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GESTAR II DE MATEMÁTICA

3.3 TEORIA DAS SITUAÇÕES

Essa teoria tem como foco a construção da interação entre o aprendiz, o saber e o meio onde a aprendizagem se desenvolve. Segundo Almouloud (2007), essa teoria foi desenvolvida pelo francês Guy Brousseau em 1986. Os fundamentos que a compõem são: situação didática, situação adidática, situação fundamental, devolução e meio antagonista.

No Programa GESTAR II de Matemática, a teoria das situações didáticas de Brousseau surge nas situações-problema, por meio das quais o aluno aprende e adapta-se ao meio após as dificuldades geradas por elas. A aprendizagem ocorre por meio de processos de adaptação para a superação dessas dificuldades.

Na teoria das situações, o processo ensino-aprendizagem ocorre por meio das relações que se estabelecem entre o saber, os alunos e o professor. Cada um ocupa uma posição definida para que o processo se desenvolva naturalmente e de forma potencializada.

No GESTAR II, o professor é o organizador do ambiente no qual se desenvolve o processo de aprendizagem. Brousseau citado por Almouloud (2007, p. 31) salienta que

Um processo de aprendizagem pode ser caracterizado de modo geral (se não determinado) por um conjunto de situações identificáveis (naturais ou didáticas) reprodutíveis, conduzindo frequentemente à modificação de um conjunto de comportamentos de alunos, modificação característica da aquisição de um determinado conjunto de conhecimentos.

Em uma perspectiva de busca, a teoria das situações didáticas procura a interação entre o aprendiz, o saber e o meio onde a aprendizagem ocorre, com o objetivo de definir um processo de aprendizagem por uma série de caminhos para encontrar a transformação de uma série de comportamentos dos alunos provenientes de uma aprendizagem significativa.

A essência dessa teoria converge para o estudo da situação didática, na qual as interações entre o saber, o professor e os alunos se fazem presentes. Um modelo proposto

por Almouloud (2007) para representar o sistema didático stricto sensu melhor é exposto no quadro 3.

Quadro 3 - Triângulo didático

Fonte: Almouloud (2007, p. 32)

Esse triângulo didático pressupõe que o aluno se adapta ao meio desestabilizando- se para encontrar novos caminhos em um processo de construção da aprendizagem diante de situações-problema. Outro fato importante é que o meio deve estar munido de intencionalidades para favorecer a construção da aprendizagem e enfatizar os saberes matemáticos inerentes à construção da aprendizagem.

O GESTAR II de Matemática se caracteriza em uma proposição de situações para modificar o comportamento dos alunos. Esse caminho é trilhado pelos alunos por meio da situação-problema propostos em cada uma das unidades e da transposição didática necessária à configuração dos significados e da mobilização de conceitos associados ao contexto social, histórico e cultural dos alunos.

Nos próximos tópicos, abordaremos a teoria das situações e os seus fundamentos, que consiste em criar formas de interação entre o aprendiz, o saber e o meio no qual a aprendizagem se consolida.

3.3.1 Situações didáticas

No projeto GESTAR II de Matemática, a constituição da parte central na formação dos conceitos que compõem as situações didáticas ocorre na sala de aula. A proposta pressupõe que a formação dos conceitos aconteça de diferentes maneiras em função da dinâmica do sistema didático.

Epistemologia do  professor  A relação do aluno com  o saber  O SABER O PROFESSOR ALUNO RELAÇÃO PEDAGÓGICA 

É importante observar que a situação didática é formada pelas múltiplas relações pedagógicas estabelecidas entre o saber, o professor e os alunos com o intuito de conceber atividades voltadas ao ensino e à aprendizagem de certo conteúdo.

Brousseau citado por Almouloud (2007, p. 33) expõe que o objeto central da teoria das situações é a situação didática definida como “[...] o conjunto de relações estabelecidas explicitamente entre um aluno ou grupo de alunos, certo milieu (contendo eventualmente instrumentos ou objetos) e um sistema educativas (o professor) para que esses alunos adquiram um saber constituído ou em constituição”.

A EDUCAÇÃO MATEMÁTICA é um elemento importante na constituição da influência da natureza do saber matemático no estabelecimento das relações pedagógicas entre o professor e o aluno. Nas situações didáticas, é importante a ressalva para a apresentação dos conteúdos. A significação deve estar presente para a mobilização de diferentes conceitos envolvidos para transformar o conhecimento científico.

Pais (2008, p. 66) destaca que “é o problema da apresentação do conteúdo em um contexto que seja significativo para o aluno ou, caso contrário, perde-se a dimensão de seus valores educativos. Sem esse vínculo palpável com uma realidade, fica impossível alcançar as transformações formativas do saber científico”, no sentido de buscar um campo de significados do saber para a expansão do seu conhecimento.

A transposição didática é fundamental para separar claramente a diferença entre o saber sábio e o saber a ser ensinado de forma contextualizada na sala de aula.

3.3.2 Situações adidáticas

Almouloud (2007, p. 33) afirma que

A situação adidática, como parte essencial da situação didática, é uma situação na qual a intenção de ensinar não é revelada ao aprendiz, mas foi imaginada, planejada e construída pelo professor para proporcionar a este, condições favoráveis para a apropriação do novo saber que deseja ensinar. Então a situação adidática se constitui na apresentação de problemas estimuladores da ação, dos signos e da reflexão de forma a proporcionar apropriação de novos conhecimentos com significados e possibilitar a construção do conhecimento com o professor no papel de organizador do ambiente na construção do conhecimento. Nesse sentido, a EDUCAÇÃO MATEMÁTICA possibilita ao aluno compreender o mundo por meio dos conteúdos e dos conceitos matemáticos e desenvolver a autonomia intelectual.

Os alunos aprendem de forma adaptativa ao ambiente que é contraditório, desestabilizante assim como na vida cotidiana. Esse saber, com origem nas adaptações dos estudantes, sugere novas respostas como prova da aprendizagem. Os alunos sabem que as atividades de sala de aula foram selecionadas para a construção de novos conhecimentos, mas, que por razões internas da situação, essa construção pode não passar por situações didáticas.

Tal situação promove a relação direta entre situações que se encontram no controle pedagógico do professor, assim percebidas pelos alunos, e de outras que não estão e que podem condicionar o desenvolvimento deles. A presença de certos fenômenos de aprendizagem sem uma intenção pedagógica direta ou controle didático do professor condiciona uma situação adidática.

Brousseau citado por Pais (2008, p. 68) assevera que,

Quando o aluno torna-se capaz de colocar um funcionamento e utilizar por ele mesmo o conhecimento que ele está construindo, em situação não prevista de qualquer contexto de ensino e também da ausência de qualquer professor, está ocorrendo então o que pode ser chamado de situação adidática.

A didática utiliza espaços amplos na construção do processo ensino-aprendizagem transcendendo os limites do espaço da sala de aula e, com isso, ocorre uma expansão do processo didático, com a caracterização do fenômeno adidático, que constitui a complexidade do caminho de construção do contexto didático.

Na aprendizagem, ocorrem processos desestabilizantes durante a construção de conhecimentos. O aluno, no início do processo, encontra-se em uma situação de mobilizar conhecimentos já consolidados para resolver problemas, em que a criatividade entra em ação e, com isso, o aluno transcende os seus próprios limites do conhecimento.

Brousseau citado por Almouloud (2007, p. 34) afirma que

Cada conhecimento pode ser caracterizado por, pelo menos, uma situação adidática que preserva seu sentido e que é chamada de situação fundamental. Ela determina o conhecimento ensinado a um dado momento e o significado particular que esse conhecimento vai tomar do fato tendo em vista as escolhas das variáveis didáticas e as restrições e reformulações sofridas em seu processo de organização e reorganização.

Então a situação fundamental é constituída por um grupo de situações adidáticas com o intuito de obter a melhor resposta. Uma situação é fundamental quando conceber mudanças no contexto escolar, desequilibrar e validar mudanças e permitir a devolução que

pressupõe a ação do professor para repassar responsabilidades ao aluno por meio de uma situação adidática ou de um problema.