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A Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão de 1789 e a Declaração Universal dos Direitos do Homem de

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como a definitiva consagração normativa dos direitos humanos e fundamentais, como considerava Mirkine-Guetzévitch:

(...) o estabelecimento, pela técnica constitucional da Revolução Francesa, fonte fundamental do direito constitucional moderno ± dos direitos do homem e do cidadão, com a correspondente obrigação de o Estado respeitar estes direitos e os garantir. (MIRKINE-GUETZÉVITCH, 1933, p.62).

No preâmbulo da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, da lavra de MOUNIER e de MIRABEAU, apesar de desnecessário, os seus redatores justificavam os motivos que levaram os franceses a propugnarem por princípios considerados inalienáveis e inerentes à pessoa humana.

Destarte, deveriam ser cumpridos pelos governantes, uma espécie de salvo- conduto do cidadão, capaz de frear os excessos cometidos pelos poderosos, em detrimento da liberdade e dos direitos tidos como personalíssimos. É, pois, esta a justificativa:

Os representantes do povo francês, constituídos em Assembléia Nacional, considerando que a ignorância, o esquecimento ou o desprezo dos direitos do homem são as únicas causas das desgraças públicas e da corrupção dos governos, resolveram expor em declaração solene os direitos naturais, inalienáveis e sagrados do Homem, a fim de que esta declaração, constantemente presente em todos os membros do corpo social, lhe lembre sem cessar os seus direitos e os seus deveres; a fim de que os atos do Poder Legislativo e do Poder Executivo, podendo ser em cada momento comparados com a finalidade de toda a instituição pública, sem por isso mais respeitados; afim de que a reclamações dos cidadãos, doravante fundadas em princípios simples e incontestáveis, se dirijam à conservação da Constituição e a felicidade geral (MIRANDA, 1990, p.57).

Por consequência, a Assembléia Nacional reconhece e declara, na presença e sob os auspícios do Ser Supremo, os seguintes direitos do homem e do cidadão: Os princípios da liberdade e da igualGDGH HVWmR SUHYLVWRV QR $UWLJR ž ³2V homens nascem livres e são livres e iguais em direitos. As distinções sociais só podem fundar-VHQDXWLOLGDGHFRPXP´

Segundo Jacintho (2006), o título dado ao documento francês faz referência a dois status jurídicos distintos. O primeiro direito do homem ± significa que eram direitos anteriores à sociedade, liberdades que asseguravam ao homem autonomia para conduzir a sua vida como bem entendesse.

O segundo, os direitos do cidadão, estavam relacionados como o espaço público chamado cidade e conferiam aos homens poderes que garantissem a sua participação na política da cidade.

Em análise comparativa dos eventos nos Estados Unidos e na França, importante fazer referência aos dizeres de Comparato (2000, p.122):

Seja, como for, as ondas de revolta provocadas pela Revolução de 1789, não só na França, como em toda a Europa Ocidental e em outros continentes, desmentem a tese segundo a qual as declarações francesas por serem meras exortações, teriam sido menos que o bills of rights norte- americanos, para o efetivo assentamento dos direitos humanos no curso da história. Como foi salientado em outra parte, as técnicas jurídicas utilizadas, em um e em outro caso, são bem diferentes. Seguindo a tradição inglesa, os norte-americanos deram ênfase às garantias judiciais do que à declaração de direitos pura e simples. Os franceses, ao contrário, quase que se limitaram a declarar direitos sem mencionar instrumentos judiciais que os garantissem. É preciso não esquecer, no entanto, que o Direito vive, em última análise, na consciência humana. Não é porque certos direitos subjetivos estão desacompanhados de instrumento assecuratórios próprios que eles deixam de ser sentidos como exigências impostergáveis.

A Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão de 1789, obviamente, foi a causadora da incontrolável transformação política e social, que iria se abater sobre o pensamento universal e o mundo, daí em diante, jamais seria o mesmo.

Diante das atrocidades ocorridas durante a Segunda Grande Guerra Mundial, foi possível perceber que o positivismo jurídico não oferecia proteção suficiente ao ser humano. Era preciso constituir uma nova Ordem Jurídica, com aplicação universal, que proporcionasse posição de destaque.

Elaborada a partir da Carta da Organização das Nações Unidas de 1944, que, em seu artigo 55, estabeleceu a necessidade dos Estados-Partes promoverem a proteção dos direitos humanos e da composição, por parte da ONU, de uma Comissão de Direitos Humanos, presidida por Eleonora Roosevelt. Então, a Declaração Universal dos Direitos do Homem foi assinada em Paris, no dia 10 de dezembro de 1948.

Os preceitos basilares desta Carta se fundam em princípios constantes do seu preâmbulo, com o compromisso de assegurar a dignidade humana, ao fixar como objetivo primordial, em matéria de direitos humanos, que a humanidade goze da máxima liberdade e dignidade. Assim, vejamos o que consta do primeiro e segundo parágrafos, ao afirmar que:

Considerando que o reconhecimento da dignidade inerente a todos os membros da família humana e de seus direitos iguais e inalienáveis é o fundamento da liberdade, da justiça e da paz do mundo

Considerando que o desrespeito pelos direitos do homem resultaram em atos bárbaros que ultrajaram a consciência da humanidade e que o advento de um mundo em que os homens gozem de liberdade de palavra, de crença e das liberdade de viverem a salvos do temor e da necessidade foi SURFODPDGRFRPRDPDLVDOWDDVSLUDomRGRKRPHPFRPXP´ 3,29(6$1 2006, p.169).

O texto da DUDH destaca logo no preâmbulo, a preocupação com a valorização do ser humano, independentemente do gênero, credo ou nacionalidade, ao tomar espaço nos comandos legais e a ter aplicação em todas as relações intersubjetivas.

A declaração, em seu Artigo 1º, assegura os princípios da igualdade e da GLJQLGDGH KXPDQD ³7RGRV RV KRPHQV QDVFHP OLYUHV H LJXDLV HP GLJQLGDGH H direitos. São dotados de razão e consciência e devem agir em relação uns aos RXWURVFRPHVStULWRGHIUDWHUQLGDGH´ 3,29(6$1S 

O texto afirma ser o genoma humano a herança da humanidade, ao tratá-lo como unidade fundamental de todos os membros da família humana, os quais reconhecem dignidade e diversidades inerentes.

No artigo segundo designa a todos, o direito ao respeito por sua dignidade e seus direitos humanos, independentemente de suas características genéticas. Ainda, salienta que essa dignidade faz com que seja imperativo não reduzir os indivíduos às suas características e respeitar sua singularidade e diversidade.

Assim, constitui pressuposto essencial para o respeito da dignidade da pessoa humana a garantia da isonomia de todos os seres humanos. Portanto, não podem ser submetidos a tratamento discriminatório e arbitrário; razão pela qual não podem ser toleradas a escravidão, a discriminação racial; perseguições por motivos de religião, sexo, enfim, toda e qualquer ofensa ao princípio isonômico na sua dupla dimensão formal e material (JUNIOR, 2000).

Para a Declaração Universal, a condição humana é o único requisito para ter direito à dignidade e, esta, não está condicionada à moral, comportamento ou crença religiosa. Mesmo aqueles que cometem as maiores atrocidades possuem dignidade.

Todos os seres humanos têm o direito de serem tratados dignamente. Tal razão porque a comunidade internacional em favor dos Direitos Humanos repudia a tortura, os castigos e o trabalho escravo como instrumentos de sanção, por mais cruel que seja o sujeito.

O princípio da dignidade da pessoa humana foi positivado na maioria das Constituições do pós-guerra, que passaram a elencar em seu bojo alusão à dignidade humana, conforme diz Martins (2006, p.34):

/HL )XQGDPHQWDO GD $OHPDQKD GH  GH PDLR GH  DUW ž Qž  µ$ dignidade humana é inviolável. Respeitá-la e protegê-la é obrigação de todos os Poderes HVWDWDLV¶

-Constituição Portuguesa, promulgada em 25 de abril de 1976 ± µ3RUWXJDOp uma república soberana, baseada na dignidade da pessoa humana e na vontade popular e empenhada na construção de uma sociedade livre, justa HVROLGiULD¶

-Constituição EspaQKROD DUW Qž  µ$ GLJQLGDGH GD SHVVRD RV GLUHLWRV invioláveis que lhe são inerentes, o livre desenvolvimento da personalidade, o respeito à lei e aos direitos dos outros são fundamentos da ordem política HGDSD]VRFLDO¶

-Na França, apesar da tradição da proteção dos direitos individuais, o princípio não está previsto no texto constitucional, tendo sido objeto de criação hermenêutica do Conselho Constitucional.

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