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3 O QUE OCORRE APÓS A DENÚNCIA?

3.3 DADOS DA OUVIDORIA GERAL 2018-2019

Neste momento trago alguns dados sobre o conjunto de denúncias recebidas em 2019, o material mais completo possível recebido. Primeiramente, o total de 109 denunciados é dividido entre 71 mulheres e 38 homens. O número total de denúncias do ano de 2018 foi de 114 denunciados, com 80 mulheres e 34 homens. Como o conjunto de denúncias de 2018 não tinha informações que pudessem ser comparadas diretamente com 2019, exceto algumas questões mais gerais, foco nessa parte do trabalho, nas denúncias de 2019.

Além das cotas A, A1, D e D1, que possuem o critério da autodeclaração racial, ressalto que a maioria de 61 dos 109 casos de denúncia são de alunos que estão acessando o curso em 2019. Logo, no contexto de comissões de heteroidentificação, ainda há uma mobilização individual forte na denúncia de supostas fraudes nas cotas PPI.

Outra informação relevante é que desse total, 6 são casos já denunciados em 2018, como a ouvidora geral sinaliza nos dados cedidos. Dos resultados, 5 estão em comissão de sindicância, um foi indeferido pelo critério de deficiência, cota A1. E todos são estudantes que ingressaram em 2018 (5) ou 2016 (1). 5 entraram pela cota D, e um pela A.

O grupo de cotas D é aquele que possui mais critérios de seleção, se tornando mais difícil a entrada no curso pretendido, considerando a nota de corte e a concorrência pela especificidade do perfil selecionado. Mesmo que a quantidade de candidatos/vaga varie dependendo pela proporção de população que se autodeclare preto, pardo ou indígena. O que se torna decisivo aqui é a não existência de um processo de verificação de um dos critérios, da autodeclaração racial. Os critérios de escola pública e de renda podem ser comprovados por esses estudantes.

Existe também o fato da experiência da comissão de sindicância de 2018, que mais de 80% dos denunciados vieram de uma EPF, e por isso, provavelmente usariam a cota D. Não se sabe qual a proporção de cotas A e D que foram denunciados em 2018. Mas é possível fazer estas reflexões, com um número muito próximo do total do ano anterior (114 casos).

A seguir, faço um comparativo com os dados presentes em notícia106 sobre a comissão de sindicância de 2018, que especificam os cursos, e os de 2019. Neste quadro usarei somente os cursos que se repetem.

Tabela 6 - Cursos que se repetem em denúncias entre 2018 e 2019:

Fonte: Elaborado pelo autor

106 UFJF. Comissão conclui apuração de 92 denúncias de fraude nas cotas. UFJF notícias, 16 Jul. 2018. Disponível em: <https://www2.ufjf.br/noticias/2018/07/16/comissao-conclui-apuracao-de-92- denuncias-de-fraude-nas-cotas/>. Acesso em: 10 Ago. 2019.

Cursos: 2018 2019

Total: Veteranos: Calouros: Sem dados:

Direito JF 8 - 4 - Direito GV 2 1 3 - Jornalismo 6 11 1 - Engenharia Civil 4 - 3 - Pedagogia 2 1 - - Medicina JF 31 18 21 - Medicina GV 5 3 6 1 Odontologia JF 3 2 5 - Odontologia GV 2 2 2 - Geografia 1 - 1 - Arquitetura 1 1 - - 38 46 1 Total: 65 86

A primeira conclusão sobre esses oito cursos é que concentram quase 80% dos casos de denúncias em 2019. Nos dois anos é o curso de medicina aquele com mais suspeita de fraude. E nos dados de 2019 se confirma que isso não muda entre calouros ou veteranos.

É importante ressaltar os cursos que possuem denúncias no Campus de Governador Valadares. Segundo site oficial107, nesse campus somente existem dez cursos: Administração, Ciências Contábeis, Ciências Econômicas, Direito, Educação Física, Farmácia, Fisioterapia, Medicina, Nutrição e Odontologia. É possível supor que a fraude aqui se justifique por ser um campus menor, e a pouca possibilidade de ser “visto ou localizado” rapidamente. Por isso, possivelmente, foram denunciados casos naqueles cursos considerados de “elite” como Medicina, Odontologia e Direito. Também é possível que não tenham identificado suspeita de fraude em outros cursos deste campus.

Deve-se destacar que desse total, de 84 denúncias de 2019, 8 são para cotas que não possuem critério racial de autodeclaração. E uma destas é de um veterano. Por esses oito casos serem nos cursos de Odontologia (1), Medicina (5) e Direito (2) é possível supor que, em parte, denunciaram imaginando que eram candidatos às cotas PPI – pelo prestígio do curso ou nota de corte. Também é possível que sejam denúncias específicas ao grupo de cota usada, como aquelas para deficientes.

No campus de Juiz de Fora, pela imensa diversidade de cursos, e pelo estimulo do fenômeno do ano de 2018, provavelmente as pessoas passaram a investigar em seus cursos ou em cursos menos “típicos” de suspeita de fraude. Os outros cursos se mantiveram presentes, enquanto Medicina se mantém o curso com mais suspeitas de fraude. Outros, como Jornalismo e Odontologia, quase dobraram de um ano para o outro. Contudo, em 2019, outros cursos foram novos na suspeita de fraude. Destaco que mesmo com poucas denúncias, são identificadas suspeitas de fraudes entre calouros e veteranos dos cursos. Assim como se pulverizou os cursos com suspeitas.

Tabela 7 - Denúncias realizadas em 2019 para outros cursos:

107 UFJF. Campus Governador Valadares UFJF. UFJF, 2020. Disponível em: <https://www2.ufjf.br/gv/ensino/graduacao/>. Acesso em: 2020.

Curso: Veteranos: Calouros:

Administração JF - 1

Administração GV 1 -

B.I de Artes e Design 3 1

Fonte: Elaborado pelo autor

A seguir trago dados trabalhados por mim para entender o perfil de suspeita de fraude relacionando os elementos gênero x cota x curso. Como observado nos quadros anteriores, os calouros de 2019 são maioria naqueles denunciados. Ou seja, mesmo com a comissão de heteroidentificação, o movimento de denúncia não perdeu força.

Tabela 8 - Denúncias recebidas em 2019 divididas por curso, grupo de cota e sexo:

Mulheres denunciadas:

Homens denunciados:

Curso: A A1 B D108 D1 E E1 A B D D1 E Total por

curso: Medicina 7 2 1 14 - - 4 7 13 1 - 49 Direito 1 - - 4 - - - - 1 2 - - 8 Administração - - - 1 - - - 1 - - 2 Arquitetura - - - 1 - - - - 1 B.I de Artes - - - 1 - 1 - 2 - - 4 Ciências Econômicas - - - 1 - - - 1 Eng. Civil 1 - - 1 - - - 1 - - - - 3 Eng. Mec. - - - 1 - - 1 Eng. Prod. 1 - - 2 - - - 3 Farmácia - - - 1 - - - 1 Física - - - 1 - - - 1 Geografia 1 - - - 1 Jornalismo 5 - - 3 1 - - 2 - 1 - - 12 Medicina Veterinária 1 - - 2 - - - 3 Nutrição - - 1 - - - 1 Odontologia 2 - 1 5 - - - 2 - 1 - - 11 Pedagogia 1 - - - 1 Psicologia 1 - - 2 - - - 3

108 Um caso nos cursos de Medicina e Direito não especificam a cota usada – estou contabilizando como provavelmente na cota D. Engenharia de Produção 1 2 Engenharia Mecânica - 1 Farmácia 1 - Física - 1 Medicina Veterinária 1 2 Nutrição - 1 Psicologia - 3 Química - 1 Rádio, TV e Internet 1 1 Total individual: 8 15

Química - - 1 - - - 1 Rádio, TV e Internet 1 - - - 1 - - 2 Total por cota: 22 2 4 34 1 2 4 13 1 22 1 0 109 Fonte: Elaborado pelo autor

Esse quadro é o mais detalhado possível sobre as informações de denúncia de fraude. Ao contrário dos dados obtidos do ano de 2018, em que não existia nem a relação de curso ou cota, agora é possível ter uma percepção mais complexa do fenômeno. Enquanto mulheres são mais denunciadas em diversas modalidades de cotas, os homens somente se aproximam de seus números de suspeitas em alguns cursos com muitos casos de denúncia e, especialmente em medicina. Cursos com mais de 10 suspeitas de fraude como Odontologia e Jornalismo possuem muitas denúncias, mas a maioria é entre as mulheres.

Desenvolvo neste momento reflexões sobre duas imagens socialmente construídas que se relacionam com a branquitude. Como discute Lia Schucman (2012), a discussão sobre racismo e raça atravessa relações entre corpo e valores morais. Ela destaca a contribuição do autor Todorov (1993), “(...) para a construção do discurso sobre as raças humanas, uma das características é, justamente, acreditar que há uma continuidade entre físico e o moral”. (2012, p. 73). O curso de Medicina, ainda é visto como um espaço de poder e privilégio de homens brancos. E também, por ser um lugar socioprofissional caracterizado pelo profissional branco no imaginário social. Por ser um lugar da branquitude, se elabora valores morais positivos. De forma completamente oposta da visão geral, e muitas vezes estigmatizada, de lugares socialmente representados como “dos negros”, o branco não “é suspeito da fraude”. O ponto central nessa reflexão é como os valores difundidos e reconhecidos como positivos e universais, como honestidade e caráter, são dados aos brancos.

A baixa representatividade negra nesses espaços109. gera também espaços que ignoram e tornam invisíveis as demandas e contribuições do estudante negro e da estudante negra. Ao se inserir em espaços da branquitude, como cursos de saúde ou alto prestígio110, existe um

109 FOLHA. Primeira turma de medicina da Federal do Recôncavo, na BA, forma 12 médicos negros.

Folha de São Paulo. Disponível em: <https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2019/11/primeira-

turma-de-medicina-da-federal-do-reconcavo-na-ba-forma-12-medicos-negros.shtml>. Acesso em: 23 jan. 2020.

110 Lourenço Cardoso (2017, p. 176) discute as disputas sobre ser branco entre brancos em relação às conquistas financeiras. Aquele que nasce e é abençoado por ser branco está “destinado” ao sucesso “naturalmente”. Aquele que permanece pobre ou fica pobre, seria um branco degenerado. Mesmo que não seja verbalmente ou explicitamente dito, muitas famílias de classe média, em que a universidade é quase um caminho “natural” após o ensino médio, a medicina é um curso “desejado” pelos pais aos seus filhos homens. Fazer Ciências Sociais é um “erro”.

choque na percepção de brancura entre os membros. O valor moral branco acompanha esses lugares.

No curso de Odontologia existe o estereótipo da “Loira odonto”: usualmente descrita como uma mulher branca, magra, de cabelos loiros naturais, e olhos claros. Utilizo como exemplo duas situações para apresentar essa imagem da “Loira Odonto” entre os estudantes, o que reforça a percepção de uma imagem branca reconhecida normalmente.

Eu estava em um bar, em que estava cercado por seis estudantes brancos de variados cursos, e uma delas fazia Odontologia. Em determinado momento brincam falando que ela não era uma “loira odonto” porque seu cabelo era tingido. A referida menina fica nervosa, pega no cabelo e fala que é “loira odonto” sim. Todos riem, mas isso não se estende muito. (Caderno de campo, 2019)

Ela é heteroidentificada por mim como uma estudante branca, com cabelos lisos e olhos pretos. Como em variados espaços, o nível de brancura no corpo, com suas características fenotípicas confere status e valor entre indivíduos identificados como brancos (SCHUCMAN, 2012). Nessa situação ela foi relembrada que “não fazia parte” completamente do perfil racial e social do curso. Como Oracy Nogueira (2006) destaca, existem elementos sociais como habitação, posição socioprofissional, dentre outros, que afetam na percepção racial do outro. Não é uma identidade baseada simplesmente nas características físicas, mas em correlação com também outras informações.

Outra situação em que esse estereotipo foi utilizado apareceu na campanha da semana de consciência racial da UFJF de 2019111. A campanha reuniu vários estudantes negros, de pele retinta ou mais clara, e expôs em banners pela universidade. Em referência à foto do curso de Odontologia, um usuário de rede social escreve como legenda a seguinte afirmação: “A loira odonto está diferente”. Esta é a reafirmação da existência do estereótipo racial do curso, mas indica a quebra desse padrão. A utilização da ironia na frase revela tanto a critica à imagem racializada branca, quanto o orgulho de estudantes não-brancos estarem presentes nesse espaço. Ambas as situações demonstram o valor do estereótipo de “loira odonto” como referência de “perfil” do curso. A primeira estudante mesmo “acusada” de não ter todos os símbolos da brancura, ressalta, mesmo que não diga, o desejo de sê-lo. A segunda situação reafirma a importância da cota para negros para mudar essa imagem construída coletivamente, e racialmente.

111 UFJF. Campanha discute visibilidade de negros na Universidade. UFJF, 2019. Disponível em: <https://www2.ufjf.br/noticias/2019/11/20/campanha-discute-visibilidade-de-negros-na-

É notável o número de denúncias direcionadas para medicina nos dois anos. Analiso os resultados disponíveis de 2018: 9 foram considerados brancos e 27 pardos. Contudo, a definição de fraude atinge somente uma parcela da branquitude. Destaco a fala de Cristiana, estudante da UFJF que comenta sobre os resultados da comissão especificamente por causa de Medicina:

Para o número de denúncias feitas e acatadas é uma proporção pequena. Mesmo que a gente não tenha tido chance de acompanhar caso a caso, mesmo que tenhamos pedido acesso. A gente consegue identificar se tem um problema ou se realmente foi isso sabe? Acho que 9 é um número muito pequeno para Medicina. Nem eles dizem isso, que olham na sala e não tem preto. E tenho amigas que veem 3 pessoas pretas e elas entraram por ampla concorrência. Acontece com certa frequência. (Cristiana, 2019)

Segundo membros da DIAAF, somente aqueles que não se enquadram em nenhum dos três critérios que foram acatados pela comissão. Isso significa que existem casos em que o fenótipo, por mais próximo que seja do branco, teve seu caso reconhecido como sujeito de direito da cota. Esse “pardo” será absorvido pelo padrão racial universitário – “perde” sua racialidade, e retorna ao status individual de “estudante”. Um indivíduo negro, e sendo o indivíduo pardo parte desse grupo racial, nunca deixa de ser localizado pela sua raça nas relações cotidianas com o outro ou com as instituições sociais.

De forma semelhante com algumas reflexões feitas por Sales e Freitas (2019) no caso da UFV, nesta pesquisa, a UFJF somente reconhece aqueles denunciados como brancos caso não se enquadrarem em todos os critérios estabelecidos. Isso de fato reduz o número final de casos acatados. Mas permite que uma parcela de indivíduos reconhecidos fenotipicamente como brancos permaneça no curso. Em algum nível, por mais paradoxo que possa parecer, legitima a fraude112. Não se pode garantir que alguns casos, depois da comissão, passem a compreender e refletir sobre seus privilégios por serem vistos como brancos. Estes casos extremos podem estimular a fraude diante dos outros.

Em paralelo, quando se observa algumas notícias113 sobre o conflito a partir da negação da matrícula por causa das comissões de heteroidentificação. Algumas matérias destacam como

112 Por alguns estudantes possuírem experiência na forma como a instituição delibera sobre a suspeita de fraude, é possível que grupos de estudantes brancos, que desejam utilizar a cota de forma fraudulenta, construam discursos de “arrependimento” e “reconhecimento” da brancura diante da comissão. Por outro lado, ao serem reconhecidos como pardos, podem utilizar da legitimidade institucional para reafirmar a possibilidade de uso fraudulento da cota.

113 FERREIRA, Pedro. UFMG veta 346 candidatos do Sisu que se autodeclaram negros ou deficientes.

Site O TEMPO, 27 Fev. 2019. Disponível em: <https://www.otempo.com.br/cidades/ufmg-veta-346-

candidatos-do-sisu-que-se-autodeclaram-negros-ou-deficientes-1.2142162>. Acesso em: 27 Fev 2019.

“ser universitário” se torna um valor mais importante do que ser reconhecido como negro ou indígena para a cota PPI, pelos critérios estabelecidos. Algumas matérias apresentam um discurso no qual “estudantes legítimos”, mas que são somente candidatos, estariam sendo “barrados” ou “impedidos” de estudar.

O debate da fraude nesse tipo de cota é racial. Não somente sobre mérito acadêmico. Compreende-se assim, que alguns posicionamentos da mídia colocam em suspenso a possibilidade de fraude na cota para negros especificamente – como se mais importante fosse entrar na universidade desejada, e que as universidades estariam “atrapalhando” esse ingresso. Atualmente o critério fenotípico tem sido eficiente para conferir reconhecimento da identidade racial não-branca. As universidades reconhecem que a fraude é o branco, e os privilégios raciais que isso acarreta na vida do estudante.

Destaco o impacto que as denúncias de fraude tiveram entre os estudantes de medicina em 2019. Na rede social Facebook, no perfil de cada usuário, existe uma foto de capa em que normalmente estudantes trocam para expor o curso em que foram aprovados. É comum que vários estudantes coloquem em suas redes sociais a comemoração de entrada no curso pretendido. Principalmente se for medicina. Estas fotos de capas são criadas pelo Centro Acadêmico do curso, normalmente, e os estudantes usam se quiserem. Notei que enquanto no ano de 2018 os calouros ou veteranos tinham fotos comuns ao padrão. Em 2019 existe uma hashtag na imagem: “#naofraudocotas”114. Através de conversas informais soube que foi uma iniciativa do C.A daquele ano, sendo amplamente apoiada pelos estudantes de diferentes períodos. Assim, se pode perceber que a preocupação com a fraude vira uma pauta interna do curso. Mesmo que não especifiquem serem as cotas PPI, os dados oficiais apresentam um cenário de muitas denúncias nesse tipo. Ou seja, se afirmar sujeito de direito na cota também tem sido recentemente, utilizado como elemento de reconhecimento, união e respeito com outros estudantes cotistas.

Por outro lado, o curso com mais denúncias após medicina, e que se repete, no quesito de suspeita é jornalismo. Não tive condição de aprofundar a reflexão para tentar entender

FOLHA. UFMG rejeita 4 em cada 10 matrículas de candidatos autodeclarados negros. Folha de São

Paulo, 28 fev 2019. Disponível em: <https://www1.folha.uol.com.br/educacao/2019/02/ufmg-rejeita-

4-em-cada-10-matriculas-de-candidatos-autodeclarados-negros.shtml>. Acesso em: 03 jan 2020. CAPETTI, P. Comissões de verificação já impediram matrícula de 1,5 mil cotistas pelo país. O Globo,

06 fev 2019. Disponível em: https://oglobo.globo.com/sociedade/comissoes-de-verificacao-ja- impediram-matricula-de-15-mil-cotistas-pelo-pais-1-23431394 Acesso em 07 fev 2019.

114 Não fiz um mapeamento sistemático, mas pude localizar essa hashtag (#) em outras fotos de capa de estudantes de medicina na UNIRIO em 2018. O termo pode estar sendo usado a mais tempo, por mais cursos em universidade em reação à fraude como fenômeno que prejudica a universidade e o prestígio do curso.

melhor porque esse curso tem muitas suspeitas. Em 2018, todos os 6 denunciados permaneceram no curso. Em 2019, se dobrou o número de suspeitas. Por que se tem muita suspeita de fraude nos estudantes de Jornalismo? Mesmo que a instituição diga que não existe fraude no curso?

A seguir destaco algumas questões do total de casos de denúncias, feitas em 2019. Dentre os 109 casos existe a seguinte proporção:

Tabela 9 – Distribuição de denúncias de fraude por grupo de cota em 2019:

Grupo de Cota: Critérios: Quantidade:

A Escolaridade pública /Baixa-renda / Autodeclaração racial.

36

B Escolaridade pública / Baixa-renda. 5

D Escolaridade pública / Autodeclaração racial.

56

A1, D1 e E1 Reserva de vagas para pessoas com deficiência como critério aos grupos

específicos. 8 E Escolaridade pública. 2 Sem Informação - 2 Total - 109

Fonte: Elaborado pelo autor

O uso de cotas D na fraude possivelmente se justifica pelo não questionamento institucional sobre a renda do candidato. As cotas A, A1, B e B1 possuem o critério de baixa- renda. Esse tipo de critério social é muito mais difícil para ser falsamente declarado e sem ser identificado. Coloquei separadamente as cotas A1, D1 e E1 por sua característica primordial ser direcionada para pessoas com deficiência (PcD). Por isso, não é possível ter certeza se a denúncia seja por outros critérios além deste ou este. Algumas denúncias possuem informações sobre ser indeferido ou não no quesito deficiência.

A seguir, utilizando os dados disponibilizados pela ouvidoria geral115, apresento reflexões sobre as denúncias direcionadas à cota A. Exatamente por poder ser caracterizada com o critério baixa-renda e autodeclaração racial116. “A especificação para cada resultado foi criada pela ouvidora geral, alguns não são tão explicativos quanto outros.

115 Nos dados de 2018 não existe a informação da cota utilizada. Somente pude identificar um caso em que o resultado se deve pela “Denúncia improcedente: renda”. Não sei o curso ou o ano de entrada. 116 Mesmo que exista o critério de escolaridade pública de ensino médio, existem também meios

Tabela 10 - Situação informada para denúncias no grupo de cota A e A1 em 2019:

Resultado: Curso: Quantidade

de casos:

Modo e ano de entrada:

Denúncia improcedente. Medicina 1 PISM/2016

Em análise Medicina 1 PISM/2014

Pedagogia 1 PISM/2016

Matrícula cancelada Medicina 1 SISU/2019

Matrícula deferida Engenharia Civil 1 PISM/2019

Psicologia 1 PISM/2019

Medicina 2 PISM/2016; SISU/2017

Matrícula Indeferida Odontologia 1 PISM/2019

Geografia 1 PISM/2019 Matrícula Indeferida no quesito raça Medicina 1 PISM/2019 Engenharia de produção 1 PISM/2019

Engenharia Civil 1 PISM/2019

Matrícula Indeferida no quesito renda Direito 1 PISM/2019 Medicina 1 PISM/2019 Matrícula Indeferida. Recurso CONSU Odontologia 1 PISM/2019

Sem registro Medicina 1 SISU/2019

Processo de Sindicância Medicina 5 SISU/2018; PISM/2014; PISM/2018 (3) Odontologia 2 PISM/2018; SISU/2018.

Jornalismo 7 PISM/ 2015; PISM/2016; PISM/2017; PISM/2018; SISU/2015; SISU/2016 (2). Rádio, TV e Internet 1 PISM/2017 Medicina Veterinária 1 PISM/2018

BI. de Artes 1 SISU/2016

Arquitetura e Urbanismo

1 SISU/2018

Cadastrada Medicina 1 Sem informações

Cota A1: Indeferimento deficiência física

Medicina 1 SISU/2018

Cota A1: Matrícula Indeferida. Recuso CONSU.

Medicina 1 SISU/2019

Total: 38

Fonte: Elaborado pelo autor.

A partir dos dados disponibilizados, é possível ver que grande parte das denúncias foram enviadas para uma comissão de sindicância, mas nem todos os casos entraram na universidade