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Da primeira Escola Hoteleira ao “25 de abril de 1974”

PARTE II – EDUCAÇÃO E FORMAÇÃO PARA O TURISMO

Capítulo 4. A educação e formação para o turismo em Portugal: de “cluster” setorial à abrangência conceptual: um processo histórico

4.4. Da primeira Escola Hoteleira ao “25 de abril de 1974”

Com o início da década de 60, várias transformações sociais e alterações no mercado de emprego, influenciadas pela emergência de uma maior procura de mão-de-obra por parte da indústria, levaram ao aumento do êxodo rural e a um aumento generalizado do crescimento da procura de ensino (Grácio, 1998, p.191).

A atividade turística começava, também, a dar sinais positivos, mas os valores eram ainda modestos e os mais destacados economistas da época não lhe atribuem relevância (Cunha, 2012, p.200). No entanto, a 6 de setembro de 1960, alegando precisamente que o “volume de trabalho não tem cessado de crescer e de se tornar mais complexo”, o Governo

eleva os Serviços de Turismo a Direção de Serviços de Turismo, dentro do Secretariado Nacional da Informação (Decreto-Lei 43.150/60, de 6 de setembro).

Em janeiro de 1961, é inaugurada a exposição “Política de Turismo – Seis Anos de Ação” e realizado o 1º Colóquio Nacional de Turismo, promovidos pelo SNI. Neste Colóquio, o diretor da Escola Hoteleira de Lisboa, Gil de Almeida, apresenta uma comunicação (Diário das Sessões, 28 fevereiro de 1964, p.3426) cujas conclusões foram:

1.ª Intensificação, por todos os meios, da preparação dos profissionais da indústria hoteleira e similares. A planificação desses meios deve ser feita através de escolas hoteleiras entregues a técnicos de reconhecida competência;

2.ª A cozinha, a doçaria, os queijos e os vinhos regionais devem ser considerados elementos de propaganda turística, promovendo-se a sua divulgação;

3.ª Adaptação, dentro do possível, ao idioma português das designações da culinária estrangeira;

4.ª Promoção da adesão de Portugal ao movimento de intercâmbio internacional de estagiários da indústria hoteleira.

Também o Presidente da União de Grémios da Indústria Hoteleira e Similares do Norte, Antonio Abrantes Jorge, apresenta uma comunicação onde sublinha a carência de uma escola hoteleira na cidade do Porto (Roquette, 1962, p.47).

Em junho do mesmo ano, José Correia de Oliveira46 sucede a Pedro Theotónio Pereira como Ministro de Estado Adjunto do Presidente do Conselho e, como tal, com a tutela do Turismo (Rosas e Brito, 1996d, p.685).

A década começava a revelar-se profícua no que diz respeito ao turismo e ao ensino. Gonçalves Rodrigues47 fundou, em 1962, o ISLA - Instituto Superior de Línguas e Administração, a primeira instituição de ensino superior privado em Portugal, iniciando a atividade no dia 6 de novembro desse ano, na Estrada de Benfica, 358, com autorização concedida pelo Ministério da Educação Nacional (Alvará n.º 1701) (ISLA, 2016).

Para a admissão, era exigido o curso complementar dos liceus ou equivalente, sendo os cursos ministrados integrados em Escolas: (i) Escola de tradutores e intérpretes; (ii) Escola de secretariado; (iii) Escola de organização científica do trabalho e de relações humanas na empresa. Para os alunos que não tinham as habilitações necessárias, mas que possuíam, no mínimo, o curso geral dos liceus ou equivalente, foi aberto um outro curso,

designado “curso preparatório”, com a duração de 2 anos, que conferia acesso aos cursos superiores. Os cursos ministrados pelo ISLA davam resposta às necessidades do país, proporcionando aos seus diplomados os conhecimentos necessários para uma carreira profissional e uma rápida colocação na indústria, no comércio ou na administração pública. (ISLA, 2016).

A incapacidade quantitativa da formação profissional gerada no sistema educativo tradicional levou o Ministério das Corporações e Previdência Social a implementar uma formação profissional específica que denominou de “formação profissional acelerada”. Este modelo formativo pretendia formar, em poucos meses, operários especializados (Costa, 2008, p.128). Surgia, assim, também em 1962, o Instituto de Formação Profissional Acelerada, no âmbito do Fundo de Desenvolvimento da Mão-de-obra (Decreto-Lei 44.538/62, de 23 de agosto), que dispunha de autonomia administrativa, financeira e pedagógica, interferindo na hegemonia, até então, do Ministério da Educação. As exceções a esta hegemonia eram ainda poucas. E surge, ainda, criado pelo Ministério das Corporações e Previdência Social o Centro Nacional de Formação de Monitores, essencialmente destinado ao estudo dos problemas de ordem técnica da formação profissional extraescolar e de preparação de monitores (Cardim, 2005, p. 679).

Em outubro de 1963, o ISLA transforma-se em sociedade anónima, adotando a denominação social de “Instituto Superior de Línguas e Administração – ISLA, S.A.R.L”, adquirindo um imóvel da rua do Sacramento à Lapa, 16, e, no ano letivo 1964-65, cria a sua quarta escola, a “Escola Portuguesa de Turismo”. A partir de objetivos já incluídos em 1962 no curso de Tradutores Interpretes, é criado o curso Técnico de Línguas e Turismo e um curso destinado aos Correios de Turismo. Dirige a Escola o professor Fernando de Melo Moser48 (ISLA, 2016).

Figura 14: Capa de sebenta da Escola Portuguesa de Turismo

Ainda durante o ano de 1963, Alexandre Santos de Almeida49, um economista com experiência em gestão hoteleira, primo de Gil de Almeida, substitui-o na Direção da Escola Hoteleira de Lisboa (Junior, 1969, p.7).

O País atravessa um período de grande agitação politica; a guerra colonial, uma forte contestação e agitação interna e a emigração em massa desfavoreciam a nossa imagem externa. É um quadro nada favorável ao turismo; no entanto, a atividade turística cresceu extraordinariamente em 1964. Entraram em Portugal um milhão de turistas estrangeiros, o dobro do verificado no ano anterior e as receitas aumentam 63% (Cunha, 2012, p.200).

Portugal pertencia, desde 1960, à associação de comércio livre EFTA-European Free Trade Association. Este facto veio abrir as portas à instalação de fábricas estrangeiras, aproveitando a existência de mão-de-obra barata. Em consequência, aumentou o emprego e os contactos internacionais para os quais era exigido um melhor domínio das línguas estrangeiras.

Em fevereiro, a Assembleia Nacional discutiu o aviso prévio sobre o turismo nacional (Diário das Sessões, 1964 de 28 de fevereiro) apresentado pelo Deputado Nunes Barata50. Nele refere:

(…) O desenvolvimento futuro do turismo fará grande apelo a profissionais, quer em quantidade, quer em qualidade. Daí a urgência em encarar este importante problema. Já atrás referi as possibilidades da preparação profissional da indústria hoteleira através dos esquemas da assistência técnica da OCDE e da Comissão Mista Luso-

Suíça, bem como a instituição, em colaboração com o Ministério das Corporações, do sistema da formação profissional acelerada.

Segundo informações oficiais, parece poder-se desde já esperar a assistência suíça relativamente aos seguintes pontos:

a) Colocação em hotéis suíços, a partir de abril de 1964, de um contingente de 500 a 1000 estagiários remunerados (na base dos salários praticados na Suíça), integrados num sistema didáctico visando a formação profissional ao nível intermédio;

b) Assistência técnica para a elaboração de um plano global para a formação profissional a todos os níveis no sector hoteleiro em Portugal;

c) Concessão de 10 bolsas de estudo para o aperfeiçoamento de profissionais de hotelaria e turismo (Glyon-Leysin, Lausana, etc.);

d) Colaboração da Associação Hoteleira Suíça para a parte secretarial da organização dos estágios previstos na Suíça, quer de nível superior (10 estagiários), quer a nível intermédio (500 a 1000 estagiários).

Devemos ter presente o interesse do turismo como atividade que absorve quantidades de mão-de-obra relativamente importantes mesmo para lá da indústria hoteleira (…).

A 19 de outubro é inaugurado, pelo Chefe de Estado, o Congresso Nacional de Turismo, que englobou também o 1º Congresso de Estudos Turísticos, uma organização do jornal “Diário de Noticias”, coroada do maior êxito (Gazeta dos Caminhos-de-ferro, 1 de novembro de 1964, p.319). O País tinha descoberto uma nova atividade económica da qual já não podia prescindir (Cunha, 2012, p.200).

Fruto desta dinâmica, ainda em 1964 é criada, por José Carlos Amado51, José Laginha52, Calheiros Velozo53, e Henrique Barrilaro Ruas54 a CODEPA, Cooperativa de Ensino Particular, entidade que cria o Instituto de Novas Profissões (INP). Leciona as seguintes áreas: Relações Públicas e Publicidade, Turismo e Assessoria de Direção e Administração, áreas então inovadoras em Portugal, ao mesmo tempo que introduzia no ensino novos estilos pedagógicos, sendo de referir a aproximação às empresas e à administração pública, com dinâmicas favoráveis ao desenvolvimento económico e social (Oliveira, 2017).

51 Ver nota em Anexo 1 52 Idem, Ibidem 53 Idem, Ibidem 54 Idem, Ibidem

A abertura do ISLA e do INP só foi possível porque os seus dirigentes eram pessoas consideradas idóneas pelo regime. O professor Gonçalves Rodrigues tinha sido Diretor da Faculdade de Letras de Lisboa, Comissário Nacional da Mocidade Portuguesa e Vice- Presidente da Assembleia Nacional, satisfazendo os requisitos necessários para dirigir o ISLA. Por outro lado, José Carlos Amado, monárquico e conservador, era membro do Conselho Científico do Instituto Comercial de Lisboa e possuía bons créditos junto do Ministério da Educação Nacional. Foi, assim, possível obter o aval do Governo para a instalação de escolas privadas.

Ambas as escolas inovavam, quer nos planos de estudos quer na duração dos cursos, e ainda pelo facto de conferirem um diploma cujo mérito deveria ser o reconhecimento pelo mercado e não tanto pelo Ministério, que exercia uma função de observação e vigilância, que nos cursos de Turismo viria a ser assumida no ano seguinte, depois da criação do CNFTH (Oliveira, 2017).

Em 1965, logo no início do ano, a então Direção de Serviços de Turismo é transformada em Comissariado do Turismo (Decreto-lei n.º 46.199/65, de 25 de fevereiro). A dirigi-lo mantém-se Álvaro Roquette, assim como no SNI se mantêm César Moreira Baptista. E, a 26 de maio, um Decreto, da Presidência do Conselho e Ministérios da Educação Nacional e das Corporações e Previdência Social, cria o Centro Nacional de Formação Turística e Hoteleira (CNFTH). No preâmbulo, pode ler-se: “(…) o valor económico e cultural do turismo e a sua crescente relevância na vida internacional (…) e considerando o volume dos investimentos públicos e particulares já efetuados neste sector e ora reforçados pela sua inclusão no Plano Intercalar de Fomento para 1965-1967 e reconhecida a necessidade, em pleno crescimento, de se alargar, intensificar e aperfeiçoar a preparação dos profissionais do turismo e das atividades com ele mais diretamente relacionados, parece chegado o momento de o Estado, dando, aliás, satisfação ao que lhe vem sendo pedido, alargar a sua intervenção neste campo, suprindo carências, definindo diretrizes e coordenando ações dispersas” (Decreto-lei n.º 46.354/65, de 26 de maio).

O mesmo preâmbulo estima em mais de 7.000 as necessidades mínimas previsíveis de profissionais a formar, até 1970, em especial para a hotelaria, número que evidencia insofismavelmente a necessidade e a urgência de se alargar e intensificar o ensino profissional hoteleiro.

O citado Decreto é regulado por outro Decreto, da mesma data, dotando o CNFTH de personalidade jurídica e autonomia administrativa e financeira. O organismo então criado

teve por fins promover, orientar e coordenar o ensino profissional turístico e hoteleiro, e cooperar com os demais serviços do Estado no estudo sistemático do fenómeno turístico e na formação de uma consciência geral favorável ao desenvolvimento do turismo (Decreto- Lei nº 46.355/65, de 26 de maio).

Competia ao novo organismo promover a criação de escolas, hotéis-escolas, cursos e centros de aprendizagem ou aperfeiçoamento necessários à preparação dos profissionais exigidos pelas atividades turísticas ou hoteleiras e orientar a realização de estágios complementares, bem como comparticipar na criação ou na manutenção das escolas particulares que preparassem para o exercício das profissões turísticas ou hoteleiras.

O CNFTH contava, como receitas, com as dotações anuais que lhe fossem consignadas nos orçamentos do Fundo de Turismo e do Fundo de Desenvolvimento da Mão- de-Obra, a contribuição até 10% da receita ordinária dos organismos corporativos patronais e 5% da receita de igual natureza dos organismos sindicais que integravam a secção de turismo e indústria hoteleira da Corporação dos Transportes e Turismo, além do rendimento de bens ou serviços explorados por si (Decreto-Lei nº 46.355/65, de 26 de maio). Para a sua gestão, possuía como órgãos um Conselho Geral, uma Direção e um Conselho Pedagógico, sendo que o Presidente da Direção era o mesmo do Conselho Geral. Em 24 de junho de 1965, Manuel Vaz de San Payo55 assumiu a primeira Presidência do Conselho Geral, em regime de acumulação com o cargo de Comissário-Adjunto do Comissariado do Turismo (Umbelino, Rodrigues e Duarte, 2006, p.46).

Em outubro de 1965, Carlos Gaspar escreveu no jornal “Notícias Comércio” o artigo “Escolas Hoteleiras”, no qual critica e apresenta soluções:

“(…) O simples utente dos estabelecimentos hoteleiros, não deixa de observar a desorganização dos serviços de recepção, de reservas e de informações de certos hotéis, o medíocre serviço de cozinha e mesa de tantos outros, a má orientação ou deficiência da propaganda, a falta de conforto resultante da má conservação e da ausência de melhoramentos, a abertura a rápida falência de restaurantes, bares, boîtes, etc.

Parece não existirem dúvidas que a gravidade do problema está na deficiente preparação técnica dos administradores, directores, chefes e de todos os que, de qualquer modo, exercem uma actividade profissional relacionada com as empresas hoteleiras.

Seria, portanto, muito tentador investigar em que medida poderia ser possível, a criação de “Hotéis-Escolas”.

Há seis anos, surgiu em Lisboa a primeira Escola Hoteleira. Situada num andar dum vulgar prédio de rendimento, aquela escola semi-oficial, iniciou a preparação de novos profissionais e o aperfeiçoamento dos antigos. Admitida em princípio com sérias reservas pelos profissionais, são eles hoje os que mais se interessam por ela.

Contudo, as suas deficientes instalações não permitem, na qualidade e na quantidade, dar satisfação às imperiosas necessidades actuais. O estágio realizado em hotéis no final do curso elementar”, não é de modo algum eficiente, porquanto, o estagiário deixa de ser um “aluno” para ser considerado um profissional.

Assim, a construção de um pequeno hotel de 50 quartos devidamente apetrechado para os fins em vista e destinado, por exemplo, a estudantes que se encontrem vivendo fora do seu agregado familiar, tal é o caso dos estudantes ultramarinos, seria a solução do problema. Os estudantes estrangeiros seriam também albergados no Hotel-Escola, com todos os benefícios daí resultantes para ambas as partes.

Dois pequenos hotéis em Lisboa, situados de preferência junto à Cidade Universitária, um hotel no Porto e outro em Coimbra, seria um belo ponto de partida (…) (Gaspar, 10 de outubro de 1965, p.1).

Em novembro do mesmo ano, um Despacho do Gabinete do Subsecretário de Estado da Presidência do Conselho, Paulo Rodrigues56, determina que a Escola Hoteleira de Lisboa passe a designar-se Escola Hoteleira “Alexandre de Almeida”, considerando o contributo daquele industrial no impulso e criação do ensino profissional hoteleiro em Portugal (cf. Despacho s/n 1965, de 29 de novembro).

Em 1966, a Direção do CNFTH é reestruturada, criando-se o cargo de Secretário-Geral, com as funções de animação, orientação e coordenação técnica e pedagógica, assim como da logística administrativa e financeira ao projeto de desenvolvimento do Centro e à criação de novas Escolas Hoteleiras. É nomeado para a função António Serras Pereira57 (Umbelino, Rodrigues e Duarte, 2006, p.49).

Tendo como objetivo a melhoria dos níveis de qualificação da população do Algarve empregada na hotelaria, restauração e turismo, a Escola Hoteleira do Algarve iniciou provisoriamente a sua atividade, ainda em 1966, em regime de Hotel-Escola nas instalações

do Hotel Santa Maria, em Faro, onde era ministrada a componente prática dos cursos, sendo que a componente teórica era lecionada no edifício do Gabinete para o Desenvolvimento Turístico do Algarve. Ao mesmo tempo, o CNFTH arrendava aos descendentes de João António Júdice Fialho o designado Palacete Doglioni, na Rua do Letes, nº32, em Faro, construção dos princípios do século XIX e residência do médico italiano Lázaro Doglioni, que possuía 57 divisões (C.M. Faro, 2016), as quais foram remodeladas e adaptadas para as novas funções, segundo o projeto da autoria do Arquiteto Carlos Lameiro (Lameiro, 2000).

Entretanto, o arquiteto Carlos Lameiro58, com orientações superiormente traçadas, vai para o Funchal, nesse ano, com a missão de criar a Escola Hoteleira daquela ilha (Lameiro, 2000, p.33). Homem com profundo conhecimento do turismo, e com muita experiência no ensino profissional, cedo promoveu um conjunto de reuniões com o Governador, o Presidente da Junta Geral, Coronel Homem da Costa, o deputado Alberto Araújo, o Presidente da Delegação de Turismo e os hoteleiros mais representativos do Funchal, como fossem Rui Dias, Diretor-Geral e Administrativo do Hotel Savoy, José Dias, Diretor do Hotel Nova Avenida, Alberto Gameiro, Diretor da Wagonlit na Madeira e ainda Paulo Matos, que tinha trabalhado na maior Agência de Viagens da época, a Europeia, em Lisboa, e representava a American Express na Madeira, representação assegurada através da Agência de Viagens Star, fundada para o efeito, em 1961, pelo Grupo Banco Borges & Irmão, com a intenção de selecionar as diversas hipóteses existentes para a instalação da Escola (Comissariado do Turismo, 1966).

Já na parte final do ano, entre 17 e 24 de outubro, realizou-se em Lourenço Marques o II Congresso Nacional de Turismo. As sessões de trabalho dividiram-se por quatro secções, assim designadas: “Valores turísticos naturais”, “Equipamentos turísticos”, “Mercados turísticos e promoção” e “Formação profissional e ensino do turismo” (Emissora Nacional, 1966a, outubro 23). Sobre a formação profissional, foi acentuada a vantagem de uma adequada colaboração entre as empresas, o grémio, o sindicato e o Estado, com as escolas de formação profissional turístico-hoteleiras, bem como a necessidade da criação de novas escolas, particulares ou oficiais, em Macau, Lourenço Marques, Porto e Coimbra. Foi, ainda, abordada a necessidade imediata de criar hotéis-escolas, tendentes a incrementar o ensino hoteleiro e tornar a preparação mais intensiva e prática, e apresentado um estudo que apontava para a necessidade de criação de cursos superiores de turismo: “(…) a conveniência de pugnar para que os diplomados pelas escolas de turismo seja dada equivalência legal ao

terceiro ciclo liceal, para posterior ingresso no ensino superior, a fim de permitir uma imediata possibilidade de maior classificação até que venham a ser criados e oficializados os cursos superiores de turismo (…) ao nível universitário, dada a complexidade, a extensão e a importância da problemática turística com exigências cada vez maiores do seu estudo e investigação em especial no campo da economia e da sociologia e a consequente carência de técnicos superiores habilitados não só para as grandes organizações turísticas, mas também para os organismos oficiais coordenadores do turismo” (Emissora Nacional, 1966b, outubro 29).

Das conclusões, há ainda a destacar a necessidade da realização anual de cursos destinados à formação de professores e mestres, com o objetivo de se suprirem as necessidades de docentes das novas escolas, bem como a criação de cursos intensivos destinados a preparar os futuros dirigentes, diretores e subdiretores dos estabelecimentos hoteleiros, como também ao aperfeiçoamento dos que já em atividade pretendessem ampliar os seus conhecimentos (Emissora Nacional, 1966b, outubro 29).

No início de 1967, após importantes obras, a Escola Hoteleira do Algarve ocupou o remodelado edifício na Rua do Letes. Foi nomeado seu diretor Joaquim Bentes Aboim59. A escola passou a replicar no Algarve os cursos ministrados na Escola Hoteleira Alexandre de Almeida, em Lisboa.

Figura 15: Palacete Doglioni, instalações da Escola Hoteleira do Algarve.

Fonte: viajaredescobrir.blogspot (2016)

Em abril de 1967, o arquiteto Carlos Lameiro foi oficialmente substituído no Conselho Diretor da Escola Hoteleira Alexandre de Almeida, como representante do Comissariado do Turismo, por João Strecht Ribeiro60 (Escola Hoteleira Alexandre

d’Almeida, 1967, p.3).

Por esta época, o crescimento do turismo na ilha da Madeira começava a acentuar- se, com o surgir de novas unidades hoteleiras, sendo já com certo desfasamento que, em julho deste mesmo ano de 1967, a revista quinzenal “Gazeta dos Caminhos-de-Ferro” noticiava: “O CNFTH no seu primeiro ano de atividade pode reivindicar uma obra de notável interesse. Iniciou agora os trabalhos para a criação de escolas de hotelaria no Algarve e no Funchal” (Gazeta dos Caminhos-de-ferro, 16 de julho de 1967, p. 150).

Figura 16: Primeiras instalações da Escola Hoteleira Basto Machado, no Funchal.

Fonte: Umbelino, Rodrigues e Duarte (2006, p. 42)

Na verdade, ainda em junho desse ano, o Secretário-Geral, António Serras Pereira, submeteu à consideração superior o processo do andamento das obras de instalação da Escola, realizado pelo arquiteto Carlos Lameiro, já Presidente da Delegação de Turismo, e Diretor da Escola, e pelo Subdiretor do Hotel Savoy e também Subdiretor da Escola, António Drummond Borges; o relatório indicava já o início da atividade para o mês de outubro e atribuía-lhe nome, Escola Hoteleira Rafael Basto Machado61 (CNFTH, 1967). A atribuição do nome tratou-se de uma homenagem ao homem que primeiro referiu a necessidade de uma escola do género na ilha, na altura em que presidia à Delegação de Turismo da Madeira, em 1965, entretanto falecido.

A Escola Hoteleira Basto Machado, no Funchal, foi inaugurada a 27 de outubro de 1967, pelo Subsecretário de Estado da Presidência do Conselho, Paulo Rodrigues, tendo iniciado as atividades letivas a 2 de novembro (Decreto Legislativo Regional n.º 8/97/M de 9 de julho).

Instalada numa vivenda cercada de jardim e muito perto do centro da cidade, foi dotada com todos os requisitos indispensáveis ao ensino. Com capacidade para 120 alunos, registou,