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Na Fase da Execução Penal

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FALTA DE CONDIÇÕES

IV- DEFENSORIA PÚBLICA NO ESTADO DE GOIÁS

4.5. Direitos Violados pelo Estado de Goiás na Área Criminal pela não Implantação da Defensoria Pública: Devido Processo Legal, Presunção de

4.5.2. Na Fase da Execução Penal

Cumpridas as fases iniciais da persecução penal (fase de investigação e ação penal), uma vez transitada em julgado a sentença penal condenatória, inicia-se a fase da Execução Penal, em que o Estado tem o poder/dever de aplicar concretamente a pena aplicada pelo juiz.

Na lição de Luna (1985, pag.329) ³$ ILQDOLGDGH GDV SHQDV SULYDWLYDV GH liberdade, quando aplicadas, é ressocializar, recuperar, reeducar ou educar o condenado, tem uma finalidade educativa que é de nDWXUH]DMXUtGLFD´

O pensamento contemporâneo da finalidade dessas penas consiste na ressocializaçao, que tem por objetivo preparar o reeducando para a sua reinserção na sociedade, ao oferecer novas oportunidades para o convívio harmônico em comunidade.

Segundo o professor Mirabete (1997, p.34):

Os postulados da Nova Defesa Social, que tem como premissa defender na execução penal a proteção dos bens jurídicos protegidos e a reincorporação do autor à comunidade, foram claramente adotados na Lei de Execução Penal Brasileira.

No Brasil, por determinação do Código de Processo Penal e da Lei de Execuções Penais (Lei 7.210/84), a execução da pena é considerada uma atividade

administrativa, cabendo ao Poder Executivo proporcionar as condições humanas e materiais para a estrutura operacional do sistema, quando cabe ao Estado-Juiz (Poder Judiciário) fazer o acompanhamento da execução da pena imposta, tendo o Estado-Administração representado pelo Ministério Público, a função de fiscalizar o processo da execução penal.

À fase executória da pena deve se aplicar os princípios constitucionais da igualdade, de ampla defesa, do contraditório, do duplo grau de jurisdição, dando efetividade ao princípio fundamental da dignidade humana.

Na seara penal, como não poderia deixar de ser diferente, não é pelo fato de estar sujeito à segregação temporária do seu direito de ir e vir, que o condenado venha perder a sua dignidade humana, conforme afirmação de Ingo Wolfgang Sarlet, que entende ser a dignidade um atributo intrínseco ao ser humano e que, por tal fato³PHVPRGDTXHOHVTXHFRPHWHPDo}HVLQGLJQDVHLQIDPHVQmRSRGHUiVHU REMHWRGHGHVFRQVLGHUDomR´ (SARLET, 2006, p.44).

Ao associar a idéia exposta de Sarlet, de forma específica na Execução Penal, buscamos a lição do saudoso Mirabete (1997, p.115):

Por estar privado de liberdade, o preso encontra-se em uma situação especial que condiciona uma limitação de seus direitos previstos na Constituição Federal e nas leis, mas isso não quer dizer que perde, além da liberdade, sua condição de pessoa humana e a titularidade de direitos não atingidos pela condenação.

Ao buscar propiciar HIHWLYLGDGH D HVVD SURWHomR GD ³GLJQLGDGH KXPDQD´ DVVRFLDGDDRSULQFtSLRGD³UHVVRFLDOL]DomR´RDUWLJRGD/HLGH([HFXomR3HQDO elenca o rol de direitos do preso:

Art. 41 - Constituem direitos do preso: I - alimentação suficiente e vestuário;

II - atribuição de trabalho e sua remuneração; III - Previdência Social;

IV - constituição de pecúlio;

V - proporcionalidade na distribuição do tempo para o trabalho, o descanso e a recreação;

VI - exercício das atividades profissionais, intelectuais, artísticas e desportivas anteriores, desde que compatíveis com a execução da pena; VII - assistência material, à saúde, jurídica, educacional, social e religiosa; VIII - proteção contra qualquer forma de sensacionalismo;

IX - entrevista pessoal e reservada com o advogado;

X - visita do cônjuge, da companheira, de parentes e amigos em dias determinados;

XI - chamamento nominal;

XII - igualdade de tratamento, salvo quanto às exigências da individualização da pena;

XIV - representação e petição a qualquer autoridade, em defesa de direito; XV - contato com o mundo exterior por meio de correspondência escrita, da leitura e de outros meios de informação que não comprometam a moral e os bons costumes.

XVI ± atestado de pena a cumprir, emitido anualmente, sob pena da responsabilidade da autoridade judiciária competente. (Incluído pela Lei nº 10.713, de 13.8.2003)´ Lei 7.210/84 ± Lei de Execuções Penais ).

Esses direitos têm como escopo principal fazer com que o reeducando não sofra além das restrições contidas na sentença penal condenatória, a restrição à liberdade de locomoção não pode ser aplicada de forma desumana; deve-se preservar as garantias mínimas de condições dignas de permanência na reclusão, bem como, de assistência aos diversos aspectos da existência, visando proporcionar a sua plena ressocialização, com trabalho, recreação e descanso.

Por outro lado, como a regra das normas jurídicas sempre impõe que, para cada direito há um dever, a Lei de Execuções Penais prevê, no seu escopo, regras que visam à imposição de medidas de caráter disciplinar, como forma de manter o bem-estar e o bom andamento dos trabalhos no sistema prisional.

De acordo com o artigo 39 da LEP, constituem deveres do condenado:

Art. 39. Constituem deveres do condenado:

I - comportamento disciplinado e cumprimento fiel da sentença;

II - obediência ao servidor e respeito a qualquer pessoa com quem deva relacionar-se;

III - urbanidade e respeito no trato com os demais condenados;

IV - conduta oposta aos movimentos individuais ou coletivos de fuga ou de subversão à ordem ou à disciplina;

V - execução do trabalho, das tarefas e das ordens recebidas; VI - submissão à sanção disciplinar imposta;

VII - indenização à vitima ou aos seus sucessores;

VIII - indenização ao Estado, quando possível, das despesas realizadas com a sua manutenção, mediante desconto proporcional da remuneração do trabalho;

IX - higiene pessoal e asseio da cela ou alojamento;

X - conservação dos objetos de uso pessoal (Lei 7.210/84 ± Lei de Execuções Penais).

O poder de disciplina é de competência da autoridade administrativa, sendo o meio pelo qual se mantém a ordem no presídio, que torna necessário para o cumprimento das finalidades da pena determinadas pela Lei de Execuções Penais.

Caso o reeducando no cumprimento das penas privativas de liberdade, não venha cumprir os deveres impostos durante essa fase, a LEP traz em seu bojo as sanções passíveis de serem aplicadas ao condenado. Vejamos a redação do artigo 53:

Art. 53. Constituem sanções disciplinares: I - advertência verbal;

II - repreensão;

III - suspensão ou restrição de direitos (artigo 41, parágrafo único);

IV - isolamento na própria cela, ou em local adequado, nos estabelecimentos que possuam alojamento coletivo, observado o disposto no artigo 88 desta Lei.

V - inclusão no regime disciplinar diferenciado. (Incluído pela Lei nº 10.792, de 1º.12.2003)´ Lei 7.210/84 ± Lei de Execuções Penais).

Em todos os procedimentos realizados na fase da Execução Penal devem ser aplicadas as mesmas regras e princípios da fase da Ação Penal, que consistem na aplicação do devido processo legal, consistente na aplicação dos princípios do contraditório e da ampla defesa.

Das sanções mencionadas, destacamos o Regime Disciplinar Diferenciado (R.D.D), que foi introduzido no ordenamento jurídico brasileiro pela Lei 10.792/2003, que teve como digressão histórica, as rebeliões em diversas unidades prisionais, comandadas por facções criminosas que dominaram e dominam ainda grande parte dos presídios brasileiros.

A aplicação das sanções do RDD somente pode ser aplicada por prévio e fundamentado despacho/decisão do juiz competente, ouvido o Ministério Público e a defesa, sob pena de nulidade da decisão. Destacamos aqui a decisão do Ministro, Ilmar Galvão, do STJ, nesse sentido:

EMENTA: HABEAS CORPUS. CONDENADO SUBMETIDO À SINDICÂNCIA PARA APURAÇÃO DE FALTA DISCIPLINAR DE NATUREZA GRAVE. DEFESA TÉCNICA.

Formalidade a ser observada, sob pena de nulidade do procedimento -- que pode repercutir na remição da pena, na concessão de livramento condicional, no indulto e em outros incidentes da execução --, em face das normas do art. 5º, LXIII, da Constituição, e do art. 59 da LEP, não sendo por outra razão que esse último diploma legal impõe às unidades da Federação o dever de dotar os estabelecimentos penais de serviços de assistência judiciária, obviamente destinados aos presos e internados sem recursos financeiros para constituir advogado (arts. 15 e 16). Habeas corpus deferido. (Habeas Corpus 77.862, Rel. Min. Ilmar Galvão, DJ 2.4.2004)

O papel da Defensoria Pública na Lei de Execuções Penais é imprescindível para garantir que a Execução Penal não seja eivada de vícios que venham a ferir o princípio constitucional da dignidade da pessoa humana, tendo em vista que essa instituição oferece o amplo acesso à justiça, para as pessoas que são hipossuficientes, representantes da grande maioria da população carcerária brasileira.

Dativos) são responsáveis por resguardar aos necessitados economicamente, durante a fase da execução penal, a preservação/respeito pelo direito de defesa durante os procedimentos administrativos e judiciais, não permitindo que seja violado o direito ao contraditório e da ampla defesa, que são basilares do devido processo legal, que tem como essência determinação da Constituição Federal que defende o princípio universal da dignidade da pessoa humana.

Corroborando com a importância do trabalho do Defensor Público na fase da Execução Penal, trazemos à baila, a recente Lei 12.313, de 19 de agosto de 2010, publicada no DOU de 20-08-2010, que alterou a LEP, prevendo a assistência jurídica ao preso dentro do presídio que deverá ser prestada as pessoas carentes pela Defensoria Pública.

Das alterações realizadas pela referida lei, destacamos:

1- Obrigatoriamente, todas as Unidades da Federação terão que oferecer serviços de assistência jurídica integral e gratuita, pela Defensoria Pública, dentro e fora dos estabelecimentos prisionais;

2- As Unidades da Federação deverão oferecer auxílio material e pessoal para o trabalho da Defensoria Pública dentro dos presídios;

3- As unidades prisionais deverão oferecer local apropriado para o atendimento dos Defensores Públicos;

4- Implantação nas Defensorias Públicas de Núcleos Especializados para atendimento aos sentenciados em liberdade, egresso e seus familiares;

5- A Defensoria Pública terá capacidade postulatória para realizar qualquer pedido judicial e extrajudicial visando ao cumprimento efetivo das normas da LEP e demais legislações;

6- Determina a visita periódica dos Defensores Públicos nos presídios, sendo essa visita registrada em livro próprio da unidade prisional;

Notadamente, verifica-se que a função da Defensoria Pública, que é instituição essencial para a aplicação da atividade jurisdicional, que tem como atividade principal prestar assistência judiciária aos, economicamente, desprivilegiados, deve funcionar como uma sentinela e combatente na preservação dos direitos e garantias impostos na Lei de Execuções Penais, ao evitar, assim, atitudes arbitrárias e desumanas.

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