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Da problemática aos objectivos da investigação

CAPÍTULO IV – O estudo do caso – fundamentação e procedimentos

1 Da problemática aos objectivos da investigação

Para a definição do objecto científico e delimitação da problemática de estudo, inserimos o modelo de análise da investigação num contexto de descoberta e não tanto num contexto de prova ou verificação (Lessard-Hébert, Goyette e Boutin, 1994: 105), não obstante o seu enquadramento num quadro conceptual que o suporta (detalhado na I Parte deste estudo).

Como já foi referido, confrontámo-nos com o reduzido número de trabalhos de investigação subordinados à intervenção das autarquias locais no domínio educativo e com a inexistência de estudos empíricos sobre os Conselhos Municipais de Educação, pelo que o quadro conceptual foi predominantemente constituído por estudos teóricos nacionais de âmbito mais restrito e, em termos internacionais, pelo Movimento das Cidades Educadoras e recorrendo também, a alguns autores de referência nos processos de descentralização Espanhol e Francês.

No entanto, outros condicionalismos se colocaram no momento de delinear o objecto de estudo e proceder às opções, nomeadamente: o facto de este estudo se centrar numa autarquia, implica que terá a limitação de um estudo de caso; as restrições próprias de uma primeira investigação e, também, tratar-se de uma investigação em tempo reduzido.

Na fase inicial de qualquer investigação, a formulação da pergunta de partida apresenta-se como uma tarefa complexa, pois além dos requisitos de clareza, exequibilidade e pertinência (Quivy e Champenhoudt, 1992), deve ser estruturante de um percurso de análise e permitir o enquadramento das questões levantadas pela revisão teórica, embora possa corroborar, ou não, com o quadro teórico (Bogdan e Biklen, 1991). Seguidamente, a investigação, alicerçada no quadro conceptual e num contexto de descoberta, insere-se no ambiente natural, onde os fenómenos ocorrem e, num processo de correlação, vai estruturando e afunilando (ibid) o foco do estudo.

O modelo de análise que norteou a realização deste estudo incidiu sobre o quadro conceptual subjacente ao modelo de desenvolvimento integrado que, numa lógica que parte do local para o central, valoriza e reconhece o local como espaço privilegiado de promoção do desenvolvimento local. As políticas de descentralização

educativa e de devolução de poderes ao nível local, recentemente difundidas em países europeus de tradição centralizadora (em Espanha, alicerçadas numa organização administrativa distinta da nossa e, em França, com objectivos bastante ténues) têm originado uma reformulação dos papéis atribuídos à escola e aos poderes central e local e permitido a emergência de novos actores educativos.

Em confluência com este quadro, as actuais exigências da sociedade da informação e do conhecimento impõem maiores desafios à comunidade educativa, quer em termos físicos, quer em termos sociais. A edificação de uma sociedade educativa não pode deixar de valorizar a educação formal, não formal e informal, pelo que, não pode dispensar ou menosprezar a participação dos diversos actores educativos. Esta perspectiva “ecológica” da educação reforça o potencial educativo do espaço local, pois congrega diversas modalidades, níveis e parceiros educativos contextualizados num processo de aprendizagem permanente, no qual o Movimento das Cidades Educadoras é uma tendência/corrente relevante.

Em termos de consciência política e após um longo período de resistências e tensões entre os municípios e o poder central, regista-se uma tendência para estes, enquanto órgãos de poder local, se assumirem como agentes locais de desenvolvimento: antecipam e extravasam as suas competências legais e dinamizam um vasto leque de intervenções e projectos educativos. Apesar das especificidades próprias de cada município, estas acções são reveladoras da assumpção, pelas autarquias, de um papel relevante na construção de uma política local/municipal de educação, na medida em que evidenciam a existência de uma planificação ao nível de opções estratégicas e operacionais.

O reconhecimento da centralidade da acção municipal na territorialização da política educativa esboça-se com o Decreto-Lei nº 115-A/98 de 4 de Maio e consolida-se com a publicação do Decreto-Lei n.º 7/2003 de 15 de Janeiro, que cria os Conselhos Municipais de Educação e estabelece o processo de elaboração da Carta Educativa. Este último normativo tem como pressuposto o reconhecimento das sinergias resultantes da coordenação (conjunta) da política educativa local, na qual o município tem um papel fundamental na adequação e promoção da política ao contexto local, embora em articulação com a restante comunidade educativa. Por sua vez, a

comunidade educativa vai criando expectativas e formulando exigências relativamente a essa mesma política.

Neste enquadramento, onde a revisão da literatura, a pesquisa documental e a observação naturalística convergem, são evidenciadas as potencialidades educativas do espaço local. Porém, mais do que a emergência de novos parceiros educativos, é-lhes atribuído o papel de coordenação e definição da política educativa local, temática que, pelo seu carácter recente, ainda não foi alvo de estudos empíricos, mas que urge conhecer e investigar.

Deste modo, este estudo centra-se na promoção da Política Educativa Local e tem, como ponto de partida para a investigação, a seguinte questão:

“De que forma a autarquia local, nas suas dinâmicas internas e externas,

desenvolve uma acção promotora da política local de educação?”

Decorrente deste problema geral, formulámos as seguintes questões de investigação:

- Qual a evolução da descentralização das políticas educativas em Portugal, relativamente a outros países europeus de tradição centralizadora?

- Tendo em conta a relevância do local na educação formal e informal e na definição da política local de educação, qual o papel da autarquia nas dinâmicas, parcerias e opções estratégicas?

- Qual a concepção de Política Local de Educação que os agentes educativos locais possuem? Qual a importância que lhe atribuem e como concebem os modos da sua administração?

- De que forma(s) o Conselho Municipal de Educação desenvolve as suas competências?

- Que oportunidades emergem da articulação entre a autarquia e o Conselho Municipal de Educação, visando a promoção da Política Local de Educação? Nesse sentido, a investigação tem como objectivos:

- comparar a evolução da descentralização das políticas educativas em Portugal com a de outros países europeus de tradição centralizadora (França e Espanha); - caracterizar a intervenção da autarquia no domínio da educação, em termos

legais e reais;

- conhecer as concepções e representações dos actores locais sobre a Política Educativa Local e sua administração;

- analisar interacções e modos de coordenação local no Conselho Municipal de Educação;

- sugerir contributos para a concepção e promoção da política educativa local.