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3. RESPONSABILIDADE CIVIL DO EMPREGADOR

3.4. Dano material nos acidentes do trabalho

O dano material é uma lesão concreta que afeta um interesse relativo ao patrimônio da vítima. Assim, a perda de bens materiais deve ser indenizada, de modo que cada desfalque no patrimônio de alguém lesado é um dano a ser reparado civilmente e de forma ampla, é prejuízo financeiro sofrido pela vítima, causando diminuição em seu patrimônio, que se pode avaliar monetariamente.

Os danos materiais também denominados danos patrimoniais, são aqueles que representam um prejuízo econômico mensurável e que podem ser apurados por prova escrita, testemunhal ou pericial.

De acordo com Maria Helena Diniz:

“o dano patrimonial vem a ser a lesão concreta, que afeta um interesse relativo ao patrimônio da vítima, consistente na perda ou deterioração, total ou parcial, dos bens materiais que lhe pertencem, sendo suscetível de avaliação pecuniárias e de indenização pelo responsável”.69

O art. 462 do Código Civil preleciona:

Art.462 - Salvo as exceções previstas em lei, as perdas e danos devidas ao credor abrangem, além do que ele efetivamente perdeu, o que razoavelmente deixou de lucrar.

Na avaliação do que a vítima efetivamente perdeu temos o chamado dano emergente ou dano positivo, no conceito do que deixou de ganhar temos o chamado lucro cessante ou dano negativo. Os danos diminuem o patrimônio da vítima ou impedem-lhe o aumento.

69DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: responsabilidade civil. 16. ed. São Paulo:

O acidente do trabalho e/ou a doença ocupacional podem provocar tanto o dano positivo quanto o negativo.

O dano positivo ou emergente é mais visível porque representa dispêndios concretos cujos valores são apuráveis em documentos de pagamento, por exemplo, despesas de hospital, médico, sessões de fisioterapia, os gastos com funeral em caso de óbito, etc.

A lei assegura (art.948 a 950 CC) também que são indenizáveis outras reparações ou prejuízos que o ofendido sofreu, desde que devidamente provadas, cabendo a vítima ou dependentes relacionar para fins de ressarcimento, á fim de que recomponha integralmente o patrimônio, já que a idéia da indenização está ligada ao patamar que a vítima possuía antes do acidente.

O dano negativo ou lucro cessante deverá ser apurado com razoabilidade, pois é aquela parcela cujo recebimento seria correto esperar, não sendo a mera probabilidade de alguma renda, mas também não se exige a certeza absoluta do ganho daquela pecúnia.

A razoabilidade não pode ser vista, por exemplo, onde o empregado seria promovido mas por conta do acidente não pode ser, já que a função que ia exercer, demanda de técnica da qual o acidente o impede, tendo que permanecer trabalhando onde estava, mas também poderia ter acontecido de o trabalhador ficar desempregado, portanto, os lucros cessantes devem ser muito bem avaliados fugindo de cogitações e sustentando-se em dados concretos para a correta apuração.

Será mais fácil quantificar o lucro cessante, se por exemplo, o empregado tiver um segundo trabalho que lhe gera renda e por causa do acidente ficou impossibilitado de laborar nesta outra atividade remunerada, caracterizando aí o prejuízo.

De todo modo, tanto os prejuízos efetivos quanto os lucros cessantes o dano deve ter relação de causalidade direta e imediata com o acidente laboral.

Em relação ao dano material, importa dividirmos a indenização em três hipóteses legais:

a) Indenização no caso de morte da vítima (art. 948, CC);

b) Indenização no caso de incapacidade temporária da vítima (art. 949, CC);

c) Indenização no caso de incapacidade permanente, total ou parcial (art. 950, CC).

No primeiro caso, indenização por morte da vítima, temos que havendo óbito oriundo de acidente do trabalho, o valor da indenização por dano material seguirá a regra estampada no art. 948 do Código Civil:

No caso de homicídio, a indenização consiste, sem excluir outras reparações:

I – no pagamento das despesas com o tratamento da vítima, seu funeral e o luto da família;

II – na prestação de alimentos às pessoas a quem o morto os devia, levando-se em conta a duração provável da vida da vítima.

Observa-se no caput do aludido dispositivo que o legislador está atento ao princípio da reparação integral (art. 944 do CC).

Assim, ao contrário do alcance restritivo do Código Civil de 1916 (art. 1.537), no atual consta expressamente que o dano material não se limita ao dano emergente previsto no seu inciso I (despesas com o tratamento da vítima, funeral ou luto da família), nem tampouco ao lucro cessante de que trata o seu inciso II

(prestação de alimentos aos dependentes), mas abrange “outras reparações”, como por exemplo o dano moral daí decorrente.

No segundo caso, indenização por incapacidade temporária da vítima, é aquela que ocorre durante o tratamento e desaparece após esse período pela convalescença ou pela consolidação das lesões, sem sequelas incapacitantes ou depreciativas. É, pois, o caso das lesões corporais leves.

A indenização devida para a incapacidade temporária encontra-se prevista no art. 949 do Código Civil:

Art. 949 do Código Civil: “No caso de lesão ou outra ofensa à saúde, o ofensor indenizará o ofendido das despesas do tratamento e dos lucros cessantes até ao fim da convalescença, além de algum outro prejuízo que o ofendido prove haver sofrido.

No terceiro caso, a incapacidade permanente, decorre de acidentes mais graves e por isso deixam sequelas incapacitantes após o tratamento, podendo ser total ou parcial para o trabalho. A indenização prevista para incapaciade permanente está prevista no artigo 950 também do Código Civil, in verbis:

Art. 950. Se da ofensa resultar defeito pelo qual o ofendido não possa exercer o seu ofício ou profissão, ou se lhe diminua a capacidade de trabalho, a indenização, além das despesas do tratamento e lucros cessantes até ao fim da convalescença, incluirá pensão correspondente à importância do trabalho para que se inabilitou, ou da depreciação que ele sofreu.

Parágrafo único. O prejudicado, se preferir, poderá exigir que a indenização seja arbitrada e paga de uma só vez.

No que diz respeito à previsão de pagamento de pensionamento à vítima, destaca-se que se está diante de verba indenizatória com fundamento no ato ilícito ou no risco criado pelo empregador. Logo, não há como compensar tal valor indenizatório com o benefício previdenciário pago pelo INSS, mormente porque assim preceitua expressamente o art. 7º, XXVIII, da Constituição Federal.

Na mesma esteira, percebe-se que o legislador considerou o “próprio ofício” ou a “profissão praticada” pelo acidentado para aferir o grau de incapacidade e, por conseguinte, fixar o valor da pensão. Assim, pouco importa o fato da vítima vir a exercer outra atividade afim ou compatível com sua depreciação.

Destarte, o dano material embora pareça ser mais fácil de quantificar do que o dano moral, vimos que na realidade não merece ter menos atenção do que o dano moral, que veremos à seguir.