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PARTE II – EDUCAÇÃO E FORMAÇÃO PARA O TURISMO

Capítulo 4. A educação e formação para o turismo em Portugal: de “cluster” setorial à abrangência conceptual: um processo histórico

4.9. Nota Final

Como verificámos, o percurso evolutivo da formação setorial para o turismo foi repleto de avanços e recuos, indefinições e incertezas, que se têm mantido até hoje, apesar do seu caráter sistemático e que se pode reconhecer como minimamente organizado.

Perante a extensão da história que antes esboçámos, tentaremos em seguida, para maior comodidade de leitura, fazer uma síntese dos principais momentos e conteúdos deste percurso.

Se tivermos em conta o pioneirismo da realização do primeiro curso de formação profissional para empregados de hotel levado a cabo ainda durante a Monarquia, a que o conturbado período revolucionário da República pôs cobro, assistimos, depois, ao real surgimento do turismo, em Portugal, que justificou a criação do primeiro organismo oficial, o Conselho de Turismo, integrado no Ministério do Fomento, e à produção das primeiras leis de fomento do turismo, já no pós-I Grande Guerra.

A hotelaria encontrava-se, na altura, perto do seu ponto zero de desenvolvimento. O licenciamento sanitário dos estabelecimentos hoteleiros é regulamentado e são estabelecidas regras de higiene para a proteção de alimentos nos restaurantes. Em Lisboa e Porto, 50% da mão-de-obra do setor é galega. A má prestação dos profissionais é preocupante e a necessidade da formação começava a ser apontada em alguma comunicação social mais especializada.

Apenas o aparecimento do Hotel Palácio, no Estoril, em 1930, e do Aviz Hotel, em Lisboa, em 1933, vêm minimizar o paupérrimo panorama nacional. Estes estabelecimentos tornam-se verdadeiras escolas, e por eles passam dezenas de profissionais que, nos anos seguintes, se irão espalhar por outras unidades hoteleiras, levando consigo os conceitos de qualidade ali adquiridos. Ainda nesta década é publicado um Decreto que autoriza a Casa Pia de Lisboa a criar um curso para gerentes de hotéis e restaurantes, apontando, como possíveis lugares para a sua instalação, a Madeira e o Estoril. Não deixa de ser interessante a perspetiva do legislador, ao autorizar a Casa Pia de Lisboa, a instituição que tinha realizado o primeiro curso, em 1909, a retomar essa formação, reconhecendo a sua competência; por outro lado, e não menos relevante, destacamos o facto de o curso ser para gerentes, reconhecendo-se a necessidade de começar a formação pelo topo. Ainda hoje é frequentemente abordada a necessidade de formar os gestores e proprietários, em particular os da restauração.

Perspetivando o que seria a Europa no pós-II Guerra, é criada a rede nacional de Pousadas; António Ferro sente a necessidade de ter pessoal formado e propõe, uma vez mais, a criação de uma escola hoteleira, não apenas para formar o pessoal para a “indústria hoteleira”, mas também os intérpretes e guias-intérpretes.

No início da década de 50, o País atravessava uma profunda crise económica, o parque hoteleiro estava depauperado. A Câmara Corporativa apresenta o estudo do projeto para o “Estatuto do Turismo”, no qual as escolas profissionais aparecem como medida prioritária; a década não terminará sem ver surgir a Escola Profissional da Indústria Hoteleira em Lisboa. O primeiro período da evolução da formação turística estava terminado.

O processo de criação da escola tinha acompanhado a afirmação do setor turístico nacional, com todas as dificuldades e desconfianças que a envolveram. Apesar da influência direta de alguns empresários hoteleiros na sua concretização, ela foi o resultado de décadas de pressão de diversos setores da sociedade, mais atentos e mais atualizados em relação ao que se passava no resto do mundo, cruzada com alguma sensibilidade do regime para a

necessidade de melhorar a qualidade da oferta turística nacional. Não nos podemos esquecer de que a escola hoteleira e o Hotel Ritz, importante obra com o beneplácito do regime, foram criadas na mesma altura e várias pessoas trabalharam num e noutro projeto.

Na segunda fase, que então se iniciava, o turismo continuava a ser, para alguns setores do regime, uma má influência moral e política. No entanto, a década de 60 será marcada por várias transformações sociais e alterações do mercado de emprego. Fruto dessas alterações, o Governo permitiu a criação das duas primeiras escolas privadas de formação de quadros para o turismo e, em 1965, criou o CNFTH, entidade que irá coordenar a pouca formação existente e será responsável, nos anos seguintes, pelo aparecimento de escolas hoteleiras em Faro, Funchal e Porto.

O Estado procurava dar resposta às necessidades de recursos humanos qualificados para as unidades hoteleiras que abriam e se projetavam para estes três destinos turísticos. O Funchal era de há muito apontado como uma necessidade premente, dada a imagem de destino turístico já consolidado, mas sem a necessária estrutura de apoio à formação. O Porto, segunda cidade do País, respondia pelas necessidades de serviços de alojamento de uma vasta área do terrotório e poderia, a partir de ali, potenciar as necessidades de formação para toda uma região, em particular, o Minho e Trás-os-Montes. O Algarve começava a ser um destino que procurava afirmação. A inauguração do aeroporto internacional, em Faro, e a criação de diversas unidades hoteleiras no eixo Praia da Rocha-Alvor-Penina forçaram a criação da Escola naquela região. A política formativa então implementada procurava responder aos princípios da “Formação Profissional Acelerada”, dirigida a adultos com a escolaridade mínima, procurando dotá-los dos conhecimentos de índole prática indispensáveis ao exercício das funções específicas de uma profissão. A formação constituía-se, também, como um importante meio para obter a mobilidade da mão-de-obra do interior para o litoral e do setor primário para o setor terciário.

Dada a urgência de formar profissionais capazes de responder ao crescimento turístico, o CNFTH criou as «brigadas móveis de formação», as quais, nas duas décadas seguintes, irão percorrer o território, em particular o interior, para formar no terreno os quadros necessários às profissões hoteleiras tradicionais: receção, cozinha, pastelaria, mesa, bar, andares e economato. Para além destes, iniciaram-se os cursos de aperfeiçoamento para chefias intermédias e os cursos de especialização para escanções. Nas profissões da informação turística, a tarefa foi repartida entre as instituições privadas já existentes e as ações desenvolvidas referentes à formação de Guias regionais e de Guias de arte.