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Capítulo 2 Panorâmica da evolução e caracterização do Ensino a Distância

2.3. DEFINIÇÕES E CONCEITOS

Vários investigadores têm definido, com variações ao longo do tempo, o que entendem por “Ensino a Distância”. Alguns desses investigadores têm modificado (acrescentado ou retirado palavras ou frases) nas definições que apresentam, assimilando os desenvolvimentos de ordem técnica e tecnológica que vão acontecendo, tanto a nível dos conteúdos como das formas de acesso aos conteúdos a ensinar. Comecemos por alguns dos especialistas mais referenciados.

Moore e Kearsley (1996, p.1) afirmam que “o conceito fundamental da Educação a Distância é simples: alunos e professores estão separados pela distância e algumas vezes também pelo tempo.” Partindo desta premissa, pode-se afirmar que o Ensino a Distância está vinculado a um meio de comunicação.

Otto Peters, por exemplo, citado por Keegan (1996, p.41) na sua definição realizada em 1973 diz que “ Educação a Distância é um método racional de partilhar conhecimento, capacidades e atitudes, através da aplicação da divisão do trabalho e de princípios organizacionais, tanto quanto pelo uso extensivo de meios de comunicação, especialmente com o propósito de reproduzir materiais técnicos de alta qualidade, os quais possibilitam instruir um grande número de estudantes ao mesmo tempo, enquanto esses materiais durarem. É uma forma industrializada de ensinar e aprender”.

Numa comunicação num simpósio realizado em 1990, Peters (p. 11-16) apresenta um conjunto de designações para “educação a distância” e termina explicando que a frase “forma de instrução industrializada” ajuda a reconhecer os elementos estruturais que são típicos no “estudo a distância” e que estão na definição acima citada. Precisa de ser cuidadosamente pré-planeado, preparado e organizado, há uma divisão de trabalho, um uso crescente de equipamentos técnicos e necessidade de avaliação. O professor numa sala de aula “trabalha como um artífice” ao contrário do que se passa no ”complicado sistema do ensino/aprendizagem organizado como um processo industrial”.

Para Peters o Ensino a Distância é, assim, a industrialização do ensino, considerando o grande número de alunos que pode abranger, com os mesmos materiais de ensino e os mesmos meios técnicos. Mas, pensamos nós, não há dúvida que o ensino tradicional não pode chegar a tão grande quantidade de estudantes mas, nalgumas situações, não deixa de também poder ser industrial (perspectiva de Peters), considerando a grande quantidade de alunos por sala e por professor. A comunicação é aqui unidireccional

embora alunos e professores estejam fisicamente próximos.

Na definição de Holmberg de 1977 “O termo “educação a distância” esconde-se sob várias formas de estudo, nos vários níveis que não estão sob a contínua e imediata supervisão de tutores presentes com os alunos nas salas de leitura ou num mesmo local. A educação a distância beneficia do planeamento, direcção e instrução da organização do ensino.” (citado por Keegan, o.c., p. 42)

Aqui Holmberg realça mais o timing do contacto com o professor ou tutor. No chamado ensino tradicional os alunos estão presencialmente no mesmo local com os docentes, o que não acontece no ensino a distância. Depreende-se que “mesmo local” é a mesma sala. No entanto, os alunos podem fazer aprendizagem a distância dentro dum estabelecimento de ensino, não estando na mesma sala do professor (videoconferência, teleconferência, conversa em tempo real através de telecomunicações, etc).

Segundo Moore e Kearsley, (o.c., p. 206) uma definição muito citada de Educação a Distância foi criada por Desmond Keegan em 1980 e baseava-se na definição do próprio Moore em 1972: “O ensino a distância é o tipo de instrução em que as actividades docentes acontecem à parte das discentes, de tal maneira que a comunicação entre o professor e o aluno se possa realizar mediante textos impressos, por meios electrónicos, mecânicos ou por outras técnicas.” (citado por Moore e Kearsley, ibid, p.197)

Claro que esta definição pode ser considerada como “englobalizadora” pelos meios de comunicação realçados. No entanto Moore não aplica o conceito de distância mas sim que “as actividades docentes acontecem à parte das discentes”. Um professor que numa sala se limita a entregar publicações ou outro material impresso não explicando nem tirando dúvidas oralmente, poderá ser considerado ensino a distância? Esta dúvida surge-nos da leitura da citada definição.

Keegan (o.c., p.44), após uma análise de definições de Holmberg, Peters, Moore e da lei que regulamenta, em 1972, este tipo de ensino em França, enuncia seis elementos essenciais para uma definição que considera compreensível:

 Separação entre professor e aluno;

 Influência duma instituição, especialmente na planificação e preparação dos materiais de aprendizagem;

 Comunicação bidireccional;

 Possibilidade ocasional de seminários;

 Participação na forma mais industrial da educação.

Mais tarde, em 1986, Keegan manteve estes elementos como base da sua definição, embora os apresentasse de uma forma menos sintética.

A definição de Moore e Kearsley em 1996 difere duma que haviam enunciado em 1973, mencionando a importância de meios de comunicação electrónicos e a estrutura organizacional e administrativa específica: “Educação a Distância é a aprendizagem planificada pelo professor que normalmente ocorre em diferentes lugares e como consequência requer técnicas especiais de planeamento de curso, técnicas instrucionais especiais, métodos electrónicos especiais de comunicação e outras tecnologias, bem como uma estrutura organizacional e administrativa específica.” (o.c., p.2)

Esta definição está de acordo com aquelas que Carmo (1997) critica por “priorizar sistemas de ensino”. Diz Carmo “Com efeito, nos modelos de Ensino a Distância (em geral) nota-se uma ênfase excessiva nos processos de ensino (estrutura organizacional, planeamento, concepção de metodologia, produção de materiais, etc.) e pouca ou nenhuma consideração dos processos de aprendizagem (características e necessidades dos estudantes, modos e condições de estudo, níveis de motivação, etc.). Pode-se dizer que as práticas propostas e/ou descritas pelos modelos de Ensino a Distância referem-se muito mais aos “sistemas de ensino” do que aos “sistemas de aprendizagem”.

Ao procurarmos definições, além de algumas dadas por diferentes autores autores/investigadores, também as instituições de ensino têm as suas próprias como se constata quando se investiga na World Wide Web. Vejamos algumas:

• Educação a Distância - é definido como uma experiência planificada de ensino/aprendizagem que usa uma grande variedade de tecnologias para alcançar alunos à distância e é projectada para encorajar a interacção do estudante e para a certificação de aprendizagem. (Universidade de Winscosin)

• Ensino a Distância - é um sistema educacional que liga os alunos aos recursos educacionais. O Ensino a Distância fornece acesso a recursos educacionais a alunos não inscritos nas instituições de ensino tradicionais e pode aumentar as oportunidades de aprendizagem dos actuais alunos. A implementação de ensino à distância é um processo que utiliza os recursos

disponíveis e evoluirá para incorporar tecnologias emergentes. (California

Distance Learning Project)

• Educação a Distância – é um sistema de formação que não obriga o aluno a estar fisicamente presente no mesmo local do professor. Historicamente Educação a Distância significava estudo por correspondência. Hoje, o áudio, o vídeo e as tecnologias do computador são os meios mais comuns de comunicação. (Distance Learner Resource Network)

• Educação a Distância – (estudo por correspondência/estudo em casa) é o contrato com uma instituição de ensino que fornece materiais para aulas, preparados de forma sequência e lógica para estudo pelos alunos. Quando cada lição está completa, o aluno envia os trabalhos por fax, via postal ou computador para que sejam corrigidos, avaliados e comentados por professores devidamente qualificados. As correcções assinaladas são devolvidas aos alunos numa interacção personalizada professor/aluno. (Distance Education and Training Council)

• Educação a Distância não é simplesmente uma adição da tecnologia à formação, pelo contrário, usa a tecnologia para tornar possível novas propostas para o processo de ensino/aprendizagem. (Penn State Departement

of Distance Education)

O ITC (Instrucional Telecomunications Council) define Educação de Distância como o processo de aprendizagem que estende, ou oferece oportunidades de aprendizagem com partilha de recursos a lugares distantes de uma sala de aula, ou edifício, para outra sala de aula ou edifício, usando o correio, vídeo, áudio, computador, comunicações de multimedia, ou a combinação destes com outros métodos de entrega tradicionais.

• Educação de Distância: Este termo representa uma variedade de modelos educacionais que pressupõem a distância física da Universidade. (Universidade de Maryland)

• O que é Educação a Distância? Acontece educação de distância quando professor estudantes estão separados fisicamente. A tecnologia é utilizada, frequentemente para colmatar as lacunas da formação. (Universidade de Idaho)

A designação ensino a distância pode ser definida como “o conjunto de métodos, técnicas e recursos postos à disposição de populações estudantis dotadas de um mínimo de maturidade e de motivação suficiente, para que, em regime de auto-aprendizagem, possam adquirir conhecimentos ou qualificações a qualquer nível.” (UNIVERSIDADE ABERTA, 1995, p.12) Claro que poderíamos encher páginas com as mais variadas definições dando azo a um trabalho de investigação para analisar as diferenças particulares de cada uma em relação a outra e as razões dessas diferenças. Verifica-se, numa investigação sumária, que algumas dão mais ênfase à tecnologia enquanto outras à síntese. De realçar que a Universidade Aberta portuguesa é a única que realça a necessidade, embora mínima, de

maturidade e motivação.

A retirada da exigência, na maior parte das definições, que a interacção está sob os auspícios de uma instituição educacional indica uma convicção crescente de que as pessoas podem ensinar e aprender na ausência de supervisão institucional. De facto, o argumento que só pode ser administrada a educação a distância dentro duma instituição educacional pode ser presunçoso, reflectindo um pensar tradicional.

Desmond Keegan (o.c., pp. 29-36) apresenta também vários termos genéricos de educação a distância e inclui um conjunto de estratégias educativas referenciadas: educação por correspondência, utilizado no Reino Unido; estudo em casa (home study), nos Estados Unidos; estudos externos (external studies), na Austrália; ensino a distância, na Open University do Reino Unido. Também, “Télé-enseignement”, em francês; “Fernstudium/Fernunterricht”, em alemão; “Educación a distância”, em espanhol; “Instruzione a distanza” em italiano, “Extramural” na Nova Zelândia, “External appearance” na India (REDDY, 1993, p.237), “Zaochny” (sem contacto visual) na Rússia (PETERS, 1990, p.13), e, acrescentamos nós, “Ensino a Distância28”em português.

Vejamos agora também algumas considerações sobre o conceito de distância.