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2. EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR, DANÇA E DANÇAS FOLCLÓRICAS

2.7 Danças folclóricas

O surgimento das danças folclóricas ocorreu juntamente com a humanidade, em que as convenções de ordem política e social do contexto primitivo foram traduzidas em formas de comunicação e expressão, posteriormente revelada nestas manifestações (NANNI, 1995).

Outro fator determinante para as danças folclóricas refere-se à influência da intensa miscigenação que ocorreu no Brasil entre nativos e imigrantes, como italianos, africanos, portugueses, alemães, holandeses, entre outros, fator determinante na profusão de ritmos e danças (NANNI, 1995).

Ao longo do tempo, estas manifestações sofrem mudanças e vão se tornando tradições em regiões específicas, processo que pode acontecer por meio de diversos caminhos. Segundo Hobsbawn (1997) “inventar tradições” inclui procedimentos de construção, que variam desde aqueles formalmente estabelecidos, por meio de instituições, por exemplo, até os que se consolidam em pouco tempo por vias nem sempre conhecidas. Ademais, outra caraterística interessante apresentada pelo autor relaciona-se à finitude das tradições, ou seja, não há garantias de que elas durem para sempre.

Para Hobsbawm (1997) as tradições podem ser entendidas como um conjunto de práticas de natureza ritual ou simbólica, organizadas por regras que são abertamente conhecidas e aceitas. O objetivo principal seria inculcar determinados valores e comportamentos por meio da repetição, o que atribui uma característica de

continuidade (HOBSBAWN, 1997). Nas palavras do autor: “Consideramos que a invenção de tradições é essencialmente um processo de formalização e ritualização, caracterizado por referir-se ao passado, mesmo que apenas pela imposição da repetição” (HOBSBAWN, 1997, p. 12).

Desta forma, pode-se entender as danças folclóricas como tradições criadas no seio de comunidades específicas, que vão sendo repassadas principalmente por meio da repetição.

No que diz respeito ao conceito, Toledo (2011) assevera que as danças folclóricas são danças que manifestam, de forma expressiva e estética, a cultura de um povo, proporcionando uma identificação da região de origem, devido aos elementos que as caracterizam, como a história, lendas e costumes. Elementos como a coletividade, a expressão do íntimo, a integração social e o caráter informal também são considerados importantes para a definição deste conceito (PELLEGRINI FILHO, 1986).

De maneira análoga, Nanni (1995) aponta algumas características das danças folclóricas, estabelecendo parâmetros importantes, ao definir que elas são:

- expressões abertas de emoções, ideias, significado especial;

- representações dos usos, costumes, acontecimentos que constituíram o tempo estrutural e conjuntural em parte da história de um povo;

- padrões, costumes, maneiras e atividades espontâneas e naturais da vida e experiências significativas de um povo, perpetuadas de geração em geração, da mesma maneira resguardando assim, a sua tradicionalidade;

- Passos básicos, configurações espaciais, ritmos próprios, termos e idiomas;

- Gestos e passos ou atividades características, conotações peculiares de um povo como bater de palmas e pés, valsas e sarandeios;

- formas passar de geração em geração de maneira rígida, as tradições e costumes;

- fixas em suas características elementares, porém podem apresentar variações de província em província e sofre influências também na linguagem verbal;

- divulgação de conhecimento (história sociologia, antropologia, músicas, aspectos pictóricos, conotações corporais); [...] (NANNI, 1995, p. 78).

As danças folclóricas são, portanto, manifestações ricas em diferentes aspectos, que englobam alguns componentes que variam desde a afetividade e a

estruturação das emoções até a representação da vida cotidiana. Pode-se dizer que isto inclui os hábitos, as diversas atividades típicas de cada cultura, bem como atos religiosos e místicos.

Em consonância com esta discussão, percebe-se a necessidade de investigar as danças folclóricas no contexto educacional como uma fonte importante da constituição cultural do Brasil, uma vez que estas manifestações são reveladoras dos costumes, integrando a história, rituais religiosos, situações políticas e econômicas, e demais circunstâncias do contexto popular (NANNI, 1995).

O Currículo de Educação Física do Estado de São Paulo, ao propor o tratamento das danças folclóricas nacionais visa justamente à valorização destas manifestações tipicamente brasileiras. A estratégia é levar estes conhecimentos tradicionais aos alunos, possibilitando um enriquecimento cultural por meio da ressignificação do conteúdo. As características das danças folclóricas citadas por Nanni (1995) reúnem ainda dados que atribuem grande importância para a valorização destas danças como uma temática a ser desenvolvida no contexto escolar.

Pellegrini Filho (1986) destaca a relevância de tratar estas práticas na escola por se constituírem em um traço expressivo da cultura popular, que precisa ser conhecido, vivenciado e estudado em condições favoráveis de ensino- aprendizagem. Ou seja, apenas a apresentação, ou um tratamento descontextualizado, poderia se tornar pouco significativo aos alunos, não trazendo um apanhado mais construtivo sobre estas manifestações.

Della Mônica (1989) ao analisar a inserção das danças folclóricas como conteúdo escolar afirma que é necessário oferecer condições para que os alunos compreendam o valor destas manifestações, por meio de diferentes estratégias, exigindo um planejamento do conteúdo programático por parte do professor. Além disso, a escola é um espaço responsável pela socialização do patrimônio cultural, bem como pela formação integral do aluno, e como assinala Forquin (1993, p. 14), “a cultura é conteúdo substancial da educação, sua fonte e sua justificativa última”.

Partindo de uma concepção baseada na cultura corporal, a Educação Física possui um espaço propício para a exploração das danças folclóricas, como um meio de apropriação crítica destes conhecimentos em suas três dimensões (conceitual,

procedimental e atitudinal). Fortalecendo estes argumentos, Sborquia e Neira (2008) salientam que:

Numa visão de educação que compreende a escola como espaço determinado socialmente para a produção, reconstrução e ampliação cultural, caberá à Educação Física escolar proporcionar aos alunos experiências pedagógicas que viabilizem experiências significativas com as danças presentes no universo cultural próximo e afastado quanto a reflexão crítica acerca das diversas formas de repre- sentação cultural veiculadas nessas manifestações, oferecendo a cada aluno a oportunidade de posicionar-se enquanto produtor de cultura corporal (SBORQUIA; NEIRA, 2008, p. 92).

Toledo et al. (2004) destacam a importância do desenvolvimento das danças folclóricas nas aulas de Educação Física, pautados na necessidade de valorização destas manifestações culturais tão representativas para o país. As autoras acentuam que por meio delas é possível desenvolver a expressão e a comunicação na presença de diferentes ritmos que identificam regiões e povos brasileiros, o que se constitui, portanto, em um conteúdo de grande expressão para as aulas de Educação Física.

As danças folclóricas brasileiras têm belas estórias possibilitando envolver a criança de modo que possa representá-las, cenicamente ou dançando. Podendo desenvolver a fantasia através da interpretação das lendas, das danças e assim conhecendo a cultura local, regional, nacional do nosso povo (TOLEDO et al., 2004, p. 4 ). Ensinar danças folclóricas trata-se de ensinar a história do país, perpassando por elementos como a constituição cultural do povo brasileiro, seus costumes, tradições, transformações e suas vivências corporais, reforçando como é importante a presença desta temática na escola. O objetivo não é que o aluno se torne um folclorista ou ainda um dançarino, mas sim que ele tenha experiências diversificadas de modo que ele possa identificar, conhecer e apreciar estas manifestações.

Entretanto, o professor pode encontrar dificuldades para ministrar este conteúdo tão vasto da cultura corporal, devido a diversos problemas. As deficiências na formação inicial se constituem em um primeiro empecilho, como pode ser observado no estudo de Toledo et al. (2004) em que foi verificado que os conhecimentos folclóricos são pouco tratados pelas instituições de ensino superior durante a graduação em Educação Física. Além disso, a falta de experiências e conhecimentos acerca destas manifestações durante a vida como um todo, bem

como as poucas informações disponíveis de forma organizada sobre estas manifestações, ressaltam a necessidade de ferramentas pedagógicas para auxiliar o professor.

Neste escopo, a elaboração do blog didático se fez necessária, para contribuir com o trabalho do professor na busca por materiais de qualidade, com fontes confiáveis, que pudessem reunir múltiplas linguagens por meio do entrelaçamento de textos, imagens e vídeos, a respeito das danças folclóricas abordadas no sétimo ano do Currículo de Educação Física do Estado de São Paulo.