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Para Polit, Beck e Hungler (2004) ao serem efetuadas pesquisas em enfermagem, geralmente os sujeitos da investigação são pessoas, por isso, o investigador necessita certificar, com muita precaução, que os seus direitos sejam assegurados. Deste modo, qualquer trabalho de investigação a ser realizado implica, por parte do investigador, um profundo conhecimento e respeito pelos direitos humanos, bem como dos aspetos éticos e morais, de modo a garantir que a individualidade humana seja preservada. Aliás, como refere Carpenter (in Streubert e Carpenter, 2011), para se realizar um trabalho de investigação há que assumir um compromisso, que implica a responsabilidade pessoal e profissional em assegurar terminantemente os direitos dos participantes envolvidos na pesquisa, bem como as orientações do Relatório de Belmont que, de modo muito concreto, procura alertar para o respeito pela dignidade da pessoa humana, identificando princípios éticos básicos que devem nortear as investigações que envolvem seres humanos. Nesta senda, por se compreender o que essa ideologia significa, procurou-se desenvolver

95 procedimentos que garantissem que a pesquisa fosse conduzida sob a égide de tais princípios.

Para a recolha de dados, foi pedida a anuência por escrito à USISM, antecedida por uma reunião com a diretora da instituição, a explicar qual a finalidade do estudo, bem como o modo como iria decorrer a colheita de dados, anexando ao documento oficial o formulário de consentimento informado (Anexo 8) e o guião que norteou a colheita de dados.

Uma vez que a Unidade de Saúde de Ilha tinha surgido recentemente, pela fusão dos diferentes centros de saúde existentes na ilha, foram solicitadas reuniões com os enfermeiros diretores dos Centros de Saúde de Ponta Delgada, Vila Franca do Campo, Povoação, Nordeste e Ribeira Grande, onde foi possível clarificar os objetivos do estudo e obtidas as devidas permissões orais, bem como as orientações para que fosse possível falar com as enfermeiras responsáveis pela área de Saúde Materna.

Outro aspeto salvaguardado, e que se considera importante, foi a de se estar atentos às reações das participantes durante toda a entrevista, com a finalidade de se reconhecer de forma oportuna, sinais de desconforto, sofrimento ou outros, que pudessem interferir/agravar a situação de saúde emocional das participantes e condicionar o desenrolar da entrevista.

Outra questão ética a se considerar teve a ver com o respeito pela autonomia das puérperas e, portanto, com a sua liberdade em participar ou não no estudo, garantindo-lhes esse direito de forma voluntária. Às que acederam participar, foi solicitado o consentimento informado, procurando garantir que estariam suficientemente esclarecidas acerca do modo como iria decorrer a entrevista, da necessidade de a gravar em áudio, bem como acerca da possibilidade de colocarem as suas dúvidas, de recusarem a dar informações/responderem a determinada questão ou até de interromperem a sua participação. Neste sentido, com cada uma das participantes houve sempre espaço para uma conversa informal, não só como quebra-gelo, para que se sentissem à vontade para aceitar ou declinar a sua participação, mas também como forma de garantir o esclarecimento de dúvidas.

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Uma vez que o investigador exerce a sua atividade laboral no Serviço de Obstetrícia do HDESPD, EPE, havia a probabilidade de se cruzar com as participantes no estudo aquando do seu internamento, pelo que houve sempre o cuidado de não abordar o assunto da investigação, de modo a que, aquando dos contatos para as entrevistar, não se sentissem coagidas a participar no estudo. Deste modo respeitou-se o seu direito à autodeterminação, garantindo que não se sentissem forçadas a participar no estudo.

Embora este pudesse ser um risco, considero que foi uma vantagem, uma vez que, na maioria dos casos, já havia sido estabelecido uma relação de confiança que permitiu o desenrolar das entrevistas de forma natural, sem reservas, permitindo a expressão de sentimentos, favorecendo a partilha de assuntos da sua intimidade e privacidade. No entanto, constitui sempre preocupação salientar a possibilidade de optarem por aceitar, declinar ou, interromper a sua participação, sendo a sua participação de caráter voluntário.

Foi salvaguardado, também, o direito à confidencialidade dos dados, que constava do consentimento informado, que incluía também a garantia de que seria mantida, mesmo com a gravação das entrevistas, esclarecendo que, após a sua transcrição, seriam apagadas. Esta informação permitiu evitar o desconforto de pensarem que eventualmente alguém associaria a voz gravada às suas identidades. Saliente-se que este compromisso assumido com as participantes foi colocado em prática, tendo sido eliminada toda a informação passível de identificar alguma das participantes, familiares ou profissionais. Saliente-se também, que todos os nomes foram eliminados e substituídos por outros fictícios. Também foi substituída qualquer outra informação que pudesse identificar a participante. A título de exemplo, se a participante se refere ao seu marido chamando pelo nome próprio, na transcrição da entrevista aparece

marido. Se se referir à enfermeira x, na transcrição aparece enfermeira.

Foi preocupação cumprir as orientações de Gómez, Flores e Jiménez (1999), no que se refere ao início da gravação. Os autores alertam que só após os participantes darem o seu consentimento é que se deve começar a

97 gravar e aconselham ter o cuidado de verificar o funcionamento do mesmo.

No decorrer das entrevistas, houve sempre a preocupação de se evitar a emissão de juízos de valor ou imposição de valores/princípios às puérperas, adotando uma postura empática, isenta, humilde e rigorosa do ponto de vista científico.

Foi dada, ainda, a possibilidade de todas as participantes escolherem o local e a hora que preferiam, para a realização das entrevistas, no sentido de perturbar o menos possível as suas atividades quotidianas e responsabilidades enquanto mãe. Foi facultada, a todas as participantes, os contatos do investigador, caso houvesse a necessidade de o contatar. Creswell (2003) enumera questões éticas a considerar em associação com várias componentes do processo de pesquisa, com destaque para a própria formulação do problema, do propósito e das questões da investigação, a recolha de dados, a sua análise e interpretação e, finalmente, a disseminação de resultados.

A par dos princípios éticos, existem outros relacionados com o rigor científico e a qualidade da investigação qualitativa, importantes para a preservação do diálogo, de forma autêntica e respeitosa e na redação do relatório de investigação, e que se procurou seguir na elaboração desta investigação. De acordo com Creswell (2003), o investigador deverá clarificar a sua posição teórica e epistemológica, condição importante para se efetuar uma boa pesquisa qualitativa, justificando a opção pelo método escolhido e a sua adequação ao problema em pesquisa, bem como pela seleção da amostra, recolha de dados e sua análise, de forma a clarificar a transparência da investigação. Relativamente ao tratamento e análise dos dados, esteve sempre em mente todo o processo interativo permanente entre os dados, a sua codificação e interpretação, a inclusão de testemunhos que fundamentam as conclusões e o destaque da informação negativa/discrepante, foi assegurado (Creswell, 2003; Meyrick, 2006). A escrita de memos sobre os códigos, categorias e suas relações contribuiu, de igual modo, para a confiança/segurança e validade desta pesquisa. Acrescente-se que a amostragem teórica, o desenvolvimento

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conceptual e a descrição detalhada do método utilizado, adicionam transferibilidade das descobertas para serem usadas em outros estudos. De modo sucinto, procurou-se seguir as orientações de Corbin e Strauss (2008), de forma a assegurar e manter o rigor do processo investigativo, que recomendam ter em atenção os seguintes critérios:

Adequação: os resultados devem refletir a experiência dos participantes, revendo-se na história, ainda que nem todos os detalhes se apliquem a todos;

Aplicabilidade ou utilidade: os resultados devem fornecer novas explicações, acrescentar conhecimento e poder ser utilizados para mudar a prática;

Conceitos: os resultados devem ter conteúdo, devendo ser desenvolvidos em termos das suas propriedades e dimensões, de forma a se verificar densidade e variação;

Contextualização dos conceitos: os resultados devem ser relacionados com o contexto, pois só assim é possível compreender o porquê de determinados acontecimentos, a razão dos significados que são atribuídos aos acontecimentos, ou o motivo pelo qual as experiências acontecem de uma forma e não de outra;

Lógica: os resultados devem fazer sentido e conter o mínimo de lacunas, para que o leitor não fique confuso, nem com dúvidas de que alguma coisa não está correta;

Profundidade: os detalhes descritivos enriquecem os resultados;

Variação: ao incluir variações, o investigador demonstra a complexidade da vida humana, pelo que os resultados devem conter variações, com exemplos que não obedecem ao padrão e que mostram as diferenças nas propriedades e dimensões;

Criatividade: apresentação dos resultados de forma criativa e inovadora;

Sensibilidade: o investigador deve demonstrar ser sensível aos dados e aos participantes, devendo as questões derivar da colheita de dados;

Evidência de memos: deve haver evidência e discussão de memos no final do relatório.

99 Para os autores, estes critérios constituem linhas orientadoras, o que significa que os procedimentos de investigação e os critérios de avaliação podem ser modificados. Ainda assim, salientam que outro investigador pode discordar das conclusões desenvolvidas pelo investigador original e que apenas o investigador que realizou a colheita de dados e esteve imerso neles pode confirmar os resultados.

Por esta razão, optou-se por uma descrição pormenorizada do estudo realizado e os aspetos fundamentais, como sejam os objetivos, a pergunta de partida, algumas das entrevistas transcritas e respetivo tratamento de dados, foram discutidos e analisados com a orientadora do estudo. Acrescente-se que após a análise e interpretação de cada entrevista, foi feita a validação com cada uma das participantes.

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Capítulo 2