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Capítulo I – A afirmação histórica do ensino obrigatório como dever fundamental

I.3. No Estado moderno

I.3.7. PUFENDORF

Na Alemanha, entre os juspolitólogos que mais se destacaram neste período

de afirmação do Estado moderno sobre a temática dos deveres está SAMUEL

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JOHN LOCKE, Dois Tratados do Governo Civil, Lisboa, 2006, pp. 275, afirma que ―a liberdade do homem e a liberdade de agir de acordo com sua própria vontade fundamentam-se no facto de que está dotado de razão, e que esta é capaz de o instruir na lei segundo a qual ele se deve governar e dar-lhe a conhecer a margem de que goza para exercer a liberdade da sua própria vontade‖.

237

Cf. JOHN LOCKE, Alguns Pensamentos Sobre a Educação, Lisboa, 2012, pp. 14 e 15.

238 JOHN LOCKE, Alguns Pensamentos Sobre a Educação, Lisboa, 2012, p. 54, entende que ―a boa educação dos filhos é de tal forma um dever e a missão dos pais, e o bem-estar e a prosperidade das nações depende tanto dela, que gostaria de levar esta convicção ao coração de todos. E depois de terem examinado bem e distinguido aquilo que a fantasia, o costume ou a razão ensinam sobre este tema, gostaria que todos contribuíssem com o seu apoio para difundir essa convicção de que a forma de educar a juventude relativamente à sua distinta condição é também o modo mais fácil, simples e adequado para produzir homens íntegros, hábeis e úteis nas suas distintas vocações; e que a vocação ou profissão que maior atenção merece é a do cavalheiro. Porque, se aqueles que pertencem a essa categoria, são colocados, graças à educação, no caminho recto, rapidamente também colocarão em ordem os outros‖.

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PUFENDORF

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(1632-1694), que foi um dos primeiros autores a defender que o

direito natural se assentava nas convenções sociais e não em valores transcendentes.

PUFENDORF sustentava que existiriam deveres: i) do homem para com

Deus – deveres como o Ente Soberano, ii) deveres do homem para consigo – o que o

distingue dos animais e iii) deveres do homem para com os outros homens – não fazer o

mal para ninguém e reparar o dano causado

240

.

Sucede, pois, que para PUFENDORF, o conhecimento humano derivaria do

seu dever, do que seria adequado fazer, ou do que deveria ser evitado, derivando de três

fontes ou nascentes: i) da Luz da Natureza, aqueles deveres que constituem o homem

como uma criatura sociável com o restante da humanidade; ii) das Leis e Constituições

dos Países, aqueles deveres do homem enquanto membro de uma comunidade e iii)

Revelação de Deus Todo-Poderoso, que seriam aqueles deveres de um homem

cristão

241

.

Ademais, já destacava PUFENDORF que o cumprimento dos deveres por

parte dos cidadãos estaria condicionado a quatro condições essenciais: i) que o objeto da

ação esteja disponível; ii) que se tenha um lugar adequado; iii) que haja um tempo

próprio e iv) que haja força natural suficiente para a execução, até porque ―homem

239 SAMUEL PUFENDORF, Os deveres do homem e do cidadão de acordo com as leis do direito

natural, Rio de Janeiro, 2007, p. 57, conceituou a palavra dever como ―Aquela ação de um Homem, que é

regularmente organizada de acordo com alguma Lei escrita, a que ele é obrigado a obedecer‖, observando-se que a ação humana seria aquela ―empreendida pela Luz do Entendimento e por Escolha da Vontade‖. PUFENDORF acreditava que apenas um governo civil forte poderia garantir a segurança e a paz social, promovendo a deslegitimização do Estado e a laicização do Estado. Sua obra influenciou a formação teórica, política e moral de gerações, inspirando os princípios da Constituição Norte-Americana de 1787.

240 A obra Deveres do homem e do cidadão de SAMUEL PUFFENDORF (1632-1694) foi publicada em latim, De officio hominis et civis, em 1673, tendo sido publicada, posteriormente, em 1691, com o título The Whole Duty of Man, According to the Law of Nature. Ele defendia que: ―Os Deveres que, pelo Direito Natural, cabem ao Homem parecem mais adequadamente ser divididos de acordo com os Objetivos a que estão relacionados. Com respeito ao que, são classificados sob três Divisões principais: a primeira das quais nos dá Orientação sobre como, pelos simples ditames da Razão correta, o Homem deveria comportar-se com relação a Deus; a segunda contém nosso Dever para conosco próprios; e a terceira, para com os outros Homens‖.

241 Defendia, portanto, esse famoso advogado civilista e Professor de Direito Natural e das Nações de Heidelberg, Os deveres do homem e do cidadão de acordo com as leis do direito natural, Rio de Janeiro, 2007, p. 41, que ―daí procederem três Ciências distintas: A primeira das quais é o Direito Natural, comum a todas as Nações; a segunda é o Direito Civil ou Municipal, peculiar a cada País, que é ou pode ser tão múltipla e variada quantos são os diferentes Estados e Governos que há no Mundo; a terceira é

Divindade Moral, em contraste com aquela Parte da Divindade que cuida de explicar os Artigos de nossa

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nenhum é responsável por não fazer o que extrapolava seu Poder, e que ele não tinha

Força suficiente para impedir ou realizar”

242

.

Entretanto, foi PUFENDORF quem primeiro trouxe as primeiras noções do

que este autor denomina de Teoria da recompensa dos deveres fundamentais.

Sem embargo, ao tratar sobre a função dos deveres, PUFENDORF esclarece

que as restrições às liberdades naturais têm o propósito de que ele venha a usufruir de

benefícios

243

.

De fato, a compensação de que o destinatário de um dever venha a respeitar

às imposições legais consiste na efetividade dos direitos. Qual é o benefício para um

indivíduo ele ter que respeitar deveres? Restringir suas liberdades? Assegurar o respeito

das mesmas. A inclinação do ser humano a viver em sociedade deriva da razão de que é

mais vantajoso para o próprio viver dessa forma, e, consequentemente, caberá a ele a

fazer as opções mais atraentes para o seu próprio bem-estar.

Vale dizer, cumprir com os seus deveres vale a pena para poder usufruir de

direitos.

Ademais, PUFENDORF já assinalava que a busca do bem público por

qualquer Estado ou Governo corresponde aquela opção mais vantajosa dentre o

conjunto de vantagens de homens isolados, que estará consagrado na Constituição

244

.

242 Cf. SAMUEL PUFENDORF, Os deveres do homem e do cidadão de acordo com as leis do direito

natural, Rio de Janeiro, 2007, p. 72.

243

SAMUEL PUFENDORF, Os deveres do homem e do cidadão de acordo com as leis do direito

natural, Rio de Janeiro, 2007, p. 83, defende que ―seria uma tolice e sem nenhum propósito impor uma

Restrição à Liberdade natural da Vontade de algum Homem, se ninguém receberá daí nenhum Benefício‖.

244 Para SAMUEL PUFENDORF, Os deveres do homem e do cidadão de acordo com as leis do direito

natural, Rio de Janeiro, 2007, pp. 292 e 293, ―além do mais, para que alguma Sociedade se possa unificar

segundo uma Maneira regular, são exigidos Duas Convenções e Um Decreto, ou Constituição. Pois, primeiro, de todos os muitos que se espera que estejam em uma Condição de Liberdade Natural, quando eles se unem para formar e constituir alguma Sociedade Civil, cada Pessoa entra em Convenção uma com a outra, pois que estão dispostas a entrar em uma duradoura Aliança e Associação e a pôr em prática os Métodos de sua Segurança e Salvaguarda por meio de Consulta e Gerenciamento comuns entre elas: em uma Palavra, que estão dispostos a se fazerem Companheiros da mesma Sociedade. Para qual Convenção é um Requisito que cada Pessoa isolada consinta e concorde. E quem não dá o seu Consentimento permanece excluído dessa Sociedade. Após essa Convenção, é necessário que haja uma Constituição pactuada por um Decreto público, estabelecendo que Forma de Governo deverá ser escolhido. Pois, enquanto isso não for determinando, nada se poderá resolver com alguma Certeza, que possa conduzir à Segurança Pública‖.

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Com efeito, o pensamento político de PUFENDORF já anunciava,

indiscutivelmente, que a efetividade das normas constitucionais num Estado

democrático dependeria da identificação dos súditos com os seus deveres

245

, que será

alcançada através do cumprimento do dever dos pais em assegurar educação hábil e

sensata em relação aos seus filhos

246

.