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DAS CIDADES DO EIXO ATLÂNTICO

No documento Turístico / Alojamento Local (páginas 139-145)

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A pressão turística sobre os centros históricos e centros urbanos das nossas cidades não afetou apenas o setor habitacional, o comércio e a hotelaria também sofreu sérias transfor- mações ocasionadas pela chegada massiva de turistas.

O processo de gentrificação residencial, que na maioria dos casos surge depois da reurba- nização e reabilitação concretizada nesses lugares – deslocações residentes com menor ren- dimentos para outras zonas da cidade mais acessíveis – e que se produz de novo pela mão da economia colaborativa desregulada – deslocações de residentes por turistas -, une-se um novo processo de gentrificador derivado da adaptação dos seus habitantes às necessidades destes novos moradores.

O comércio tradicional em Espanha e Portugal67 encontra-se num momento de crise, crise

esta que não afeta unicamente o comércio existente nos centros históricos. A proliferação de centros comerciais das últimas décadas, o aumento as franquias de multinacionais e o incremento da venda online, gerou uma crise no comércio tradicional que fez que só peque- nas zonas da cidade pudessem manter o ritmo e pulso comercial das décadas passadas, fazendo-o apoiadas, principalmente, em franquias muito reconhecidas de grandes marcas que funcionam como motores comercias.

67 Excetuam-se os locais dedicados ao comércio de produtos portugueses (tradicionais e de desenho) que, as cidades de maior

atratividade turística mantiveram um a dinâmica de crescimento muito associada ao incremento do prestígio e reconhecimento da marca Portugal nos diferentes mercados externos. Tratase de estabelecimentos que ou nasce, com uma oferta especialmente dirigida para esses mercados ou que se renovaram em termos de desenho do estabelecimento para responder a esse perfil.

Entre estas alterações que sofrei o setor terciário, nos centros históricos/urbanos das nossas cidades há que destacar a perda de comercio de proximidade e de bairro que vinha dando resposta às necessidades diária da população local, produzindo-se um desequilíbrio econó- mico entre atividades, ao reduzir a diversidade de usos comercias68.

A redução da população residente, devido à gentrificação residencial produzida devido ao incremento de usos turísticos através das VUT/AL, provoca uma redução da procura dos arti- gos quotidianos que faz cada vez menos atrativa a zona para a captação de novos residentes a médio e longo prazo, gerando não apenas uma redução das atividades de proximidade ou quotidianas mas também o desaparecimento de atividades tradicionais ou emblemá- ticas da cidade, que até ao momento a caracterizava e singularizava, como parte do seu património cultural imaterial. Mais, de forma paralela, produz-se uma saturação de outros usos relacionados com a nova procura que, na sua maioria dos casos derivam na oferta de produtos e serviços que não aportam singularidade ao visitante e que este poderia encontrar em qualquer localidade da envolvente.

O incremento da procura de locais comerciais vinculados a atividades, especialmente, de restauração, hotelaria e venda de souvenirs ao visitante, é outro dos fatores que explicam a expulsão do comércio tradicional. O encarecimento das rendas, que pode ser assumido por estes novos consumidores, não pode ser enfrentado pelos comerciantes tradicionais, ampliando o problema, especialmente nos centros históricos já ameaçados por uma pior acessibilidade automóvel.

A esta tendência generalista, em zonas mais centrais ou turísticas junta-se a proliferação de comércios e hotelaria relacionados com o turismo que podem pagar rendas maiores e que expulsam o comércio tradicional e o aumento do preço dos estabelecimentos devido ao au- mento da procura, aspetos que ampliam o problema.

Se bem e da mesma forma que se indicou para o uso residencial turístico, em alguns casos de cidades do Eixo Atlântico, o comércio turístico é um fator positivo e ajuda a ativar a revita- lização dos centros históricos num elevado estado de degradação, noutros já muito renova- dos, estas atividades turísticas representam, para a vizinhança, mais que uma oportunidade, um problema mais. Como no caso do uso turístico da habitação, o ordenamento dos usos terciários turísticos, a sua regulamentação e controlo para a normal convivência coma popu- lação local são pedras angulares para um desenvolvimento sustentável da atividade turística e a construção de bairros com alta qualidade de vida.

68 O relatório municipal “As vivendas de uso turístico na cidade histórica” do concello de Santiago de Compostela, elaborado

com carater prévio à modificação do Plan Especial de protección e rehabilitación da cidade histórica (ver quadro 17), indica que as atividades de hotelaria e restauração da Almendra medieval supõe 27,6% e 25,2% respetivamente das atividades de hotelaria e restauração na área municipal, de acordo com os dados do IAE de 2016. Indicar somente a modo informativo que de acordo com o INE do ano de 2015, a população recenseada na Almendra ascendia a 10.477 pessoas sobre as 95.612 recenseadas na almendra em todo o termino municipal.

Outro fator que está a afetar, com um alto impacto, os centros históricos é o aparecimento de empresas de lazer e mobilidade focados nos turistas que encheram o espaço publico de veículos de transporte ou de empresas que oferecem todo o tipo de serviços e bens a esses turistas, em geral, de alto impacto visual e que não apenas não oferecem serviços de inte- resse aos residentes locais mas também representam uma alta ocupação do espaço público restringindo esse espaço para as atividades quotidianas.

Neste contexto, interessa sublinhar que as cidades de maior atratividade turística do Eixo At- lântico são afetados também por uma massificação dos circuitos de visita do seu património que, devido ao elevado número de utilizadores que se sobrepõem e “fagocitam” os circuitos naturais dos seus residentes (sociais, de lazer ou inclusivamente laborais) que se vêm obriga- dos a reinventar a forma em que se movimentam na sua cidade.

A revisão do modelo comercial nas cidades da Galiza e do Norte de Portugal excede em muito o âmbito deste relatório e das politicas turísticas em geral mas evidentemente, o tu- rismo tem uma clara influência no comércio e as cidades galegas e portuguesas deveriam ponderar uma politica de comércio compatível com a turística de forma a melhorar e cuidar da qualidade de vida dos seus bairros, em especial dos centros históricos, ao mesmo tempo que se potencia a atividade comercial como um serviço chave na geração de emprego e desenvolvimento económico.

A política turística tem um importante caracter transversal e tem uma influencia em aspetos socioeconómicos muito diversos, a pressão turística nas zonas centrais monumentais afeta não apenas o uso residencial, mas também o comercial, terciário, os serviço e, em geral, o uso do espaço público das cidades em âmbitos especialmente sensível pelo seu valor patri- monial e comunitário.

Da mesma forma que apontamos para o uso residencial, as cidades devem ter presente as influências do turismo nas suas atividades comerciais e terciárias e no uso do escasso espaço público, em especial, nos centros históricos de valor patrimonial. O seu ordenamento, como no caso residencial, volta a assumir-se como chave para o desenvolvimento sustentável.

PROPOSTAS E ESTRATÉGIAS PARA O ORDENAMENTO

No documento Turístico / Alojamento Local (páginas 139-145)