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2) Toda ação gera uma reação oposta, igual e em sentido contrário: investigação

2.1 Mecânica clássica, valor utilidade, cálculo infinitesimal, harmonia social e o

2.1.4 Curva de demanda e valor utilidade

Os três principais autores fundadores da teoria marginalista – Jevons, Walras e Menger – possuíam em comum a identificação de que a determinação do valor se dava pela utilidade que aquele bem oferece a determinada pessoa.

Hunt observou (2012, p. 357) que cada um desses autores seguiu as tendências teóricas apresentadas por Say, Senior e Bastiat. Por sua vez, os três autores, Jevons, Walras e Menger, se debruçaram sobre o problema apresentado por Smith, na Riqueza das Nações, sobre o valor da água e do diamante. Tal dilema apresentado por Smith fez com que o mesmo defendesse a ideia de que não existia relação direta entre valor de troca e utilidade. Por sua vez, Say, Senior e Bastiat argumentavam que o valor de troca era formado pela utilidade de cada bem, a despeito de que nenhum deles ter apresentado como se forma o valor utilidade.

O avanço relevante dos três autores que fundaram a teoria marginalista foi o de apresentarem como a determinação do valor de troca decorria da utilidade do bem.

Em sua principal obra sobre economia, Teoria de Economia Política, Jevons afirmou que “o valor depende inteiramente da utilidade” (1871; p. 77). O significado da palavra ‘valor’ para o autor era a de considera-lo simplesmente como preço. Dessa forma, como salienta Hunt (2012; p. 360), Jevons, “restringiu, convicta e

Ao longo de sua formulação, Jevons, segundo Hunt (2012), evitou ao máximo qualquer categoria que expressasse relações sociais129. Na análise de Jevons, a economia tinha duas propriedades essenciais: a primeira reflete a necessidade de que cada indivíduo extraia utilidade de cada bem ou serviço; e a segunda era a da filosofia utilitarista – de que o ser humano calculista e de maximização racional era o único objeto de estudo das ciências econômicas, como nas palavras do autor:

Satisfazer a nossas necessidades ao máximo possível, com um mínimo de esforço – procurar obter a maior quantidade do que desejamos em troca do mínimo de coisas indesejáveis –, em outras palavras, maximizar o prazer é o problema da Economia (Jevons; 1871; p. 111).

Como a utilidade na economia é obtida por meio do consumo de bens e serviços, a maneira de se calcular essa utilidade se dá pela comparação dos preços relativos de diferentes bens. Por exemplo, se a utilidade total é uma função derivada do consumo, teremos a seguinte equação UT = f(Q)130. A primeira derivada dessa função nos dará a utilidade marginal dada pelo consumo de certa quantidade de bens. Quando existem custos de produção, a utilidade de dois bens pode ser dada em termos relativos.

Considerando a existência somente do bem A e do bem B, para que se consiga mais de um bem seria necessária uma troca. Dessa forma, poder-se-ia comparar as utilidades de cada um desses bens por meio da Uma/Umb e a razão de preços entre as mercadorias seria Pa/Pb. Se a razão Uma/Umb fosse maior que a razão de preços Pa/Pb, a pessoa poderia continuar sua troca até o ponto onde Uma/Umb = Pa/Pb.

Essa demonstração matemática expressa que os indivíduos continuarão a trocar seus bens até o ponto onde não haja vantagem nas trocas, tal como os teóricos utilitaristas anteriores já haviam defendido, pois, segundo esses autores, só ocorria troca quando havia incremento de utilidade para os participantes. Dessa forma, Hunt (2012) acrescenta o seguinte:

129

Tal como o crescente processo de burocratização e hierarquização das firmas, o forte processo de concentração de capital, onde as firmas estavam cada vez mais distantes da distopia das pequenas empresas como formadoras de preço, entre outras questões.

130

Jevons procurou mostrar como a utilidade marginal determinava os preços, e, ao fazê-lo, tentou mostrar como dois “agentes de troca” poderiam chegar a preços de equilíbrio de duas mercadorias. O problema teórico, tal como ele o definiu, não levava a qualquer solução determinada, cabendo a outros economistas neoclássicos demonstrar como a teoria da utilidade marginal poderia tornar-se uma teoria dos preços. Jevons apenas demonstrou o que os consumidores faziam em suas trocas, uma vez conhecidos os preços, para maximizar suas utilidades individuais (Hunt; 2012; p. 362).

Outro ponto essencial da teoria de Jevons era que ele via a sociedade em uma relação harmoniosa, sem conflitos de interesse. Essa sociedade harmoniosa na economia permitia por meio da troca – dentro das relações de livre mercado –, a obtenção do máximo de bem-estar para a sociedade como um todo (como, anos mais tarde seria desenvolvido no modelo matemático de Pareto, a partir do modelo de equilíbrio geral de Walras).

Sobre a teoria da utilidade de Menger, o autor argumenta que a cada novo consumo de um bem, sua utilidade marginal cai. Com essa observação, foi possível a construção da curva de demanda de Menger. Isso, porque à medida que o preço de cada bem cai, cada consumidor ampliará seu consumo a fim de maximizar sua utilidade, e, além disso, com a queda do preço, mais consumidores estariam dispostos a comprar aquela mercadoria.

Dessa forma, Menger cria a curva de demanda por meio da utilidade marginal decrescente, de tal modo a existir uma relação inversa entre a quantidade demandada e o preço.

Sobre a teoria da utilidade desenvolvida por Walras, a utilidade marginal decrescente do bem segue o seu grau de raridade, para explicar, por exemplo, o dilema da água e do diamante de Smith. Como apresentado acima, tanto para Jevons quanto para Menger, a demanda do consumidor dependeria da razão marginal entre a utilidade de dois bens. Contudo, já havia sido observado que o máximo de utilidade ocorreria quando a razão da utilidade de dois bens se iguala a sua razão de preços. Dessa forma, a demanda do consumidor por certo bem também dependeria, por sua vez, do preço de todos os outros bens a serem consumidos.

Dessa maneira, o modelo de Walras – dentro da tradição de pensamento neoclássica – se torna uma apresentação mais satisfatória na medida em que ele

relaciona a utilidade com a escassez dos bens. Nesse ponto, Walras consegue mostrar como a produção gera impactos na “raridade” dos bens, de tal forma a integrar a produção com a utilidade. Mas para que o modelo fosse completo, como já dito, se fazia necessário uma teoria que se apresenta a formação de preços de todos os bens de forma conjunta e unitária.

Outro ponto importante a se apresentar é que, quando Walras cria a curva de oferta e demanda, percebe-se que existem dois “pesos”, que se contrapõem e que possibilitam o equilíbrio entre a oferta e a demanda, tal como a relação de massa entre dois corpos na teoria da gravitação de Newton.

Antes de fecharmos este tópico, é valiosa a observação de Mirowoski (1991)

de que as concepções e as expressões matemáticas de Jevons e Walras – entre

outros autores que fundaram o pensamento neoclássico, como: Gossen, Pareto, Edgeworth e Fisher – são reflexos de influências diretas da física de meados do século XIX – com vários elementos literalmente copiados –, com notório destaque para a ideia das diferentes formas de energia – como tratamos na sub-seção 2.1.1. Para apresentarmos a relação entre energia e utilidade na economia neoclássica, vale resgatar as palavras de um dos próprios fundadores dessa corrente de pensamento, Edgeworth. O autor, em um artigo de 1881, fez a seguinte representação sobre a apropriação da física e seu reflexo na economia, como a seguir:

The application of mathematics to the world of the soul is countenanced by the hypothesis (agreeable to the general hypothesis that every physical phenomenon is the concomitant, and in some sense the other side of a physical phenomenon), the particular hypothesis adopted in those pages, that pleasure is the concomitant of energy. Energy may be regarded as the central idea of Mathematical Physics; maximum energy the object of the principle investigations in that science … “Mécanique Sociale” may one day take place along with “Mécanique celeste”, thorned each upon the double-sided height of one maximum principle, the supreme pinnacle of moral as of physical science. As the movements of each particle, constrained or loose, in a material cosmos are continually subordinated to one maximum sub-total of accumulated energy, so the movements of each soul whether selfishly isolated or inked sympathetically, may continually be realizing the maximum pleasure … (Edgeworth; 1881; p. 9 – 12; apud; Mirowoski; 1991; p. 220 – 221)

Por fim, podemos estudar as contribuições de um dos mais influentes pensadores neoclássicos – Marshall.