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O Reconhecimento Jurídico Brasileiro do Princípio da Dignidade Humana

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O reconhecimento mundial do princípio da dignidade da pessoa humana é explicitado tal como sustenta Robert Alexy:

(...) representa a passagem dos direitos humanos, dotados de natureza suprapositiva e de universalidade moral, geralmente expresso em tratados e convenções internacionais, para os direitos fundamentais, que se apresentam como direitos que foram acolhidos numa Constituição. (ALEXY, 2007 p.10).

A proclamação da normatividade do princípio da dignidade da pessoa humana, na grande maioria das constituições contemporâneas, conduziu ao reconhecimento da eficácia jurídica dos direitos humanos.

Diante desse reconhecimento, afasta-se a concepção anacrônica de sua inexigibilidade em face de comportamentos lesivos à vida digna do ser humano, seja por ações de governantes ou de particulares, por se tratar de máximas ético-morais, desprovidas de coerção e de imperatividade.

Apesar de referência ao tema da dignidade da pessoa humana, ainda que de modo incipiente nas Constituições brasileiras de 1934, 1946 e de 1967, a primeira Constituição Brasileira a tratar do princípio da dignidade da pessoa humana, enquanto fundamento da República e do Estado Democrático de Direito, em que ela se constitui, foi a de 1988; tal fato em função da franca influência das Constituições Alemã, Espanhola e Portuguesa.

O sistema constitucional brasileiro foi, também, influenciado por esses novos sopros libertários, tendentes à emancipação do ser humano. Por meio do respeito à

dignidade intrínseca, mormente com o advento da Constituição Federal de 1988, gestada no contexto político-social de redemocratização do País, após o longo período autocrático da ditadura militar.

Fraseia Luis Roberto Barroso:

(...) na Constituição Federal de 1988 o princípio da dignidade da pessoa humana foi levado ao patamar de fundamento do Estado Democrático de Direito (art. 1, III), integrando a categoria dos princípios fundamentais do Título I da Carta Magna, ao lado de outros importantes cânones ético- jurídicos correlatos, a saber: a cidadania, os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa, o princípio republicano (art.1º); o princípio da separação de Poderes (art.2º); os objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil ± construir uma sociedade livre, justa e solidária, garantir o desenvolvimento nacional, erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais, promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de GLVFULPLQDomR DUWž´ %$55262, p.103)

O advento da constituição brasileira foi louvável, tanto em razão de seus nobres objetivos, quanto por sua natureza compromissória e sincrética de inspiração salientemente democrática.

O texto constitucional consagrou o valor da dignidade da pessoa humana como princípio máximo e o elevou, de maneira inconteste, a uma categoria superlativa em nosso ordenamento, na qualidade de norma jurídica fundamental. Assim, a preocupação com o ser humano consagrou-se como uma das finalidades constitucionais.

Como princípio fundamental do Estado Democrático Brasileiro, a dignidade da pessoa humana, justamente com o direito à vida e à liberdade, são garantias individuais asseguradas pela Constituição Federal de 1988 e servem como fundamento e princípios informadores que legitimam as manipulações sobre a vida.

Flávia Piovesan assim fala:

Não há direitos humanos sem democracia, tampouco democracia sem direitos humanos. Vale dizer, o regime mais compatível com a proteção dos direitos humanos é o democrático. Atualmente, 140 dos quase 200 Estados que integram a ordem internacional realizam eleições periódicas. Contudo, apenas 82 Estados (que representa 57% da população mundial) são considerados plenamente democráticos (PIOVESAN, 2006, p.169).

A autora apresenta outra vertente de importância fundamental para a efetivação dos direitos humanos: o Estado Liberal com a implantação da autonomia da vontade.

processo de elaboração das leis, que constituem a expressa vontade popular, apoiando-se veementemente no sentido de que o indivíduo há de constituir o objetivo primacial da ordem jurídica.

Existem autores que entendem que é a isonomia a principal garantia constitucional, como, efetivamente, ela é importante. Contudo, no atual diploma constitucional, é importante frisar que o principal direito fundamental constitucional garantido é o da dignidade da pessoa humana.

É ela, a dignidade, o primeiro fundamento de todo o sistema constitucional posto e o último arcabouço da guarida dos direitos individuais. A isonomia serve, é verdade, para gerar equilíbrio real, porém ao visar a concretude do direito à dignidade. É a dignidade que dá a direção, o comando a ser considerado primeiramente pelo intérprete.

Coloque-se, então, desde já, que, após a soberania, aparece no Texto Constitucional a dignidade como fundamento da República brasileira. Leiamos o artigo 1º da Constituição Federal de 1988:

Artigo 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: I- a soberania; II- a dignidade da pessoa humana

E tal fundamento funciona como princípio maior para interpretação de todos os direitos e garantias conferidos às pessoas no Texto Constitucional.

A dignidade da pessoa humana deve ser respeitada a qualquer custo. O homem como o ser central do universo merece o total respeito e consideração na preservação e manutenção da raça.

O ser humano deve ser elevado ao patamar mais alto das considerações, com a finalidade de impedir a sua degradação e a sua redução a um mero objeto de manipulação. Dignidade e liberdade atrelam-se à pessoa humana, indissoluvelmente.

Um dos fins do Estado é propiciar as condições para que as pessoas se tornem dignas. Enquanto, ao homem, cabe propiciar sentido à sua própria vida, cabe ao Estado facilitar-lhe o exercício da liberdade e da dignidade, que ascendem ao patamar dos direitos fundamentais.

Tal fato porque, dizer que a pessoa humana, como titular de direitos, é em razão do direito à dignidade; significa que ao ser humano corresponde a condição de

sujeito e não de objeto manipulável.

O Estado que não reconheça a dignidade humana dos seus componentes, sua igualdade jurídica e autonomia fundamental, e, - mesmo reconhecendo-as ± não se estrutura com vistas a garantir a máxima concretização possível de tais atributos humanos, é um Estado ilegítimo.

As normas jurídicas positivadas estão inseridas no contexto social. Basta vontade dos governantes para colocar em prática a aplicabilidade dos direitos humanos fundamentais previstos no nosso ordenamento jurídico.

Haverá o dia em que o homem, consciente de sua própria condição humana, não necessitará de qualquer lei que lhe determine o óbvio e a defesa dos direitos humanos será tão natural quanto o ato de se alimentar.

Até que esse dia chegue, no entanto, é necessário avançar determinadamente na proclamação dos direitos fundamentais do homem, não deixando morrer a capacidade de indignação que existe no íntimo de cada um, ao detectar qualquer violação a esse direito, porque, ao agir assim, estará defendendo a espécie mais preciosa do universo e o seu próprio direito de existir com dignidade.

1.17. A Dignidade Humana como Garantia Fundamental Constitucional e o

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