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Culturas juvenis e o advento das mídias digitais

3. Juventudes: gerações e mídias digitais

3.2. Culturas juvenis e o advento das mídias digitais

As culturas juvenis podem ser definidas como a maneira de expressão coletiva das experiências sociais, constituídas por diferentes estilos de vida, provenientes das identidades geracionais, tais como gênero, classe social e etnia (FEIXA; PORZIO, 2004). Assim, as culturas juvenis se associam aos formatos pelos quais os jovens reinterpretam a cultura de forma mais ampla, imprimindo códigos próprios e diferentes formas de expressão e comunicação.

Ferreira (2008) aborda o tema na composição de subculturas, ou em suas palavras, de microculturas ou cenas juvenis, advindas de um modelo hegemônico de cultura, onde são elaborados formatos culturais através de problemas colocados por grupos no interior dos aspectos culturais ao qual determinados membros são originários. Esta visão privilegia as culturas produzidas em oposição ao padrão social dominante, ou seja, “expressam a recusa em nela se integrar através da formulação de uma nova constelação de práticas, valores e referências, demonstrando um grande empenho na inteira reversão da ordem coletiva através da experimentação de novos modelos utópicos” (FERREIRA, 2008, p.100).

Como dito anteriormente, no contexto mais fluido na sociedade moderna, propiciado pelo desenvolvimento tecnológico, é importante explicitar as experiências vivenciadas pelos jovens nos ambientes virtuais, pois naqueles espaços as microculturas juvenis podem ganhar maior visibilidade.

Na busca de informações sobre a temática, pude ir percebendo uma grande quantidade de notícias e reportagens acerca dos novos hábitos dos

jovens na contemporaneidade (HANCOCK, 2017, s/p). Frases como: “Os brasileiros são consumidores compulsivos de conteúdo em vídeo” (MARTÍN, 2017, s/p) e pesquisas, por exemplo, que apontam o Youtube como uma das plataformas de mídias digitais que possui penetração de 94% nas classes A, B e C, sendo que 76% da população de jovens prefere acessar conteúdos via as plataformas digitais do que por meio da comunicação tradicional, como televisão e jornais (PROVOKERS/GOOGLE, 2017), foram exemplificando esta realidade.

Para além do acesso e do consumo do conteúdo virtual, é possível entender a grande inserção de jovens na produção para plataformas digitais e o surgimento de personalidades naqueles ambientes. Como tal produção, é possível observar notícias que trazem diálogos como:

Larissa dedica boa parte do dia a assistir vídeos sobre jogos, humor e ativismo LGBT. Questionada pela última publicação de um dos seus youtubers11 favoritos ela gargalha. No sketch12, o jovem parodia o desespero de estar na casa do namorado ou namorada, ter diarreia, e não encontrar nem papel higiênico nem chuveirinho no banheiro. “Eu sei que é coisa de doido, mas é engraçado. São pessoas normais que falam de situações comuns”. Além de humor, Larissa encontra acolhida na comunidade virtual. “Eu me identifico muito com esse pessoal. Também há discursos sobre violência e fala-se de momentos difíceis. Me dá a sensação de não estar sozinha, de que, se eu precisar, vou ser ouvida” (MARTÍN, 2017, s/p).

A pesquisa realizada pela consultoria Provokers, em parceria do Google com o jornal Meio e Mensagem (PROVOKERS/GOOGLE, 2017), expõe que metade das personalidades preferidas por adolescentes de 14 a 17 anos eram

youtubers.

Seja Kéfera Buchmann com seu canal “5incominutos”, seja Leon e Nilce com “Coisa de Nerd”, o que os youtubers oferecem faz muito mais sentido para as novas gerações. Eles produzem conteúdo original e divertido, respondem a comentários, interagem diariamente com a audiência, pedem sugestões de temas para os próximos vídeos. Em resumo: saem do pedestal

11Termo usado para usuários da plataforma YouTube que produzem e disponibilizam e comercializam seus vídeos.

tradicionalmente reservado aos ídolos e se colocam no mesmo nível dos jovens (GOOGLE, 2017a, s/p).

A mesma pesquisa aponta que os youtubers tornam-se atraentes para o público jovem, pois, combinam atributos e características comuns, como autenticidade, espontaneidade, inteligência, originalidade e bom humor (PROVOKERS/GOOGLE, 2017). O intuito aqui não é questionar tais atributos e tão pouco se limitar frente aos dados expostos, mas apresentar informações acerca das plataformas digitais e a relação atribuída entre estas personalidades e o público que assiste a esse tipo de conteúdo.

Recentemente, foram divulgados pela mesma consultoria Provokers, em parceria com a Google, a atualização dos dados para 2017, apresentando uma diferença importante do ano anterior (2016), onde um youtuber alcançou a primeira posição no número de seguidores frente a classificação das 10 personalidades mais influentes do Brasil nos ambientes virtuais, valendo destacar que, destas 10 personalidades, cinco são jovens youtubers (PROVOKERS/GOOGLE, 2017).

Esses exemplos demonstram que as culturas juvenis na atualidade possuem uma maior visibilidade nos ambientes virtuais do que necessariamente na vida real propriamente dita. A relevância dos influenciadores digitais para com a população que consome esse tipo de conteúdo midiático levanta a hipótese que essa relação se coaduna ao sistema produtivo dos capitais econômicos, culturais, simbólicos e sociais, que podem produzir novos estilos e modos de vida (BOURDIEU, 2006; RODRIGUES, 2010). Assim, esse sistema demonstra o próprio nível da vida cotidiana do jovem (PAIS, 1990), marcando socialmente o que caracteriza a atual geração de jovens.

Dessa forma, tendo como base a discussão sobre os conceitos atribuídos às gerações, as mídias digitais configuram-se dentro dos diferentes processos sociais, impactando de forma mais abrangente os fatores econômicos, sociais e políticos, da sociedade em geral, mas influenciando principalmente as populações mais jovens, por meio da incorporação mais intrínseca das tecnologias nos seus modos de vida. Avançar dentro desta

temática exige uma incursão sobre os conceitos de Internet e como as tecnologias digitais tornam-se ferramentas para o mundo da comunicação, formando redes sociais digitais capazes de moldar os modos de vida da sociedade em geral. Enfocar nas juventudes requer entender novos códigos sociais que têm moldado esta nova geração.