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2) Toda ação gera uma reação oposta, igual e em sentido contrário: investigação

2.2 Concorrência mecânica: competição perfeita e imperfeita

2.3.3 A moeda, a TQM, o juro e sua relação no ciclo de negócios exógeno:

Para entender a teoria quantitativa da moeda (TQM) em Marshall se faz necessário o resgate de sua teoria sobre a taxa de juro, pois, assim como em Fisher, a relação entre a expansão dos meios de pagamento, o ciclo de negócios e a taxa de juro se dão de forma conjunta. Logo, a explicação da TQM deve percorrer esse mesmo caminho lógico.

Iniciando pela taxa de juro, segundo Marshall, sua formação dependeria da relação entre a demanda por novas inversões vis a vis ao acúmulo de poupanças previamente existentes, ou seja, seu estoque. O conceito de capital utilizado pelo autor define o montante de capital não-físico, ou seja, em sua forma monetária – a poupança, como na passagem a seguir de “Money, Credit and Comerce”:

A taxa de juros dos empréstimos de longo prazo é regulada, de um lado, pelas necessidades de capital por parte dos negócios para conduzir os empreendimentos que têm em vista e, de outro, pela quantidade de capital que não se encontra especializada ou “fixa” em algum uso particular. Essa quantidade é, com efeito, o excesso da produção agregada recente sobre o consumo de riqueza correspondente, juntamente com a quantidade de nova riqueza já dedicada a usos produtivos, mas ainda não especializada de forma definitiva em nenhum deles (Marshall, 1929, p. 255).

Neste caso, cabe perguntar, que fatores levam ao acúmulo do estoque de poupança, ou como o autor define, de “a quantidade de capital não fixa”? Como dito, o estoque de poupança seria determinado pela soma da poupança passada e presente, de tal modo que a taxa de juros atuaria na predisposição das pessoas em poupar, de tal maneira que quanto mais elevada à taxa de juros, maior é a predisposição a poupar.

Do outro lado, tem-se a demanda por poupança como função dos novos investimentos. Como se opera o mecanismo de equilíbrio de longo prazo entre a poupança e o investimento? A taxa de juro seria o instrumento mediador desse equilíbrio para o longo prazo. Se por um lado a demanda por crédito tem um retorno, por outro, essa demanda possuiria um custo representado pelo juro. Dessa maneira, a taxa de juro regula o nível de equilíbrio de oferta de crédito e demanda por crédito.

Avançando para a dinâmica inflacionária, o autor entendia essa questão dentro dos ciclos de expansão e de crise econômica, de tal modo a observar as variações na demanda por moeda. Dois elementos tomam um papel chave no ciclo: o estado de confiança e o crédito (Meirelles; 2011; p. 5). Segundo essa lógica, o ponto inicial, fora do equilíbrio econômico, poderia ocorrer devido a uma mudança nas expectativas, uma crise agrícola ou até mesmo um choque de oferta, como a crise da OPEP, em 1973, onde observou-se forte elevação do preço do petróleo. No entanto, vale destacar, desde já, que tais ciclos eram, para o autor, sempre decorrentes de algum choque de oferta, ou seja, encontravam-se no dito “lado real” da economia.

Esse choque de oferta percorre o seguinte caminho: os preços de determinado setor cairiam devido a um aumento da produção ou a algum tipo de inovação tecnológica com ganhos de produtividade, de tal modo que, mantendo o volume de moeda constante, sobraria mais moeda no mercado para o consumo de outros bens. Neste caso, o excedente monetário geraria um aumento no estado de confiança dos agentes econômicos, “the revival of confidence”, levando a um ciclo de aumento do emprego, da renda, do consumo e do crédito, em consonância ao aumento da atividade especulativa. Esse ciclo de expectativas é expresso nas palavras de Marshall do seguinte modo:

Producers find that the demand for their goods is increasing; they expect to sell at a profit, and are willing to pay good prices for the prompt delivery of what they want. Employers compete with one another for labour; wages rise; and the employed in spending their wages increase the demand for all kinds of commodities. New public and private companies are started […] thus the desire to buy and the willingness to pay increased prices grow together; credit is jubilant, and readily accepts paper promises to pay. Prices, wages and profits go on rising: there is a general rise in the incomes of those engaged in trade: they spend freely, increase the demand for goods and raises prices still higher. Many speculators seeing the rise, and thinking it will continue buy goods with the expectation of selling them at a profit (Marshall & Marshall [1879]1994, p. 152; apud Meyrelles, 2013, p. 6).

Meyrelles (2011 e 2013) sintetiza o ciclo econômico em Marshall em três elementos chave:

1) O primeiro está relacionado ao comportamento da demanda por moeda. Durante o período inflacionário, os agentes econômicos tenderiam a reduzir seus encaixes monetários. À medida que esse efeito se propaga, seriam geradas pressões adicionais nos preços;

2) O segundo ponto decorre da rigidez da elevação do juro nominal em relação ao processo inflacionário. Nesse caso, com a redução do juro real, eleva-se o nível de demanda por novos empréstimos, criando outro vetor de pressão inflacionária;

3) Por fim, o último ponto está relacionado à diferença de rigidez do preço dos bens e de serviços, notadamente o salário. Como os preços dos bens tendem a subir de forma mais acelerada do que a dos salários, a margem de lucro dos capitalistas aumenta, de tal maneira que os mesmos elevam o nível de investimento e, novamente, cria-se outro vetor de pressão inflacionária172.

Aqui vale fazer um parêntese. Note que a defasagem da correção dos preços, principalmente na relação entre os salários e as demais mercadorias, leva a um aumento da demanda por crédito, que, por sua vez, eleva o nível de investimento. No entanto, para a validade dessa proposição, se faz necessária a aplicação da lei de Say de forma implícita, de tal modo que, o aumento da poupança gera uma elevação proporcional no nível de investimento, sendo que esse aumento de poupança seria causado pela redução dos salários reais173.

Ao final do processo de “boom econômico” aparece a reversão das expectativas. Segundo Marshall, os credores seriam os primeiros a perceber essa reversão e reduziriam o nível de empréstimo. Por outro lado, a manutenção da demanda por novos empréstimos, a fim de finalizar ou iniciar novos empreendimentos, elevaria ainda mais a taxa de juro, diante de uma redução do volume a ser emprestado. Com a dificuldade na obtenção de novos empréstimos, as firmas, de forma geral, reduziriam seu estoque de bens, o que auxiliaria na

172Nas palavras do próprio autor: “For when prices are rising, the rise in the prices of the finished

commodity is generally more rapid than that in the price of raw material, always more rapid than that in the price of labour” (Marshall & Marshall [1879]1994, p. 156).”

173 Como pode-se perceber, essa lógica segue o “mundo ricardiano”, onde a redução dos salários

implica aumento do nível de investimento, tendo em vista o aumento da taxa de lucro, mesmo que isso só ocorra no curto prazo, tendo em vista a lei tendencial e queda da taxa de lucro de Ricardo e a determinação dos salários de subsistência.

contenção de preços. Essa reversão de tendência acelerada de preços levaria um aumento da apreensão por parte dos especuladores, que, nesse caso, também tenderiam a reduzir seus estoques (Meyrelles, 2013, p. 7). Com o deflagrar desse processo não demoraria muito para um especulador falir no efeito “manada” 174

e vários outros especuladores iriam para o mesmo caminho. Nesse momento, a confiança dá lugar à desconfiança.

Com a reversão das expectativas, tem-se o movimento contrário da fase ascendente, com redução do nível de empréstimos e, por sua vez, do nível de investimento, de emprego e de renda. Nesse caso, uma crise que poderia ser identificada como um processo de superprodução, para Marshall, na verdade, refletiria, somente, um momento de reversão das expectativas que, por sua vez, causaria uma crise na estrutura produtiva e financeira, mas que retornaria ao equilíbrio natural no longo prazo175.

Pode-se resumir o entendimento de Marshall sobre a interação entre a atividade econômica e os meios de pagamentos, como problemas de ciclo econômico, de curto prazo. No entanto, a despeito dessa relação de curto prazo, o autor identifica que no longo prazo a economia tende a operar no equilíbrio e que esses choques nas expectativas são decorrentes de variáveis reais. Portanto, a despeito de Marshall detalhar com maior profundidade a questão do ciclo econômico, ocasionado no curto prazo, o autor, assim como na TQM de Hume, ou na teoria de Fisher, assume que tais efeitos são apenas de curto prazo. Ainda mais, Marshall mal reconhece os efeitos monetários como causa primária desse ciclo; na verdade, o ciclo ocorreria em decorrência de choques de oferta, muito mais do que problemas na estrutura financeira ou por serem ocasionados por expansão dos meios de pagamento.

Por fim, percebe-se que o mecanismo de equilíbrio opera como modelo lógico que estrutura as relações de produção e monetárias e que a essência atribuída ao

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Efeito manada é uma expressão que afirma que quando alguns poucos agentes econômicos vendem sua posição devido à uma expectativa de queda no preço de um ativo, faz com que uma série de outros agentes tomem a mesma posição com medo de serem os últimos a se desfazer do ativo e ficar com ele muito desvalorizado, perdendo patrimônio.

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No momento de crise e reversão das expectativas, os preços caem, só que ao contrário do período de alta, onde os salários crescem a um nível menos acelerado que os demais preços – em geral. Na crise, os salários tendem a cair de forma menos acelerada do que os demais bens. Note novamente, como parte-se do pressuposto da lei de Say, a redução da margem de lucro também implica em retração do nível de investimento.

mercado permite que a economia retome seu estado de equilíbrio. Quando ocorrem distúrbios eles ficam circunscritos apenas como reflexos de curto prazo, cuja tendência não é afetada, pois este retornará ao seu nível de produção “natural”, ou à capacidade ótima da economia.

2.3.4 O equilíbrio econômico harmônico; o juro e o lucro como sinônimos na