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Capítulo 4 Modelos de Ensino a Distância

4.2. TEORIAS DE APRENDIZAGEM

Ao estudarmos modelos de ensino/aprendizagem a distância confrontamo-nos com um amplo conjunto de teorias, todas elas bem fundamentadas e bem explicadas. No entanto, parece-nos que algumas têm como ponto de partida as teorias da aprendizagem (podemos chamar-lhes assim?) já defendidas na Antiga Grécia. Como escreve Lévy (1990, p. 162) “embora não dispusesse de nenhuma rede telemática, Maquiavel recomendava ao Príncipe que se adaptasse às circunstâncias e aproveitasse as ocasiões, independentemente de qualquer horizonte histórico. Repetimos que quase todas as maneiras de pensar se encontram presentes em todos os locais e em todas as épocas.” Mas avancemos alguns séculos e vejamos as discussões entre os estudiosos do Século XX e a sua aplicação nas novas formas de ensino a distância.

Num estudo de Cowan (1998), este engenheiro investigador no campo das teorias da aprendizagem refere que “Karl Popper é da opinião que as teorias nesta área não podem ser provadas mas”, continua Cowan “no entanto outro estudioso, Skemp, argumenta que não há nada mais prático do que as teorias e apresenta três vantagens:

• dizem-nos o que está a acontecer para além das coisas imediatamente observáveis;

• permitem-nos concentrar no que é relevante para determinada tarefa e, ao ter um considerável grau de independência dos exemplos das quais foram construídas, tornarão possível abrirmos novos caminhos para além do nosso pensamento.”(ibidem)

Parece-nos assim que as teorias têm mais vantagens que desvantagens e vamos aproveitar as vantagens para estudarmos um pouco mais aprofundadamente aquelas que, pensamos, têm mais aplicação no ensino a distância, explorando o potencial de mediação do computador na comunicação e na interacção em grupos dentro desse novo contexto importante que é o aproveitamento das TI para a construção social de conhecimento.

As pesquisas que efectuamos desenvolveram-se dentro duma perspectiva interpretativa que o conhecimento é subjectivo e socialmente construído. A natureza social da cognição foi teorizada por Vygotsky (1978) - Teoria do Desenvolvimento Socialv - e é vista como influente para uma construção pessoal do conhecimento. A introdução do diálogo é de importância fundamental dentro de uma comunidade estudantil pelo que é importante a sua inclusão no modo como a aprendizagem é projectada e implementada. O conhecimento é entendido também como um processo dialéctico no qual os indivíduos testam, uns com os outros, a construção do conhecimento e os seus pontos de vista. É uma forma de construção do conhecimento estando esta teoria dentro do grupo das teorias construtivistas. O construtivismo fixa convicções sobre o saber e o modo ou particularidade da sua aquisição:

• os alunos constróem os seus próprios significados, e os seus próprios pontos de vista sobre o conhecimento, interagindo com os assuntos que estão a ser aprendidos;

• os alunos são activos, não passivos, absorvendo melhor as informações e o conhecimento dado pelo especialista (professor) se esse conhecimento lhes for transmitido de forma a criar a sua própria compreensão;

• a aprendizagem é interactiva. Há uma necessidade de interacção social de forma que o estudante possa explicar aos outros como entende as situações e compreender como os outros as entendem para que possam chegar a um consenso.

teorias construtivistas. Sherry (1996), citando Prawat e Floden (1994) esclarece que, para implementar o construtivismo na aula, “deve-se afastar a focagem do modelo de transmissão de conhecimentos tradicional para outro que é muito mais complexo, interactivo e evolutivo”.

A teoria de Vygotsky foi uma tentativa de explicar a consciência como um produto final da socialização e defende com a sua teoria que o conjunto de capacidades que podem ser desenvolvidas com a orientação de adultos, ou por colaboração do grupo, excede o que pode ser obtido sozinho. Num ambiente em tempo real, a conversação social do grupo, é facilitada pelo meio electrónico de comunicação e pode incentivar o estudante para a construção de pensamento e consequente aprendizagem.

Tal como a teoria de Vigostsky o não é, também as outras teorias que investigamos não são teorias específicas para o ensino a distância. Têm sido adoptadas as teorias de ensino e aprendizagem já desenvolvidas para o ensino presencial de que são exemplo as teorias de: Controle do comportamentovi (Skinner), Organização do Desenvolvimentovii (Ausubel), Aprendizagem pela descobertaviii (Bruner), Facilitaçãoix (Carl Rogers),

Ensinox (Gagné), Processamento de Informaçãoxi (Miller), etc. Estas e outras teorias, cerca de 50, fazem parte duma recolha feita por Greg Kearsley (2001) e disponibilizado na Internet (Fonte: http://www.gwu.edu/~tip/theories.html).

O quadro 6 apresenta essas teorias que “enfatizam interacção e comunicação como importantes para qualquer conceito de educação a distância.” (KEEGAN, 1996, p. 89)

Quadro 6 - Algumas teorias de aprendizagem

AUTOR TEORIA PRESSUPOSTOS

Skinner Controle do comportamento Estímulo e resposta Ausubel Organização do

Desenvolvimento

Apresentação estruturada, indo do geral para o específico

Bruner Aprendizagem pela

descoberta Solução de problemas

Carl Rogers Facilitação Liberdade aos alunos, criando uma atmosfera amigável e igualitária.

Gagné Ensino Aprendizagem hierárquica, parte dos conceitos simples e vai aos complexos. Miller Processamento de

Informação

Capacidade da memória de curto prazo (chunking) e as metas atingidas (TOTE).

“É possível considerar algumas destas teorias como mais compatíveis com o ensino a distância que outras.” (HOLMBERG, 1995, p. 159).

Podem-se dividir as teorias em dois grandes grupos: as que tomam por princípio a aprendizagem individual e as que consideram a socialização e a interacção aluno-aluno

como condição sine qua non para a construção do conhecimento pelo indivíduo.

Entretanto, nas últimas décadas propuseram-se várias teorias tentando abranger todas as actividades do ensino a distância. Entre estas é de realçar os contributos de O. Peters, B. Holmberg, D. Keegan, M. Moore e D. Garrison.

AUTOR CONCEITOS PRESSUPOSTOS INFLUÊNCIA

Peters

Sociedade Industrial Sociedade Pós- Industrial

Princípios e Valores

Sociais Sociologia Cultural Moore Distância Transaccional Necessidades do aluno Estudo Independente

Keegan Reintegração das actividades de Ensino e Aprendizagem Recriação de relações Inter-pessoais presentes no Ensino Presencial Pedagogia Tradicional Holmberg Autonomia do Aluno Comunicação Distante Comunicação Didáctica Guiada Promoção da Aprendizagem através de Métodos Pessoais e Convencionais Corrente Humanística da Educação Garrison Transacção Educativa Controlo do Aluno Comunicação Facilitação da Transacção Educativa Teoria da Comunicação Princípios da Educação de Adultos

Quadro 7– Exemplo de teorias aplicadas ao Ensino a Distância

Apesar das diferentes orientações todos os autores concordam que a principal característica que está subjacente a qualquer teoria adoptada para o ensino a distância é a separação entre o professor e o aluno.

Em termos de métodos de estudo ou de ensino, as estratégias curriculares têm sido focadas na aprendizagem centrada no estudante e nas suas actividades de pesquisa. Este modelo de pensamento tem tradição que data de já algum tempo. Dewey (método de resolução de problemas), Kilpatrick (método do projecto) e Freinet’s (pedagogia da aprendizagem cooperativa) foram os teóricos de referência nestes processos de aprendizagem (PULLKINNEN, 2000).