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O documento intitulado Política Nacional de Educação Especial (1994) foi elaborado e amplamente discutido com representantes de organizações governamentais (Ogs) e não- governamentais (ONGs) voltadas para pessoas portadoras de deficiências, de problemas de conduta e superdotadas. Teve sua elaboração coordenada pela Secretaria de Educação Especial do Ministério da Educação e do Desporto (SEESP/MEC), no decorrer de 1993, visando inspirar a elaboração de planos de ação que definiriam as responsabilidades dos órgãos públicos e das entidades não-governamentais ligadas a essa clientela.

Nesse documento, o alunado da Educação Especial é definido como o educando que, por apresentar necessidades próprias e diferentes dos demais alunos no domínio das aprendizagens curriculares correspondentes à sua idade, requer recursos pedagógicos e metodologias educacionais específicas. São chamados genericamente de portadores de necessidades educacionais especiais, e classificam-se em: portadores de deficiência (mental, visual, auditiva, física, múltipla), portadores de condutas típicas (problemas de conduta) e portadores de altas habilidades.

Os portadores de altas habilidades/superdotados são classificados, nesse documento, como aqueles que apresentam elevada potencialidade em qualquer dos seguintes aspectos, isolados ou combinados:

• capacidade intelectual geral • aptidão acadêmica específica

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• pensamento criativo ou produtivo • capacidade de liderança

• talento especial para artes • capacidade psicomotora

O documento segue caracterizando as outras modalidades do Ensino Especial e faz um breve histórico da Educação Especial no Brasil, que vale aqui mencionar. No âmbito político- administrativo, ainda em 1971, o MEC criou um grupo tarefa, através da Portaria nº86, de 17 de junho, para realizar uma completa avaliação da Educação Especial no Brasil. Esse trabalho resultou na apresentação de um relatório, em dezembro do mesmo ano, com sugestões, diretrizes e propostas para a criação de um órgão especializado, destinado a lidar exclusivamente com a Educação Especial. Uma centralização administrativa, inicialmente, foi aconselhada, uma vez que as decisões em torno da Educação Especial, além de assistemáticas, permaneciam apenas no âmbito dos Conselhos Estaduais de Educação. Tal fato, além de ter sido uma referência cronológica, passou a ter este um significado sócio-político, com desdobramentos que perduram até os nossos dias.

No I Plano Setorial de Educação (1972) o Governo elegeu a Educação Especial como área prioritária, assegurando o atendimento pedagógico e criando um Centro Nacional de Educação Especial (CENESP), marcando, assim, o início das ações sistematizadas, visando a expansão e melhoria do atendimento educacional prestado no Brasil.

O CENESP transformou-se na Secretaria de Educação Especial – SEESP/MEC, que coordena as ações voltadas à elaboração de propostas voltadas à formulação de políticas públicas para o Ensino Especial, oferece fomento técnico e financeiro aos estados e municípios e promove as articulações necessárias ao aprimoramento da Educação Especial em Ogs e em ONGs.

Esse documento salienta que, apesar de se registrarem conquistas importantes nessas duas últimas décadas, ainda persistem inúmeras dificuldades; algumas estruturais da sociedade brasileira e outras específicas da educação de portadores de necessidades especiais, das quais podemos destacar:

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a) Insuficiência de ações organizadas, articuladas e coordenadas entre os diversos níveis de planejamento nas esferas federal, estadual, municipal e particular e entre as áreas de ação social, saúde, educação, previdência, trabalho e justiça;

b) Planejamentos distanciados da realidade educacional do País, prejudicando o atendimento das reais necessidades dos portadores de necessidades especiais;

c) Descontinuidade dos planejamentos e das ações, decorrente de mudanças administrativas;

d) Descumprimento, nos vários níveis da administração, dos critérios estabelecidos pelos órgãos representativos da Educação Especial para alocação de recursos e definição de propriedades;

e) Escassez de recursos financeiros para os programas de Educação Especial;

f) Desigualdades nas oportunidades educacionais oferecidas em regiões, estados, zonas urbanas e rurais, decorrentes do desequilíbrio geográfico, social e econômico;

g) Insuficiência de incentivos a planos de pesquisas e à divulgação das experiências em ações educativas já existentes;

h) Pouca divulgação das informações e esclarecimentos relativos às necessidades educacionais de portadores de deficiências, condutas típicas e altas habilidades, gerando desinteresse e resistência da maioria das escolas da rede regular de ensino para aceitar esse alunado;

i) Identificação tardia de deficiência, prejudicando a eficácia do atendimento especializado, que deve ser iniciado o mais precocemente possível;

j) Falta de sistematização do processo de avaliação/acompanhamento do progresso do aluno, que envolva tanto a Educação Especial quanto o Ensino Regular;

k) Insuficiência, na maioria dos estados, de atendimento aos portadores de necessidades especiais em pré-escolas, bem como de serviços de estimulação essencial para atendimento, nas primeiras fases do desenvolvimento infantil;

l) Insuficiência de ofertas de acesso ao aluno portador de necessidades especiais na escola regular de ensino;

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m) Carência de técnicos para orientação, acompanhamento e avaliação da programação pedagógica a ser desenvolvida com o aluno;

n) Inadequação dos currículos desenvolvidos pelos professores da Educação Especial com os alunos portadores de necessidades educativas especiais;

o) Insuficiência de propostas inovadoras como alternativas educacionais e de divulgação das já existentes;

p) Indefinição de critérios para encerrar o processo escolar dos portadores de deficiência, particularmente a mental, e dos portadores de condutas típicas;

q) Inadequação da rede física e carência de material e de equipamentos para atendimento especializado, dificultando o acesso, a permanência e a trajetória do portador de deficiência na escola regular (Política Nacional de Educação Especial – MEC, 1994; p.30-33).

A Política Nacional de Educação Especial orienta que a Educação Especial, ao obedecer aos mesmos princípios da educação geral, deve se iniciar no momento em que se identificam atrasos ou alterações no desenvolvimento global da criança, e continuar ao longo de sua vida, valorizando suas potencialidades e lhe oferecendo todos os meios para desenvolvê-las ao máximo. Nesse sentido, o documento serve como fundamentação e orientação do processo global da educação de pessoas portadoras de deficiências, de condutas típicas e de altas habilidades, criando condições adequadas para o desenvolvimento pleno de suas potencialidades, com vistas ao exercício consciente da cidadania.

Dentre os objetivos específicos da Política Nacional de Educação Especial, podemos citar:

a) o desenvolvimento global das potencialidades dos alunos;

b) um maior incentivo à autonomia, à cooperação, ao espírito crítico e criativo da pessoa portadora de necessidades especiais;

c) a aquisição de hábitos intelectuais, de trabalho individual e em grupos; d) a aquisição do “saber” e do “saber fazer”;

e) a preparação dos alunos para participarem ativamente no mundo social, cultural, dos desportos, das artes e do trabalho;

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f) o desenvolvimento das habilidades lingüísticas, particularmente dos surdos; g) a integração dos portadores de necessidades especiais à sociedade;

h) a aquisição de material didático pedagógico moderno e suficiente; i) a adequação da rede física quanto a espaços, mobiliário e equipamentos;

j) uma maior conscientização da comunidade escolar para a importância da presença do alunado de Educação Especial em escolas da rede regular de ensino;

k) uma avaliação permanente, com ênfase no aspecto pedagógico, e considerando o educando em seu contexto biopsicossocial, visando à identificação de suas possibilidades de desenvolvimento;

l) a melhoria da qualidade do processo ensino-aprendizagem na Educação Especial; m) o desenvolvimento de programas voltados à preparação para o trabalho;

n) a criação e o desenvolvimento de programas diversificados de enriquecimento e aprofundamento curricular para os portadores de altas habilidades;

o) a implantação de programas diversificados, nos quais qualquer aluno possa trabalhar suas capacidades latentes, desenvolvendo-as em altas habilidades, mesmo que se trate de educandos com deficiências ou condutas típicas;

p) maior estímulo ao desenvolvimento da informática em Educação Especial;

q) maior integração técnico-pedagógica entre os educadores que atuam nas salas de aula do Ensino Regular e os que atendem em salas de recursos da Educação Especial;

r) a implantação e a implementação de orientação a pais e irmãos de alunos da Educação Especial;

s) a criação de centros de preparação e confecção de material pedagógico específico às necessidades dos alunos;

t) uma maior racionalização do atendimento prestado nas organizações não- governamentais de ensino (Política Nacional de Educação Especial, 1994, p. 49; 52-53).

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Nas Diretrizes Gerais da Política Nacional de Educação Especial é recomendado que se repense a própria filosofia educacional, de modo a valorizar e respeitar as diferenças individuais dos educandos, o que implica a individualização dos atendimentos oferecidos.

Tais Diretrizes se propõem, entre outras prioridades, a:

a) Assegurar, dentro dos diferentes órgãos governamentais e não-

governamentais, a execução de mecanismos legais e funcionais que garantam, continuamente, articulações entre os diferentes níveis de planejamento educacional nas esferas federal, estadual e municipal, entre Ogs e ONGs.

b) Desenvolver ações articuladas e integradas, entre as áreas de educação, ação social, saúde e trabalho, para os processos de avaliação/acompanhamento, diagnóstico diferencial, atendimento educacional e preparação para o trabalho.

c) Desenvolver programas voltados para o preparo profissional das pessoas

portadoras de necessidades especiais e sua integração na força de trabalho.

d) Produzir, em parceria com órgãos de ensino superior, amplo programa de

formação e/ou especialização de recursos humanos na área de Educação Especial.

e) Assegurar a participação da Educação Especial nos processos decisórios do

órgão onde se insere.

f) Apoiar programas voltados para o preparo profissional das pessoas portadoras de deficiências, de condutas típicas e de altas habilidades, com vistas à sua integração na força de trabalho.

g) Expandir a oferta de Educação Especial, de acordo com as peculiaridades

regionais e locais, valorizando a cultura local como elemento básico do processo educacional.

h) Desenvolver e apoiar programas sistemáticos de prevenção das várias

deficiências através da mobilização e da integração com os demais órgãos afins, governamentais e não-governamentais. (Política Nacional de Educação Especial – MEC; 1994; p. 57-59).