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Das alterações à Constituição Brasileira da Educação de 1988 e o ensino

Capítulo II – A evolução do ensino obrigatório nas Constituições Brasileiras e

II.2. A evolução do ensino obrigatório nas Constituições Brasileiras

II.2.8. Constituição de 1988 – A Constituição Brasileira da Educação

II.2.8.2. Das alterações à Constituição Brasileira da Educação de 1988 e o ensino

Das noventa e três emendas constitucionais e das seis emendas

constitucionais de revisão

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pelas quais passou a Constituição Federal de 1988

454

, pelo

menos nove emendas constitucionais e uma emenda constitucional de revisão

dispuseram sobre educação, com reflexos no acesso ao ensino obrigatório.

Sucedeu, pois, que o alargamento do período considerado como ensino

obrigatório foi inevitável, diante da necessidade de diminuir a evasão escolar no ensino

médio e da sofisticação do exercício da cidadania.

De fato, com o advento da globalização, o cidadão, participante da vida

política e social do país, precisa ter um nível educacional mais elevado do que antes,

pois quanto maior for seu nível de conhecimento, maiores serão as suas oportunidades

de participação na vida política, social e econômica

455

.

Outrossim, a teoria da indivisibilidade dos direitos fundamentais deveria ser

observada na proteção do ensino obrigatório, haja vista que a Constituição Brasileira de

1988, diferentemente da Constituição Lusitana de 1976, criou, no seu texto originário,

regimes jurídicos diferenciados entre as fases de ensino, uma vez que o artigo 208, I,

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O poder reformador brasileiro ocorre através de emendas constitucionais (artigo 60, § 4º da CF/88) e emendas constitucionais de revisão (artigo 3º do ADCT). Entretanto, desde 1995 que novas emendas constitucionais de revisão só poderão ser promulgadas se uma emenda constitucional vier a dispor sobre uma nova revisão constitucional.

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No âmbito do exercício do poder decorrente - poder que tem os Estados-membros brasileiros em criarem suas próprias Constituições, desde que respeitem as normas da Constituição Federal - impende ressaltar que todas as vinte e seis Constituições Estaduais Brasileiras mencionam a necessidade dos Estados-membros em proteger o acesso ao ensino fundamental, quais sejam: 1) Acre (artigos 188 ao 200); 2) Alagoas (artigos 198 ao 204); 3) Amapá (279 ao 291); 4) Amazonas (198 ao 204); 5) Bahia (244 ao 264); 6) Ceará (215 ao 232); 7) Espírito Santo (168 ao 180); 8) Goiás (artigos 156 ao 162); 9) Maranhão (artigos 217 ao 226); 10) Mato Grosso (artigos 237 ao 246); 11) Mato Grosso do Sul (artigos 189 ao 201); 12) Minas Gerais (artigos 195 ao 206); 13) Pará (artigos 272 ao 284); 14) Paraíba (artigos 207 ao 213); 15) Paraná (artigos 177 ao 189); 16) Pernambuco (artigos 176 ao 195); 17) Piauí (artigos 216 ao 228); 18) Rio de Janeiro (306 ao 321); 19) Rio Grande do Norte (artigos 134 ao 142); 20) Rio Grande do Sul (artigos 196 ao 219); 21) Rondônia (artigos 186 ao 197); 22) Roraima (artigos 145 ao 156); 23) Santa Catarina (artigos 161 ao 172); 24) São Paulo (artigos 237 ao 258); 25) Sergipe (artigos 214 ao 224) e 26) Tocantins (artigos 123 ao 136). O Distrito Federal acumula competência para legislar sobre matérias relativas aos Estados e aos Municípios, ao mesmo tempo, exercendo, pois, também o poder decorrente no que tange as normas que são de competência estadual. Sua Lei Orgânica dispõe sobre o direito ao ensino fundamental nos artigos 221 ao 245.

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Cf. DENISE COSTA, Direito fundamental à educação, democracia e desenvolvimento sustentável. Belo Horizonte, 2011. p. 83.

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inicialmente, só considerava como obrigatório, universal e gratuito a etapa do ensino

fundamental.

Sucedeu, então, que o legislador reformador, não satisfeito com a

prevalência do ensino fundamental sobre as demais etapas, promoveu alteração na

Constituição Brasileira de 1988, já por três vezes, para proteger o ensino básico como

um todo obrigatório.

Primeiramente, foi promulgada a Emenda Constitucional n°14 de 1996, que

alterou a redação do artigo 208 da CF/88, atestando que o dever do Estado com a

educação será efetivado mediante a garantia de ensino fundamental, obrigatório e

gratuito, assegurando, inclusive, sua oferta gratuita para todos os que a ele não tiveram

acesso na idade própria (art. 208, I) e a progressiva universalização do ensino médio

gratuito (art. 208, II).

Entretanto, a partir da Emenda Constitucional n. 53, de 19 de dezembro de

2006, foi reduzido o limite de idade do menor que terá assistência gratuita em creches e

pré-escolas de 06 (seis) para 05 (cinco) anos de idade (novo art. 208, IV).

E, finalmente, com a terceira e decisiva alteração promovida pelo legislador

reformador, na proteção e alargamento do ensino obrigatório foi através da Emenda

Constitucional n° 59 de 11 de novembro de 2009, que encerra expressa e

definitivamente, a hierarquização das fases de ensino na educação brasileira, pois

determina, no artigo 208, I, que a educação básica será obrigatória e gratuita dos 4

(quatro) aos 17 (dezessete) anos de idade, e não mais compulsória apenas a etapa do

ensino fundamental, assegurada inclusive sua oferta gratuita para todos os que a ela não

tiveram acesso na idade própria, exigindo sua implementação, progressivamente, até

2016, nos termos do Plano Nacional de Educação, com apoio técnico e financeiro da

União

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.

O novo artigo 208 da CF/88 passou a estabelecer educação básica

obrigatória e gratuita dos 4 (quatro) aos 17 (dezessete) anos de idade, assegurada

456

A EC n° 65, de 2010, veio a reforçar a preocupação da educação da juventude, preconizando, inclusive, que será criado o estatuto da juventude: ―Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão‖. A Lei 12.852, de 5 de agosto de 2013, por sua vez, criou o Estatuto da Juventude.

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inclusive sua oferta gratuita para todos os que a ela não tiveram acesso na idade própria

(art. 208, I), tendo motivado o legislador ordinário a promover alterações na Lei n.

9.394/96 - LDB – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, através da

12.796/2013.

Com efeito, preconiza a LDB um conjunto exaustivo de normas, não só

sobre o direito à educação, mas também sobre o dever de educar.

Estabelece que a educação escolar será integrada por duas etapas: a)

educação básica, formada pela educação infantil

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, ensino fundamental e ensino médio;

b) educação superior (artigo 21).

A educação básica, por sua vez, será obrigatória e gratuita dos 4 (quatro) aos

17 (dezessete) anos de idade e organizada da seguinte forma (artigo 4°):

a) pré-escola, para as crianças de 4 (quatro) a 5 (cinco) anos de idade

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;

b) ensino fundamental, com duração de 9 (nove) anos, gratuito na escola

pública, iniciando-se aos 6 (seis) anos de idade, que terá por objetivo a formação básica

do cidadão;

c) ensino médio, com duração mínima de três anos, sendo garantido acesso

público e gratuito aos ensinos fundamental e médio para todos os que não os concluíram

na idade própria.

Além disso, será garantido: a) atendimento ao educando, em todas as etapas

da educação básica, por meio de programas suplementares de material didático-escolar,

transporte, alimentação e assistência à saúde; b) padrões mínimos de qualidade de

ensino, definidos como a variedade e quantidade mínimas, por aluno, de insumos

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Sobre a educação infantil, cf. artigos 29 ao 31 da LDB:

―Art. 29. A educação infantil, primeira etapa da educação básica, tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança de até 5 (cinco) anos, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade.

Art. 30. A educação infantil será oferecida em:

I - creches, ou entidades equivalentes, para crianças de até três anos de idade; II - pré-escolas, para as crianças de 4 (quatro) a 5 (cinco) anos de idade.

Art. 31. A educação infantil será organizada de acordo com as seguintes regras comuns

I - avaliação mediante acompanhamento e registro do desenvolvimento das crianças, sem o objetivo de promoção, mesmo para o acesso ao ensino fundamental;

II - carga horária mínima anual de 800 (oitocentas) horas, distribuída por um mínimo de 200 (duzentos) dias de trabalho educacional;

III - atendimento à criança de, no mínimo, 4 (quatro) horas diárias para o turno parcial e de 7 (sete) horas para a jornada integral;

IV - controle de frequência pela instituição de educação pré-escolar, exigida a frequência mínima de 60% (sessenta por cento) do total de horas;

V - expedição de documentação que permita atestar os processos de desenvolvimento e aprendizagem da criança.‖

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Também foi alterada LDB para estabelecer que é dever dos pais ou responsáveis efetuar a matrícula das crianças na educação básica a partir dos 4 (quatro) anos de idade (artigo 6.º).

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indispensáveis ao desenvolvimento do processo de ensino-aprendizagem; c) vaga na

escola pública de educação infantil ou de ensino fundamental mais próxima de sua

residência a toda criança a partir do dia em que completar 4 (quatro) anos de idade.