• Nenhum resultado encontrado

2 O CAPÍTULO ANALÍTICO SOBRE O CASO

2.6 O Exercício da vereança e a visão de política

2.6.1 Cururu analisa projetos enviados pelo executivo

O SR. CURURU [23ª ORD]– Presidente, primeiramente este processo não

está tendo tramitação normal na Casa porque não foi recebido pelo meu gabinete. Segundo, parece que essa revogação é extremamente prejudicial para o município, pois o artigo determina que qualquer incentivo fiscal possa ser dado no prazo de um ano, e a emenda tenta transformar esse prazo para seis meses, não é isso? Olha, seis meses antes da eleição os partidos estão já imbuídos em suas campanhas eleitorais, e a Câmara de Vereadores aprovar benefício fiscal para empresários em plena campanha eleitoral? Isso é uma coisa extremamente prejudicial. Portanto, o Partido Verde, além de votar contra, ainda vai votar contra a quebra do interstício, podendo o processo ser votado hoje só em 1ª discussão. [...] a maioria dos projetos que querem ser contemplados com essa mudança já estiveram o ano passado todo aqui dentro da Casa. Inclusive um projeto que eu defendi, o projeto do Hotel Jacques Georges, que está sendo construído lá na Barroso, fui bastante claro com os proprietários do hotel que

anunciaram uma construção ecologicamente correta, com

reaproveitamento da água usada, energia solar, obediência total às áreas verdes e demais regras do Plano Diretor. Na época falei a eles que uma obra desse tipo merecia ser contemplada com benefícios fiscais, só que perguntei a data em que estaria pronta a construção e eles nos disseram que em novembro ou dezembro. Aí falei a eles que, no momento em que estivesse pronta faríamos uma comissão de três ou quatro Vereadores para irem in loco constatarem a veracidade da obra ecologicamente correta. Bom, a obra atrasou, e em função disso fui contra que se votasse antes de terminar a obra. [...] Tivemos todo o ano passado para aprovar os projetos sem precisar mudar a lei que estamos querendo mudar, e agora, na hora, meu irmão, na hora de começar a campanha, todos nós sabemos que existe interferência do poder econômico nas eleições. Então é obrigado a gerar desconfiança. Por isso que eu concordo com o Vereador Paulo Oppa, que o momento é inoportuno.

Nesta longa transcrição se verifica uma postura participativa, cobrando a tramitação legal do projeto, observando o princípio de publicidade e de moralidade, ao salientar as preocupações com relação aos possíveis efeitos de uma isenção de tributos, num período pré-eleitoral. Ao aderir a uma tese de um vereador de oposição, revela independência em relação ao executivo, e compromisso público ao apoiar projetos arquitetônicos somente quando em conformidade com o plano diretor.

Na continuidade, se observa um recorte onde o vereador Cururu se posiciona frente a projetos enviados pelo executivo local.

O SR. CURURU [28ª ORD]– [...] Ontem tivemos uma sessão de ampla

discussão sobre a Mensagem nº 015, enviada pelo prefeito de Pelotas, sobre uma operação de crédito da prefeitura com o Banrisul. O projeto não traz claramente coisas fundamentais que deveria trazer, na minha opinião. [...] na parte da tarde o Prefeito Fetter me convidou para ir na prefeitura e ele[...] [explicou] o projeto, coisa que nenhum Vereador aqui, ontem, soube me explicar. Fizemos um debate sobre o projeto ontem, aqui. [...]O que eu

acho ruim é que no projeto não vem nada especificado sobre a dívida. Por exemplo, aqui no artigo 2º: Os prazos de amortização e carência, os encargos financeiros e outras condições de vencimento e liqüidação da dívida a ser contratada obedecerão às normas pertinentes estabelecidas pelas autoridades monetárias federais e notadamente ao que diz a Resolução Nº 043/01, aprovada no Senado no dia 21 de dezembro de 2001. [...]Aí solicitei à minha assessoria que visse a Resolução Nº 043/01. Está aqui! Você lendo tudo isto aqui, o que é altamente cansativo, [...]Essa é a realidade. Eu ideologicamente não concordo com isso, mas aí o prefeito me explicou; [...] São três projetos de extrema importância. A construção de uma estação de tratamento na Vila Princesa. [...] É um projeto perfeito. Ecologicamente não tem como votar contra esse projeto. [...]Segundo projeto: a construção de uma estação de tratamento de esgoto junto ao Bairro Simões Lopes. [...] foco de poluição que tem ali no Santa Bárbara que larga todo o esgoto dentro do São Gonçalo. Termina com o foco gravíssimo de poluição que a cidade tem, um projeto ecologicamente maravilhoso. Terceiro projeto: no Laranjal já existe a estação de tratamento de esgoto [...] Lamentavelmente, mudo a minha posição em função da necessidade do Fetter levar esse documento para Brasília, mas sou ideologicamente contra este modelo de endividamento do município.

No recorte anterior, é possível visualizar um político que examina exaustivamente um projeto volumoso, que tem firmeza de posição relativa à questão de endividamento do município e que transige em função de uma causa maior. Distante, também, das previsões iniciais feitas, inclusive por especialistas, sobre suas possibilidades de atuação.

Explorando, mais, a relação com o executivo local, o próximo conjunto trás as posições do vereador relativas a dois temas melindrosos para qualquer vereador, a partir de estudos como os de Kuschinir (1993), Lopez (2004) e Kerbauy (2005), a criação de cargos públicos e as relações executivo/legislativo, em especial para alguém  apontado  como  “do  grupo  do  prefeito”.

O SR. CURURU [106ª ORD] – [sobre criação de cargos] Eu gostaria de

dizer que vou votar contra em função de que essa decisão que nós recebemos na semana passada (tenho aqui na minha mão) que 26 desembargadores, o Pleno, do Tribunal de Justiça do Estado, por unanimidade julgou inconstitucional 120 contratações que foram feitas num projeto de 2006, que passou aqui na Câmara e a alegação aqui é que afronta os artigos 19, Inciso I e 32, ambos da Constituição Estadual, cabível a criação de cargos em comissão somente com atribuições definidas de direção, chefia ou assessoramento [...] Portanto, vou cumprir a Constituição do Estado e vou ser obrigado a votar contra. [...] Esses 120 cargos são inconstitucionais. [...] E o que mais irrita é que o Prefeito Fetter vive dizendo que recebeu de herança a prefeitura desorganizada, só que ele participou da prefeitura desde o início e se tivesse tido responsabilidade no momento em que o Bernardo renunciou, que ele passou a ser prefeito, deveria ter feito um levantamento rápido de todas as funções que estavam precisando de pessoal e deveria ter feito um concurso imediatamente. Na desorganização que vem trabalhando o governo, deixaram para fazer concurso nas vésperas da eleição e mandaram estes projetos com 120

contratos só num artigo. É lamentável que ainda tenham vereadores que vão aprovar esse negócio[...]

Sr. Presidente, em princípio a gente lamenta a insistência do governo Fetter em fazer a Câmara avaliar esse projeto. De antemão vou solicitar que seja feita votação nominal. [...] Isso mostra claramente que o prefeito Fetter não tem respeito nenhum com a Câmara de Vereadores. Semana passada tivemos várias reuniões onde se sugeriu que esse projeto fosse parcelado, com explicações dentro da lei de cada cargo a ser contratado de forma emergencial. Não fomos atendidos e faz com que a Câmara de Vereadores passe por uma situação dessas, onde até o relator de uma comissão é trocado para mudar um parecer e dar um parecer inconstitucional. Esse parecer que foi votado por último, foi criado um relator ad hoc para dar um parecer inconstitucional. Esse tipo de coisa decepciona a gente como vereador que vem tentando desde o início do mandato conseguir uma mudança de comportamento, trabalhar rigorosamente dentro da lei.

No longo quadro de relato, se vê uma postura de fiscalização com relação à legalidade de contratações, pelo poder público municipal, que não estariam observando as decisões judiciais em situações análogas, ocorridas anteriormente; novamente, demonstra independência na crítica à forma de gerenciamento do executivo nas questões de pessoal, apelando para o princípio moderno da eficiência. Meticuloso ao exigir detalhamento das funções no projeto de contratações, denuncia a submissão do legislativo aos interesses da Administração Municipal, expondo o casuísmo na troca de relatoria para obter pareceres contrários às normas legais.

Na sessão ordinária nº 154, de 21 de agosto de 2008, o vereador Cururu comemorava a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de proibir o nepotismo no âmbito do poder Executivo e Legislativo, questão que, permanentemente, o preocupava nas discussões legislativas.

Na quarta, e última, unidade de análise se examina o posicionamento do vereador Cururu no período contemporâneo ao levantamento da hipótese de processo de cassação e durante o seu retorno, sob liminar da justiça, após ser cassado. Uma questão inspiradora, sobre os dois momentos, é saber se sua atuação teria se alterado, na possibilidade de eventual de contemporização, ou seja, um padrão conciliador para fugir de uma medida que, sob uma possível ótica racionalizada, lhe seria de custo elevado.