.177) e 10 anos para as ofensas ocorridas a partir de 10.1.2003 (CC de 2002, art. 205).131

Assim, a proposta de aplicação da prescrição civil apresenta uma divergência, deparando-se com dois possíveis prazos a serem aplicados: o prazo geral de 10 (dez) anos, com fulcro no artigo 205 de Código Civil, ou o prazo especial de 03 (três) anos, previsto no artigo 206, parágrafo 3º, inciso V, do mesmo diploma legal. Desta divergência surgem duas teorias.

A primeira teoria civilista, que pugna pela aplicação do prazo geral de 10 (dez) anos, afirma ser a ação reparatória de dano uma ação de natureza pessoal, não se incluindo na reparação civil pura e simples, pois seria uma espécie peculiar de indenização que não estaria prevista no inciso V, parágrafo 3º, do

130DAL COL, Helder Martinez. A prescrição nas ações indenizatórias por acidente do trabalho no

Código Civil de 2002. Revista dos Tribunais, São Paulo, v. 93, n. 821, p. 13, mar. 2004.

131MELO, Raimundo Simão de. Prescrição nas ações acidentárias sob o enfoque da tutela dos

direitos humanos. Revista de Direitos e Garantias Fundamentais, Vitória, n. 3, p. 59-86, jul./dez. 2008.

artigo 206 do Código Civil. Assim, não existindo norma específica a regulamentar tal espécie de ação, o correto seria a incidência do prazo geral.

E ainda temos uma corrente declarando que a ação reparatória de danos ocorridos durante a atividade laboral seria imprescritível, pois estaria atingindo os chamados direitos de personalidade, ou seja, a preservação da saúde, a proteção da vida e a defesa da integridade física e mental do cidadão, direitos estes que são irrenunciáveis, indisponíveis e imunes à prescrição.

Há ainda o entendimento da imprescritibilidade, uma vez que tal pretensão decorre de danos aos direitos da personalidade, isto é, seriam imprescritíveis, escreve Raimundo Simão de Melo: “os direitos da personalidade, são direitos humanos fundamentais na sua essência, têm como características, entre outras, a intransmissibilidade, a irrenunciabilidade e a imprescritibilidade (Código Civil, art. 11). Isto quer dizer que, não obstante a inércia do seu titular quanto ao exercício de um desses direitos, pode o mesmo, a qualquer tempo, reivindicar a sua efetivação. Assim, a possibilidade de exercício dos direitos da personalidade jamais prescreve. O que pode prescrever, conforme seja o entendimento, é a pretensão à reparação dos danos causados a esses direitos.132

Tal entendimento, embora o mais benefico ao trabalhador acidentado, encontra grande rejeição na doutrina e jurisprudência, até porque o que prescreve é a pretensão e não o exercício desses direitos. Para esta corrente as reparações por acidente do trabalho não é nem trabalhista, nem civil, mas constitucional.

A 1ª Jornada de Direito Material e Processual na Justiça do Trabalho - TST, Brasília, 23/11/2007, aprovou o Enunciado 45 nos seguintes termos:

RESPONSABILIDADE CIVIL. ACIDENTE DO TRABALHO. PRESCRIÇÃO. A prescrição da indenização por danos materiais ou morais resultantes de acidente do trabalho é de 10 anos, nos termos do artigo 205, ou de 20 anos, observado o artigo 2.028 do Código Civil de 2002.

132MELO, Raimundo Simão de. Prescrição nas ações acidentárias sob o enfoque da tutela dos

Como se vê, a discussão sobre a prescrição nos acidentes do trabalho é calorosa, e ainda, não podemos deixar de comentar a prescrição trabalhista, que passaremos a analisar.