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4 – TRANSIÇÃO PARA A PARENTALIDADE DE MULHERES EM RISCO DE DESENVOLVEREM DPP

Após a redução máxima do processo de codificação, que tinha originado a construção dos códigos, categorias e subcategorias, procedeu-se à sua organização, reanalisando-as, comparando-as e ordenando-as, percebendo as suas inter-relações, o que fez com que emergisse a categoria central deste estudo “Ser-se mãe em risco de Depressão Pós-Parto: construção de um processo de transição para a parentalidade”, dando início a um

modelo explicativo do fenómeno em estudo.

Na sequência da reorganização das categorias e após perceber as suas interconexões, foi possível identificar os elementos constituintes do Modelo Paradigmático de Corbin e Strauss (2008), a saber: condição causal, contexto, estratégias de ação/interação, condições intervenientes e consequências. A construção do processo de transição para a parentalidade, da mulher em risco de DPP, não decorre exclusivamente de um fator ou causa. São, na verdade, inúmeros os fatores e acontecimentos que podem contribuir para que este fenómeno se configure e que interaja, obrigatoriamente, entre si, de forma a se encontrar o significado, consequência da relação com vários e diferentes elementos, mas também sofrendo influência direta da consciência reflexiva, que vão dando origem à construção do processo de transição da mulher em risco de DPP. A figura 5 que se apresenta de seguida, pretende ilustrar o relacionamento das categorias com o fenómeno, enquanto categoria central, em diferentes estádios de transição para a parentalidade.

De seguida, serão detalhados cada constructo, incluindo as categorias e subcategorias que o compõe, de forma a perceber de que forma os elementos estruturais e processuais transcorrem e são transcorridos pelo fenómeno. Para melhor compreender a sua hierarquia, optou-se por utilizar diagramas. No início da exploração de cada constructo é apresentado um diagrama sintético que inclui as relações entre constructo e categorias. Aquando da explanação de cada categoria, são apresentados diagramas que demonstram as relações entre as categorias e

111 subcategorias. Quando, ao longo do texto, se referencie pela primeira vez as categorias, será assinalado com letras maiúsculas, as subcategorias a negrito e as sub-subcategorias a itálico.

Figura 5 - Diagrama do fenómeno em estudo de exercício da

parentalidade da mulher em risco de DPP

4.1 – Condição causal – Reconhecendo um período de incógnita e ansiedade

Como Condição causal – Reconhecendo um período de incógnita e

ansiedade pode-se entender o evento que levou ao desenvolvimento do

fenómeno, neste caso a incógnita e a ansiedade desencadeada pela chegada de um filho (Staruss e Corbin, 2008). A novidade que é tornar-se mãe parece confrontar a mulher com um período de incertezas e incógnitas que a cercam desde o dia em que descobre que está grávida, até ao período puerperal. Aquando da descoberta de que se está grávida muitas são as incertezas que se instalam. O receio da maternidade, do que representa e as incógnitas relacionadas com o bem-estar fetal estão presentes ao longo da gravidez, enquanto no puerpério os cuidados ao bebé e a recuperação da imagem corporal, são as preocupações dominantes. No meio da incerteza, há, porém, uma convicção: a de que

Condição Causal:

Reconhecendo um período de incógnita e ansiedade Contexto de interação:

Domicílio

Respostas parentais Condições Intervenientes

Estratégias utilizadas para lidar com a DPP e com a

Parentalidade

Consequências Ser-se mãe em risco de Depressão Pós-Parto: construção de um

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tudo “é estranho, muito estranho! Só temos mesmo uma certeza: nunca

mais nada será como antes! Não sabemos de mais nada… quando ficamos grávidas nem sabemos se queremos ou não… nem como ele vai ser. Só sabemos que nada mais será igual…!” refere Maura, reconhecendo um

período de incógnita e de ansiedade (figura 6).

Figura 6 – Diagrama do constructo Condição causal – reconhecendo um

período de incógnita e de ansiedade

A noção de que se vai ser mãe parece, como já referido, despertar na mulher um período de desnorteamento, que se prolonga pela gravidez e puerpério, ainda que relacionando-se com aspetos distintos. Todavia, como em qualquer situação, a CONFRONTAÇÃO COM A REALIDADE impõe- se (Figura 7). Esta é uma condição causal que surge logo após a novidade de estar-se grávida, mas que se prolonga até ao puerpério, isto porque há sempre a necessidade de se confrontar com a chegada do bebé, transformando-se enquanto mulher, adquirindo novos papéis repletos de exigências e responsabilidades. A situação é tão mais dilemática, quando se depara com o bebé real, em tudo distinto do bebé imaginário. Esta constante confrontação com a realidade exige a infinita capacidade de adaptação às circunstâncias que são impostas pelo processo de maternidade, mesmo que vivam algum desnorteio, confrontados até à exaustão, com a pergunta de quando e como sairá da crise em que se encontra.

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Figura 7 - Diagrama da categoria Confrontação com a realidade

“Às vezes parecia que era mentira… só acreditei mesmo que estava grávida quando eu vi a barriga a crescer… aliás, nem mesmo assim! Acho que foi só mesmo depois de fazer a primeira ecografia e vi o coraçãozinho a bater. Aí é que a realidade caiu em mim e eu pensei para mim ‘Estás mesmo grávida!’ ” (Iva) “Eu penso que não foi fácil eu aceitar a realidade… eu bem que sabia que estava grávida, porque o teste tinha dado positivo e a enfermeira tinha-me dito, mas eu não sei se era eu que não acreditava se era eu que não queria acreditar!!! Mas pronto. Depois não tive outro remédio tive de me confrontar com o facto de estar grávida… mas acho que foi só depois de sentir ele mexer dentro de mim é que tomei consciência… e comecei a encarar isso como uma realidade e a preparar a sua chegada” (Aurora)

“Quando nasce o bebé, ai… só pensei E agora? Não sabia o que pensar… uma coisa é saber que estamos à espera de bebé e que queremos muito, mas depois vem a realidade… e eu pensava ‘O que é que eu faço com isto?’ Apetecia-me chorar, e não era de alegria… era de receio…!” (Lara)

O conhecimento de que está grávida pode ter contornos contraditórios, fruto do desejo de se querer ter um filho ou do quanto ele é desejado. A verdade é que ter um filho é uma experiência ímpar entendida, no passado, como uma consequência natural da vida. Hoje em dia com as alterações sociais que se vive e que a mulher, em especial, tem vindo a

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vivenciar no seio das sociedades, sabemos que é bem mais do que uma consequência. É, pois, uma escolha, que implica mudanças complexas a nível fisiológico, socioeconómico, familiar, psicológico e emocional.

Deste modo, este período exige da mulher/casal uma série de novas adaptações, reorganizações intrapsíquicas e interpessoais, que variam de caso para caso. Ainda que as alterações que ocorrem durante a gravidez sejam comuns a todas as mulheres, a forma como lidam com estas situações depende diretamente da sua personalidade, das circunstâncias em que a gravidez ocorre, da relação com o companheiro, das repercussões que possam advir da chegada de um filho. O conhecimento de que se está grávida pode, então, levar a que surjam sentimentos contraditórios, independentemente da gravidez ser esperada ou planeada. Apesar de toda a felicidade do momento, o receio da novidade surge, e o sentimento de surpresa de se estar grávida existe sempre, “Três vezes

estive grávida, três vezes foi uma surpresa. Das outras duas fiquei muito feliz, mas desta… eu só chorava! Não é que eu não quisesse e estivesse triste, mas não era ainda altura de ter mais um petcheno10...” (Cláudia).

Ainda assim, passando a fase da surpresa, vem a fase da consciencialização da realidade e, com essa tomada de consciência, manifesta-se o desejo construído ao longo de uma vida do que será a sua gravidez. Caso a realidade se encaixe no imaginado, a mulher viverá essa fase com entusiasmo e alegria. Caso o oposto ocorra, então poderá ser um fator desencadeante de stress, angústia, conduzindo à crise iminente “Essa

não foi a gravidez que eu sonhei. Eu sonhei com uma gravidez como a que se vê nos filmes, tipo comer, engordar bastante, ver a barriga crescer e ver aquele momento de… ter aquele ser a desenvolver-se dentro de nós, e amar aquele ser e estar ali e… viver uma gravidez bem (…) não apreciei. Não gostei! Não tenho saudades nenhumas da gravidez que tive, da minha gravidez.” (Gabriela).

No entanto, a surpresa de que se está grávida, em determinada altura, é ultrapassada pela tomada de consciência de que a gravidez irá terminar. A representação do parto, bem como os mitos que o envolvem, surgem bem

115 antes da gravidez. A imagem do parto, à semelhança de outros fenómenos humanos, não é mais do que uma construção social sedimentada ao longo da vida, com relatos e testemunhos referentes às dores do parto, ao momento da expulsão fetal, ao choro e saúde do bebé que nasce. Esta construção é reforçada pelos media e cinematografia, que divulgam a imagem do parto como sendo algo doloroso, repleto de sangue e horror, com desmaios dos parceiros e ordens abusivas dos profissionais e que entram pela casa dentro, para fortalecer a imagem negativa do parto. Também por essa razão, não é difícil de se perceber que vivendo a

realidade do parto (que inclui as sub-subcategorias tipo de parto e

acompanhamento) é, sem sombra para dúvida, o momento no ciclo gravídico-puerperal mais repleto de emoções fortes como sejam o medo, a ansiedade, a dor, a alegria, a revolta, todos eles experimentados em um curto período de tempo (Haines, Rubertsson, Pallant e Hildingsson, 2012). Multiplicam-se as opiniões sobre o tipo de parto que se quer ter e que se deve desejar, todas elas fundadas em opiniões de mulheres, cuja experiência é (ou assim parecer ser, para quem as ouve) superior à sua. O tipo de parto passa então a ser uma opção individual, deixando de ser uma opção terapêutica: “Eu sempre disse que queria uma cesariana e tive

a cesariana! Pelo’ê11 se fosse normal!! Acho que morria.” (Octávia). Ainda

que dificilmente uma mulher anseie por um parto vaginal distócico, muitas são as mulheres que a optar, optariam pela cesariana, o que faz com que se questione, muitas vezes, sobre os critérios e o juízo clínico subjacentes à escolha desta via de parto. Parece, porém, que devido à sua banalização, a cesariana, tornou-se moda um pouco por todo o mundo, como refere Michel Odent (2005), de tal forma que o assunto tem dado azo a discussões e reflexões, muitas delas publicadas na imprensa científica (Lavender, Hofmeyr, Neilson, Kingdom e Gyte, 2012; Klein, 2012; NHS, 2013; American College of Obstetricians and Gynecologists, 2013; Dexter, Windsor e Watkinson, 2014).

Saliente-se que no nosso país, no que respeita à cesariana a pedido, não há estudos que explicitem esta realidade, percebendo-se, no entanto, que

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os médicos não demonstram abertura para acolher os desejos pessoais das mulheres nesta matéria. Por outro lado, existem também mulheres que anseiam por uma abordagem menos tecnicista e mais coincidente com o lado mais natural do nascimento e que, na sua impossibilidade, sentem- se frustradas e dececionadas “Mas depois então, disseram que é cesariana.

(…) Sempre imaginei que ia ter um parto normal, dado ao historial da minha família. Sempre pensei e queria que assim fosse. Mas não foi!”

(Gabriela).

Independentemente da situação, a mulher deverá usufruir de um

acompanhamento especial, aprimorado, humanizado, extremamente

individualizado que, por mais que os profissionais o desejem e tentem fazer, é de difícil concretização, até mesmo pelo escasso tempo de que dispõem para estabelecer uma relação terapêutica condicente com os pressupostos da relação de ajuda defendida por Suzanne Kérouac: “(…) o

que vale foram os profissionais. Explicavam-me tudo e permitiam que eu fizesse perguntas, (…) senti-me invadida, mas compreendia que tinha de ser, era um processo que tinha de ser, mas explicavam-me… Mas às vezes faltava um pouco de calor humano”(Gabriela). Assim, sendo este um

momento que deverá ser sublime na vida da mulher, nada mais fará sentido do que ela ser acompanhada, por aquela pessoa que considere que dará o apoio que ela necessite:

“Quem assistiu foi uma irmã minha. Ela quis e ela então assistiu comigo e foi muito importante ela estar ali comigo... deu-me muito apoio.” (Bruna).

“ O meu marido assistiu… ele dessa vez teve coragem, que das outras ele não quis… ele não quis, nem deixavam! Naquele tempo era assim. Mas para mim foi importante! É outro conforto, outro apoio…” (Cláudia)

O acompanhamento por um ente querido não tem como objetivo o de substituir os profissionais, mas sim o de proporcionar o afeto, o carinho e o conforto emocional que neste período é requerido pela parturiente. Aos profissionais caberá perceber que o nascimento de um bebé representa, para aquela mulher/família um momento sublime, pelo que a sua prática só faz sentido quando qualificada e humanizada, repleta de sensibilidade e com consciência do papel essencial que representam neste processo e no que se avizinha, ansiando-se por uma presença consistente, “(…) pouco

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apareciam no quarto. Era importante que tivessem aparecido para eu me sentir segura e tirar dúvidas…” (Hélia). Com efeito, experienciando o internamento (que inclui as sub-subcategorias relações estabelecidas com

os profissionais, relação com as colegas de quarto e o bebé real) entrecruza-se com a vivência do puerpério. No caso do HDESPD, as puérperas são transferidas para o serviço de internamento quando completam a primeira hora de pós-parto, ainda no decorrer do puerpério imediato, permanecendo, salvo exceções pontuais, 48 horas internadas no caso dos partos vaginais ou 72 horas no caso das cesarianas. Cada quarto destina-se a acomodar três puérperas com os respetivos bebés. Neste contexto, tão importante quanto a gravidez e parto, são estabelecidas relações que irão marcar o início de uma nova fase da vida, enquanto mãe. Após o parto, a mulher confronta-se com a realidade daquilo que, até ali, era apenas imaginário. Há o confronto, com o bebé real, que por mais próximo que seja do imaginado e idealizado, será sempre diferente. Ao longo da gravidez são criadas expectativas que podem ser a origem de deceções, mesmo porque (mais uma vez!) as imagens que nos são bombardeadas pelos media e pela sociedade, sobre as maravilhas de se ter um bebé no colo, pode não ser exatamente como o descrito e por certo um recém-nascido em nada se compara aos bebés que servem de modelo aos anúncios promovidos por marcas de fraldas e artigos para bebé. O medo do bebé não ser saudável, de ter alguma deficiência ou alteração, são receios que assolam todas as mães: “Eu só pedia: que ela venha bem!

Sem moleste12 nenhum… eu sabia que ia ser uma niquinha de gente13, mas eu só pedia para ela vir com saúde e sem defeito.” (Fernanda)

O pós-parto encerra em si um período de transformações profundas e rápidas que exigem da mulher uma elevada capacidade de adaptação, não só em termos físicos (como a dor relacionada com a ferida perineal ou a ferida cirúrgica), mas também emocionais, despoletando na mulher sentimentos conflituosos e contraditórios entre a realização do sonho da

12 No léxico micaelense e no contexto que é utilizado pela entrevistada, sem moleste nenhum significa sem qualquer problema.

13 No léxico micaelense niquinha de gente, significa miudinha. No caso é utilizado para dizer que a bebé ia ser miudinha.

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maternidade e a melancolia da fase da adaptação. Neste contexto, a

relação estabelecida com os profissionais caracteriza-se pela procura de

apoio por parte da mulher, esperando encontrar atitudes e discursos favoráveis à sua adaptação enquanto mãe. Assim sendo, deverá ser preocupação dos profissionais perceber as necessidades da mulher no puerpério, as suas inquietações e expectativas e o apoio que desejam. Não nos esqueçamos que só recentemente é que o nascimento foi hospitalizado em Portugal e, mais concretamente, nos Açores. Com efeito, até finais da década de 70 do século transato, em São Miguel era possível a mulher escolher onde pretendia dar à luz, no seu domicílio ou nas casas de natividade/hospital, podendo usufruir, em qualquer um dos casos, de um acompanhamento próximo por parte das enfermeiras parteiras puericultoras ou pelas auxiliares de enfermagem parteiras. Após o parto, era assegurada uma visitação domiciliária nos três primeiros e no oitavo dia (Raposo, 2001). Aqui fica bem patente a cultura existente nas ilhas sobre o acompanhamento que era dado às mulheres no seu pós-parto e que, entretanto, devido às mudanças organizacionais a que as instituições de saúde assistiram na região, foi-se perdendo, sendo que o apoio que recebem resume-se, salvo exceções, à recebida aquando do internamento

“Quem ainda, nesse dia cuidou da minha filha foram as enfermeiras. Mas a verdade… dizem muita coisa, mas não tive que dizer… as enfermeiras nunca disseram nem comentaram nada de negativo sobre mim, nem mesmo quando eu não pude me levantar… não tive que dizer nem delas nem de ninguém. Fiquei-lhes muito grata!” (Gabriela)

“Recordo-me perfeitamente de não estar ainda bem, porque uma cesariana não se cura em dois, três, quatro ou cinco dias, e a mãe quer… é a tal coisa, eu vou falar por mim… a mãe quer fazer, mas muitas vezes não consegue. Recordo-me perfeitamente de uma enfermeira de ela me ter dito, não que não tenha gostado, mas acho que não foi muito feliz no que disse: “tens de fazer força contigo. Então? Como é que é? Vais dar um leitinho. Vais mudar a fralda.” e eu tava sentindo-me muito debilitada, até chorei na altura por causa disso” (Lara)

Com os excertos atrás transcritos, percebe-se que as mulheres encontram- se em uma fase vulnerável da sua vida e uma atitude ou um comentário menos adequado, pode assumir contornos antagónicos, favorecendo flutuações de humor rápidas. A atitude dos profissionais, mesmo que de forma inconsciente, pode determinar a forma como a mulher se encara como mãe e o seu processo de transição para a parentalidade

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Foi minha opção não amamentar. Pronto. Eu sabia que tinha vantagens, mas

para mim só havia desvantagens: eu é que sabia a vida que tinha em casa, com a minha mãe acamada à minha espera! Mas senti-me tão mal quando a médica veio e disse Não vai amamentar?! Olha querido filho! Que linda mãe foste arranjar… Senti-me culpada, a pior mãe do mundo e não tive forças de dizer nada. Ainda

hoje sinto-me culpada…” (Eva)

Ao profissional de saúde (sem distinção da classe a que se refere) é exigido que seja capaz de proporcionar o apoio desejado pela mulher,

identificando e criando oportunidades educativas, de forma a facilitar a

adaptação ao filho que chegou, levantando os diagnósticos e prestando assistência adequada.

Por outro lado, o facto de a mulher estar acompanhada por outras puérperas parece ser uma situação que, inicialmente encaram com entusiasmo pela companhia proporcionada. A relação com as

companheiras do quarto parece ser um fator que proporciona conforto:

“Eu fui para um quarto de umas raparigas que estavam lá, a gente fazia um serãozinho a falar, sempre a vigiar os nossos miúdos, mesmo de manhã, para ver se ninguém tirava os miúdos da gente.” (Aurora)

“Mas o internamento foi bom. Tinha umas colegas de quarto foi bom, falamos, rimos, coisas de mulheres...” (Hélia)

“Eu fiquei sozinha num quarto… o que foi bom por um lado, mas mau por outro. Foi, porque como eu tive uma gravidez mais difícil, para eu poder chorar um pouco mais com ele, mas por outro senti-me muito sozinha…” (Bruna)

Todavia, passado algum tempo as mulheres que tiveram companhia acabaram por mudar de opinião, achando que o facto de ter outras mulheres no quarto acabaria por ser perturbador, desconfortável e dificultador do descanso:

“Mas depois tornou-se cansativo, um bebé chorava, depois era outro... Acabamos por não descansar... Era melhor se estivesse sozinha.” (Aurora)

“Ainda no primeiro dia foi bom é aquela novidade, mas depois já ficou um bocado desconfortável. Fica um bocado desconfortável e agente sente-se pouco à vontade sem privacidade, embora nunca tenham sido desagradáveis. Mas o facto de ter três mulheres no quarto foi perturbador.” (Hélia)

Entretanto, o período de internamento chega ao fim e com ele o regresso a casa. A verdade é que nos últimos anos a alta do internamento acontece de forma cada vez mais precoce e, por vezes, acontece em uma altura em