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3.1 FASES DA METODOLOGIA DA PESQUISA

3.1.1 Delineamento da curva de aprendizagem: da base epistemológica à metodológica

A primeira fase do procedimento metodológico está pautada na compreensão científica para uma construção da base epistemológica. Esta discussão adere ao PPGTE, aos estudos de CTS, de sustentabilidade e reflete sobre a observação das variáveis de pesquisa. Ambos, tecnologia e sustentabilidade, são complexos e relativos à multi, à inter e à transdisciplinaridade. De acordo com a linha de Morin (2003), em Ponchirolli (2012, p. 107):

a Teoria da Complexidade apoia-se, inicialmente, e avança a partir das concepções teóricas dos sistemas, da organização, da informação e da cibernética, porque: a) considera que o conhecimento não se reduz a incerteza (a informação); b) compreende incertezas, indeterminações e fenômenos aleatórios como o progresso do conhecimento (sistema aberto); c) a concepção do conhecimento está associada aos pressupostos da organização, da auto-organização e da desordem; d) compreende o mundo como horizonte de realidades mais vastas; e) reconhece a sociedade, o conhecimento, o ser humano como sistema aberto; f) o sujeito e o mundo interagem e se desenvolvem. Reconhecem-se como um sistema aberto de interações e revitalização.

São princípios da teoria da complexidade que fundamentam a interdisciplinaridade: “princípio sistêmico ou organizacional; princípio hologramático; princípio do anel retroativo; princípio do anel recursivo; princípio de autoeco-organização (autonomia/independência); princípio dialógico e princípio da reintrodução.” (PONCHIROLLI, 2012, p. 111). Estes princípios se alinham com os fundamentos teóricos do modelo, chamados de princípios e de diretrizes de comportamentos para a sustentabilidade.

Diante da visão interdisciplinar, é válido o pluralismo das fontes consultadas, dos métodos e das teorias utilizadas, que se alinham coerentemente, embora de modo incerto no detalhe de seus entrelaçamentos, a uma matriz epistemológica complexa. Em meio à desordem do pensamento complexo, a busca pela sistematização do conhecimento em informações distancia-se da abstração, revelando-se em métodos relativos a cada etapa de discussão e verificação. A opção pela complexidade deixa “claro que as propostas de interdisciplinaridade e transdisciplinaridade não devem operar através de uma opção pela homogeneização e imperialismo epistemológicos, dados os seus riscos intrínsecos” (VASCONCELOS, 2002, p. 43). Há “princípios básicos para o desenvolvimento de práticas interdisciplinares e interparadigmáticas na produção de conhecimentos em ciências humanas e sociais” (VASCONCELOS, 2002, p. 83), que resguardam a socialização e a transferência do conhecimento.

Isto ocorre porque os objetos de observação são únicos e podem ser observados por diferentes áreas do saber. “A interdisciplinaridade surge como uma necessidade prática de articulação dos conhecimentos” e se constitui “como o fundamento de uma articulação teórica.” (LEFF, 2002, p. 36). Ainda de acordo com Leff (2002), a interdisciplinaridade é um método e uma prática para a produção do conhecimento e de instrumentos operacionais para a explicação e resolução dos complexos problemas do desenvolvimento.

Estas práticas “interdisciplinares” [...] são necessárias para o diagnóstico da articulação dos efeitos gerados pela convergência de fenômenos naturais, de fatores tecnológicos, de mecanismos econômicos e de condições políticas e institucionais (LEFF, 2002, p. 95).

A verificação da construção do alinhamento epistemológico e metodológico pode ser compreendida como uma curva de aprendizagem da realização deste programa de doutoramento. O amadurecimento daquilo que se pode chamar de processo de revelação de técnicas e de conhecimentos envolveu reflexões, percepções, assimilações, análises e sínteses, entre o meio tácito e expressões explícitas. As etapas de estudos desta tese foram registradas em uma linha histórica de leituras, realização de disciplinas, publicações e experiências. Para extrair a essencialidade dos procedimentos expressos aqui, em etapa anterior ocorreu o registro minucioso do processo de tomada de decisão sobre os procedimentos metodológicos. Ficaram registradas as vias seguidas nesta pesquisa, como expressão linear de um mapa mental, desde o início até a consolidação deste documento. Trata-se do produto das inúmeras vezes em que ocorreram os ciclos da dialética de elaboração de tema, problema e hipóteses. Este exercício corrobora a vivência, a experiência e a consciência sobre curvas de aprendizagem, que possuem produtos dinâmicos, que se renovam ao longo do tempo.

Os registros de maturação do conhecimento e da curva de aprendizagem foram realizados semestralmente, relacionando a dialética aos produtos gerados a cada período de tempo, de acordo com os aprendizados adquiridos em ensino, pesquisa e extensão. Entre a elaboração do projeto inicial e a conclusão desta tese foram aproximadamente 9 ciclos de escrita. O amadurecimento conforma o aprendizado com a bibliografia, o ineditismo, os estudos etimológicos, a realização de bancas e de exposições em seminários e congressos, a observação e a vivência do comportamento humano, até a construção de um posicionamento que alinhasse a base epistemológica ao comportamento da pesquisadora.

O ineditismo está contido no eixo teórico, metodológico, operacional e prático da “tecnologia social”. Entende-se como ineditismo aquilo que deveria ser esgotado, ou pesquisado até o limite. O limite da borda do conhecimento da “tecnologia social” é constituído

de fundamentações teóricas multidisciplinares da sustentabilidade e da tecnologia. Também contém o entrelaçamento com o senso comum, oriundo de uma diversidade metodológica, operacional e prática disponível na sociedade.

A Figura 08 ilustra a construção do ineditismo, eixo central, constituído pela reunião de circunferências que expressam o entrelaçamento das áreas do conhecimento teórico e técnico. Estes circulam, do centro às extremidades, quando tangem o senso comum, alternando- se entre dedução e indução, movimento que caracteriza um processo dinâmico de metodologia interativa e a opção da pesquisa-ação para o tratamento de um modelo interativo da “tecnologia social”. Embora o termo “tecnologia social” tenha sido desconstruído e substituído pelo entendimento de que toda tecnologia é social, a construção do modelo será conduzida sobre o ineditismo, que leva o termo entre aspas. As aspas indicam que o termo não altera a compreensão sobre a tecnologia socialmente construída.

FIGURA 08 – FLUXO DA CONSTRUÇÃO DO MODELO INTERATIVO, POR MEIO DE PESQUISA-AÇÃO, COM O EIXO DE INEDITISMO DA “TECNOLOGIA SOCIAL” E ENTRELAÇAMENTO TEÓRICO E PRÁTICO, DE MÉTODO DEDUTIVO E INDUTIVO.