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5. Percursos metodológicos: o caminho para as redes e os modos de vida juvenis

5.1. O percurso das entrevistas

Buscando dialogar com as práticas profissionais e mercadológicas, iniciei o contato com as principais plataformas digitais conhecidas para a solicitação de uma entrevista acerca do trabalho ofertado ao público, visando reunir informações sobre aquele universo. O primeiro passo para contatá-las foi por meio de seus serviços de atendimento ao consumidor e, na medida que esses órgãos não atendiam à solicitação, fui acionando minhas redes de amigos e conhecidos que trabalhavam direta ou indiretamente com as plataformas digitais. O intuito era conseguir profissionais internos às plataformas digitais mais acessadas e também poder conhecer suas visões acerca da Internet, das plataformas digitais e da juventude contemporânea, seu principal público consumidor. Kozinets (2014) aponta que os interlocutores trazem uma compreensão objetiva e detalhada da experiência vivida pelos participantes das redes sociais digitais, podendo se aprofundar na relação sociocultural estabelecida nas plataformas, obtendo um senso subjetivo detalhado e fundamentado da relação dos entrevistados com os ambientes digitais.

Além dos contatos pessoais que tinha, realizei uma busca por sítios eletrônicos de agências de comunicação que trabalham com a temática das mídias digitais e estabeleci um contato por email ou telefone, me apresentando como pesquisador da área e solicitando uma conversa. Por essa busca, foram contatadas cinco plataformas digitais30 popularmente conhecidas e de grande acesso: YouTube, Facebook, Instagram, Twitter e Snapchat.

30 Todas as informações acerca das plataformas digitais foram extraídas de seus sítios eletrônicos e dos seus Termos de Segurança e Privacidade, para inserção nas plataformas, disponíveis em:

https://www.facebook.com/legal/terms;

https://help.instagram.com/478745558852511; https://www.snap.com/pt-BR/privacy/privacy-center/; https://twitter.com/privacy?lang=en;

O YouTube é uma plataforma criada em 2005 nos Estados Unidos da América (EUA), que tem por objetivo a distribuição digital de vídeos por aproximadamente um bilhão de usuários (YOUTUBE, 2017). A proprietária da plataforma desde 2006 é a Google Inc., empresa multinacional americana de serviços online e softwares (GOOGLE, 2017b). O Facebook é uma rede social

online lançada em 2004 nos EUA, que tem por objetivo conectar pessoas online, criando uma comunidade virtual. A rede social conta atualmente com

aproximadamente dois bilhões de usuários no mundo e é considera a mais importante rede social online do mundo (FACEBOOK, 2017). O Facebook também detém o controle acionário da plataforma digital Instagram, fundada em 2010, que tem por objetivo o compartilhamento de fotos e vídeos curtos, e conta com cerca de 600 milhões de usuários (INSTAGRAM, 2017). O Twitter é uma plataforma digital fundada em 2006 nos EUA, sendo um serviço de

microblogging, onde seus usuários compartilham mensagem de até 140

caracteres, além de imagens e vídeos curtos. A plataforma conta com aproximadamente 300 milhões de usuários (TWITTER, 2017). Outra plataforma criada mais recentemente foi o Snapchat, em 2011 nos EUA, que tem por objetivo o compartilhamento instantâneo de vídeos e fotos que ficam disponíveis na rede pelo período de 24 horas. A rede social digital conta hoje com aproximadamente 150 milhões de usuários (SNAPCHAT, 2017).

Vale apontar que todas as plataformas digitais citadas tiveram suas criações nos Estados Unidos, em sua grande maioria na região conhecida como Vale do Silício31, na Califórnia, devida sua importância na criação de plataformas e startups para a Internet. Criadas entre 2004 e 2011, em menos de 15 anos dominaram um grande mercado na Internet e na área de comunicação. O que de fato impacta nas transições geracionais (FERREIRA, 2017) e no formato de consumo de conteúdos atualmente.

31 Existem diversos materiais produzidos que retratam o Vale do Silício, bem como as inovações tecnológicas produzidas nesse campo. As produções vão desde documentários produzidos para canais de televisão, como “Vale do Sílicio – A história dos revolucionários” (disponível em https://www.youtube.com/watch?v=OvceOWrmSeI, acesso em novembro de 2017), “Silicon Valley – American Experience (disponível em https://www.youtube.com/watch?v=xI0AhmBldZo, acesso em novembro 2017), assim como livros (PSICIONE, 2014; LEWIS, 2014).

Pelos contatos estabelecidos com essas plataformas, conseguiu-se realizar uma entrevista com um profissional da Google, e outra entrevista com um profissional do Facebook/Instagram, já que a empresa detém o conteúdo de ambas plataformas digitais. Apesar de ter sido realizada a conversa com um profissional do Google, empresa que detém os direitos da plataforma YouTube, foi indicado por esse um outro profissional para realizar uma entrevista específica sobre a plataforma, buscando maiores detalhes sobre o seu funcionamento. Essa entrevista não ocorreu, pois, o profissional indicado do

YouTube alegou via email que as políticas da empresa não autorizavam seus

funcionários conceder informações para fins acadêmicos. Houve também a tentativa de conversar com dois profissionais da plataforma Twitter, indicados por outros entrevistados, e um contato direto com a multinacional para a realização de entrevistas, porém estes nunca foram respondidos. Não foi possível acessar a plataforma Snapchat, pois não possui escritório fixado no Brasil, somente nos Estados Unidos, dificultando o estabelecimento de um contato mais direto com a plataforma.

Afim de entender um pouco mais sobre as plataformas digitais, e pela negativa de algumas perante à realização das entrevistas, buscou-se outros interlocutores que pudessem respaldar a discussão. Através de contatos pessoais previamente estabelecidos foram convidadas, para participar desse momento da pesquisa, pessoas que trabalhassem na área de comunicação digital, no intuito de ampliar a discussão da temática, buscando compreender quais são as ações e estratégias mercadológicas para as redes sociais digitais e para os influenciadores digitais. Foi realizada uma entrevista com um sócio da empresa BR Media Group, conglomerado de agências de comunicação, dentre elas BR Media32, especializada em marketing digital e ativação de produtos com influenciadores digitais. Outras duas entrevistas foram realizadas com dois profissionais autônomos da comunicação e marketing digital, ou seja, pessoas que não possuem relações trabalhistas de forma direta com empresas e agências de comunicação.

As entrevistas também auxiliaram no mapeamento de quais são as redes sociais online acessadas pela população em tela e suas percepções

acerca das temáticas específicas e técnicas na utilização dessas redes pela juventude. O objetivo foi de conhecer e inteirar-me mais sobre as plataformas digitais, realizando um mapeamento das informações pertinentes sobre as comunidades e culturas online, o que ofertou uma visão mais geral das redes digitais, discernindo padrões e categorias que pudessem ser precursoras para fases analíticas dos conteúdos publicizados (KOZINETS, 2014).

Para Kozinets (2014), a fase de levantamentos auxilia na compreensão das expressões ocorridas nos ambientes virtuais e ofertam recursos e informações sobre a cultura de uma comunidade online, até então desconhecidas pelo pesquisador, pois auxiliam no entendimento da linguagem e das práticas de manifestação cultural nesses ambientes.

Foram realizadas ao todo cinco entrevistas, a saber: um profissional do

Google, um profissional do Facebook/Instagram, um profissional ligado a uma

empresa de marketing digital (BRMedia) e dois profissionais autônomos da área de comunicação. As entrevistas ocorreram no período de junho 2016 a abril de 2017, sendo três delas ocorridas na cidade de São Paulo, SP – Brasil, local de concentração de grande parte dos escritórios dessas empresas, e duas entrevistas realizadas via online, com o auxílio do software Skype, pela incompatibilidade de agenda para um encontro presencial.

Para as entrevistas foi elaborado um roteiro (Apêndice II), que abordou questões acerca das mídias digitais, juventude e experiências pessoais dos entrevistados com aquelas temáticas. Para analisar o conteúdo expresso, partiu-se da reflexão acerca das entrevistas compreensivas (FERREIRA, 2014). O conceito de “entrevistas compreensivas” é colocado por Ferreira (2014) como uma “técnica qualitativa de recolha de dados que articula formas tradicionais de entrevista ‘semidiretiva’ com técnicas de entrevista de natureza mais etnográfica, na tentativa de evitar o dirigismo do modelo de questionário aberto” (p.981). Propõe-se por uma abordagem contrária à produção extensiva e supostamente impessoal de dados, no sentido de superar o formalismo metodológico característico de uma herança funcional-estruturalista da pesquisa científica.

Para sistematização dos resultados obtidos, as entrevistas foram gravadas com gravador eletrônico sob consentimento dos entrevistados e

transcritas. Utilizou-se também o software de análise qualitativa MAXQDA®, afim de elencar nos discursos as temáticas pertinentes para a pesquisa. O MAXQDA® é um software profissional de análise de dados qualitativos e de métodos mistos de investigação que auxilia na interpretação de dados não estruturados, tais como entrevistas, artigos científicos, arquivos multimídias, perguntas de questionários, dados de redes sociais digitais, entre outros (MAXQDA, 2017).