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5.1 RESULTADOS – PARTE I: PERSPECTIVAS DOS GESTORES E PROFESSORES DO

5.1.1 Resultados das entrevistas realizadas com gestores e professores do Programa para

5.1.1.6 Deficiência X Superdotação

O aspecto relacionado à comparação existente entre a área da superdotação e a área das deficiências merece atenção especial neste estudo. Neste tópico, especificamente, enfatizaremos a forma como a comunidade, a família e a escola tratam essa diferenciação.

A cultura predominante no país, segundo depoimento de um diretor entrevistado, ainda associa o deficiente, apenas, quando se fala em aluno com necessidade educacional especial. Isso ainda é um mito, como afirma um diretor:

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“imediatamente as pessoas vinculam a um deficiente físico ou deficiente mental automaticamente, você tenha certeza de que quem não conhece não passa pela cabeça o superdotado de altas habilidades.” (Diretor/G3)

Os gestores entrevistados concordaram que o aluno que apresenta alguma forma de “deficiência” recebe uma maior atenção por parte dos governantes e da própria comunidade escolar, conforme podemos perceber nos depoimentos abaixo:

“Sempre percebi porque na realidade, primeiro que no começo isso mudou, mas no começo o superdotado “isso aí ele já tem todas as condições.... o outro, coitadinho precisa’, então, a pessoa se emociona muito, inclusive eu sempre falei que eu jamais trabalharia no Ensino Especial porque eu ia chorar todos os dias.” (Diretor/G3)

“na realidade você tem pena, então, isso também está se reduzindo devagar e eu tenho visto na televisão aquela menina..., ah, mas como dança e dança bem e passa alegria, ela passa uma alegria que antigamente não era assim, eram meninos tristes não superdotados.” (Diretor/G3)

“que as pessoas acham que o aluno superdotado já tem uma facilidade natural para aprender”.(Gerente/G3)

Um dos gestores entrevistados levantou a questão de que o superdotado, embora considerado alguém com necessidades especiais, não possui nenhuma organização forte de apoio, como se observa com relação aos deficientes. Os deficientes possuem organizações fortes, como as APAEs em todo o Brasil, inclusive com representantes no Congresso Nacional. Este gestor comenta:

“eu não vejo isso em relação ao superdotado, em nenhum estado da Federação, faltam movimentos de apoio, os pais dos superdotados não são organizados.” (...) “Historicamente o Brasil tem organizações não-governamentais fortíssimas na área de deficiências e em alguns

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momentos põe diretores no MEC, secretários no MEC, então, são tão poderosas essas instituições que elas mobilizam particularmente o poder legislativo e elas conseguem... deficiência sejam vistas. Vamos pegar um exemplo simples, a APAE, existem no Brasil, hoje, mais de 2.000 APAE, espalhadas pelo país inteiro.” (...) “acho que as deficiências têm uma deficiência que a superdotação não tem, a deficiência, em termos de Associações, de defesa dos direitos.” (Diretor/G1)

Dois gestores mencionaram a importância maior que é dada ao deficiente, quando se trata de prioridade de alocação de recursos no sistema, como visto anteriormente. Eles afirmam:

“elevávamos aí uma ordem, tanto na área de deficiência mental, deficiência auditiva, incluindo também os alunos com altas habilidades/superdotação” (...) “tinha que priorizar as áreas, a deficiência mental vinha em primeiro lugar.” (Diretor/G2)

“aqueles que têm deficiências precisam muito mais do que aqueles que em tese não têm.” (...) “se eu tenho o dinheiro tal eu vou aplicar nesses deficientes físicos, mentais que estão por aí, que o número é muito maior do que se pensa, muito maior do que se imagina e também, os superdotados.” (Diretor/G3)

Contudo, ao reconhecerem que não era dada a devida prioridade ao aluno superdotado, comparando-o com um aluno deficiente, os próprios gestores justificam tal postura em função da demanda maior de alunos deficientes no sistema. Eles afirmam:

“Por causa da demanda.” (...) “você tinha uma demanda da Secretaria como um todo e depois você tinha aí pelas secretarias, pelas divisões de ensino, de ensino fundamental, ensino médio, Ensino Especial.” (Diretor/G2)

Um diretor e um gerente de Ensino Especial que participaram da pesquisa afirmaram que tanto no Ensino Especial quanto no Ensino Regular o superdotado não era visto como

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alguém que necessitasse de tratamento diferenciado, apesar de suas características especiais. Eles afirmam:

“quando você falava alguns anos atrás na Educação Especial, a primeira coisa que se levava em conta era a deficiência.” (Diretor/G2)

“eu diria que o superdotado, apesar de todo esse trabalho de inclusão do Ensino Especial... eu diria que o superdotado, ele é excluído no próprio Ensino Especial.” (...) “ninguém lembra que o superdotado é atendido pelo Ensino Especial, é um aluno que tem características de aprendizagem que o Ensino Regular não contempla e daí a necessidade de ser atendido pelo Ensino Especial.” (Gerente/G3)

Esse mesmo gerente apontou um dos mitos da superdotação. Segundo ele, um mito que persiste no sistema de ensino em relação ao superdotado refere-se à idéia errônea de que o superdotado já nasce pronto, não necessitando de nenhum atendimento diferenciado. Ele afirma:

“Já é dotado, enfim, já está pronto e, a gente sabe que o aluno superdotado, se ele não receber o atendimento adequado, ele pode entrar num grupo de risco e ter dificuldade de se relacionar socialmente.” (...) “dentro do Ensino Especial ele não é considerado, por alguns mitos, por algumas características.”(Gerente/G3)

Tratando-se ainda de diferenciação entre superdotação e deficiência, um gestor salientou o descumprimento da lei que assegura ao superdotado um tratamento especializado, diferentemente do que acontece com os deficientes. Ele afirma que muitos estados da Federação não atendem ao superdotado por uma questão de descumprimento de lei num país onde não há nenhuma forma de se fazer cumprir a lei. Ele diz:

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“Acho que o nosso país de um modo geral é um país que desobedece às leis, nós não temos uma cultura de cumprimento de leis... existe uma tolerância ao descumprimento da lei em relação ao superdotado, que não existe em relação às deficiências.” (Diretor/G1)

A diferenciação entre superdotação e deficiência é também percebida por parte de muitas famílias, por uma questão de desinformação, segundo depoimento de um dos gestores que participaram do estudo. Ele diz:

“quem tinha o filho deficiente era para lamentar, quem tinha o filho superdotado era para se envaidecer e isso não podia acontecer nem lá nem aqui.” (Diretor/G2)

Apesar de se perceber uma grande diferenciação ao se comparar a superdotação com a deficiência, percebe-se que essa cultura lentamente está se modificando. O aluno deficiente acaba recebendo mais compaixão da sociedade, mas, segundo um diretor entrevistado, isso tende a mudar. Segundo ele:

“hoje ainda em alguns lugares existe, mas a mentalidade já está mudando nessa questão da compaixão que você está falando.” (...) “a sociedade vai tendo acesso a essas informações.” (Diretor/G2)

“o superdotado era bem aceito porque nós tínhamos essa convicção, agora a gente não achava, como eu lhe disse, a questão do entendimento errado de que quem é superdotado já está melhor.” (Diretor/G1)

A descrença social em relação à existência de alunos superdotados no país e, sobretudo no sistema público de ensino, foi evidenciada na fala de um dos gestores entrevistados. Ele diz:

“quando se falava de superdotação .... as vezes as pessoas não acreditavam, duvidavam”. (Diretor/G2)

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5.1.1.7 Capacitação dos professores que atuam no Programa para Superdotados da