• Nenhum resultado encontrado

Impedimento, suspensão e interrupção da prescrição

5. PRESCRIÇÃO

5.5. Impedimento, suspensão e interrupção da prescrição

As causas suspensivas e impeditivas “fundam-se na impossibilidade ou dificuldade, reconhecida pela lei, para o exercício da ação, independente da vontade das partes”.143

O Código Civil arrola diversas causas impeditivas e suspensivas da prescrição, as quais são aplicáveis ao Direito do Trabalho com algumas adaptações, evidentemente.

Configura-se causa de impedimento a incapacidade absoluta (art. 198, I CC), uma vez que no art.440 a CLT também dispõe que não corre prescrição

142TST – TST-RR-679/2005-262-02-40.6 – Sexta Turma; julgado em 26/11/2008, Rel. Min. Horácio

Senna Pires.

contra os menores de 18 anos, sendo assim, não corre prescrição com os menores, independentemente se relativamente ou absolutamente incapazes.

“Assim, o início do prazo prescricional para menores só começa a fluir após o 18° aniversário. Os direitos decorrentes do contrato de trabalho e transmitidos aos herdeiros são apenas aqueles ainda não alcançados pela prescrição na data do falecimento do pai. A isenção prescricional, na hipótese, traduz uma justa medida de tutela”144.

Tal regra, de acordo com Jorge Neto e Cavalcante, não se aplica enquanto cessar a incapacidade civil, como ocorre na emancipação e em outras situações elencadas pelo legislador (art. 5°, CC).145

Também se aplica ao Direito Trabalhista como causa impeditiva civilista a ausência do titular do direito do Brasil, a serviço público da União, Estados, e Municípios, estendendo-se tal vantagem aos ausentes em face de serviço público prestado às autarquias e ao Distrito Federal.

Ainda, como causa impeditiva é a prestação de serviço militar, em tempo de guerra. Alguns doutrinadores dizem ainda que, a guerra, na hipótese, tanto pode ser externa ou interna, não exigindo o texto legal que o serviço prestado seja militar; a isenção se estende a todos os que forem mobilizados para tais fins.

A isenção se justifica em ambos os casos, considerando-se que tais ocupações absorvem a atividade individual, impedindo que o cidadão administre seus negócios.146

A lei civil ainda estipula duas outras causas suspensivas, ou seja, quando pendente condição suspensiva (art.199, I, CC) e quando não estando vencido o prazo (art.199, II, CC). Quer dizer nestes casos surge o critério do actio nata, significa que “a prescrição somente inicia seu curso no instante em que nasce a

144BARROS, Alice Monteiro de. op. cit., p. 1026.

145JORGE NETO, Francisco Ferreira; CAVALCANTE, Jouberto de Quadros Pessoa. Direito do

trabalho. 4. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2008. t. 2, p. 916.

ação, em sentido material, para o titular do direito. Isto é, antes de poder ele exigfir do devedor seu direito, não há como falar-se em início do lapso prescricional”.147

As causas suspensivas paralisam o curso da prescrição já iniciada, cessando a causa, o prazo faltante será adicional ao prazo transcorrido antes da suspensão.

A ocorrência de obstáculo judicial e previsão de obstáculo legal também são causas impeditivas ou suspensivas da prescrição.148

Obstáculo judicial seria a paralisação das atividades judiciárias por força maior, impedindo o titular do direito de ajuizar a ação. E obstáculo legal seria a hipótese prevista no art.625-G da CLT:

Art. 625-G - O prazo prescricional será suspenso a partir da provocação da Comissão de Conciliação Prévia, recomeçando a fluir, pelo que lhe resta, a partir da tentativa frustrada de conciliação ou do esgotamento do prazo previsto no art. 625-F.

Em relação as causas interruptivas, temos que, em tese, são provocadas e determinadas diretamente pelas partes.

A interrupção tem o efeito de apagar o prazo prescricional já fluído, reiniciando-se a contagem a partir da data em que concretizada a causa interruptiva.149

Entende Delgado “que a causa interruptiva mais relevante no Direito do Trabalho é a decorrente da propositura de ação judicial trabalhista”.150

147DELGADO, Maurício Godinho. op. cit., p. 239.

148LEAL, Antônio Luis da Câmara. Da prescrição e decadência – Teoria Geral do Direito Civil, 4.

ed. Rio de Janeiro: Forense, 1982, p. 165-166 (1ª edição desta obra clássica: 1939) citado por DELGADO, Maurício Godinho. op. cit., p. 240.

149CAMINO, Carmen. Direito individual do trabalho. 4. ed. Porto Alegre: Síntese, 2004. p. 164. 150DELGADO, Maurício Godinho. op. cit., p. 240.

De acordo com o art. 202, I do Código Civil, a prescrição é interrompida com a citação pessoal feita ao devedor, ainda que ordenada por juiz incompetente.

Na Justiça do Trabalho, a citação independe de despacho judicial, sendo que o simples ajuizamento da reclamação trabalhista interrompe a prescrição. Assim, na data que a ação é distribuída a interrupção da prescrição é fixada, aliás, a CLT em seu artigo 841 sequer fala em citação, mas em notificação:

Art. 841 - Recebida e protocolada a reclamação, o escrivão ou chefe de secretaria, dentro de 48 (quarenta e oito) horas, remeterá a segunda via da petição, ou do termo, ao reclamado,

notificando-o ao mesmo tempo, para comparecer à audiência de

julgamento, que será a primeira desimpedida, depois de 5 (cinco) dias. (g.n.)

Decidiu o Tribunal Superior do Trabalho que a demanda trabalhista, ainda que arquivada, interrompe a prescrição em relação aos pedidos idênticos:

Súmula 268 - A ação trabalhista, ainda que arquivada, interrompe a prescrição somente em relação aos pedidos idênticos.

Existem outras hipóteses arroladas no Código Civil que são trazidas para o Direito Trabalhista, embora sejam de rara incidência neste.

Interrompe-se a prescrição pelo protesto judicial e pessoal feito ao devedor ou por qualquer ato judicial que o constitua em mora, haja vista o art.202, II e V do Código Civil151 e ainda as Orientações Jurisprudenciais 392 e 370 da SDI-1 do TST.152

151CC Art. 202. A interrupção da prescrição, que somente poderá ocorrer uma vez, dar-se-á: II -

por protesto, nas condições do inciso antecedente; V - por qualquer ato judicial que constitua em mora o devedor.

152OJ: 392 - O protesto judicial é medida aplicável no processo do trabalho, por força do art. 769

da CLT, sendo que o seu ajuizamento, por si só, interrompe o prazo prescricional, em razão da inaplicabilidade do § 2º do art. 219 do CPC, que impõe ao autor da ação o ônus de promover a

Além disso, a interrupção da prescrição somente poderá ocorrer uma única vez (CC art.202, caput).

Também temos que por qualquer por qualquer ato inequívoco, ainda que extrajudicial, que importe reconhecimento do direito pelo devedor, (art. 202, VI, CC).

A respeito do acima transcrito, doutrina Camino que “Todo o ato do empregador que importar reconhecimento da dívida poderá ser invocado como causa interruptiva em favor do empregado prescribente. Exemplo frequente é o da negociação entre a empresa e a Caixa Econômica Federal, com o fito de parcelamento das dívidas junto ao FGTS”.153

Com base no art. 204 do Código Civil, a interrupção, por ser benefício pessoal, aproveita apenas o demandante, não favorecendo os demais co- credores nem prejudicando os co-devedores, exceto se for o caso de obrigações solidárias, indivisíveis ou no caso do fiador.