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Para testar as nossas expectativas baseámo-nos numa base de dados que inclui 194 eleições em democracias parlamentares e semipresiden- cialistas europeias, com presidentes, desde 1945 a junho de 2013 (a lista das democracias incluídas neste estudo está disponível no Anexo). Os dados estão organizados em painéis país/ano.

Medimos os poderes presidenciais de dissolução parlamentar com base num índice desenvolvido por Goplerud e Schleiter (2016). O índice es- quematiza os poderes constitucionais (i. e., de jure) de que os presidentes dispõem para a dissolução prematura do parlamento. Está ancorado, num extremo, no valor mínimo de 0, referente aos presidentes que não têm qualquer influência na dissolução (i. e., Eslovénia) e, no extremo oposto, no valor máximo de 10, referente à discrição completa de um presidente para a dissolução do parlamento (i. e., Finlândia 1919). O ín- dice procede de um valor máximo ao qual aplica penalizações por dife- rentes tipos de restrições à capacidade do presidente de convocar eleições antecipadas, incluindo (i) restrições ao papel de agenda setting do presi- dente na iniciação e progressão do processo de dissolução, (ii) restrições à capacidade de decidir e desencadear a dissolução, (iii) restrições tem- porais na marcação de eleições antecipadas, como, por exemplo, a proi- bição da dissolução durante parte dos mandatos parlamentar ou presi-

dencial, (iv) a capacidade presidencial para iniciar, fazer progredir ou de- cidir a dissolução com parecer vinculativo ou não de um (ou mais) atores. A classificação exata de cada uma destas penalizações está detalhada em Goplerud e Schleiter (2016). O seu índice aplica estas penalizações cumulativamente até um máximo de 10 pontos para cada presidente. Quando uma constituição prevê múltiplos caminhos para a dissolução, Goplerud e Schleiter (2016) focam-se na pontuação máxima atribuída a um presidente, transversal a todas as possibilidades que têm à disposição. Seguimos a mesma abordagem assumindo que os presidentes vão recor- rer à opção de dissolução que mais facilmente conseguirem influenciar (ver pontuações no Anexo).

Para classificar as eleições como regulares, surfing e failure elections, ba- seámo-nos na investigação de Schleiter e Tavits (no prelo). A recolha ex- tensiva de dados que levaram a cabo emprega fontes primárias e secun- dárias para classificar o tipo de eleição. Nestes dados, as surfing elections são codificadas quando há indícios de oportunismo favorável ao governo incumbente, como o aproveitamento do apoio da opinião pública, o de- sempenho forte do governo ou a fraqueza da oposição (impopularidade, divisões, falta de liderança). As failure elections são codificadas quando as eleições antecipadas são acionadas para gerir uma falha atual ou iminente do governo, como a perda de apoio ao programa legislativo do governo, a perda de confiança parlamentar, a retirada de um parceiro de coligação, a demissão do primeiro-ministro ou a ocorrência iminente de algum destes eventos (ver Schleiter e Tavits, no prelo, para mais detalhes e exemplos de codificação).

Para medir o desempenho eleitoral do incumbente, recorremos a duas medidas alternativas para os resultados eleitorais, a quota de votos e a quota de mandatos obtida pelo partido do primeiro-ministro nas eleições para a câmara baixa (ou única) do parlamento.

Finalmente, medimos a relação política do presidente com o governo registando se o partido do presidente está, ou não, no executivo, e dis- tinguimos estes casos de exemplos em que o presidente ou o governo não têm afiliação partidária (ver Fernandes e Magalhães 2016).

Análise

Tipo de eleição antecipada

O quadro 2.1 avalia a nossa primeira hipótese, respeitante à influência do presidente no tipo de eleição antecipada. Recorde-se que esperamos que os presidentes que podem exercer influência sobre a dissolução par-

lamentar aumentem a incidência de surfing elections quando os seus alia- dos estão no governo e que aumentem a incidência de failure elections quando o seu partido não está no executivo. Presidentes fracos, sem po- deres de dissolução significativos, não deverão poder interceder pelo seu partido político desta forma.

O painel superior do quadro 2.1 foca-se nos presidentes fortes (i. e., os que registam uma classificação igual ou superior a 5 no índice de poder presidencial) e demonstra que estes presidentes duplicam a frequência de surfing elections, de 6,5% para 13%, quando o seu partido está no go- verno, face a quando não está. Inversamente, quando o partido do pre- sidente não está no governo, as failure elections são mais frequentes: 39% face a 34%, quando o executivo é da mesma cor política. Estes resultados são exatamente os que se tinham antecipado na hipótese 1.

O painel inferior do quadro 2.1 foca-se nos presidentes fracos (i. e., os que registam uma classificação inferior a 5 no índice de poder presiden- cial) e sugere que estes presidentes não são suficientemente poderosos para concretizar os seus objetivos partidários. Parecem ser amplamente incapazes de ajudar os governos e precipitar surfing elections (apenas três

Quadro 2.1 – Influência presidencial na dissolução e tipo de eleições antecipadas

Partido do PR Pres./gov. Partido do PR fora do governo não partidário no governo Total

Presidente forte (poderes de dissolução > = 5) Eleição regular 17 19 41 77 (54,8) (63,3) (53,2) (55,8) Surfing election 2 2 10 14 (6,5) (6,7) (13,0) (10,1) Failure election 12 9 26 47 (38,7) (30,0) (33,8) (34,1) Total 31 30 77 138 (100,0) (100,0) (100,0) (100,0) Presidente fraco (poderes de dissolução < 5)

Eleição regular 10 16 15 41 (76,9) (66,7) (83,3) (74,5) Surfing election 1 2 0 3 (7,7) (8,3) (0,0) (5,5) Failure election 2 6 3 11 (15,4) (25,0) (16,7) (20,0) Total 13 24 18 55 (100,0) (100,0) (100,0) (100,0)

eleições deste tipo ocorreram neste conjunto de casos, nenhuma delas com o partido do presidente no governo). Ademais, a frequência das fai- lure elections não varia com a inclusão (ou exclusão) do partido do presi- dente no governo.

O desempenho eleitoral do primeiro-ministro em eleições antecipadas

O quadro 2.2 testa a segunda hipótese, que referia que os presidentes poderosos influenciam o calendário eleitoral para favorecer os seus alia- dos no governo e para prejudicar os seus opositores. Como tal, quando os presidentes têm poderes de dissolução significativos, é expectável que os primeiros-ministros cujos governos incluem o partido do presidente tenham um desempenho significativamente superior, em eleições ante- cipadas, ao daqueles cujos governos não incluem a cor partidária do pre- sidente. Presidentes mais fracos não deverão ser capazes de promover os interesses dos seus companheiros partidários da mesma forma. O quadro 2.2 testa esta expectativa.

O painel superior do quadro 2.2 foca-se nos presidentes fortes e com- para o desempenho médio, em eleições antecipadas, dos primeiros-mi- nistros que lideram governos que incluem, ou não incluem, o partido do presidente. As duas últimas colunas da tabela demonstram a difference- -of-means entre estes dois grupos e o valor p dos difference-of-means tests. Como o painel demonstra, a proporção média de votos e mandatos dos primeiros-ministros cujos governos incluem o partido do presidente é entre 12% a 13% mais elevada do que a dos primeiros-ministros cujos governos pertencem a uma fação partidária distinta. Os difference-of-means

Quadro 2.2 – Influência presidencial na dissolução e desempenho eleitoral do primeiro-ministro em eleições antecipadas

N Partido do PR N Partido do PR Difference-

fora do governo no governo -of-means Valor p

Presidente forte (poder de dissolução > = 5) Percentagem eleitoral

do partido do PM 25 25,90 36 38,10 –12,20 0,00 Percentagem de lugares

do partido do PM 25 28,92 36 41,91 –12,99 0,00

Presidente fraco (poder de dissolução < 5) Percentagem eleitoral

do partido do PM 11 26,56 3 35,47 –8,90 0,12 Percentagem de lugares

tests indicam que estas diferenças são estatisticamente significativas a nível do 1% ou melhor.

O painel inferior do quadro 2.2 foca-se nos presidentes fracos. En- quanto os primeiros-ministros que convivem com estes presidentes apa- rentam ter melhores resultados nas eleições antecipadas quando está pre- sente no governo o partido do presidente, a diferença no desempenho médio é menor (9% para a quota de votos e 5% para quota de mandatos) e nunca chega a níveis convencionais de significância estatística.

Note-se, também, que os companheiros partidários dos presidentes fortes têm um desempenho melhor, em média, nas eleições antecipadas do que os seus pares junto de presidentes fracos, enquanto os opositores de presidentes fortes têm um desempenho pior, em média, do que os seus pares que coabitam com presidentes com reduzidos poderes. Assim, os presidentes fortes parecem ser capazes de promover melhor os inte- resses eleitorais dos seus aliados, em detrimento dos opositores, a um grau superior ao dos presidentes cujos poderes de dissolução são mais reduzidos. Estes resultados suportam a segunda hipótese, que previa que os presidentes mais poderosos usassem as suas prerrogativas para anteci- par as eleições com vantagem para os seus aliados partidários e em des- vantagem para os seus opositores.

Comparar o desempenho eleitoral dos primeiros-ministros em eleições regulares e antecipadas

A nossa terceira hipótese focava o contraste entre o desempenho dos primeiros-ministros em eleições regulares e eleições antecipadas. Esperá- vamos que os presidentes fortes tivessem influência no calendário elei- toral para permitir aos seus aliados melhores resultados eleitorais, en- quanto asseguravam que os seus opositores eram penalizados nas urnas. Assim, esperamos que o desempenho dos governos que são compostos pelo partido do presidente seja melhor em eleições antecipadas, compa- rativamente às regulares, enquanto o desempenho dos governos que ex- cluem o partido do presidente deverá ser pior em eleições antecipadas. O quadro 2.3 testa esta hipótese.

O painel superior do quadro 2.3 foca-se nos governos que têm a mesma cor política do presidente e demonstra que os primeiros-ministros à frente destes governos beneficiam da antecipação das eleições. As quo- tas de votos e de mandatos são, em média, 3% e 2% superiores, respeti- vamente, em eleições antecipadas, embora as diferenças não sejam esta- tisticamente relevantes. Devem comparar-se, a estes números, os do painel inferior do quadro 2.3, referentes aos governos que excluem o par-

tido do presidente. Como estes números demonstram, estes primeiros- -ministros são, em média, penalizados em eleições antecipadas. A pro- porção média de votos e mandatos é perto de 4% inferior quando as elei- ções se realizam antes da data normal, face às eleições realizadas na altura prevista. Novamente, estas diferenças não são estatisticamente relevantes. Não obstante, estes resultados sugerem que as estratégias presidenciais que ditam a antecipação do calendário eleitoral são de natureza partidária e suportam a hipótese 3.

Em suma, as nossas descobertas demonstram que os presidentes dão uso aos seus poderes de dissolução de forma partidária. Parecem influen- ciar não só o tipo de eleição antecipada que ocorre, mas também mol- dam o calendário eleitoral em benefício dos governos que são da mesma cor política, enquanto prejudicam os governos dos opositores.