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3. CURRÍCULO E EDUCAÇÃO FÍSICA

3.2 Currículo de Educação Física do Estado de São Paulo

No Estado de São Paulo o Currículo de Educação Física (SÃO PAULO, 2010) apresenta uma sistematização dos conteúdos a serem tratados ao longo dos ciclos escolares, a partir da perspectiva de um determinado grupo.

A proposta curricular de Educação Física do Estado de São Paulo foi apresentada pela Secretaria de Educação do Estado (SÃO PAULO, 2007), por meio da Resolução número 92. Este documento foi publicado pelo mesmo órgão no final de 2007, com o objetivo de organizar e padronizar o Currículo do ensino fundamental II e médio das escolas públicas estaduais paulistas, bem como proporcionar reformas no ensino, que culminassem em avanços educacionais significativos (SÃO PAULO, 2007).

A necessidade de implementação de uma proposta curricular é evidenciada na carta de apresentação do material escrita pela então Secretária da Educação do estado, Maria Helena Guimarães de Castro. Nela, a organização do ensino é apontada como um passo importante para a educação estadual, uma vez que, a autonomia dada às escolas garantida pela Lei de Diretrizes e Bases 9394/96 (BRASIL,1996), não gerou bons resultados.

Apesar do documento não apresentar a fonte destes dados considerados ruins, pode-se pressupor que eles foram baseados nos mecanismos de avaliação da educação vigentes como o SARESP e o IDEB, por exemplo. O Sistema de Avaliação

de Rendimento Escolar do Estado de São Paulo (SARESP) é o principal sistema de avaliação do estado, possuindo como um de seus objetivos monitorar as políticas públicas de educação (SÃO PAULO, 2012). Já o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) é calculado a partir das avaliações do Inep e das taxas de aprovação.

Em 2010 a Proposta Curricular para a Educação Física tornou-se oficialmente o Currículo do Estado de São Paulo (SÃO PAULO, 2010), apresentando cadernos bimestrais para o professor e para o aluno. Em 2013 entrou em vigor a segunda edição do Currículo (SÃO PAULO, 2011) datado de 2011, no entanto, foram encontradas poucas mudanças no novo documento apresentado pelo estado.

O princípio metodológico do Currículo de Educação Física está baseado em uma perspectiva cultural, estruturada a partir do conceito “se movimentar” (KUNZ, 1991). Para o autor, o movimento humano é uma “ação em que um sujeito, pelo seu “se-movimentar”, se introduz no Mundo de forma dinâmica e através desta ação percebe e realiza os sentidos/significados em e para o seu meio” (KUNZ, 1991, p. 162).

Esta perspectiva cultural aponta para uma Educação Física em que os alunos necessitam explorar as diversas manifestações corporais como o jogo, o esporte, a ginástica, a luta e a dança, para além de uma expressão estritamente biológica ou tecnicista, ressaltando a necessidade do “se movimentar”. De acordo com esta premissa, o indivíduo também é levado em consideração, e não apenas o movimento em si, nas palavras do autor, o “sujeito que se movimenta, a situação ou contexto em que o movimento é realizado e o significado ou sentido relacionado ao movimento” também são importantes (KUNZ, 2006, p. 79). Segundo o documento oficial do Currículo:

[...] entendemos que a Educação Física escolar deva tratar pedagogicamente de conteúdos culturais relacionados ao movimentar-se humano, porque o ser humano, ao longo de sua evolução de milhões de anos, foi construindo certos conhecimentos ligados ao uso do corpo e ao seu movimentar-se (SÃO PAULO, 2011, p. 224).

O Currículo aponta que o “se-movimentar” pode ser traduzido como a expressão individual ou grupal no âmbito da cultura corporal, em outras palavras é a

relação que o sujeito estabelece com a cultura por meio de suas experiências (SÃO PAULO, 2011).

No que tange especificamente a dança, o Currículo do Estado de São Paulo se propõe a desenvolvê-la no eixo de conteúdo “Atividades Rítmicas”. Especificamente no sétimo ano, a proposta prima por um enfoque multicultural, por meio da valorização das danças folclóricas brasileiras.

Apesar da dança estar presente no Currículo, percebem-se algumas limitações em relação aos demais conteúdos no decorrer do documento. Realizando uma análise mais minuciosa no caderno do professor do sétimo ano, é possível identificar algumas dificuldades em seu desenvolvimento. O tratamento didático- pedagógico oferecido, por exemplo, foi sucinto em contraponto com a ampla necessidade que os professores apresentam no que tange à contextualização desta prática corporal na escola.

Este problema evidencia a dificuldade que inclusive os pesquisadores que elaboraram o Currículo possuem em propor estratégias para o professor tematizar a dança nas aulas, considerando ainda todos os problemas que este conteúdo já possui na escola.

Pode-se mensurar de modo mais palpável, algumas destas debilidades do material de dança quando se compara com os demais conteúdos na estruturação do caderno do professor. Dos nove temas propostos para o sétimo ano como um todo, quatro são intitulados como esporte, dois como organismo humano, movimento e saúde, um como atividades rítmicas, onde a dança está incluída, um como luta e um como ginástica.

Nesta distribuição de imediato há um destaque oferecido às práticas esportivas, que além de possuírem mais espaço em termos de conteúdo, apresentam seus objetivos mais ampliados e esclarecidos. Por exemplo, o primeiro tema abordado no bimestre deveria ser o atletismo. Inicialmente há um texto introdutório associando o esporte ao conceito do “se movimentar”. Num segundo momento, o currículo fornece diversas sugestões de atividades, bem como estratégias de ação e propostas de discussão para o professor. O material apresenta ainda uma contextualização histórica de alguns elementos técnicos, descrevendo e ilustrando a evolução dos diferentes tipos de saltos (em altura e em

distância) ao longo dos anos. Além disso, no que corresponde às imagens que estão em maior quantidade e melhor qualidade, são retratadas técnicas, implementos e atletas importantes para o atletismo brasileiro como Adhemar Ferreira da Silva e João Carlos de Oliveira (João do Pulo).

Partindo do exposto, percebe-se que a dança recebe um tratamento mais simplificado que outros conteúdos. Desta forma, o professor terá que buscar aporte pedagógico em outras fontes, que nem sempre são fáceis de localizar e adequar aos objetivos de aula.

Gehres (1997) assevera que a dança nas escolas estatais do país, aparecem predominantemente no ensino fundamental como uma atividade extracurricular. A autora complementa que o conteúdo de maneira curricular aparece na Educação Física e na Educação Artística (Artes), no entanto, em nenhuma das duas se estabelece com credibilidade.

Neste debate, é pertinente questionar quais as possibilidades que os cadernos constituintes do currículo, possibilitam ao professor para tratar o conteúdo de dança em suas aulas. Como por exemplo, quais são os conhecimentos presentes? Quais as estratégias pedagógicas fornecidas ao professor?

Se há um consenso acerca da existência de dificuldades que estes profissionais possuem para tematizar a dança na escola, o que se pode fazer para contribuir com o seu trabalho? Como auxiliar o desenvolvimento de um conteúdo que já possui tantos problemas para se consolidar em um conhecimento pedagogicamente situado na escola?

Apesar dos questionamentos serem muitos, não se tem o propósito de responder a todos, mas, gerar algumas reflexões sobre este debate e propor estratégias para contribuir com o trabalho do professor na escola com relação ao conteúdo de dança.

Além disso, é importante salientar que os autores do Currículo encontraram dificuldades e limitações para elaborar uma proposta com este cunho para a Educação Física, visto que ainda não há consensos entre os pesquisadores da área acerca da sistematização e organização curricular. Especificamente com relação à dança e com danças as folclóricas, existem problemas ainda maiores relacionados à pesquisa e organização de informações, além dos obstáculos históricos que este

conteúdo enfrenta no contexto escolar. E assim, destaca-se que o objetivo principal não é criticar o Currículo, mas sim auxiliar na apropriação crítica da dança no contexto escolar por meio de reflexões sobre este material.

Neste sentido, é necessário reconhecer que o material produzido pode ser considerado um marco na história da área, e precisa ser refletido constantemente em diversos sentidos, objetivando contribuir com a sua estrutura, com a prática pedagógica dos professores, e consequentemente com a Educação Física escolar como um todo.

4. TECNOLOGIAS, EDUCAÇÃO, EDUCAÇÃO FÍSICA