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GESTAR II DE MATEMÁTICA

3.4 EIXOS ESTRUTURANTES DO GESTAR II DE MATEMÁTICA

3.4.3 Currículo em rede

O desenvolvimento de um projeto curricular centrado em uma concepção contemporânea adequada às novas necessidades concatenadas à complexidade social

S

encontra dificuldades de ordens pedagógicas, filosóficas, de decisões políticas e de gestão. A construção do currículo do saber é uma simplificação da realidade, um corte, uma imagem operada pelo educador, visando ao sucesso do aluno em contexto simples para a futura inserção na realidade complexa.

A ciência contemporânea no momento, em uma perspectiva de superar o pensamento cartesiano newtoniano e a concepção do homem de forma total, traz em seu caminho uma visão teórica que vê o homem como um ser complexo, que pressupõe a dicotomia homem versus conhecimento. Sob esse prisma, Morin (2002) explicita que a realidade complexa é a garantia da conjunção da unidade do sujeito e do objeto em sua totalidade de um mesmo sistema, em que o paradoxo do uno e do múltiplo, a ordem e a desordem, a ambiguidade e a incerteza devem ser constituintes de um pensamento complexo.

A transposição didática não deve se distanciar exageradamente dos contextos que dão origem a situações-problema mais significativas e inteligentes da realidade sociocultural e da complexidade, que é o objeto útil da escola. Outra reflexão que nos cabe é de saber se o professor de matemática está habilitado a tratar de problemas significativos nos contextos didáticos.

As investigações matemáticas se desenvolvem como uma das atividades que os estudantes podem realizar e que tem um estreito relacionamento com a resolução de problemas. Ponte, Brocado e Oliveira (2005, p. 22) afirmam que “um problema é uma questão para o qual o aluno não dispõe de um método que permita a sua resolução imediata, enquanto que um exercício é uma questão que pode ser resolvida usando um método já conhecido”. Nesse sentido, Mezzaroba (2009, p. 22) salienta que,

No cotidiano, resolver problemas, ainda que de forma incorreta, parece não incomodar tanto as pessoas quanto na escola, onde o caráter positivo de resolver problemas é por vezes ignorado. Esquecendo-se que é resolvendo problemas que o sujeito constrói o seu conhecimento, ou seja, os problemas ou resolver problemas, devido ao seu caráter desestabilizador, se constitui na base da construção da aprendizagem.

Ratificando essa posição, o desempenho do professor na perspectiva da EDUCAÇÃO MATEMÁTICA, voltada para o mundo social, histórico e cultural, está comprometido, requer, portanto, novas concepções de formações voltadas à resolução de situações-problema reais.

Nesse horizonte, diferentes projetos pedagógicos de ensino coincidem com a dissociação do sistema, não se reconhecem como um sistema aberto e contínuo para

ocasionar a interdependência dos diferentes elementos da realidade em que o ser humano não é considerado nas extensões histórica, cultural e social.

O desenvolvimento dos estudos curriculares caracteriza-se por suas particularidades. As divergências em áreas científicas integram critérios de classificação e forma, que se caracterizam, de maneira em geral, lineares. É por assim dizer algo inconcebível e impensável em razão de sua complexidade e pluralidade.

Como o ser humano é um elemento carregado de complexidades em função das relações que se estabelecem com ele próprio e com o social, necessita, então, de uma proposta curricular com o objetivo de viabilizar e fortalecer o ambiente da aprendizagem. Considera-se esse ambiente como um sistema dinâmico para não estancar a evolução dos sujeitos. O desenvolvimento da tecnologia, das técnicas e das consequentes mudanças nas necessidades do ser humano sustenta referenciais epistemológicos da educação.

Assim as concepções e as construções do currículo em rede devem tecer o ensino considerando o conhecimento desenvolvido pelo ser humano. Esse currículo precisa considerar a realidade que influencia a conexão, a heterogeneidade, a ruptura do linear. Pires (2000, p. 145) destaca que

Os nós e as conexões de uma rede curricular são heterogêneos, isto é, nela vão estar presentes palavras, números, códigos, leis, linguagens, sons, sensações, modelos, gestos, movimentos, dados, informações. As conexões também serão lógicas, analógicas, afetivas. A comunicação, por sua vez, ocorrerá por meio de mensagens escritas, orais, multimídias. O processo colocará em jogo pessoas de diferentes faixas de idade, com concepções ideológicas distintas, pertencentes a diversos grupos sociais, além de muitas outras diferenciações que pudermos imaginar.

Pode-se supor que o currículo em rede, na sociedade contemporânea, a partir das mudanças radicais, das rupturas e da desintegração social, coloca-se no interior desse processo para atender às demandas considerando o sujeito e suas relações com a sociedade, a história, a cultura e a linguagem, possibilitando transformações em uma dinâmica contínua e necessária.

Diante do exposto, deve-se considerar o ser humano, o conhecimento e o objeto de estudo de outra forma, a partir da base conceitual do pensamento, no qual se reconhece a complexidade do ser humano. O GESTAR II de Matemática busca, em sua proposta educativa, um ambiente de aprendizagem, para favorecer o conhecimento e a realidade em contextos ativos, com atividades e trabalhos que caminhem paralelamente à evolução em curso no mundo das tecnologias, das técnicas, das necessidades do homem que

estruturem os referenciais educacionais e da instrução da inteligência como um todo, em conexão com o mundo.

As concepções e as construções do conhecimento de um currículo em rede de saberes contextuais relacionais constroem o ensino diante de uma teoria que leva em conta o conhecimento produzido por sujeitos e se configura em forma de conexões ou “nós”. Assim, para pensar a educação num novo paradigma, na pós-modernidade, há de se levar em conta o sujeito, a sociedade, a história, a cultura e a linguagem.

Nesse sentido, a educação está atrelada com a relação biopsicossocial, cognitiva e cultural do homem com o meio. Essas relações podem provocar transformações e, simultaneamente, construir-se em movimentos contínuos, tendo como base as necessidades essenciais do momento socioeconômico, político e histórico.

Como o cidadão da atualidade aponta para necessidades de acesso às informações sobre o mundo com a possibilidade de renovar o pensamento, segundo Morin (2002, p. 36),

uma reflexão dos problemas universais confronta-se com a

[...] educação do futuro, pois existe inadequação cada vez mais ampla, profunda e grave entre, de um lado, os saberes desunidos, divididos, compartimentados e, de outro, as realidades ou problemas cada vez mais multidisciplinares, transversais, multidimensionais, transnacionais, globais e planetários.

O currículo em rede de matemática estabelece interações entre os raciocínios concretos e abstratos. O intercâmbio desses raciocínios protagoniza a possibilidade de interação entre os métodos indutivos e dedutivos que organizam esquemas e ações com significados. O currículo em rede possibilita o desenvolvimento do homem cada vez mais ágil e adaptado às necessidades sociais, políticas e econômicas. Busca a formação total do homem a partir da interdependência entre fatores da realidade. Tal fato visa a construir o homem concatenado ao mundo de forma consciente.

Precisamos educar verdadeiramente, considerar o melhor que existe no homem. O processo educativo depende da educação, da consciência e da instrução da inteligência. Nesse sentido, a era das relações e das comunicações é fundamental para a construção plena do conhecimento.

O currículo em rede prepara a individualidade e a coletividade do homem de forma a estabelecer uma comunicação dialógica na plenitude do tempo, busca transcender as mudanças do social, do cultural e do histórico-ideológico, rompe fronteiras e institui uma sociedade com mais equidade social, com a consciência de que o nosso poder de ser humano é o de ser gente.

O currículo de matemática em rede do Programa GESTAR II de Matemática fundamenta-se em uma proposta de aprendizagem da matemática, considera como elementos fundamentais da matemática os objetos, as representações, os teoremas e a matemática de outras áreas do conhecimento humano.

Os conteúdos formam nós na rede de forma articulada com os demais conteúdos. Esses nós possibilitam a comunicação rápida com outros conteúdos, já que existem vários caminhos distintos para atingir o objetivo.

Observa-se uma dinâmica dos conteúdos na rede em função das possibilidades existentes de se trabalhar um conteúdo com outros que se expõem e são inseridos de forma natural na rede quando a atividade matemática está alicerçada na resolução de situação- problema.

A proposta impulsiona um novo olhar sobre a organização curricular que possibilita a inserção da EDUCAÇÃO MATEMÁTICA no ambiente escolar de forma clara, concisa, dinâmica e menos fragmentada. Outro aspecto importante são os temas transversais que abrem caminhos para outros conhecimentos de cunho sociocultural da comunidade como elemento transformador da realidade.

A concepção do currículo em rede confronta-se com linearidade dos conteúdos, os pré-requisitos, a fragmentação e a descontextualização. No dia a dia, a forma da construção do conhecimento, no currículo em rede, objetiva a aplicação com significados representativos à vida dos alunos.

O rompimento com as fronteiras das diferentes áreas das disciplinas do currículo escolar impulsiona a fluência entre diferentes objetos do conhecimento e remete o aluno a resolver situações-problema, estabelecer conexões entre conhecimento de diferentes áreas.

O currículo em rede de matemática requer trabalho coletivo para estabelecer interconexões entre diferentes áreas do conhecimento e dos conteúdos. Para isso, é necessário o envolvimento completo da escola. As mudanças no currículo excluem os processos de mudanças de conteúdos de uma série para outra, retirando alguns para inserir outros, estritamente relacionadas aos conteúdos.

Não se consideram as relações da matemática com o mundo real com desculpas de que o currículo linear não dá muito trabalho. Nesse sentido, Carolino Pires (2000, p. 154) assevera que

A chamada matematização crescente do mundo reforça cada vez mais o lugar da matemática em tais propostas. As ciências naturais, entre elas a Física, a Astrofísica e a Química, estão inteiramente matematizadas. As ciências biológicas, incluída a Medicina, também. Os mecanismos que controlam o processo fisiológico, a genética, a dinâmica das populações, a

epidemiologia, a ecologia têm suas bases matemáticas. A Sociologia e a Psicologia também a utilizam. A acumulação e a interpretação de dados estatísticos psicossociais subsidiam ações governamentais e as estratégias comerciais e políticas. A linguística se preocupa com os aspectos formais (ou seja, de natureza matemática) dos idiomas. A matemática está na composição musical, na coreografia, na arte e nos esportes.

Não podemos negar que a matemática está presente em todas as áreas do conhecimento. A matemática é usada para o bem ou para o mal, em momentos de crise planetária, em diferentes segmentos, como a economia.