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2 O CAPÍTULO ANALÍTICO SOBRE O CASO

2.4 As etapas do processo de cassação em si

2.4.2 Das sessões de julgamento

Nas longas sessões do julgamento, retiramos trechos elucidativos do padrão de cultura política do vereador Cururu e da repercussão deste junto ao conjunto de representantes políticos da Casa. Já na reunião de abertura, na sessão extraordinária nº 39, de 20 de março de 2008, a polêmica se estabeleceu pelo encaminhamento do rito processual. Depois de lidas as 173 páginas do processo, o presidente do legislativo, ver. Otávio Soares, resolveu encaminhar o relatório da Comissão Processante à Comissão de Constituição e Justiça, para que esta se pronunciasse através de seu relator, o vereador Ademar Ornel. A passagem inteira informa aspectos de ineditismo do caso.

O SR. CURURU [39ª EXT] - Parecer da CCJ agora, depois de ler o

relatório? O parecer da CCJ era no início do processo, Vereador.[...] Presidente, temos aqui no Regimento Interno, na Seção II da Comissão de Constituição e Justiça, artigo 30º: À Comissão de Constituição e Justiça compete opinar sobre o aspecto constitucional., legal, jurídico ou a técnica legislativa das matérias que lhe forem distribuídas, sobre a perda de mandato e processamento do Prefeito, Vice-Prefeito e Vereadores, bem como sobre os recursos previstos neste Regimento. [...] obedecerá o seguinte rito... o jurídico da Casa, no dia em que abriu a Comissão Processante, [...] Se esqueceu de passar na Comissão de Constituição e Justiça. [...] A avaliação da Comissão de Constituição e Justiça é sempre no início de todos os processos. [...]Não existe avaliação de Comissão de Constituição e Justiça no fim do processo!

O SR. JOSÉ INÁCIO (Questão de Ordem) - Sr. Presidente, existe uma

clara e flagrante intempestividade de aprovação de passar pela CCJ. É intempestivo,[...] No meu entendimento as praticas adotadas no processo aqui nesta Casa, não estão enquadradas para este momento. Não podemos retroagir lá atrás e enviar para a CCJ agora.

O SR. ADEMAR ORNEL (Questão de Ordem) - Não há no Regimento

Interno nenhum artigo que diga aonde deve ser analisado pela CCJ. Tem que ser antes da votação?

O SR. EUGÊNIO COSTA [representante legal do ver. Cururu] - [após

leitura de ritos em outros legislativos para casos análogos] Eu tive que

fazer uma pesquisa rápida aqui e achei três casos em que a Comissão de Constituição e Justiça sempre procede o recebimento do pedido de cassação de um vereador. Com isso eu queria demonstrar que somente aqui na Câmara de Vereadores de Pelotas é diferente, no resto do Brasil a comissão vota antes.

“O SR. JOSÉ INÁCIO – [...] Vota-se a CCJ antes da apreciação do projeto, esta é a prática adotada pela Casa. [...] Mas parece que a ansiedade de cassar este parlamentar,[...] não tenho dúvida de que este Vereador incomoda muita gente.[...] E não que eu esteja de acordo com o que ele fez![...] Agora, certamente não estamos de acordo com a história do homem da mala preta que circulava nesta Casa e circulou, durante muitos anos, distribuindo tantos favores e até ajuda de campanha. [relembra

episódios já mencionados] E nós estamos aqui discutindo a palhaçada do

Vereador Cururu Insaurriaga[...] Porque na verdade, Vereador, V. Exa. é um pretensioso! V. Exa. é um pretensioso! Porque quem pretende fazer uma política diferente, moralista em nosso país, não passa de um

pretensioso,[...] porque V. Exa. não agrediu o Deus lá de cima, [...] V. Exa. agrediu vários deuses. Aqueles que se intitulam os deuses desta Casa há muito tempo, a qualquer custo, a qualquer momento, esses são os deuses que V. Exa. agrediu. Por isso V. Exa. deveria ser cassado pela sua pretensão, [...] certamente será cassado nesta Casa[...], porque não roubou, não tem dolo no processo. Existe sim uma vontade política de cassar aquele que muito incomoda, aquele que está sempre batendo, denunciando, criticando, com aquela pretensão de fazer uma política de dias melhores[...]

O trecho, longo, identifica um tratamento normativo que subverteu o rito que, mesmo em julgamentos especiais, tem limites nos princípios racionais-legais de justiça. Ele se justifica por apresentar indicações mais profundas dos interesses envolvidos naquela contenda. Tais interesses, nas palavras do vereador Zequinha, espelhariam uma cultura política ofendida pelo padrão de atuação do vereador Cururu. Esta cultura política seria ditada, segundo a interpretação de Zequinha, por um grupo de vereadores que dirigiria o legislativo, de há muito tempo, e que estaria interessado na manutenção de um determinado modelo refratário a revisões no sentido da democratização e do aprimoramento do sistema político. O mesmo vereador creditava a Cururu um papel moralizador, que seria central para as avaliações que recebia por parte da maioria de seus pares, na sua tentativa permanente de combater os vícios de cultura política tradicional. De novo, fazia alusão de trocas corruptas envolvendo   membros   da   Casa   e   uma   “entidade”   – o homem da mala preta – que financiaria campanhas de políticos do corpo legislativo.

Na votação nominal que se seguiu ao arrazoado das partes, os vereadores foram indagados sobre os seguintes quesitos:

1º) Ao praticar o ato que chamou de exorcismo, o Vereador incorreu em falta de decoro parlamentar?

2º) Ao dizer que um colega de parlamento teria sido o responsável pela elaboração de um caixão com suposta magia negra e de colocá-lo na sede da Câmara, o Vereador incorreu em falta de decoro parlamentar?

Na apuração dos posicionamentos, 12 e 11 vereadores, respectivamente, votaram sim, aos dois quesitos; 2 votaram não, decretando a cassação do vereador Cláudio Roberto dos Santos Insaurriaga. Isso ocorreu naquele 20 de março de 2008. Mais tarde, sob efeito de liminar, o vereador voltaria para um derradeiro período de atuação. Dentro do espírito postulado desde a introdução deste trabalho de pesquisa, observa-se, agora, um recorte da trajetória de situações que

determinaram o conflito de posicionamento, na ótica do vereador Cururu, entre ele e a maioria de seus colegas de legislativo.