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2) Toda ação gera uma reação oposta, igual e em sentido contrário: investigação

2.1 Mecânica clássica, valor utilidade, cálculo infinitesimal, harmonia social e o

2.1.5 Economia como o sistema solar de Copérnico: Marshall

Depois dos primeiros avanços da teoria marginalista, o autor que deu continuidade à síntese teórica desses autores foi Alfred Marshall (1889). Keynes – discípulo mais estimado de Marshall – se refere à teoria de seu mestre como: a “descoberta de um completo sistema Copérnico no qual todos os elementos do

universo econômico são mantidos em seus lugares por mútuos contrapesos e interação” (Keynes; apud; Thirlwall, 2002, p. 35).

Pode-se destacar que Marshall, antes da publicação dos Princípios, já comparava o sistema econômico ao sistema solar. “Assim como o movimento de

todo corpo no sistema solar afeta e é afetado pelo movimento de todo outro, assim é com problema da economia política” (Marshall, 1881, p. 13).

Ao utilizar o instrumental matemático, ele pretendia, segundo Strauch (1989, p. 42), aproximar a teoria econômica do rigor e da exatidão das ciências naturais, como a matemática e a física, tal como os demais marginalistas, conforme já visto. A despeito dessa tentativa de aproximação, Marshall tinha ciência de que isso não seria possível, pois: “a economia não se pode comparar com as ciências físicas

exatas, pois ela se relaciona com forças sutis e sempre mutáveis da natureza humana” (ibid, 1989, p. 42). Ele ainda acrescenta:

A tentativa de torna-las (as teorias econômicas) precisas sobrepuja as nossas forças. Se compreendermos em nosso cômputo aproximadamente todas as condições da vida real, o problema é pesado demais para ser manipulado; e se escolhermos apenas algumas, então os raciocínios sutis laboriosamente arquitetados a seu respeito se tornam brinquedos científicos do que utensílios para o trabalho prático (ibid, Livro Quinto, Cap. XII).

Contudo, a despeito de Marshall ter certo nível de resistência em utilizar a “metáfora” e o método da física na economia, do ponto de vista de sua criação acadêmica, seu trabalho foi centrado em relações “mecânicas” na economia. Nesse sentido, como

Mirowoski (1991) também afirmou logo no título de sua seção, Marshall131 foi mais discreto do que exatamente correto em sua apropriação de outras ideias de outras ciências132.

Visto isso, segundo inúmeros autores, a contribuição teórica de Marshall na teoria marginalista foi a introdução do fator ‘tempo’ nas decisões econômicas e, deste modo, a capacidade de determinação dos preços com o que ficou conhecido como a “tesoura marshalliana”. Essa perspectiva trazia a dimensão que a formação dos preços ocorria na interação entre a oferta e a demanda, tal como Walras já havia apresentado133. No entanto, uma diferença relevante entre Marshall e Walras reside no fato de que o primeiro autor se preocupava em analisar um mercado particular, enquanto o segundo se preocupou em construir um modelo de equilíbrio geral, como foi visto.

Para a análise de uma alteração de um único mercado, Marshall, utilizou como instrumento analítico o método de ceteris paribus. Isso, porque tal método permite que se ‘mexa’ com uma única variável e mantenha as demais constantes, de tal forma que, para o autor, se poderia observar o impacto de uma variável de forma isolada, nos esclarecendo algumas relações da economia. Ainda segundo Marshall, tal método se faz necessário por que:

O elemento tempo é a principal causa das dificuldades nas investigações econômicas que tornam necessário para o homem, com suas limitadas faculdades, avançar passo a passo; decompondo uma questão complexa, estudando uma porção de cada vez, e por fim combinando suas soluções parciais em solução mais ou menos completa do problema inteiro. Decompodo-o, ele segrega as causas perturbadoras... no momento em uma espécie de confinamento chamado Ceteris paribus...Cada manipulação exata e restrita... ajuda a tratar das questões mais amplas... mais exatamente do que seria possível de outro modo (Marshall, 1989, Livro quinto, cap. 2).

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Em outro trabalho de Mirowoski, foi afirmadou que a principal obra de Marshall, Principles, “é um

livro que vende o método matemático enquanto tenta negar que o método poderia influenciar o conteúdo do que estava sendo expresso” (Mirowoski, 1984).

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Além disso, Mirowoski também apresenta a ideia de que Marshall também adentrou e utilizou a concepção de “proto energy” da física em sua formulação teórica (Mirowoski, 1991, p. 262 -265).

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De acordo com Schumpeter, no seu livro, History of Economic analysis, o núcleo teórico de

Marshall se encontra no Livro cinco de Principles (Theory of the equilibrium of demand and Supply) (Schumpeter, 1956, p. 835).

Portanto, fica claro que a despeito de Marshall ter utilizado o equilíbrio e o método ceteris paribus, o autor possuía ressalvas com tal metodologia. Na verdade, o autor britânico defendia que tais propriedades só poderiam ser utilizadas para análises de curto prazo. Deste modo, “o emprego do método estático nas questões

relativas aos períodos muito longos é perigoso (ibid, Livro quinto, Cap. V)”.

Além disso, dos autores que fundaram o pensamento neoclássico, Marshall era o que possuía maior grau de inquietação e resistência com a utilização do método de equilíbrio. Isso, tendo em mente que o autor observava elevado nível de problemas teóricos ao utilizar tais princípios. Talvez tal inquietação se reflita em sua indeterminação analítica e na maior riqueza em seu pensamento econômico, se comparado aos demais fundadores do pensamento neoclássico. Essa reflexão, e o receio de utilizar o princípio de equilíbrio econômico, pode ser sintetizada na passagem a seguir:

Os objetivos da economia estão mais próximos da biologia econômica do que da mecânica econômica. Mas, as concepções biológicas são mais complexas que as da mecânica; um livro sobre seus fundamentos deve, portanto reservar um espaço relativamente amplo para as analogias mecânicas, e por isso far-se-à um frequente uso do termo equilíbrio, que sugere algo de analogia estática. (Marshall, 1948, p. XIV, apud, Nelson, 1997)

Nessa reflexão, Marshall deixa claro a necessidade de se utilizar uma outra metodologia para a compreensão da economia, a despeito do autor não ter criado alguma reflexão mais profunda para essa metodologia alternativa. Contudo, vale destacar, dentro do pensamento de Marshall, o seu elemento prático e que deixou legado nas ciências econômicas, ou seja, sua “real” contribuição metodológica está fortemente permeada pela noção de equilíbrio. Mesmo que Marshall possuísse ressalvas quando ao método estático e o equilíbrio econômico, suas principais contribuições e análises estão, exatamente, dentro desse campo de pensamento econômico – de tal forma que o que deve ser observado é a sua contribuição real e não a ideal. Isso, tendo em vista que suas reflexões se dão, centralmente, dentro do campo do equilíbrio econômico, ao invés de uma perspectiva evolucionária, tal como Schumpeter e Marx trouxeram para a economia.

No entanto, essa dualidade e ressalva na forma de compreender a economia possibilitaram, segundo Silva (2004), algumas reflexões interessantes no pensamento de Marshall, principalmente no seu pensamento sobre a firma, como será investigado na próxima seção e, nesse sentido, um maior grau de complexidade para sua teoria.

2.1.6 Do conflito de classes para uma sociedade harmoniosa: produtividade e