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Na construção do nosso argumento, baseamo-nos no «quadro de oportunidade política» de Margit Tavits’ (2009) para explicar o ativismo presidencial. De seguida, ampliamos e desenvolvemos este enquadra- mento para analisar a forma como os presidentes podem usar os seus poderes de dissolução parlamentar para influenciar a performance elei- toral dos incumbentes.

Os presidentes podem ser vistos como policy seeking politicians empe- nhados em usar o seu poder e a sua influência política para promover os seus objetivos políticos (Tavits 2009, 35). Na procura destes objetivos, os

presidentes preferem trabalhar com um primeiro-ministro e um governo que partilhem as mesmas preferências em termos de políticas públicas (Tavits 2009, 35). A sua capacidade de reunir um governo assim depende dos poderes constitucionais e do contexto político mais amplo em que os presidentes habitualmente operam. Neste capítulo, focamo-nos nos poderes constitucionais dos presidentes para influenciar a dissolução pre- matura do parlamento e defendemos que estes poderes são postos em prática tendo em mente preocupações partidárias. Quando os presidentes pertencem ao mesmo partido que os governos, espera-se que atuem no sentido de apoiar o governo e incrementar as suas expectativas eleitorais. Quando os presidentes não partilham, com o executivo, a orientação po- lítica, é mais provável que atuem em detrimento eleitoral do governo.

Para analisar a forma como os presidentes recorrem aos seus poderes de dissolução para moldar o destino eleitoral dos governos incumbentes, baseamo-nos na distinção entre eleições comuns e dois tipos de eleições antecipadas: as que são convocadas em benefício político do incumbente e as que resultam de uma falha do incumbente (Schleiter e Tavits, no prelo). Todos os governos têm um mandato fixo, no final do qual têm de enfrentar eleições obrigatórias e regulares. Em contraste com as elei- ções regulares, as democracias parlamentares e semipresidencialistas per- mitem, habitualmente, a marcação de eleições antecipadas como forma de resolver conflitos e para consultar o eleitorado (Linz 1994; Laver 2006; Müller et al. 2000). Estas eleições podem ser realizadas em contextos van- tajosos ou desvantajosos para o governo incumbente. Baseamo-nos na distinção de Schleiter e Tavits (no prelo) entre dois tipos de eleições an- tecipadas: as surfing elections definem-se como eleições antecipadas que são convocadas para maximizar o sucesso eleitoral do governo incum- bente. Estas eleições surgem, tipicamente, em períodos temporais que favorecem o governo, como, por exemplo, picos no apoio da opinião pública ou períodos de bom desempenho económico. As surfing elections contrastam com as eleições antecipadas resultantes de falhas do governo, a perda de apoio pelas políticas governamentais, a perda de apoio parla- mentar, a demissão do primeiro-ministro ou a desintegração do partido ou da coligação. Como Schleiter e Tavits (no prelo) demonstram, estes dois tipos de eleição têm diferentes implicações no desempenho eleitoral do incumbente. Os primeiros-ministros tendem a beneficiar de bónus consideráveis de votos e mandatos nas surfing elections, comparativamente às eleições regulares ou às failure elections (Schleiter e Tavits, no prelo). Dis- cutiremos, no final deste capítulo, como operacionalizamos, empirica- mente, ambos os tipos de eleição.

Os presidentes com poderes de dissolução significativos podem in- fluenciar a antecipação das eleições como forma de moldar a incidência de eleições surfing e failure e, consequentemente, o sucesso eleitoral dos governos incumbentes. Alguns presidentes têm total liberdade para con- vocar eleições e pode esperar-se, em relação a estes chefes de Estado, que tenham maior impacto no desempenho eleitoral dos governos. Mesmo os presidentes com níveis intermédios de poderes de dissolução têm, ti- picamente, autoridade de gate-keeping, veto ou agenda setting no que diz respeito a eleições antecipadas. Embora estes presidentes tenham de ne- gociar com outros atores políticos, a sua influência no processo pode ditar a ocorrência, ou não, de eleições surfing e failure. Ceteris paribus, presidentes mais fortes, isto é, os que podem exercer efeitos significativos na dissolu- ção parlamentar, têm mais oportunidades de ter alguma influência e de conquistar os seus objetivos políticos do que os seus pares. Se estes presi- dentes usam os seus poderes em benefício ou detrimento do primeiro- -ministro incumbente, isso dependerá provavelmente do seu relaciona- mento político com o governo. Temos em conta os efeitos dos poderes constitucionais e a pertença partidária para formular as expectativas sobre a influência dos presidentes em três cenários: (i) o tipo de eleições antecipadas que o governo enfrenta, (ii) o desempenho do partido do primeiro-ministro em eleições antecipadas, (iii) o desempenho do partido do primeiro-ministro em eleições antecipadas, em comparação às eleições regulares.

A nossa primeira hipótese foca-se no tipo de eleição antecipada. É ex- pectável que os presidentes poderosos exerçam a sua influência na ante- cipação das eleições para permitir aos seus aliados to surf, enquanto an- tecipam as falhas dos seus oponentes.

Hipótese 1: Os presidentes com poderes significativos de dissolução parlamentar aumentam a incidência das eleições surfing elections quando o governo pertence à mesma fação partidária. Quando o governo não pertence, aumenta a frequência das failure elections.

No que diz respeito ao sucesso eleitoral dos primeiros-ministros, pre- vemos que os presidentes com influência constitucional significativa na dissolução parlamentar vão usá-la para assegurar que o calendário eleito- ral suporte o desempenho eleitoral dos seus aliados e prejudique os opo- nentes.

Hipótese 2: Os presidentes com poderes significativos de dissolução parlamentar influenciam o calendário eleitoral para beneficiar o desempenho eleitoral do pri-

meiro-ministro que pertencer ao mesmo partido político, em detrimento daquele que se lhes opõe.

A terceira hipótese compara o desempenho dos primeiros-ministros em eleições regulares e eleições antecipadas. Se presidentes poderosos in- fluenciarem o calendário eleitoral para permitir, aos seus aliados, captar bónus eleitorais, ao mesmo tempo que asseguram que os seus opositores são penalizados nas urnas, devemos observar o seguinte padrão: compa- rativamente às eleições regulares, os primeiros-ministros que pertencem ao mesmo partido do presidente deverão ter um desempenho eleitoral melhor em eleições antecipadas, enquanto os que pertencem a fações políticas diferentes devem ter resultados piores.

Hipótese 3: Quando os presidentes têm poderes significativos de dissolução par- lamentar, o primeiro-ministro da mesma fação política tem melhor desempenho em eleições antecipadas do que aqueles que pertencem a uma fação diferente, com- parativamente a eleições regulares.