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3. RESPONSABILIDADE CIVIL DO EMPREGADOR

3.5. Dano moral nos acidentes do trabalho

Em detrimento da chamada dignidade da pessoa humana não se pode mais ignorar o sofrimento moral provocado pelo ato ilícito, o que por vezes, tem prejuízo maior do que a perda material.

A Constituição da República Federativa do Brasil veio para acabar com as divergências sobre o ressarcimento ao dano moral, encontra fundamento no art.5º, inciso “V” e também no art. 5º, inciso X:

Art.5º...

V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por dano material, moral ou à imagem; X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação;

Como espeque encontra-se a dignidade da pessoa humana, no art.1º, inciso III da mesma Constituição:

Art. 1º - A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:

III - a dignidade da pessoa humana;

O Código Civil também contempla o dano moral em seu art.186:

Art. 186 - Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.

O saudadoso Clóvis Beviláqua já menionava sobre o dano moral, extrai-se à seguir cópia ipsi literis dos comentários ao Código Civil de 1916 do jurista:

“O próprio exercício do direito, quando não é regular, quando se não conforma com oo seu destino economico e social, offende as exigencias da ethica, é considerado abusivo, e acarreta a responsabilidade de quem o pratica. Veja-se o commentario ao art.160.

Como se vê, a ordem juridica impõe um dever geral e predominante de respeitar cada um a esphera da actividade juridica dos outros. E esse dever é tão imperioso, pela necessidade de manter-se o equilibrio da organização social, que exige reparação por parte de todo aquelle que o viola, ainda quando se considere autorizado, como no caso de direito de necessidade, ou quando a uma sensibilidade juridica menos apurada pareça que não excede os limites do seu legitimo poder, como no caso do abuso de direito.

O damno póde ser material ou moral. É material, quando causa diminuição no patrimonio, ou offende interesse economico. É moral, quando se refere a bens de ordem puramente moral, como a honra, a liberdade, a profissão, o respeito aos mortos.

O Código Civil toma em consideração o damno moral quando, no art.76, autoriza a acção fundada no interesse moral, e quando destaca alguns casos de satisfação de damno por offensa á honra (art.1.547 e 1.511), sem exclusão de outros analogos, e muito

menos daquelles em que no interesse economico anda envolvido no moral.”70

Assim, o dano moral no nosso ordenamento jurídico torna-se indiscutível, é indenizável, restando a discussão da mensuração do dano moral, bem como, do conceito amplo dos direitos da personalidade, pois este abrange muitas hipóteses que devem ser analisadas caso a caso, não tendo o condão de ressarcir mero dissabor da vida em sociedade.

O dano moral, é aquela lesão a direitos extrapatrimoniais da pessoa, que viola a honra, a dignidade, a intimidade, a imagem e outros direitos da personalidade.

O dano moral trabalhista é aquele ocorrido no âmbito do contrato de trabalho, em razão de sua existência, devendo existir o nexo de causalidade entre empregado e empregador, normalmente aquele é o lesado.

O dano moral é expressão abrangente, onde verifica-se o dano moral em si, o assédio moral e o dano estético, que não é 3º ou 4º gênero de dano, tão pouco o chamado dano existencial, mas todos são especificidade destacada na matéria dano moral.

O assédio moral é a conduta reiterada de violência psicológica, prejudicando o equilíbrio psíquico e emocional do empregado como, por exemplo, perseguição, discriminação.

O dano estético é qualquer alteração morfológica do acidentado como, por exemplo, a perda de algum membro ou uma cicatriz, uma mudança corporal ou facial que cause repulsa e desperte a atenção por ser diferente. Washington de Barros Monteiro citando Teresa Ancona Lopes define o dano estético como a “modificação duradoura ou permanente na aparência externa de uma pessoa,

70BEVILAQUA, Clóvis. Código Civil dos Estados Unidos do Brasil. Comentado por Clovis

modificação esta que lhe acarreta um ‘enfeamento’ e lhe causa humilhações e desgostos, dando origem portanto a uma dor moral”71.

O dano existencial, também chamado de dano à existência do trabalhador, decorre da conduta patronal que impossibilita o empregado de se relacionar e de conviver em sociedade por meio de atividades recreativas, afetivas, espirituais, culturais, esportivas, sociais e de descanso, que lhe trarão bem- estar físico e psíquico e, por consequência, felicidade; ou que o impede de executar, de prosseguir ou mesmo de recomeçar os seus projetos de vida, que serão, por sua vez, responsáveis pelo seu crescimento ou realização profissional, social e pessoal.

Tanto o assédio moral quanto o dano estético e o existencial podem desencadear enfermidades graves, como a depressão, que de maneira geral gera doença do trabalho de ordem psíquica.

No nosso ordenamento jurídico prevalece a hipótese de que para a condenação compensatória do dano moral puro, não é imprescindível a produção de prova das repercussões que o acidente do trabalho causou, basta o mero implemento do dano injusto, para criar a presunção dos efeitos negativos subjetivos do acidentado.

Relata Carlos Alberto Bittar:

“não se cogita, em verdade, pela melhor técnica, em prova de dor, ou de aflição, ou de constrangimento, porque são fenômenos ínsitos na alma humana como reações naturais a agressões do meio social. Dispensam, pois, comprovação, bastando, no caso concreto, a demonstração de resultado lesivo e a conexão com o fato causador, para a responsabilização do agente”.72

71MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de direito civil brasileiro: direito das obrigações. 2.

parte. 34. ed. São Paulo: Saraiva, 2003. p. 489.

72BITTAR, Carlos Alberto. Reparação civil por danos morais. 3. ed. São Paulo: Ed. Revista dos

Ocorrendo dano de ordem moral, presente o nexo causal, o dolo ou culpa, exceto nas hipóteses de responsabilidade objetiva, surge o dever de indenizar, decorrente do ato ilícito praticado, reparando o prejuízo causado.

Algumas decisões tem rejeitado o pedido de dano moral sob o argumento de “falta de prova da dor ou sofrimento” por parte da vítima. Neste diapasão o magistrado e professor Sebastião Geraldo de Oliveira indaga:

“Entendemos equivocada a postura de alguns magistrados que colocam como pressuposto da indenização a prova de que o lesado passou por um período de sofrimento, dor, humilhação, depressão etc. Ora, é desnecessário demonstrar o que ordinariamente acontece (art. 334, I, do CPC) e que decorre da própria natureza humana.”73

O dano moral está ínsito no próprio fato ofensivo. A vítima precisa apenas fazer prova do fato em si, ou seja, demonstrar que foi caluniada ou difamada ou que sofreu um acidente do trabalho que a levou a incapacidade para o trabalho. A dor e o constrangimento daí resultantes são meras presunções fáticas. O julgado abaixo corrobora com a tese:

“O dano moral caracteriza-se pela simples violação de um direito geral de personalidade, sendo a dor, a tristeza ou o desconforto emocional da vítima sentimentos presumidos de tal lesão (presunção hominis) e, por isso, prescindíveis de comprovação em juízo (Dallegrave Neto, José Afonso, Responsabilidade Civil no Direito do Trabalho, 2ª ed. SP: LTr, 2007, p. 154). Daí prescindir, o dano moral, da produção de prova, relevando destacar cabível a indenização não apenas nos casos de prejuízo, mas também pela violação de um direito.74

As circunstâncias agravantes ou atenuantes que envolveram a ofensa ao direito de personalidade da vítima podem apenas ser usadas como parâmetros de majoração ou redução no arbitramento do valor, mas não para acolher ou rejeitar o pedido de dano moral, o qual na maioria das vezes é presumido.

73OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. op. cit., 2006, p. 191.

Podemos até mesmo elencar os artigos 953 e 954 do Código Civil para poderação das circunstâncias do caso, aplicando analogicamente a regra deste Diploma Legal destinada aos efeitos civis dos crimes contra a honra, mas que pode serve para todos os casos de dano moral:

Art. 953. A indenização por injúria, difamação ou calúnia consistirá na reparação do dano que delas resulte ao ofendido.

Parágrafo único. Se o ofendido não puder provar prejuízo material, caberá ao juiz fixar, eqüitativamente, o valor da indenização, na conformidade das circunstâncias do caso.

Art. 954. A indenização por ofensa à liberdade pessoal consistirá no pagamento das perdas e danos que sobrevierem ao ofendido, e se este não puder provar prejuízo, tem aplicação o disposto no parágrafo único do artigo antecendente.

Conclui-se que o dano moral não deve ser banalizado, tão pouco denegrido ou elemento de deboche. O empregador deve zelar pela integridade física de seus empregados, seja com o fornecimento de equipamentos de segurança individual, seja com orientações, cursos de segurança, sob pena de ser responsabilizado pela ocorrência de acidente de trabalho, obrigando-se ao ressarcimento pelo dano moral.

Vejamos a ementa à seguir:

“EMENTA: CIVIL. ACIDENTE DO TRABALHO. DANOS MORAIS E ESTÉTICOS. CUMULATIVIDADE. As indenizações por danos morais decorrentes de um mesmo acidente de trabalho podem ser cumuladas, porquanto, quando a lesão implica, uma deformidade física permanente, são atingidos, ao mesmo tempo, bens jurídicos claramente distintos: a higidez emocional, ligada ao sofrimento psíquico provocado pelo acidente, e a integridade física, vinculada ä deformação estética irreversível”.75

75Proc. TRT 12 – RO 01476-2005-024-12-00-5, Rel. Juíza Maria Regina Olivé Malhadas, 2ª.

A nossa legislação e o nosso comportamento devem estar preparados para a realidade de que no ambiente do trabalho existem vários fatores geradores de danos morais, de modo que devemos principalmente prevenir a ocorrência deste tipo de dano, que interfere em nossa vida profissional, familiar e social.