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A Grounded Theory teve a sua origem na sociologia, tendo sido desenvolvida pelos sociólogos Glaser e Strauss (1967), aquando do seu estudo que visava explorar a experiência de doentes que estavam a morrer em hospitais. Desde a publicação do primeiro livro a descrever este método em 1967, denominado por The Discovery of Grounded Theory, Glaser e Strauss discordaram na forma de como a utilizar, o que levou à divisão do método em dois paradigmas distintos: o glaseriano e o straussiano.

Strauss, em conjunto com Corbin, adotaram a visão de que a Grounded

Theory evoluiu ao longo do tempo de forma a dar resposta às

necessidades do fenómeno a ser estudado e continuará a evoluir (Strauss e Corbin 1998; Corbin e Strauss, 2008). Defendem ainda que é improvável em uma abordagem investigativa utilizar dados sociológicos para atender todas as necessidades dos profissionais que trabalham em serviços de saúde, razão pela qual muitos investigadores têm necessidade de adaptar a sua abordagem de forma a responder às necessidades do estudo que esteja a realizar, no contexto da sua própria disciplina. Por essa razão, Charmaz (2009) enfatiza que Strauss e Corbin não recomendam regras que tenham de ser rigorosamente seguidas, embora o paradigma straussiano seja descrito como sendo prescritivo. Aliás, é a recomendação

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de se cumprir determinados passos que diverge nos dois paradigmas. Glasser (1992) refere que esta obrigatoriedade força a emergência da teoria, sublinhando que a sua abordagem mais flexível faz com que a teoria surja, defendendo, por isso, que a sua versão é a abordagem genuína da Grounded Theory.

Como refere Bluff (2006) a explicação para estas duas perspetivas distintas da Grounded Theory pode residir nos seus diferentes backgrounds investigativos. Todavia, não se deve sobrevalorizar uma abordagem em detrimento da outra, até mesmo porque, como refere Aneells (1996, in Bluff, 2006), a divergência nas abordagens são um sinal do processo de amadurecimento que a Grounded Theory tem vindo a assistir.

Embora o primeiro documento a descrever este método tenha sido publicado em 1967, a verdade é que apenas com as publicações de Strauss e Corbin (1990 e 1998), é que foi possível compreender a forma de utilizá-lo, revelando-se como uma forma preciosa para o estudo de fenómenos de enfermagem, razão pela qual o paradigma straussiano se tornou na abordagem mais utilizada da Grounded Theory, justificando a nossa opção por este paradigma.

A Grounded Theory alicerça os seus fundamentos no interacionismo simbólico, descrito por George Mead (1964) e posteriormente refinado por Herbert Blumer (1969). O seu objetivo é descobrir quais os significados simbólicos de determinado fenómeno para as pessoas, explorando os seus processos sociais básicos. Por outras palavras, pretende descobrir o conhecimento da perceção ou do “significado” que determinada situação ou objeto tem para o outro e, a partir daí, desenvolver uma teoria explicativa, inventar e descobrir explicações válidas para os fenómenos estudados (Stern, 2007; Streubert e Carpenter, 2011).

Blumer (1969) aponta três princípios fundamentais como forma de clarificar a natureza do interacionismo simbólico que, se sintetiza em três conceitos: significado, relação e interpretação. Neste sentido, entenda-se

Significado como o modo em que os seres humanos agem em relação às

coisas com base nos significados que elas têm para eles. É a capacidade que o homem tem de atribuir significados às coisas do mundo que o

77 rodeia, estando, reconhecidamente, cercado pelas características do seu ambiente que o influencia. Interpretam as coisas como símbolos que possuem significados utilizando-os nas suas ações. No que se refere à

Relação, os significados das coisas surgem da interação dos indivíduos

uns com os outros. Os significados são construções sociais que resultam da relação existente entre os indivíduos inseridos num grupo na sociedade.

Relativamente à Interpretação, os significados das coisas podem ser manipulados e modificados através de um processo interpretativo usado pelas pessoas para lidar com as coisas que encontra. Um símbolo tem um significado comum reconhecido por um grupo social, no entanto, isto pode ser modificado e mudado, uma vez que um mesmo símbolo pode ter diferentes significados em diferentes situações para diferentes indivíduos, dependendo das situações e das suas interpretações.

O interacionismo simbólico é considerado uma ciência interpretativa, uma teoria psicológica e social que procura representar e compreender o processo de criação e construção de significados particulares de atores, lugares, situações e tempos (Bluff, 2006), com o objetivo de conhecer o comportamento na interação social.

De acordo com Mead (1974), outro aspeto a considerar é a noção do self, que não é mais do que a imagem que cada indivíduo tem de si, que é criada e constantemente atualizada a partir das interações que se estabelece com os outros, podendo-se afirmar que é uma construção social do autoconceito identitário, que é influenciado pelas expetativas e exemplos dos outros, razão que se diz que o self e o ambiente são socialmente construídos (Bluff, 2006).

A Grounded Theory procura identificar o processo que explica o que está a acontecer no cenário social. Isto é possível pela exploração de como as pessoas se comportam, através de uma perspetiva simbólica e interativa. Pela descoberta de símbolos ou de entendimentos partilhados que capacitam os indivíduos a interpretarem o seu mundo, a Grounded Theory torna explícito o processo social de interação que é implicitamente

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conhecido por aqueles dentro da mesma cultura, mas não por quem esteja fora dela, como salienta Bluff (2006).

Após estudo e reflexão sobre os diversos métodos de pesquisa, concluíu- se que, para este estudo, a opção por uma abordagem construtivista seria a mais adequada, sendo que o recurso à Grounded Theory mostrou-se ser a mais apropriada, uma vez que este método procura investigar os processos nos quais estão ocorrendo os fenómenos, procurando uma fundamentação detalhada para, a partir daí, realizar a análise sistemática dos dados comparando-os, até que a teoria surja. Para além disso, esta metodologia procura compreender a ação humana e dos grupos sociais, pela descoberta de categorias relevantes, bem como pelas suas relações, colocando-as de uma forma nova a partir do ponto de vista e compreensão dos sujeitos do estudo.

Nas palavras de Stern (1980 in Streubert e Carpenter, 2002) a Grounded

Theory distancia-se das restantes metodologias qualitativas, porque:

- O quadro conceptual é criado a partir dos dados e não de estudos prévios;

- O investigador tenta descobrir os processos dominantes na cena social, mais do que descrever a unidade de investigação;

- Os dados são todos comparados com todos os outros dados; - A colheita de dados pode ser modificada com o avançar da teoria; - Os dados vão sendo examinados à medida que são colhidos.

Strauss e Corbin (1998) definiram Grounded Theory como uma metodologia que tem como finalidade a teorização a partir dos dados sistematicamente recolhidos, analisados e comparados através do processo de investigação. Poderá ser definida como uma forma de explicar as relações criadas entre um conjunto de variáveis, estabelecendo-se uma explicação de um fenómeno particular. Pode-se considerar este método de investigação um modo de pesquisa de campo. De acordo com Streubert e Crapenter (2011) o objetivo deste modo de investigar é o de analisar de forma aprofundada práticas, comportamentos, crenças e atitudes de indivíduos ou coletividades, do modo como estão integrados no seu quotidiano na vida real.

79 A teoria que resulta da Grounded Theory tem origem em uma combinação feita entre o raciocínio indutivo e o raciocínio dedutivo. Indutivo porque, recorrendo ao método é-se capaz de criar uma teoria tanto formal como substantiva (Bluff, 2006; Charmaz, 2009; Streubert e Carpenter, 2011), surgindo de observações específicas e dos dados que colhe. Depois de desenvolvida, pode então ser testada de forma empírica de modo a desenvolverem-se inferências num determinado contexto explicativo, adquirindo, pois, um carácter dedutivo (Field e Morse, 1985; Bluff, 2006; Corbin e Satruss, 2008; Streubert e Carpenter, 2011). Salvaguarde-se, todavia, que o facto da Grounded Theory ter características dedutivas, não faz dela um método ao serviço da investigação verificacional, pois neste tipo de pesquisa escolhe-se uma teoria ou um quadro conceptual e formulam-se, a partir daí, hipóteses que serão testadas.

De forma sintética, a Grounded Theory procura explicar um acontecimento a partir de certas premissas que ocorrem em simultâneo e que se procurou sintetizar na figura 2, onde estão plasmadas as diversas etapas que se percorre até à elaboração da teoria explicativa.

Figura 2 – Ligações entre a produção, tratamento e análise de dados da Grounded Theory. Adaptado de Streubert e Carpenter (2002, p. 113).

Colheita de dados Produção de dados Análise de dados Formação de conceitos Desenvolvimento de conceitos Grounded Theory Variável Principal

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Como já foi largamente debatido, a finalidade última da Grounded Theory é a de construir novas teorias. Porém, para tal é necessário percorrer um caminho, respeitando um conjunto de procedimentos técnicos, de forma a garantir que a compreensão dos fenómenos em estudo, seja rigoroso e baseado na perspetiva dos participantes, significados esses que têm origem na interação social estabelecida.